Foto nº 1
Foto nº 2
Foto nº 3
Lourinhã > Feira Saloia > 27 de maio de 2018 > A GNR, ontem e hoje...O fotógrafo estava lá...Legenda provisória: um uniforme também conta história(s)... (*)
Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Vejo, com apreço, que a GNR - Guarda Nacional Republicana goza hoje de muito mais prestígio e respeito do que no meu tempo de menino e moço... Muita coisa aconteceu na sua história já centenária (, comemorou em 2011 os 100 anos) e tem um museu, aberto ao público, no histórico Quartel do Carmo em Lisboa, que merece uma visita.
Criada pela República, em 1911, a decadência do regime republicano também marcou o declínio desta força militarizada, como se pode ler na história da instituição [Vd. portal Arquivo Histórico, Biblioteca e Museu da Divisão História e Cultura da Guarda Nacional Republicana (GNR)].
Recorde-se alguns factos:
(i) A GNR, a República, a Ditadura Militar
(...) "Contra a ditadura [militar, iniciada com o golpe de Estado d0 28 de maio de 1926,] reagiram logo a Marinha, a GNR, a Guarda Fiscal e outros setores republicanos, iniciando um movimento revolucionário 'reviralhista', que caracterizou os anos de 1927 a 1931.
"O 'Reviralho' fracassou e a ditadura reagiu energicamente contra os revoltosos, extinguindo unidades e procedendo a saneamentos e depurações políticas, incluindo muitos dos militares da GNR. Assim aconteceu nas revoltas de fevereiro de 1927, no Porto e Lisboa, e no pronunciamento militar de 26 de agosto de 1931.
"A forte reação do regime e a ação enérgica do general Farinha Beirão, 'herói da Grande Guerra' e comandante-geral da GNR de 1927 a 1939, acabou por converter a GNR numa força leal ao regime autoritário em Portugal." (...)
(ii) Com o Estado Novo, a GNR tornou-se "rural" e "fiel ao regime autoritário":
(...) "Em ambiente de guerra fria e adesão à NATO (1949), a GNR passou a poder recrutar oficiais milicianos provenientes das forças armadas, por períodos renováveis de 3 anos (situação que se manteve até 1969).
"O Estado Novo reprimiu e condicionou as liberdades individuais dos cidadãos, perante a garantia de estabilidade das instituições assegurada pelo Exército e pela ação da censura e da polícia política. Esta última foi criada em 1933 com o nome de Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PIDE a partir de 1945) e, juntamente com a Legião Portuguesa (criada em 1936), combateram os opositores do regime.
"A GNR, a Guarda Fiscal e as restantes forças de segurança também integraram o aparelho repressivo do regime, tendo combatido os conflitos político-laborais, no Barreiro, em outras localidades da cintura de Lisboa e no Alentejo, os ciclos migratórios e de contrabando nas zonas de fronteira com Espanha, a campanha política de Humberto Delgado (1958), as fugas à incorporação militar para a guerra em África (1961-1974) e a crise académica (1968-1969)."
(iii) A GNR e o fim do regime de Salazar-Caetano:
(...) "A janela de oportunidade para pôr fim ao regime acabou por ser a oposição à guerra que se perpetuava desde 1961 em África, que emergiu no Exército, até então principal sustentáculo do sistema. O regime sentindo-o vacilar no papel de garante da estabilidade das instituições ainda tentou, 'à pressa', equilibrar as restantes forças, tendo reforçado os meios e equipamentos da GNR mas na Guarda ainda imperavam as 'velhas' espingardas Mauser do tempo da I Guerra Mundial.
"O golpe derradeiro realizou-se neste quartel do Carmo, no dia 25 de abril de 1974, data em que o Movimento das Forças Armadas, com o apoio de populares, derrubou o governo de Marcello Caetano, terminando a longa ditadura de quase meio século em Portugal." (...)
Fonte: Excertos de História da Guarda Nacional Republicana (com a devida vénia)...
2. É essa imagem do passado que me vem à memória ao ver este jovem da GNR do posto da Lourinhã, com a "velha" farda de cotim de algodão, bota de cano alto e chapéu colonial, e equipado com biclicleta e espingarda mauser... Não usavam barba, naturalmente, já que era proibido, ao tempo, pelo RDM.
Essa imagem contrasta com a dos outros dois jovens militares com a nova farda da ciclopatrulha: os três fazem parte, afinal, da mesma força, só que hoje professionalizada, rejuvenescida, integrada na ordem democrática e com uma relação de proximidade com a comunidade. A imagem, depreciativa e estereotipada, do soldado da GNR a cavalo, boçal, descrito "com um burro em cima de um cavalo", é hoje definitivamente do passado...
Do meu tempo de menino e moço, na minha terra, Lourinhã, que era um pacata vila, no extremo norte do distrito de Lisboa, lembro-me de três ou quatro coisas relacionadas com a GNR: (i) o posto militar, que era nas instalações do antigo convento de Santo António, havendo um conflito latente da GNR com o pároco e a paróquia, "vizinhos à força"; (ii) o calaboiço, imundo, nauseabundo, com grades de ferro, também nas mesmas instalações,. e que, felizmente, já não existe hoje mais; (iii) a GNR, a cooperar com a PIDE de Peniche na caça aos imigrantes clandestinos, que davam o "salto" para França e também dos faltosos e refratários que procuravam escapar à guerra do Ultramar... Não havia GNR a cavalo, na minha terra... a espadeirar o povo.
Essa imagem contrasta com a dos outros dois jovens militares com a nova farda da ciclopatrulha: os três fazem parte, afinal, da mesma força, só que hoje professionalizada, rejuvenescida, integrada na ordem democrática e com uma relação de proximidade com a comunidade. A imagem, depreciativa e estereotipada, do soldado da GNR a cavalo, boçal, descrito "com um burro em cima de um cavalo", é hoje definitivamente do passado...
Do meu tempo de menino e moço, na minha terra, Lourinhã, que era um pacata vila, no extremo norte do distrito de Lisboa, lembro-me de três ou quatro coisas relacionadas com a GNR: (i) o posto militar, que era nas instalações do antigo convento de Santo António, havendo um conflito latente da GNR com o pároco e a paróquia, "vizinhos à força"; (ii) o calaboiço, imundo, nauseabundo, com grades de ferro, também nas mesmas instalações,. e que, felizmente, já não existe hoje mais; (iii) a GNR, a cooperar com a PIDE de Peniche na caça aos imigrantes clandestinos, que davam o "salto" para França e também dos faltosos e refratários que procuravam escapar à guerra do Ultramar... Não havia GNR a cavalo, na minha terra... a espadeirar o povo.
Como temos vários camaradas ligados à GNR (, nomeadamente depois do regresso da Guiné, alguns ingressaram nos seus quadros...ou continuaram lá as suas carreiras como oficiais do Exército, como foi o caso do meu capitão, o primeiro comandante da CCAÇ 12, Carlos Alberto Machado Brito, hoje cor inf ref) seria interessante poder-se completar e enriquecer a "legendagem" destas três fotos.. (**) . LG
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 30 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19150: Fotos à procura de... uma legenda (108): Xime... ou Jabadá ? (Virgílio Teixeira)
(**) Sobre a GNR, no nosso blogue, vd.:
17 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6172: Da Suécia com saudade (24): Histórias desconhecidas do 25 de Abril: Quando Marcelo Caetano quis armar a GNR com as G3 de Beirolas
(*) Último poste da série > 30 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19150: Fotos à procura de... uma legenda (108): Xime... ou Jabadá ? (Virgílio Teixeira)
(**) Sobre a GNR, no nosso blogue, vd.:
17 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6172: Da Suécia com saudade (24): Histórias desconhecidas do 25 de Abril: Quando Marcelo Caetano quis armar a GNR com as G3 de Beirolas
E ainda:
4 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P5926: O Nosso Livro de Visitas (84): A minha Homenagem pessoal ao Humberto Duarte (Carlos Coutinho, ex-Combatente em Angola)
10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14454: Notas de leitura (701): “Desaparecido em combate", por Duarte Dias Fortunato, o primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde (Mário Beja Santos)