Em 26 de fevereiro [ 1974] , pelas 22h10, deflagrou um engenho explosivo no café “Ronda”, principalmente frequentado por militares de várias patentes. É uma café situado na principal artéria da cidade [ de Bissau] . Da explosão resultaram 1 morto civil africano, 14 feridos civis, sendo um grave, e 49 feridos militares, sendo cinco graves.
A análise dos estilhaços leva a admitir com probabilidae elevada que o engenho fosse constituído por 1 ou 2 granadas defensivas F-1 (russa), com espoleta de retardamento, MUV-2 , do mesmo tipo dos engenhos colocados no autocarro da FAP em 21 de janeiro [ de 1974] e em viatura miliatr em Bula em 24 de agosto de 1972.
Iniciadas averiguações pela PSP local, DGS-Bissau e autoridades militares, Comando da PSP difundiu comunicado geral de informação. Não houve o menor incidente durante festejos do Carnaval. Idêntico comunicado segue para o Ministério do Ultramar.
Informação errada no nosso blogue: o atentado terrorista contra o Café Ronda, em Bissau, não se deu em 1973 mas em 1974, em 26 de fevereiro. E foi da responsabilidade do PAIGC, que quis mostrar, no 1º aniversário da morte de Amílcar Cabral, que podia atingir alvos urbanos e civis no coração da capital...
Felizmente que a incursão pela "guerrilha urbana" ficou por ali...mas foi o suficiente para causar algum alarme entre os militares e suas famílias, que viviam em Bissau... (Resta saber se Amílcar Cabral, se fosse vivo, aprovaria este tipo de escalada da guerra, com recurso a atentados cegos, causando vítimas também entre a população civil.)
Subject: Disparidades de datas da ocorrência: Bomba no Café Ronda em Bissau
Caro amigo e camarada:
Como já sabes, estou a finalizar o meu livro "Heróis do Mar, Bombolom, Cimboa" sobre a minha estada na Guiné, entre 3 de Março de 1973 a 22 de Agosto de 1975 quando regressei a Cabo Verde e os primeiros cinco anos aqui.
Grosso modo, a 1.ª parte, Heróis do Mar, é essencialmente a minha vivência do último ano da Guerra em Bissau, pois cheguei em 3 de Março de 1973; a 2.ª parte é já a situação depois do 25 de Abril de 1974, a retirada da tropa portuguesa, o meu trabalho na Rádio Bissau (inicialmente Rádio Libertação); a 3.ª parte é a minha experiencia na Rádio Voz di Povo, depois Emissora Oficial, aqui na Praia, Cabo Verde.
Comigo, estão vários convidados, pessoas que comigo viveram muitos acontecimentos, tudo com o apoio de documentação, jornais, etc. Na primeira parte, socorri-me de muitos dos depoimentos/testemunhos de acontecimentos de 1973/74 narrados no teu Blog, assim como documentos que foram publicados. Obrigado pois ao Blog, que permite esta comunicação entre antigos militares e obrigado ao seu coordenador/moderador, que me deu a possibilidade de utilizar muita dessa informação publicada, citando é claro a fonte, um dever sagrado do jornalista.
Posto isto, devo dizer que entrei numa fase de verificação, reverificação, confirmação de fontes, datas, etc. e é justamente por isso que agora entro em contacto contigo para te expor o seguinte, sobre o acontecimento que foi a explosão de uma bomba no Café Ronda, em Bissau:
1. Na seguinte página do nosso blog,
6 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13698: Os Últimos Anos da Guerra da Guiné Portuguesa (1959/1974) (José Martins) (9): 7 de Abril de 197https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2014/10/guine-6374-p13697-os-ultimos-anos-da.html
encontram-se várias efemérides e na parte «Acontecimentos no período relacionados com a Guiné», diz o seguinte:
"26 de Fevereiro de 1973 explosão de uma granada de mão no Café Ronda em Bissau causando 1 Morto e 62 feridos."
2. Na seguinte pagina do nosso blog
27 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissauo meu camarada Abílio Magro, que comigo esteve em Santa Luzia, no QG, diz nas suas recordações:
(...) Bomba no Café Ronda
O Cafe Ronda situava-se na Av da República, um pouco mais abaixo do cinema UDIB e do lado contrário ao deste. Segundo me recordo, possuía uma espécie de esplanada coberta e ali se juntavam muitos militares (uns fardados, outros trajando à civil) que lá bebiam o seu cafézinho ou "bejeca", entre outras coisas. Tinha também um pequeno balcão que dava para uma rua transversal e onde também se podia beber o "cimbalino" ou a "bejeca", de pé e do lado de fora, com um atendimento muito mais célere.Numa determinada noite do ano de 1973, eu e mais dois ou três camaradas meus, tomamos o nosso cafézinho no balcão referido e seguimos de imediato para o cinema UDIB para assistir à exibição de um qualquer filme que por lá andava.
Poucos minutos depois do início da exibição do filme, dá-se um tremendo rebentamento lá fora e, quase de seguida se ouvem diversas viaturas com buzinadelas e sirenes, indiciando haver constante transporte de feridos. É interrompida a exibição do filme e surge uma voz aos altifalantes do cinema, solicitando a todos os médicos que, eventualmente, por ali se encontrassem, o favor de se dirigirem de imediato ao Hospital Militar.
Estão mesmo a ver onde este vosso camarada se dirigiu para ver o resto do filme, né? Pois, acertaram! Direitinho às Instalações Militares de Santa Luzia, onde se encontrava implantado o seu maravilhoso "T2"!
Tinham colocado uma bomba no Café Ronda, que explodiu quando este se encontrava repleto de clientes, tendo causado alguns mortos e muitos feridos. Nesse atentado ficou gravemento ferido um "piriquito" com 2 ou 3 dias de Guiné e que eu tinha conhecido no dia anterior, pois tratava-se do "pira" que ia substituir na CSJD o meu camarada Fur Mil Costa que terminara a sua comissão e tinha já viajado para a Metrópole. Aquele "piriquito" acabou por ser evacuado para Lisboa e soubemos mais tarde que aí falecera. Recordo-me do nome - Romão. (...)
3 . O meu colega jornalista Nelson Herbert refere no nosso blog
26 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9401: Memória dos lugares (171): A minha Bissau, nas vésperas do 25 de Abril de 1974 (Nelson Herbert)https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9401-memoria-dos-lugares.html
(...) Tive vários colegas portugueses, grandes amigos de infância que gostaria um dia poder rever (...)
Entre esses amigos, recordo-me perfeitamente do Zé (ligeiramente mais velho, 1 a 2 anos pelo menos), do Becas, seu mano mais novo, da minha idade... colega das pescarias no lodoçal das bolanhas, junto ao quartel da Marinha! O pai era militar... habitavam uma residência, mesmo em frente à messe dos sargentos da Força Aérea, por sinal meus vizinhos. Hoje calculo que o pai fizesse parte da "psico", contavam ingenuamente os filhos, ante a inocência geral...Armadilhado pelas células clandestinas do PAIGC, numa bela noite, o muro foi-se pelos ares… Isto, minutos depois do autocarro azul ter partido do local para a viagem do costume! Nesse dia felizmente bem mais cedo que o habitual!
Não houve vítimas, nem entre o pessoal da Forca Aérea nem entre a "meninada" que nas redondezas costumava brincar ao cair da noite!!! (...)
5. Nma reportagem na RTP intitulada Canquelifá, a última operação dos Comandos - YouTube já no final aparece esta imagem que refere a data 27Fev74 !!!!
Vd. fotograma do vídeo reproduzido acima e cujo teor é reproduzido
Caro Luis, face a tantas datas e desencontros, estou na dúvida quanto à minha recordação! Poderei estar errado! Eis porque entro em contacto contigo e com os camaradas, talvez consiga mais algum depoimento/informação sobre esse acontecimento….
Chamo atenção, como jornalista, para o facto de o relatório «sobre a situação militar no TO da Guiné no ano de 1974» ter a data de 1975, logo ter sido elaborado pelo menos 3 anos depois.... A mensagem confidencial que envio, leva a varias interrogações, sobre a hora e a data do acontecimento… Será que houve duas, ou mais, explosões no Café Ronda?!
Espero que este assunto possa despertar algum interesse e eu possa receber alguma luz.
Apresento melhores cumprimentos e desejos de muita saúde
Forte abraço
Carlos Filipe Gonçalves
Jornalista Aposentado
II. Resposta do editor LG:
Meu caro Carlos Filipe: obrigado pelo desafio que nos colocas... Tens toda a razão, vai por aqui um grande trapalhada de datas... E tu próprio estás equivocado.
A análise da mensagem (confidencial) que o Com-Chefe do CTIG manda para Lisboa, não deixa qualquer dúvida: o engenho eplosivo (uma ou duas granadas de mão defensivas, de origem russa,com espoleta ao retardor) lançada no Café Ronda foi no dia 26 de fevereiro de 1974, portanto ao tempo do gen Betencourt Rodrigues e não do Spínola.
Tanto o José Martins como o Abílio Magro apontam o ano de 1973. A informação está errada. O atentado terrorista contra o Café Ronda, em Bissau, não se deu em 1973 mas em 1974, em 26 de fevereiro. E foi da responsabilidade do PAIGC, que quis mostrar, no 1º aniversário da morte de Amílcar Cabral, que podia atingir alvos urbanos e civis no coração da capital... Mas parece que nesta altura as BR - Brigadas Revolucionárias, da Isabel do Carmo e do Carlos Antunes, também deram um arzinho da sua graça, colocando um engenho explosivo no QG, em Santa Luzia (quatro dias antes...). O seu a seu dono.
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Nota do editor:
Último poste da série > 31 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P22053: Casos: a verdade sobre ...(21): a jangada que fazia a travessia do rio Corubal, em Cheche, já era assente em três canoas, no meu tempo, c. set 1967 / c. abr 1968 (Abel Santos, sold at, CART 1742, Nova Lamego e Buruntuma, jul 1967 / jun 1969)