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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10926: (Ex)citações (205): Ainda eu, o comandante Alpoim Calvão e a Operação Nebulosa (Jorge Félix, ex-alf mil pil, AL III, Esq 122, BA 12, Bissalanca, 1968/70)


Guiné > Teixeira Pinto > 1969 >  "Rebordão de Brito, Fernando Giesteira, e eu" (JF) [Ou não será antes, da esquerda para a direita, Fernando Giesteira, Rebordão de Brito e Jorge Félix ?]

Foto: © Jorge Félix (2013). Todos os direitos reservados 


1. Mensagem do Jorge Félix [, foto à direita, ex-alf mil pil, AL III, Esq 122, BA 12, Bissalanca, 1968/70]

Data: 9 de Janeiro de 2013 17:22

Assunto: Comentário a comentário(s) ao poste P10891 (*)

Meu Caro Luís Graça,

Vou novamente pedir a tua paciência, para dares seguimento a este mail.

...Não consegui fazer-me entender, culpa minha, desde já as minhas desculpas .

Retribuo os meus sinceros cumprimentos aos autores do livro e a ao Senhor Comandante Alpoim Calvão.

(Junto uma foto de 69 em Teixeira Pinto onde consta Rebordão de Brito, Fernando Giesteira, e eu).
Sem mais.

Abraço do tamanho do Geba

Jorge Félix
_______________

Nota do editor:

(*) vd. poste de 3 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10891: (Ex)citações (204): Alpoim Calvão e a Operação Nebulosa: revelações de Jorge Félix, ex-alf mil pil av heli AL III, e comentário de João Meneses, 2º ten fze, RN, DFE 21, 1972

(...) JCAS deixou um novo comentário na sua mensagem "Guiné 63/74 - P10891: (Ex)citações (204): Alpoim ...":

... no intuito de concluir o m/comentário supra (o qual pouco depois, em conjunto aos conteúdos dos vossos p10877 e p10891, fiz chegar a conhecimento do biografado), reproduzo, para benefício de todos os membros deste blogue e seus leitores, um recente email:

---«quote»---

de: guilherme alpoim calvao
para: Abreu dos Santos (senior)
data: 06Jan2013 19:43
assunto: Re: "Alpoim Calvão e a Operação Nebulosa: revelações de Jorge Félix"

Prezado Amigo, boa noite.

Sobre o comentário do Jorge Félix, tenho a dizer-lhe:

Parece que as pessoas andam com as sensibilidades exacerbadas. Não há ninguém, nos fuzileiros e na Marinha, que não teça os maiores elogios à actuação da FAP no teatro-de-operações da Guiné, incluindo dois dos autores, oficiais do quadro de fuzileiros e combatentes na Guiné!

A apresentação do episódio da Nebulosa, resume-se ao seguinte:

Necessidades operacionais obrigavam-me a estar em Bissau a uma certa hora, impossível de cumprir com o meio naval em que estava embarcado. Tomei pois a decisão de enviar msg para o CDMG pedindo que fosse contactada a FAP, para me ir pescar num banco de areia que, com o subir da maré, ficava completamente submerso e onde a Marinha tinha colocado recentemente uma marca com reflector para radar. Desembarquei imediatamente, sem esperar resposta para não perder as condições da altura da água. Entretanto a msg foi cifrada, telegrafada, recebida no CDMG, decifrada e o Comodoro entrou em contacto com o Cor. Diogo Neto, que sabia o porquê do pedido e que, pelos vistos, deu uma ordem ao Jorge Félix para me ir buscar. Como a marca não estava assinalada na carta geográfica – utilizei uma carta hidrográfica –, enquanto esperava pensei que era mais uma dificuldade para o piloto. Mas tinha a certeza que me iriam encontrar.

Agora veja os tempos: desde o meu desembarque até o pedido chegar ao Cor. Manuel Diogo Neto, 90 minutos, mais o tempo de voo e de busca, com a maré a encher, senti que tinha passado um século!!!

Quando me aproximei da marca para evitar um banho forçado, vi que já lá estava um náufrago – em crioulo, "irã ceco" –, que vulgarmente chamávamos de jibóia. Como não sou herpetólogo, provavelmente classifiquei mal o bicho, que tinha entre três ou quatro metros e, dado ser uma constritora, não me apetecia mesmo nada disputar terreno com ela! Pouco depois chegou o heli, que me pescou finalmente, como era esperado.

Saliento que estava desarmado, sem meios de comunicação, isolado, mas tinha tanta confiança na FAP que não pensei duas vezes. Sabia que haviam de me encontrar!

Tirei o 'brevet' na Guiné, tendo por instrutores o então Major Lino Miguel, por vezes o Cor. Neto ou o Orlando Amaral.

Já agora, agradeço ao Jorge Félix a boleia do passado e esteja certo da nossa maior consideração pela FAP, que foi o anjo guardião, dos céus dos nossos teatros-de- operações.

Melhores cumprimentos e um Abraço

G. Alpoim Calvão

---«unquote»---
______________

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10891: (Ex)citações (204): Alpoim Calvão e a Operação Nebulosa: revelações de Jorge Félix, ex-alf mil pil av heli AL III, e comentário de João Meneses, 2º ten fze, RN, DFE 21, 1972

1. Mensagem de Jorge Félix, ex-alf mil pil av, heli, AL III (Bissalanaca, BA12, 1968/70)


Data: 1 de Janeiro de 2013 23:34

Assunto: Alpoím Calvão


Caro Luís,

Grato pelos teus votos de ano novo, e parabéns pelas fotos :))

Estou perdido com as tecnologias pois algo não está bem com o meu PC.

Já respondi ao João Meneses, não conseguindo meter no nosso Blogue (*).

Envio por este meio para fazeres o que achares melhor.

Entretanto já meti no Facebook [,na página da Tabanca Grande,] não sei se bem :))) (**)


___________________

2. Resposta de Jorge Félix ao João Meneses:

Caro João Meneses


Desde já o meu muito obrigado por ter dado um "parecer" ao meu comentário, a uma passagem do livro
"Alpoim Calvão, Honra e Dever".

Neste meu comentário, deveria ter informado, que na Operação Nubelosa, o Senhor Comandante Alpoim Calvão, "e um pequeno grupo de fuzileiros", invadiram o território da Guiné-Conacri e afundaram  a motora 'Patrice Lumunba'. (Informação para quem não leu o livro e possa entender o meu reparo). [, Operação iniciada a 15 de agosto de 1969] (***)

Caro João Meneses, esta operação não foi ir ali ao "tarrafo dar dois tiros e chamar os helis"...Não sei se conhece a região em causa, Foz do rio Cacine (Ali perto, a umas milhas, o PAIGC tinha anti aéreas). Um sitio que se chamava "Quitafine" e,  uns tempos antes, onde também estive, os Paras tiveram que sair sem conseguir avançar no terreno. (Uma outra operação).

Quando falo em "romancear", pretendo dizer que o que está escrito, foi romanceado. Não corresponde à verdade.

Se por um lado , os Fuzileiros fazem uma operação "milimétrica", a FAP, num momento também importante da operação, atuava como relatam: "Os helicópteros andavam a sobrevoar toda a costa da foz do Cacine, não podendo supor que o seu objetivo se encontava naquele baixio tão distante." (linha nº 21, pg 184)

Só não conhecendo a região, pode falar em andarem Helis a sobrevoar "toda a região da foz do Cacine"....

Sim, um "segundo" é muito tempo, e caro João, o Senhor Comandante Alpoím Calvâo [, foto à direita, cortesia do sítio oficial do seu livro,], nesse dia, deve ter esperado 50 minutos desde que pediu a evaquação. (De Al III,mais rápido só com vento de cauda forte).

Faz-me duas perguntas para justificar o que escreveu: "Ademais, para além da sua específica missão, e se foram ouvidos outros  Hélis na zona, não estariam eles noutras missões, desconhecidas do próprio e de outros? Não seria uma realidade? Não seria  legítima uma interpretação empírica?"

Ja percebeu que naquela região os meios aéreos não podiam voar em altitude! Escutar um Heli em baixa altitude, não lhe dá um raio superior a 500 (quinhentos) metros.... as interpretações empíricas podem ser respeitadas por todos, ...

Atendendo a que isto não vai ao conhecimento do sr AG, e para repor a verdade aqui no nosso Blog, vou falar no "tal pormenor" que só poderá ser do conhecimento do Sr Com Alpoim Calvão, e dá credito aquilo que digo.

Ordens do Sr Gen Diogo Neto:  Vai "evacuar" um fuzileiro que torceu um pé. (Ultrapassemos o local). Vai sem mecânico e enfermeira. (Outro pequeno detalhe, as evacuações de heli, terminavam no Heliporto do Hospital Militar). No regresso, aterra no inicio da pista (não na placa, como também podia acontecer) onde, no dizer de Diogo Neto, eu estarei para transportar o "fuzileiro". Não comente esta "operação".... (Isto foi respeitado até este momento). 

Se um dia estiver com o Sr Com Alpoim Calvão, poderá perguntar a verdade desta "história". Não devem ter acontecido , ao Sr Com Alpoim Calvão , muitas evacuações no "meio do mar" e ter à sua espera no inicio da pista de Bissalanca  o Comandante Diogo Neto, que o transportou no Mercedes de vidros "foscos", aqui romanceio eu, para junto de Spínola onde foi contar a  operação.

Sem sentir que foi dada uma imagem negativa da FAP, senti que não foi dita a verdade que eu vivi.

Como aprendi neste "blog"a lutar por ela, vim novamente dar o testemunho da vivência que não deveria ter outra interpretação...

Com amizade e respeito

Jorge Félix

1 de Janeiro de 2013

Abraço e bom Ano Novo

Jorge Félix

Fotos acima reproduzidas, retiradas da página do Facebook do nosso camarada Jorge Félix. Com a devida vénia...

____________


Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10877: Notas de leitura (444): Um reparo à descrição da Operação Nebulosa inserta no livro "Alpoim Calvão - Honra e Dever" (Jorge Félix)

(...) Comentário de João Saldanha Meneses [, 2º ten fze, RN, DFE 21, 1972, nosso grã-tabanqueiro nº 591]

Caro Amigo Jorge Felix

Permita-me, com todo o respeito, discordar da sua última afirmação, cito: "Numa próxima edição, este facto romanceado, deveria ser alterado, a fim de dar uma outra imagem da FAP.  As esperas intermináveis dos helis, aconteciam quando não havia meios para 'acudir' a todos ao mesmo tempo."

Deixo-lhe um testemunho simples de que a FAP e o seu nome, NUNCA foram postos em causa, nem interpretei como tal no que está escrito no livro de "Alpoim Calvão". Nem é romance sequer. Ao dar-se a conhecer como o autor daquela operação, dou-lhe os meus cumprimentos. Falar da FAP em geral, já é outra coisa.

Devo a minha vida a evacuação feita pelos Helis, após ferimentos graves em combate.  Compreende aqui a minha gratidão particular e geral pelo que a FAP fez no teatro da Guiné ou qualquer outro.
Compreendo o autor ao dar a entender que demorou tempo a chegada do Heli, É que "UM SEGUNDO" de espera era uma eternidade. 

Todo o processo desde o pedido até este ser realizado, não é instantâneo e todos os que passaram por isso, o sabiam. Mas repito: É que "UM SEGUNDO" de espera era uma eternidade.

Sem responsabilizar a FAP, ou mesmo responsabilizando-a pelo bom comportamento, interpretei o autor, não como um romancista, mas como um tradutor EXACTO do que passa em tais circunstâncias. Ademais, para além da sua específica missão, e se foram ouvidos outros Hélis na zona, não estariam eles noutras missões, desconhecidas do próprio e de outros? Não seria uma realidade? Não seria legítima uma interpretação empírica?

Deixo um pergunta no ar: Alguma vez se colocou em causa ou se tentou criar uma imagem negativa da FAP? Bem pelo contrário, caro Jorge, Muito pelo contrário

Com toda a minha amizade e compreensão
Um Fuzileiro
João Meneses

(**) Último poste da série > 3 de deszembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10757: (Ex)citações (203): O "fado das comparações"... ou o humor sarcástico do Cancioneiro do Niassa(Luís Graça)

(***)  Vd. Fórum Armada, página não oficial da Marinha de Guerra Portuguesa (Excerto, reproduzido  com a devida vénia)

(...) A OPERAÇÃO MAR VERDE > Parte 2 – A decisão e a preparação 

Uma das preocupações de Spínola para enfraquecer o PAIGC era a de estancar o fluxo de abastecimentos, grande parte do qual era feito por via marítima e fluvial. Era importante negar ao PAIGC essa capacidade e para isso, em princípios de 1969, foi feito um vasto trabalho de recolha de informações sobre a frota de embarcações do PAIGC. No decorrer deste trabalho ficou-se a saber que o PAIGC tinha, para além de três pequenos navios e de um número indeterminado de canoas e botes a motor, de duas ou três lanchas rápidas do tipo P6, fornecidas pela União Soviética. Este país tinha igualmente fornecido à Guiné Conakry quatro lanchas rápidas do tipo Komar.

Integrado no quartel-general de Spínola estava o Corpo de Operações Especiais que, comandado pelo capitão-tenente Guilherme Alpoim Calvão (dos Fuzileiros) preparou e executou uma série de acções contra os meios navais do PAIGC. Estas consistiram em emboscadas fluviais montadas pelos Fuzileiros, em botes pneumáticos, que tomavam de assalto os navios do PAIGC. Foram assim capturados e destruídos dois navios, o Patrice Lumumba, da Guiné-Conakry mas ao serviço do PAIGC (Operação Nebulosa, em Agosto de 1969) e oBandim (Operação Gata Brava, em Fevereiro de 1970, em território da Guiné-Conakry), este último especialmente importante para o movimento guerrilheiro. Em resultado destas operações, a capacidade de abastecimento do PAIGC foi severamente afectada.

Mas as pequenas lanchas rápidas do PAIGC e da Guiné-Conakry constituíam um sério risco para os navios portugueses, sobretudo se usadas de noite ou tirando partido das condições hidrográficas da Guiné Portuguesa. As P6 eram um modelo soviético dos anos 50, armadas de torpedos e canhões ligeiros. (...).


Sobre a Op Nebulosa, vd. também o nosso poste de 21 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5139: Notas de leitura (30): Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, de Saturnino Monteiro (Beja Santos)

(...) Em 1969, Alpoim Calvão regressa à Guiné e insiste com o brigadeiro Spínola para que se retomassem as operações destinadas a capturar os navios que andavam ao serviço do PAIGC. Spínola acede à realização dessa operação. Alpoim Calvão planeou a operação “Nebulosa”, que se iniciou em 15 de Agosto de 1969: Calvão era acompanhado pelo segundo-tenente Rebordão de Brito, dois sargentos e dez fuzileiros especiais e levavam quatro botes de borracha. 

A 27, quando se aproximou um navio, mais tarde identificado como sendo o Patrice Lumumba, os botes de borracha saíram do esconderijo e foram ao seu encontro. Como tivesse havido reacção, a força comandada por Calvão atacou com granadas lacrimogéneas e tiros de G-3, a que se seguiu um breve combate corpo a corpo. A bordo encontravam-se 24 pessoas, entre as quais 3 elementos do PAIGC (um deles morto durante o assalto), que foram aprisionadas. O Patrice Lumumba, muito danificado, teve de ser abandonado. (...)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10769: Tabanca Grande (371): João Carvalho Meneses, ex-2º TEN FZE RN, DFE 21, 1972, grã-tabanqueiro nº 591



Notícia do juramento de bandeira do 19º CFORN, na Escola Naval, em 14 de abril de 1972... Foto: Revista da Armada, junho de 1972, p. 24 (Com a devida vénia...)


1. No passado mês de novembro, "assinou" o nosso livro de visitas o camarada João Meneses, na sua qualidade de 2º Ten FZE RA, antigo oficial do Destacamento de Fuzileiros Especiais 21, na Guiné, no ano de 1972, e DFA - Deficiente das Forças Armadas, ferido em combate na provincia do Cubisseco [, a sudoeste de Empada, vd.carta de Catió,] em 27 de Setembro desse ano (*).

Hoje mandou-nos a seguinte mensagem:

Caro Luís:

Já vi publicados os meus últimos mails, que muito agradeço. Junto agora algumas fotografias, duas em que é o meu juramento de Bandeira, outra a Imposição das Boinas, e outra em Homenagem ao Rebordão de Brito, com quem servi na Guiné, na data da sua medalha de Torre e Espada. Foram tiradas da Revista da Armada, exemplares que tenho em meu poder. Junto também uma fotografia "actual", cópia da que tenho no meu cartão DFA.

Com um grande abraço
2ºTen FZE Carvalho Meneses


 O João Meneses, ou Carvalho Meneses, como era conhecido na Guiné,  pediu formalmente o ingresso na nossa Tabanca Grande, tendo para o efeito entregue uma foto atual [ vd. acima, à direita,] e fotos de grupo do seu  tempo de tropa.

De seu nome completo João Frederico Saldanha Carvalho e Meneses, nasceu a 5/1/1948, fez parte do 19.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval, tendo sido alistado a 19/9/71, e jurado bandeira e promovido a aspirante em 12/4/1972.



Notícia da imposição das boinas a 130 novos fuzileiros especiais, do 27º Curso de FZE, em cerimónia que decorreu a 16 de março de 1972. Notícia dada pela Revista da Armada, maio de 1972, p,. 24.


19.º CFORN - Curso de Formação de Oficiais da Reserva Naval


Segundo elementos informativos que recolhemos da página Reserva Naval, do nosso camarada Manuel Lema Santos, o 19º CFORN incorporou 115 cadetes assim distribuídos pelas várias classes: (i) 23 cadetes na classe de Marinha, (ii) 1 cadete da classe de Médicos Navais, (iii) 6 cadetes da classe de Engenheiros Maquinistas Navais, (iv) 32 cadetes da classe de Administração Naval, (v) 28 cadetes na classe de Fuzileiros e (vi) 25 cadetes na classe de Técnicos Especialistas.

Vinte 20 oficiais deste curso serviram no TO da Guiné, incluindo o João Menezes. Aqui vai a lista completa (Fonte: Reserva Naval)

2TEN RN Alfredo Augusto Cunhal Gonçalves Ferreira e 2TEN RN José Manuel Soares Dionísio na LFG “Sagitário”,

2TEN RN Emídio Branco Xavier na LFP “Alvor”,

2TEN RN Virgílio Manuel da Cunha Folhadela Moreira na LFP “Aldebaran”,

2TEN RN José Aparício dos Reis na LFG “Cassiopeia”,

2TEN RN José Alfredo Queiroga de Abreu Alpoim na LFG “Argos”,

2TEN RN Luís Alberto Moreira Pires e Pato na LDG “Alfange”,

2TEN AN RN José Manuel do Nascimento e Oliveira Covas,

2TEN AN RN Miguel Ângelo da Cunha Teixeira e Melo,

2TEN FZ RN António Patrício de Sousa Betâmio de Almeida e 2TEN FZ RN José Manuel Correia Pinto no Comando de Defesa Marítima da Guiné,

2TEN FZ RN Celestino Augusto Froes David na CF 12,

2TEN FZ RN João Pedro Tavares Carreiro e 2TEN FZ RN Manuel Maria Romãozinho Alves Ferreira na CF 2,

2TEN FZE RN João Carlos Cansado da Costa Corvo e 2TEN FZE RN José Manuel de Carvalho Passeira no DFE 22,

2TEN FZE RN João Frederico de Saldanha de Carvalho e Meneses e 2TEN FZE RN Manuel Maria Peralta de Castro Centeno no DFE 21,

2TEN FZE RN José Manuel da Silva Morgado e 2TEN FZE RN Luís Pereira Coutinho Sanches de Baena no DFE 12.


Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 21 (DFE 21)


O nosso novo grã-tabanqueiro Carvalho Meneses serviu no prestigiado DFE 21, mas por pouco tempo, dado ter sido ferido gravemente em combate e evacuado para o Hospital Principal, em setembro de 1972 (*).

Veja-se, entretanto,  o interessante apontamento sobre a história do DFE 21, escrito pelo Manuel Lema Santos. Aqui vão alguns pontos:

(i) Para ingressar nos quadros de Fuzileiros Especiais Africanos do Comando de Defesa Marítima da Guiné foram seleccionados 150 de um total de 900 voluntários (!);

(ii) Foi dada preferência aos assalariados do Comando de Defesa Marítima, dos Serviços de Marinha, guias das Unidades de Fuzileiros, impedidos das câmaras dos navios e das messes de oficiais, pessoal na generalidade familiarizado com a vida na Marinha; também foram admitidos estivadores e pessoal que já cumprira o serviço militar em companhias de milícias ou caçadores nativos;

(iii) Na formação do DFE 22 (inicialmente comandado por 1º TEN FZE Rebordão Brito, foto à esquerda,  cortesia da Revista da Armada) já teve em linha o critério étnico ou o chão, o que não aconteceu com o DFE 21 (, o que terá sido um erro, segundo Manuel Lema Santos);

(iv) O centro de instrução situava-se em Bolama; os oficiais e sargentos bem como alguns cabos e marinheiros eram metropolitanos, de rendição individual;

(v) O recrutamento inicial de elementos guineenses para integrar o DFE 21 ocorre em Setembro de 1969;

(vi) Depois de activado, em 21 de Abril de 1970, participou, até Maio, em diversas operações no sul da Guiné,  tendo sofrido pesadas baixas entre mortos e feridos, entre os quais se incluíram alguns oficiais e sargentos;

(vii) Juntamente com o DFE8, passou a estar sedeado na vila de Cacheu;

 (viii) Em Agosto de 1970, depois de uma curta passagem por Buba, o DFE 21 foi transferido para Brá, para se juntar aos preparativos que antecederam a organização da Op Mar Verde, já em curso na ilha de Soga e na qual viria a participar.

O comando do DFE 21 integrou maioritariamente oficiais da Reserva Naval. Na sua estrutura inicial, teve como Comandante o 1º TEN FZE Raul Eugénio Dias da Cunha e Silva que tinha ingressado nos Quadros Permanentes, na classe de Fuzileiros, depois de ter efetuado uma primeira comissão de serviço na Guiné, como terceiro oficial do DFE 4, de 1965 a 1967. Pertenceu originalmente à Reserva Naval onde integrou o 7.º CEORN.

Em 21 Junho de 1971 o comando do DFE 21, foi sendo parcial e progressivamente rendido, ainda que alguns dos elementos que o constituíam continuassem voluntariamente até 1 de Abril de 1973. Passou a ser Comandante o 1TEN FZE José Manuel de Matos Moniz, também ele originário da Reserva Naval (8º  CEORN) e, no final do curso foi integrado no DFE 1 (Moçambique, 1967/69), depois do que concorreu aos Quadros Permanentes na classe de Fuzileiros.

Composição do DFE 21:

Comandantes:

1TEN FZE Raul Eugénio Dias da Cunha e Silva, 7.º CEORN, ingressou nos QP's

1TEN FZE José Manuel de Matos Moniz, 8.º CEORN, ingressou nos QP's

Oficiais Imediatos:

1TEN José Maria da Silva Horta, QP's

2TEN Luis António Proença Maia, QP's

2TEN FZE RN António José Rodrigues da Hora, 11.º CFORN, ingressou nos QP’s

2TEN FZE RN Manuel Maria Peralta de Castro Centeno, 19.º CFORN, ingressou nos QP’s

Oficiais:

2TEN FZE José Carlos Freire Falcão Lucas, 13.º CFORN

2TEN FZE RN Eduardo Madureira da Veiga Rica, 14.º CFORN [, ferido em serviço em evacuado]

2TEN FZE Manuel José Fernandes Guerra, 15.º CFORN

2TEN FZE RN Jaime Manuel Gamboa de Melo Cabral, 16.º CFORN

2TEN FZE RN Francisco Luis Saraiva de Vasconcelos, 16.º CFORN

2TEN FZE RN João Frederico Saldanha Carvalho e Meneses, 19.º CFORN [, ferido em combate e evacuado; João Meneses passa a ser hoje membro da nossa Tabanca Grande]

2TEN FZE RN Cândido Alexandre Lucas, 20.º CFORN

2TEN FZE RN José Joaquim Caldeira Marques Monteiro de Macedo, 21.º CFORN [Zeca Macedo: nasceu na Praia, Santiago, Cabo Verde, em 1951; vive nos Estados Unidos, onde é advogado; é membro da nossa Tabanca Grande,foto à direita, quando jovem cadete da Escola Naval].


O João tem um grande orgulho de ter servido o país como fuzileiro, e uma especial preocupação pela sorte dos seus camaradas guineenses do DFE 21. Eis um excerto do seu último mail:

(...) Não deixarei de procurar saber se ainda tenho homens vivos e se ainda poderei fazer qualquer coisa por eles, pois aquela terra está ainda muito longe da calma e estabilidade, com sucessivos golpes. Infelizmente está-lhes na massa do sangue, tanto pela guerras étnicas, como pelo dinheiro fácil - a droga, como também por ganâncias pessoais. Mas isso são problemas que eles têm que resolver e amadurecer (infelizmente à custa de sangue), mas há histórias giras para contar. Vivências, pura e simplesmente.E é sobre isso que gostaria de contar mais.

Quanto ao nome que prefiro, a malta dos Fuzos conhecem-me por Meneses.  Mais acima era o Tenente Meneses, Gostaria no entanto de ter antes do nome próprio o FZE do DFE21, que me honra, dá peneiras, Eh Eh Eh!,  e tenho muito orgulho. Foi assim que servi Portugal quando era activo nas Forças Armadas. Meu Bisavô, meu Avô também morreu em Angola, etc. Família,  sabes. (...)


2. Comentário dos editores:

João, já te desejámos as boas vindas, esperamos que se te sintas confortável entre esta maltosa toda, filha das mais diversas mães (e pais), a grande maioria da qual serviu na Guiné, como tu.  Temos uma representação da Marinha, pequena, discreta mas condigna. (Vocês, embora bons, também não eram assim tantos...).

Agora é preciso que contes as histórias do teu tempo. E que tragas também mais camaradas, nomeadamente fuzileiros (**). O nosso blogue é  um como um animal  carnívoro que precisa de muitos milhares de calorias por dia para se alimentar... Não, não somos predadores: somos apenas um espaço de partilha de memórias e de afetos, e estamos todos aqui, numa boa, sem querer fazer ajustes contas com ninguém, nem sequer com o passado. Achamos, por outro lado, que blogar faz bem à saúde (mental). Também podes aparecer no Facebook, na nossa página Tabanca Grande...


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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8660: Recortes de imprensa (46): Guiné: Cmdt Fuz Esp Rebordão de Brito, em entrevista ao “O Diabo” (Magalhães Ribeiro/Manuel Marinho)

1. Com a devida vénia e agradecimentos ao semanário O Diabo (fundado  em em 10 de Fdevereiro de 1976) publicamos hoje, para quem ainda não conhece, mais um interessante depoimento para a catarse da história da guerra na Guiné, datado de 16 de Junho de 1992. É uma entrevista ao lendário Comandante Fuzileiro Especial Alberto Rebordão de Brito (entretanto já falecido), que de alguma forma reforça as ideias e  matérias reproduzidas nos poste P8644 e P8650.

A postagem, em formato Word, contou mais uma vez com a preciosa e amigável colaboração do nosso Camarada Manuel Marinho (1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), pelo que se registam igualmente os nossos melhores e devidos agradecimentos. (MR)

Comandante na reserva, Rebordão de Brito, em entrevista.

“ O PAIGC DIFICILMENTE AGUENTARIA MAIS UM ANO DE LUTA”
Chama-se Rebordão de Brito e é comandante na reserva. Nasceu em Cabo Verde, de onde saiu com apenas 4 meses de idade. Decidiu ser militar ao serviço dos Fuzileiros Especiais nº 12, que foram colocados na Guiné. Aí participou na conhecida operação Mar Verde e chefiou campanhas em cenário de guerra. No dia 25 de Abril estava de férias em Londres, regressando 4 dias depois da revolução. De Lisboa embarcou para a Guiné para que as tropas africanas portuguesas não caíssem na mão do inimigo. Com a chegada ao poder de Vasco Gonçalves decide abandonar o País. Parte para o exílio, no dia 11 de Março de 1975, porque a Pátria que serviu não é a mesma. Hoje tem uma vida igual à de tantos militares que, como ele, combateram nas províncias ultramarinas embora não se sinta refugiado no seu próprio país, não quer ser fotografado, nem pel’O DIABO


O DiaboEm que ano foi colocado em África?

Comandante Rebordão de Brito – Não fui colocado em África fui voluntário, para prestar serviço no Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 12 que partia em comissão de serviço para a província ultramarina da Guiné. Estranhará por certo esta diferença de terminologia, mas, o facto é que, tendo nascido em Cabo Verde, sempre me senti português de alma e corpo inteiro e nunca um colonizado.

O DiaboQuais eram os objectivos da operação “ Mar Verde”?

R B – O principal objectivo era resgatar os portugueses que se encontravam prisioneiros em Conacri. Simultaneamente dado conhecermos a enorme oposição a Sekou Touré, seria facilitar a ascensão ao poder de um governo não hostil a Portugal que interditasse ao PAIGC a utilização de santuários no território da Guiné-Conacri. A dar-se tal situação é fácil de prever que o esvaziamento daquele partido era uma mera questão de tempo.

O DiaboEssa operação destinava-se também a resgatar Amílcar Cabral?

R B – Como atrás disse, o principal objectivo não era esse. No entanto, se Amílcar Cabral se quisesse acolher à nossa protecção seria certamente
bem-vindo, e quem sabe, talvez ainda hoje fosse vivo.

O DiaboConsta-se que um dos objectivos seria apanhar uma série de aviões “MIG” que estariam estacionados numa base da Guiné – Conacri. Tem algum fundamento?

R B – Não era básico. Essa intenção fazia parte da neutralização das forças da Guiné-Conacri, o que permitiria andar por lá praticamente à vontade. O que interessava era trazer os prisioneiros, e como havia connosco uma série de dissidentes do regime da Guiné-Conacri, a ideia era dar cobertura à instalação de um poder que nos fosse favorável, e com isso, claro, desmantelar o PAIGC.

O DiaboQuem foram os principais intervenientes nessa operação?

R B – Bom, essa pergunta é de difícil resposta. Temo, por um lado esquecer-me de alguns que, convicta e orgulhosamente, nela participaram e, por outro, relembrar quem, convenientemente hoje, por ela não quer ser recordado. Ainda assim, e porque é homem que não renega o seu passado, não posso deixar de referir o inspector-adjunto Matos Rodrigues. Embora não tendo participado fisicamente na operação, ao seu entusiasmo, patriotismo e proficiência na recolha de informações, estabelecimento de contactos e apoios se deve uma boa parte da gestação da operação “ Mar Verde”.

O DiaboComo descreveria a situação da guerra ultramarina à data do
25 de Abril 74?

R B – Julgo ser suficientemente conhecido o panorama em Angola e Moçambique para que a ele me refira agora. Quanto à Guiné, em que a situação era um pouco mais complicada (dada a pequenez do território e a grande extensão fronteiriça), creio, apesar desses condicionalismos, termos sido, vítimas de bem tramada intoxicação, de deficiente informação ou ainda de ambas. E digo isto porque em Junho 1974, quando da entrada dos primeiros elementos do PAIGC, estes se apresentavam, na sua maioria esfarrapados e com péssimo aspecto. Alias, ao conversar na povoação de Cacine com o então comandante da sua marinha (Pedro Gomes), este confessou-me que dificilmente o seu partido aguentaria mais um ano de luta. Esta confissão é sem dúvida corroborada pelo insistente pedido feito às nossas autoridades para que se procedesse ao imediato desarmamento das forças africanas.

O DiaboÉ verdade que na Guiné o PAIGC levava uma grande vantagem sobre as tropas portuguesas?

R B – Nada mais falso. Se se disser que os guerrilheiros atacavam com alguma impunidade guarnições fixamente agarradas ao terreno, isso poderá, nalguns casos, corresponder à verdade. No entanto sempre que os encontros se davam com tropas especiais ou outras tropas comandadas, com determinação e vontade, o confronto era-lhes sempre e fatalmente, negativo.

O Diabo É de opinião que de um modo geral a guerra em Angola e Moçambique estava ganha?

R BEstava estacionária e em regressão.

O DiaboEntão só na Guiné é que ainda havia problemas?

R B – Na Guiné havia, mas depois vim a averiguar de que não era tão grave como isso. Após o 25 Abril vim a confirmar essa situação. Na altura não havia pilotos suficientes, nem meios aéreos, mas se tivéssemos forças de intervenção rápidas, em vez de fazermos uma guerra de quadrículas, nós tínhamos conseguido resolver a questão.

O DiaboO que aconteceu na Guiné depois do 25 de Abril?

R B – Eu estava em Londres no dia 25 de Abril. Vim para Lisboa a 29 e segui para a Guiné onde as manobras de guerra tinham parado. Havia uma situação um tanto ou quanto confusa, e como as operações tinham parado havia que dar destino àquela gente que tínhamos enquadrado, africanos, que eram bastantes. Uma das minhas preocupações, um pouco antes da independência, foi andar entre Lisboa e Bissau a ver se conseguia integrar aquelas forças nas futuras Forças Armadas da Guiné e, no meu caso, criar uma marinha onde eles tivessem um lugar, nem que fosse para lhes salvar a vida. Não se conseguiu totalmente. Nas minhas unidades consegui-o mais ou menos, pagando-lhes até ao fim desse ano (1974).
Aconselhei-os a saírem da Guiné o mais depressa possível e dirigirem-se para o Senegal para não terem a sorte que na altura tiveram, muitos comandos africanos.

O DiaboQue foram mortos?

R B – Sim, e muitos por culpa deles, porque se deixaram ficar na Guiné-Bissau.

O DiaboAcompanhou sempre todas as operações militares na Guiné?

R B – Sim, de 1967 a 1974. Saio da Guiné antes da independência.
Recusei-me a assistir à independência.

O DiaboConhece alguns episódios ocorridos durante a guerra colonial que queira contar?

R B – Como deve calcular, ao longo do tempo que passei no ultramar, milhentos episódios se passaram. Como temos falado da “Mar Verde” vou-lhe contar um, de certo modo caricato, que durante ela se passou.
Quando o meu grupo de assalto largou do navio-mãe e partiu em direcção às embarcações inimigas houve um bote que se atrasou visivelmente. Voltei atrás e insultei o seu chefe, o pobre marinheiro Sani, (mais tarde assassinado pelos seus “irmãos libertadores”). Disse-lhe que se tinha medo podia voltar para bordo, pois não queria cobardes no grupo. Ele balbuciou umas palavras que na confusão não entendi e deixei-o, voltando à cabeça da formação. Concluída a missão dei ordem de reembarque e cada um voltou ao seu bote. Isto é, cada um julgou ter voltado, ao seu. Mandei-os seguir à minha frente a fim de verificar os resultados e confirmar se não haveria algum retardatário. Verificações feitas, acelerei a fundo e da carcaça do meu potente motor saiu um profundo gemido e um tossir que assustaria o mais calejado médico dos sanatórios do Caramulo. Enfim, grunhindo e arrastando-se, o miserável bote lá conseguiu chegar ao navio onde, no negrume da noite, qual fantasma, me esperava uma branquíssima dentadura que generosamente apenas me perguntou:
“ Então chefe, a quantas cervejas tenho direito?”

O DiaboConcorda com a afirmação de que o general Spínola se terá deixado ultrapassar pelos acontecimentos aquando do 25 Abril?

R B – Não concordo de forma alguma. Acho, isso sim, que o general Spínola, raciocinando e agindo como homem e militar íntegro que era e é, foi enredado nas malhas que a traição e baixa política tecem. Convém não esquecer os vários “judas” (conscientes ou imbecis úteis), que na sua órbita gravitavam. O general Spínola queria manobrar e verificou que não tinha forças para isso, alguns não compareciam, outros saíram deliberadamente, outros faziam o jogo da esquerda sem saber bem porquê. São os tais a quem eu chamo os “imbecis úteis” e ele viu-se enredado numa confusão tremenda e só teve, a saída que teve em 30 de Setembro, que foi aquele discurso.

O DiaboComo se processou a fuga do general Spínola para o Brasil?

R B – Antes de mais refuto liminarmente a tese da fuga. Como já foi amplamente divulgado, dadas as informações que circulavam, houve um grupo de civis e oficiais (entre os quais o general Spínola), que foram aconselhados a receber a protecção de uma das poucas unidades militares não completamente conspurcadas pelo desvario pseudo-revolucionário que então grassava em quase todo o País.

Em determinada altura, por estarmos sem qualquer comunicação com o exterior, acompanhei o general Spínola à unidade vizinha no intuito de sabermos o que se passava. Quando o nosso helicóptero regressou ao ponto de onde partira verificamos imediatamente uma enorme efervescência na guarnição e soubemos que alguns oficiais já tinham sido presos. Considerei que o melhor, de momento, seria embarcar a esposa do general Spínola e a aproveitar o helicóptero para sermos colocados fora da unidade e daí seguir para onde julgássemos ser mais conveniente. No entanto, dada a perseguição movida durante algum por dois aviões, considerou-se que o mais seguro seria rumarmos a Espanha. Não foi, nesta altura, considerada a hipótese de partir para o exílio no Brasil.

O DiaboPortanto nesta altura ninguém pensava no exílio?

R B – Nessa altura apenas pensávamos em sair da base aérea e sermos colocados num sítio qualquer e dali arranjar um transporte que nos levasse aonde quiséssemos. Não havia nada a ideia de sair do País, mas dado as condições foi a melhor coisa a fazer. Assim considerámos a hipótese de ir para França, para não estarmos muito afastados de Portugal.

O Diabo Era essa a única solução?

R B – Sem dúvida. Com a loucura colectiva comandando o País, o mais provável era ter havido fuzilamentos a coberto da defesa da Revolução.

O DiaboEm sua opinião o que é que poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos nos dias que se seguiram ao 25 de Abril?

R B – É-me muito difícil dar uma resposta razoável a essa pergunta, porque, nessa altura, me encontrava na Guiné tentando salvar a vida dos fuzileiros africanos que tive o privilégio de instruir e comandar.

O DiaboO que pensa dos acordos do Alvor celebrados em 1975?

R B – Os acordos do Alvor? Poderá considerar-se acordo uma farsa montada pelos vassalos da ex-URSS com um fim único de servir o expansionismo desta e adiar o seu estertor? Creio bem que não.

 O DiaboOs acordos do Alvor, uma farsa?

R B – Não é mais do que isso. Estava tudo perfeitamente orquestrado para entregar aquilo às forças marxistas de Angola, e, aliás, com o desenrolar da situação verifica-se isso.

O DiaboComo classifica neste momento a situação vigente na Guiné?

R B – É dramática. É um país, sem economia, sem indústrias, a agricultura está destruída. Não tem quadros; uma classe dirigente e completamente corrupta; todas as ajudas exteriores que recebem são desviadas. Não vejo grande saída para a Guiné: ou é absorvida por aqueles dois grandes espaços francófonos a norte ou a sul, ou (passo o termo) encosta-se a Portugal e é a única maneira de sobreviver como país independente.

O DiaboComo natural de Cabo Verde como vê o futuro daquele arquipélago?

R B – O caso de Cabo Verde é um pouco diferente. Tem uma colónia de emigrantes muito grande, quer nos Estados Unidos quer na Holanda, e em Portugal, como é óbvio, mas as outras são muito mais potentes economicamente, e como tal, recebe imensas divisas. Neste momento está a dar alguns passos no turismo e tem condições para desenvolver a pesca, e, para além disso, tem quadros e uma população muito mais evoluída e culta que a Guiné. Embora também não tenha uma agricultura muito desenvolvida, porque em Cabo Verde só chove quando Deus quer, e muitas vezes Deus não quer.

O DiaboQual é a sua opinião relativamente ao diferendo existente entre o Governo e a Presidência por causa da lei dos coronéis?

R B – Eu não gostaria de ter opinião acerca disso, mas julgo que os únicos prejudicados no meio disso tudo são os militares que não foram tidos nem achados para alimentar essa fogueira e que estão nessa querela sem culpa nenhuma.

O DiaboO que pensa do serviço militar obrigatório ter passado para 4 meses?

R B – Entre haver serviço militar obrigatório com 4 meses e não haver, acho que era preferível não haver. Fazer isso, sim, mas com umas Forças Armadas profissionais, bem treinadas e relativamente pequenas, porque serviço militar obrigatório de 4 meses não dá para coisíssima nenhuma.

O DiaboÀ semelhança do que acontece nos EUA com os Fuzileiros?

R B – Porque não. Basta olhar para Inglaterra, são perfeitamente profissionais, quando são chamados estão sempre prontos, e sabem aquilo que fazem.


O DiaboOs nossos Comandos não correspondem a essa necessidade?

R B – Os Comandos são um ramo das Forças Armadas, mas como sabe têm também serviço militar obrigatório. Apenas os quadros são profissionais.

O DiaboMantém contactos regulares com os militares que o acompanharam em campanhas no ultramar?

R B – Muitos dos meus colegas que serviram nos fuzileiros não estão ao serviço ainda. Tenho contactos permanentes, quase todas as semanas um deles me telefona e anualmente fazemos um almoço para comemorar a ida para a Guiné. Os outros, os africanos, que temos aos poucos conseguido trazer para cá, quer eu, quer o meu antigo imediato, estão todos empregados, e mais não temos feito porque não temos tido apoios.
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Notas de M.R.:

Vd. também os postes relacionados com esta matéria em:

6 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8644: Recortes de imprensa (43): O pacto secreto de NINO com a PIDE, jornal TAL & QUAL, 14 Maio 1999 (Magalhães Ribeiro/Manuel Marinho)

9 de Agosto de 2011 >

Guiné 63/74 - P8650: Recortes de imprensa (45): Guiné: Uma diligência interrompida. Porquê? Da autoria de António Vaz Antunes (Coronel de Infantaria)

Vd. último poste desta série em:

9 de Agosto de 2011 >

Guiné 63/74 - P8650: Recortes de imprensa (45): Guiné: Uma diligência interrompida. Porquê? Da autoria de António Vaz Antunes (Coronel de Infantaria) 

sábado, 14 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2941: A guerra estava militarmente perdida? (17): E. Magalhães Ribeiro

Guiné - Vitória ou Derrota?


Eduardo José Magalhães Ribeiro
Ex-Furriel Miliciano de Operações Especiais (Ranger)
da CCS do BCAÇ 4612/74 (Mansoa)


Da esquerda para a direita, os rangers Capitão Sampedro e os Furriéis Chapouto, Ribeiro, Reis e Casimiro. Montemor-o-Novo > Ameira >Hotel da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > 1ª reunião da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Uma questão polémica que se levanta nas conversas, de vez em quando, entre aqueles que de algum modo se interessam pelo tema -"Guerra do Ultramar: rente da Guiné", é se a tínhamos perdido militarmente no terreno, ou não.

Felizmente, são vários os intervenientes neste conflito que têm vindo a participar com as suas experiências e os seus testemunhos, escritos e fotográficos, com o estudo e análise literária de relatos, estórias, fotos, etc., na catarse desta face da guerra que atravessámos em África.

Na minha modesta opinião pessoal, atrevo-me a dizer que qualquer esboço de uma resposta a esta dúvida permanecerá eternamente inconclusiva. Felizmente para mim, por motivos óbvios (caso a guerra continuasse eu estava condenado a estar na Guiné pelo menos nos anos de 1974 e 1975), já que, como todos sabemos, todas as hostilidades, naquela pequena parcela de terra, terminaram com o 25 de Abril de 1974.


Cópias do jornal O Diabo, de data não referenciada. Entrevista ao Comandante da Marinha Rebordão de Brito.


Para basear a afirmação contida no parágrafo anterior, junto cópias de um documento que faz parte da diversa documentação que eu possuo no meu arquivo pessoal, sobre este famoso, mítico e inconclusivo capítulo da recente História de Portugal.

Muito agradecido ficava que me comunicassem, se alguém conhece algum desmentido oficial e escrito, sobre as afirmações contidas no dito documento, pelas entidades máximas da Guiné pós-libertação.

Deixo, à análise e conclusão pessoal de cada um, a evidência histórica dos factos relatados, pouco ou nada explorados nos debates, colóquios e seminários a que tenho assistido.

O artigo foi publicado no jornal O Diabo.
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Nota de vb:


Vd. artigos relacionados em:
13 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago.
12 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2932: A guerra estava militarmente perdida? (15): Uma polémica que, por mim, se aproxima do fim (Beja Santos)
12 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2929: A guerra estava militarmente perdida? (14): Estávamos fartos da guerra e a moral nã era muito elevada. A. Graça de Abreu.

3 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): Henrique Cerqueira.
31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.
^
29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2899: A guerra estava militarmente perdida? (11): Correspondência entre Mexia Alves e Beja Santos.

28 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)

[Por lapso, houve um salto na numeração, não existindo os postes nº 7 e 6 desta série ]

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)