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domingo, 6 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24536: Recortes de Imprensa (130): "Nós tínhamos um padre, Antonio Grillo, que foi preso acusado de defender os rebeldes e os guerrilheiros que lutavam pela independência (...). Quando Paulo VI se tornou papa, o governo português perguntou o que ele queria de presente: 'Quero a libertação do padre Antonio Grillo'. Dito e feito. Paulo VI era maravilhoso" (...). (Dom Pedro Carlos Zilli, missionário brasileiro do PIME, bispo de Bafatá, em entrevista à Gazeta do Povo, 1/10/2019)


Foto nº 1


Foto nº 2

Guiné-Bissau > Regíão de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje (*) > Cerimónia de inauguraçáo da capela > Na 1ª foto, a nossa amiga Júlia Neto, viúva do cap José Neto (1929-2007), ao lado do bispo de Bafatá, Dom Carlos Pedro Zilli.

Na nº 2, a "foto de família": ao centro o Bispo de Bafatá, ladeado pela Júlia (à sua esquerda) e pelo Pepito (à sua direita).

Ao fundo, o crucifixo levado de Portugal, pela Júla Neto, oferta do Paulo Santiago. Presentes também, entre outras individualides, os embaixadores da União Europeia, da Finlândia, de Cuba e de Portugal, bem como a então presidente da ONG AD - Acçáo para o Desenvolvimento, Isabel Miranda, o Domingos Fonseca /o arqueólogo de Guileje(, bem como a Isabel Levy Ribeiro (hoje viúva do Pepito, 1949-2014).

Fotos (e legenda): © Pepito (2010). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné ]


1. Excertos da entrevista a Dom Pedro Carlos Zilli, missionário do Pontifício Instituto das Missões Exteriores (PIME); não ascido em Santa Cruz do Rio Pardo (São Paulo, Brasil), trabalha na Guiné-Bissau, na África Ocidental, desde 1985; em 2001, foi nomeado Bispo de Bafatá, uma das duas dioceses do país.


Gazeta do Povo, Curitiba, Paraná, Brasil | 01/10/2019 08:28 | Por Felipe Koller

(...) Você acompanha a história da Guiné-Bissau há mais de trinta anos – e me parece que seja uma história bem conflituosa. Como você enxerga a missão da igreja nesse contexto?

É bem conflituosa, sim. Houve a Guerra da Independência entre 1963 e 1974 e a Guerra Civil entre 1998 e 1999. A Igreja sempre esteve presente em meio aos conflitos.

A Igreja é vista como uma autoridade e o povo espera que os bispos transmitam alguma mensagem nesses períodos. Fazemos isso com uma certa frequência – não fazemos mais para não perder o efeito.

Já fizemos duas mensagens conclamando a paz que foram assinadas por católicos, evangélicos e muçulmanos. Em uma ocasião, o então presidente, um muçulmano, nos chamou em meio a um conflito e a audiência durou só cinco minutos: apenas nos pediu para rezarmos pela paz, pelo diálogo e pela reconciliação. É muito bonito esse reconhecimento da Igreja por parte das autoridades.

(...) A missão da Igreja brasileira na Guiné-Bissau tem o nome de Paulo VI, que foi canonizado no ano passado. O que o senhor diria sobre a importância da canonização de Paulo VI?

Foi ele quem levou à frente o Concílio Vaticano II. João XXIII teve a ousadia e a graça de convocar um concílio, mas acho que nem ele pensava que daria nisso tudo.

Paulo VI deu continuidade ao concílio após a sua morte. Foi o papa que deu início ao hábito das visitas papais a diversos lugares do mundo. Em 1969, foi o primeiro papa a ir para a África, conclamando a Igreja do continente para ser missionária.

Também recebeu em audiência Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos, líderes que lutavam pela independência dos países africanos de língua portuguesa. Muita gente morreu pela independência e pela liberdade. Mas a conquista da independência se atribui também, em parte, a Paulo VI, por ter recebido esses líderes.

Nós tínhamos um padre, Antonio Grillo, que foi preso acusado de defender os rebeldes e os guerrilheiros que lutavam pela independência contra o regime português.

Quando Paulo VI se tornou papa, o governo português perguntou o que ele queria de presente: “Quero a libertação do padre Antonio Grillo”. Dito e feito. Paulo VI era maravilhoso. (...)

Leia mais em: https://www.semprefamilia.com.br/blogs/acreditamosnoamor/tive-que-aprender-a-fazer-poesia-a-partir-da-realidade/


2. Comentário do editor LG:

A história do PAIGC está cheia de "lendas & narrativas", como de resto acontece com outros movimentos e partidos revolucionários, à esquerda e â direita, incluindo naturalmente a Igreja Católica enquanto organização e instituição...

Uma dessas "lendas" é o da famosa audiència, em 1 de julho de 1970, do Papa Paulo VI aos très dirigentes nacionalistas das colómias portugugueses que lutavam pela independència dos seus países (MPLA, PAIGC e FRELIMO), e que ao tempo (e ainda hoje) é hoje objeto de leituras divergentes.(**)

Vale a pena ler os seguintes excertos de um artigo mais vasto que o historiador João Miguel Almeida publicou, há 3 anos no jornal digutal 7Margens. 

Vd. 7Margens > A audiência inédita de Paulo VI que abalou o Estado Novo
João Miguel Almeida | 1 Jul 20

(...) Facto inédito até então, que assim permaneceria vários anos: um Papa – Paulo VI – quebrava vários interditos e recebia em audiência os líderes dos movimentos independentistas de três das então colónias portuguesas em África. Foi há 50 anos, 1 de Julho de 1970, e também era quarta-feira.

Um dos momentos de maior tensão entre o regime do Estado Novo e o Vaticano, que o regime ditatorial português tentou esvaziar antes que a censura permitisse que a notícia fosse dada. A convite do 7MARGENS, o historiador João Miguel Almeida reconstitui aqui o acontecimento.



Excertos do artigo de João Miguel Almeida (que é autor de A Oposição Católica ao Estado Novo, ed. Nelson de Matos, 2008) (com a devida vénia ao autor e ao editor):

(...) O acontecimento reabriu feridas nas relações diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé. A gestão da crise e a minimização dos estragos causados na imagem de um regime político que se afirmava como defensor da Igreja Católica não foram suficientes para apagar a perceção de que a estratégia e a doutrina da Santa Sé em relação a África divergiam da política colonial portuguesa.

(...) Os sinais provenientes do Vaticano durante e logo após o Concílio Vaticano II tinham sido captados com incómodo e crispação pelo governo de Salazar. A encíclica Pacem in Terris, de João XXIII, fora publicada em Portugal com a referência ao direito de autodeterminação dos povos cortado. A ida de Paulo VI à ONU fora considerada um acontecimento “horrível” por Salazar e a deslocação do Papa à Índia, fora qualificada por Franco Nogueira como um “agravo”, por causa da anexação de Goa pelo Estado indiano.

No entanto, a hábil diplomacia portuguesa conseguira varrer as sombras da imagem das relações entre Portugal e o Vaticano, explorando a visita de Paulo VI a Fátima em 1967. A chegada de Marcello Caetano ao poder pareceu anunciar uma melhoria nas relações entre o Estado Novo e a Santa Sé, como fim do exílio de dez anos do bispo do Porto, em 1969. (..:)

(..) Entre 27 e 29 de junho decorreu em Roma a Conferência de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas, organizada formalmente pelas três confederações sindicais italianas, embora na prática ela tenha resultado do empenho de quadros do PCI (Partido Comunista Italiano) e da CGIL, a central de orientação comunista.

Esta iniciativa, em que o PAIGC (...) MPLA (...) e Frelimo (...) marcaram presença, contou com a participação de 171 organizações nacionais e internacionais, de 64 países. (...)

(...) A preparação da audiência

(...) O encontro entre Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos com Paulo VI, foi meticulosa e secretamente preparada, para iludir a vigilância da polícia política portuguesa. A principal organizadora do encontro foi Marcella Glisenti, presidente da Associação Italiana dos Amigos da Présence Africaine, existente desde 1962 e que integrava personalidades como Enrico Berlinguer (futuro secretário-geral do PCI) e Giorgio La Pira (presidente da câmara de Florença e representante da ala esquerda da Democracia Cristã italiana).

No Vaticano, a jornalista italiana era também conhecida por ser casada com Giuseppe Glisenti, filiado no Partido Democrata Cristão, antigo resistente antifascista e diretor do Instituto para a Reconstrução Industrial (IRI).

Marcella Glisenti relacionava-se com os movimentos de libertação na África portuguesa, principalmente com Amílcar Cabral, que conhecera em 1968, em Paris, por intermédio do intelectual católico de origem senegalesa Alioune Diop, fundador da revista Présence Africaine e de uma livraria do mesmo nome em Paris (cfr. “A Amiga Italiana de Cabral”, Expresso, 22/02/1997).

Marcella Glisente pediu uma audiência a Paulo VI, em nome dos três líderes dos movimentos de libertação, numa carta dirigida a monsenhor Frana, secretário do cardeal Benelli, o número dois do governo do Vaticano.

A carta traçava um perfil dos três homens indicando não só o seu trajeto político, mas também a sua formação religiosa (dois católicos e um metodista).

O pedido de audiência foi reforçado por uma carta do arcebispo de Conacri, Raymond Marie Tchidimbo, dirigida a Benelli, em que classifica o encontro como uma “ocasião única” para o reconhecimento pela Igreja Católica “dos justos direitos à dignidade e à autodeterminação dos povos africanos”.

A autorização para o encontro chega por escrito, a 30 de junho, avisando os três líderes africanos que serão recebidos no dia seguinte pelo Papa, em audiência privada, na Sala dos Paramentos, onde eram recebidos os embaixadores estrangeiros, pelas 12h15. (...)


(...) A difícil gestão de um incidente diplomático


O embaixador junto da Santa Sé [Eduardo Brazão] fica chocado com a notícia. O Governo português não se limita a apresentar uma nota de protesto ao secretário do Estado do Vaticano – chama a Lisboa o seu embaixador, um gesto diplomático de forte desagrado, que geralmente antecede o corte de relações diplomáticas.

O protesto é também apresentado em pessoa e verbalmente ao equivalente ao cargo de primeiro-ministro no Vaticano, o cardeal Villot, que se mostra surpreendido e consternado. Na interpretação de Eduardo Brazão, o cardeal francês desconhecia as manobras de política internacional “manejada pelos seus subordinados italianos”. (...)

(...) Assim que é informado da chamada do embaixador português a Lisboa, o Vaticano faz publicar no Osservatore Romano uma versão dos acontecimentos que visa esvaziar a crispação com o governo português: a receção teve um carácter exclusivamente religioso, nada teve de especial, e nela o Papa limitou-se a saudar os interlocutores e exortá-los a serem fiéis aos princípios cristãos.

À frente da embaixada no Vaticano fica Quartin Graça, acreditado como encarregado de negócios. Era um diplomata hábil e experiente que, no contexto do conflito, consegue dar ao Governo português uma oportunidade de apresentar ao público uma versão dos acontecimentos em que “salva a face”: obtém da Santa Sé um documento assinado pelo cardeal Villot em que o significado do encontro de Paulo VI com os três líderes dos movimentos de libertação é minimizado, sendo negado que se tenha tratado de uma audiência “no sentido próprio do termo”.

O acontecimento é descrito como um dos muitos encontros que o Papa, na qualidade de pastor universal, tem com muitos grupos de católicos e não católicos. Paulo VI teria recebido os três dirigentes africanos não como políticos, mas apenas como cristãos.

Após três dias de rigorosa censura da audiência de Paulo VI, de 1 a 4 de julho, Marcello Caetano usa a versão da Santa Sé na sua comunicação televisiva ao país numa “conversa em família” a 7 de julho. Interpretando a nota vaticana do modo mais conveniente para o Governo, Marcello cita-a para declarar que a audiência “não teve qualquer significado político”, dando o incidente diplomático como esclarecido.

As versões mais convenientes para a continuidade das boas relações diplomáticas entre Portugal e o Vaticano são, no entanto, desmentidas por Agostinho Neto, numa conferência de imprensa na Dinamarca. O presidente do MPLA garante que os três homens tinham sido recebidos como políticos, que o Papa se mostrara solidário com a causa da independência das colónias portuguesas e que afirmara que rezaria pelos seus interlocutores. (...)

A 28 de julho, Eduardo Brazão regressa a Roma e retoma as suas funções. O incidente diplomático estava encerrado, mas as clivagens que revelara continuariam a marcar a relação da Igreja Católica com a dimensão colonial do Estado Português.

Entre 1960 e 1970 uma onda descolonizadora varrera África. Para os bispos e missionários católicos em África era cada vez mais difícil conciliar a fidelidade a Roma com uma visão providencialista do papel missionário de Portugal em África. (...)


quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Guiné 51/74 - P24528: Efemérides (403): Foi há 53 anos, em 1 de julho de 1970, que o papa Paulo VI teve um breve encontro, "no final da audiência geral semanal", com Agostinho Neto (MPLA), Amílcar Cabral (PAIGC) e Marcelino dos Santos (FRELIMO)... A notícia só foi dada no dia 5, na imprensa portuguesa, e originou uma dura nota de protesto do governo de Marcello Caetano que "chama a Lisboa o seu embaixador, um gesto diplomático de forte desagrado, geralmente antecedendo o corte de relações diplomáticas".

 






Recortes da 2ª edição do Diário de Lisboa, 5 de julho de 1970, PP.. 1  e 2.

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 06615.153.24907 | Título: Diário de Lisboa | Número: 17075 | Ano: 50 | Data: Domingo, 5 de Julho de 1970 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Edição: 2ª edição | Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos | Tipo Documental: Imprensa

Citação:
(1970), "Diário de Lisboa", nº 17075, Ano 50, Domingo, 5 de Julho de 1970, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6994 (2023-8-2)


1. Há 53 anos, em 1 de julho de 1970, segundo notícia da FP (agência France Press), datada de 5 de julho, Cidade do Vaticano, que "Paulo VI recebeu, no fim da audiência semanal geral, Marcelino dos Santos (...), Agostinho Neto (...) e Amílcar Cabral (...). É a primeira vez que très chefes de movimentos de guerrilhas anticolonialistas são recebidos por um Pontífice romano".

Sobre esta efeméride (*), vd. também o ponto de vista do historiador João Miguel Almeida, publicado há 3 anos, no jornal digirtal 7Margens (**),

Não há registos escritos ou fotográficos deste breve encontro que, não sendo uma audiência papal, propriamente dita, teve óbvios dividendos políticos para os très movimentos nacionalistas em questão.
_____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24462: Efemérides (402): No passado dia 1 de Julho de 2023, a União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, Concelho de Matosinhos, homenageou os seus Combatentes mortos na Guerra do Ultramar (Carlos Vinhal)

(**) Vd. 7Margens > A audiência inédita de Paulo VI que abalou o Estado Novo
João Miguel Almeida | 1 Jul 20

(...) A 1 de julho de 1970, o Papa Paulo VI recebeu três líderes dos movimentos de libertação das então colónias portuguesas: Amílcar Cabral, do PAIGC; Agostinho Neto, do MPLA; e Marcelino dos Santos, um dos elementos da troika que dirigia a Frelimo, após o assassinato de Eduardo Mondlane em 1969. O acontecimento reabriu feridas nas relações diplomáticas entre Portugal e a Santa Sé. A gestão da crise e a minimização dos estragos causados na imagem de um regime político que se afirmava como defensor da Igreja Católica não foram suficientes para apagar a perceção de que a estratégia e a doutrina da Santa Sé em relação a África divergiam da política colonial portuguesa. (...)

(...) O embaixador junto da Santa Sé fica chocado com a notícia. O Governo português não se limita a apresentar uma nota de protesto ao secretário do Estado do Vaticano – chama a Lisboa o seu embaixador, um gesto diplomático de forte desagrado, que geralmente antecede o corte de relações diplomáticas. O protesto é também apresentado em pessoa e verbalmente ao equivalente ao cargo de primeiro-ministro no Vaticano, o cardeal Villot, que se mostra surpreendido e consternado. Na interpretação de Eduardo Brazão, o cardeal francês desconhecia as manobras de política internacional “manejada pelos seus subordinados italianos”.(...)

(...) Entre 1960 e 1970 uma onda descolonizadora varrera África. Para os bispos e missionários católicos em África era cada vez mais difícil conciliar a fidelidade a Roma com uma visão providencialista do papel missionário de Portugal em África. A evolução de D. Sebastião Soares de Resende, bispo da Beira, inicialmente tão nacionalista como “romano”, mostrara que a resolução do dilema estava em dissociar o papel missionário católico em África dos sentimentos de fidelidade à nação portuguesa. (...)

(...) A contestação católica ao Estado Novo, que começara por ser protagonizada principalmente por leigos na metrópole, não tardaria a intensificar-se em algumas organizações eclesiásticas em território africano, no contexto da guerra colonial. (..:)


terça-feira, 1 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24525: Documentos (42): "Acordo Missionário", de 7 de maio de 1940, celebrado entre a Santa Sé e a República Portuguesa

"Assinatura da Concordata e do Acordo Missionário no Vaticano, 7 de Maio de 1940. À direita o Cardeal Luigi Maglione, representante da Santa Sé e à esquerda o General Eduardo Marques, antigo Ministro das Colónias portuguesas. [AHD- Colecção de Álbuns Fotográficos]" (Fonte: Cortesia de Instituto Diplomátio / Ministério dos Negócios Estranheiros)


1. Faz agora 83 anos que a Santa Sé (Estado do Vaticano) e o República Portuguesa assinaram a Concordata, a par do Acordo Missionário. Foi no dia 7 de maio de 1940. 

O histórico evento passou-se no papado do Pio XII e no governo de António de Oliveira Salazar. Os dois documentos foram depois ratificados,  a 30 de maio desse ano, pela Assembleia Nacional (que não tinha qualquer legitimidade democrática, dado o Estado Novo ser um regime de partido único),

Foi a 5.ª Concordata da História de Portugal. Com ela procurou-se "normalizar" as relações entre o Estado e a Igreja Católica.  Ficou consagrada a liberdade religiosa e a separação entre o poder laico e o religioso. À Igreja foi restituída parte do património que perdera em momentos históricos anteriores (nomeadamenet durante o liberalismo e a República), bem como uma série de prerrogativas (como a liberdade de organização, certas isenções fiscais, etc.). 

Recorde-se que durante a República foi promulgada, em 1911, a Lei da Separação do Estado das Igrejas de 1911, o que deu origem  a um  corte de relações diplomáticas que vigorou até 1918.

Lê-se na Infopédia (Concordata):

(...) "O chamado Acordo Missionário, assinado na mesma altura, criou condições para a colaboração entre a Igreja Católica e o regime salazarista, quer no território europeu, quer, e sobretudo, nas colónias ultramarinas.

"A Igreja fora lesada no seu património e liberdades pelo liberalismo do século XIX e de novo a seguir à implantação da República. Com a Concordata, porém, adquiriu ou recuperou uma série de prerrogativas: foi consagrado o direito de ela se organizar como melhor lhe conviesse, de comunicar com os fiéis sem prévia autorização do Estado e de lhes cobrar coletas, de ministrar instrução religiosa nas suas próprias instituições de ensino e noutras instituições privadas.

"Por outro lado, ficou previsto o ministério da religião e moral católicas nas escolas públicas e o serviço dos sacerdotes como capelões nas Forças Armadas. Aos casamentos católicos foi reconhecida validade civil.

Ainda nos termos dos acordos de 1940, a Igreja recebeu parte do património que lhe fora expropriado, prescindindo explicitamente da parte restante, enquantoa" o Estado se comprometeu, em contrapartida, a subsidiar a ação missionária nas colónias (em que Salazar estava especialmente interessado, como instrumento de consolidação do império) e a conceder-lhe regalias ímpares no capítulo das isenções fiscais.

"À Concordata e ao Acordo Missionário estavam subjacentes dois princípios distintamente modernos. Por um lado, estabelecia-se a separação do poder laico e da Igreja: ficou consagrado o princípio da não intromissão de uma esfera na outra, sem prejuízo de poder haver cooperação com objetivos específicos. Por outro lado, foi consagrado o princípio da liberdade religiosa. Estes dois princípios constituem, ainda hoje, a base do relacionamento do Estado português com as confissões e instituições religiosas." (..:)

Lê-se na Wikipédia (Concordata entre a Santa Sé e Portugal de 1940):

(...) "Apesar de ser um documento negociado pessoalmente por Salazar e conotado com o Estado Novo vigorou até 2004 tendo sobrevivido 34 anos em regime autoritário e 30 anos em regime democrático. O texto sobreviveu intacto, tendo apenas sofrido apenas uma alteração em 1975 de molde a acabar com a renúncia legal ao divórcio para os casamentos católicos posteriores à Concordata, o que na prática resultava na indissolubilidade dos casamentos canónicos.

"Curiosamente este era um ponto onde Salazar tinha aceitado a contragosto a posição da Santa Sé, tendo na altura deixado claro que essa não era no seu juízo a melhor solução. A fórmula alternativa que veio a ser consagrada na revisão deste artigo 1975 foi justamente a fórmula que Salazar e os seus conselheiros tinham sugerido à Santa Sé em 1937.

"Salazar pretendeu sempre evitar tudo o que pudesse ser interpretado como uma violação do regime de separação entre Estado e Igreja e conseguiu, através de negociações firmes e de um hábil jogo diplomático, fazer valer as posições do Estado português face às pretensões da Santa Sé" (..:).

2. Para saber mais: 

Manuel Braga da Cruz · As negociações da Concordata e do Acordo Missionário de 1940. Análise Social, vol. XXXII (143-144), 1997 (4.º-5.º), 815-845, Disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218793712C5wMG9pn8Pj18SG5.pdf


 3. Texto do Acordo Missionário (realces a amarelo: editor LG). (Sob o descritor "Missionários" temos mais de meia centena de referências no nosso blogue; na Guiné, e nomeadamente durante guerra colonial, as relações entre as autoriddaes locais, civis e militares, e as missões católicas estrangeiras, nomeadamente os missionários italianos do PIME - Pontífico Instituto Para as Missões Exteriores, não foram fáceis nem pacíficas, como documenta o nosso blogue).

INTER SANCTAM SEDEM ET REMPUBLICAM LUSITANAM 

SOLLEMNES CONVENTIONES (#)

ACORDO MISSIONÁRIO ENTRE 

A SANTA SÉ  E A REPÚBLICA PORTUGUESA 


Considerando :

Que na data de hoje foi assinada a Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa;

Que na dita Concordata nos artigos XXVI-XXVIII estão enunciadas as normas fundamentais relativas à actividade missionária;

Que durante as negociações para a conclusão da mesma Concordata o Governo Português propôs que as ditas normas fôssem ulteriormente desenvolvidas numa Convenção particular;

A Santa Sé e o Governo Português resolveram estipular um acordo destinado a regular mais completamente as relações entre a Igreja e o Estado no que diz respeito à vida religiosa no Ultramar Português, permanecendo firme tudo quanto tem sido precedentemente convencionado a respeito do Padroado do Oriente.

Para este fim nomearam Plenipotenciários respectivamente

Sua Eminência Reverendíssima o Senhor Cardeal LUIGI MAGLIONE, Secretário de Estado de Sua Santidade;

 e Sua Excelência o Sr. General EDUARDO AUGUSTO MARQUES, antigo Ministro das Colónias, Presidente da Câmara Corporativa, Grã- Cruz das Ordens militares de Cristo, de S. Bento d'Aviz e da Ordem do Império Colonial;

Sua Excelência o Sr. Doutor MARIO DE FIGUEIREDO, antigo Ministro da Justiça e dos Cultos, Professor e Director da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Deputado e Grá-Cruz da Ordem militar de S. Tiago da Espada;

Sua Excelência o Sr. Doutor VASCO FRANCISCO CAETANO DE QUEVEDO, Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto da Santa Sé, Grã-Cruz da Ordem militar de Cristo e Cavaleiro de Grã-Cruz da Ordem de S. Gregório Magno;

os quais, sob reserva de ratificação, concordaram em quanto se segue :

Art. 1

A divisão eclesiástica das Colónias Portuguesas será feita em dioceses e circunscrições missionárias autónomas.

Aos bispos das dioceses cabe organizar, por intermédio do clero secular e regular, a vida religiosa e o apostolado da própria diocese.

Nas circunscrições missionárias a vida religiosa e o apostolado serão assegurados por corporações missionárias reconhecidas pelo Governo, sem prejuízo de, com autorização deste, se estabelecerem, nos ditos territórios, missionários doutras corporações ou do clero secular.

Art. 2

Os Ordinários das dioceses e circunscrições missionárias, quando não haja missionários portugueses em número suficiente, podem, de acordo com a Santa Sé e com o Governo, chamar missionários estrangeiros, os quais serão admitidos nas missões da organização missionária portuguesa, desde que declarem submeter-se às leis e tribunais portugueses. Esta submissão será a que convém a eclesiásticos.

Art. 3

As dioceses serão governadas por bispos residenciais e as circunscrições missionárias por Vigários ou Prefeitos Apostólicos, todos de nacionalidade portuguesa.

Tanto numas como noutras, os missionários católicos do clero secular ou de corporações religiosas, nacionais ou estrangeiros, estarão inteiramente sujeitos à jurisdição ordinária dos sobreditos prelados no que se refere ao trabalho missionário.

Art. 4

As dioceses e as circunscrições missionárias serão representadas junto do Governo da Metrópole pelo respectivo prelado ou por um seu delegado, e as corporações missionárias pelo respectivo Superior ou por um seu delegado.

Os Superiores e os delegados, aqui mencionados, terão a nacionalidade portuguesa.

Art. 5

As corporações missionárias reconhecidas estabelecerão em Portugal continental ou ilhas adjacentes casas de formação e de repouso para o seu pessoal missionário.

As casas de formação e de repouso de cada corporação constituem um único instituto.

Art. 6

São desde já criadas três dioceses em Angola, com sede em Luanda, Nova Lisboa e Silva Porto; três em Moçambique, com sede em Lourenço Marques, Beira e Nampula; uma em Timor, com sede em Dili. Além disso, nas ditas colónias e na Guiné poderão ser eretas circunscrições missionárias.

A Santa Sé poderá, de acido com o Govêrno, alterar o número das dioceses e circunscrições missionárias. Os limites das dioceses e circunscrições missionárias serão fixados pela Santa Sé de maneira a corresponderem, na medida do possível, à divisão administrativa e sempre dentro dos limites do território português.

Art. 7

A Santa Sé, antes de proceder à nomeação de um arcebispo ou bispo residencial ou dum coadjutor cum iure successionis, comunicará o nome da pessoa escolhida ao Governo Português a fim de saber se contra ela há objecções de caracter politico geral. O silêncio do Governo, decorridos trinta dias sôbre a referida comunicação, será interpretado no sentido de que não há objeções. Todas as diligências previstas neste artigo ficarão secretas.

Quando dentro de cada diocese ou circunscrição missionária fôrem estabelecidas novas direções missionárias, a nomeação dos respectivos diretores, não podendo recair em cidadão português, só será feita depois de ouvido o Governo Português.

Criada uma circunscrição eclesiástica, ou tornando-se vacante, a Santa Sé, antes do provimento definitivo, poderá imediatamente constituir um administrador apostólico provisório, comunicando ao Govêrno Português a nomeação feita.

Art. 8

Às dioceses e circunscrições missionárias, às outras entidades eclesiásticas e aos institutos religiosos das colónias, e bem assim aos institutos missionários, masculinos e femininos, que se estabelecerem em Portugal continental ou ilhas adjacentes, é reconhecida a personalidade jurídica.

Art. 9

As corporações missionárias reconhecidas, masculinas e femininas, serão, independentemente dos auxílios que receberem da Santa Sé, subsidiadas segundo a necessidade pelo Governo da Metrópole e pelo Governo da respectiva colónia. Na distribuição dos ditos subsídios, ter-se-ão em conta não somente o número dos alunos das casas de formação e o dos missionários nas colónias, mas também as obras missionárias, compreendendo nelas os seminários e as outras obras para o clero indígena. Na distribuição dos subsídios a cargo das colónias, as dioceses serão consideradas em paridade de condições com as circunscrições missionárias.

Art. 10

Além dos subsídios a que se refere o artigo anterior, o Governo continuará a conceder gratuitamente terrenos disponíveis às missões católicas, para o seu desenvolvimento e novas fundações. Para o mesmo fim, as entidades mencionadas no artigo 8 poderão receber subsídios particulares e aceitar heranças, legados e doações.

Art. 11

Serão isentos de qualquer imposto ou contribuição, tanto na Metrópole como nas colónias :

a) todos os bens que as entidades mencionadas no artigo 8 possuírem em conformidade com os seus fins:

b) todos os actos inter vivos de aquisição ou de alienação, realizados pelas ditas entidades para satisfação dos seus fins, assim como todas as disposições mortis causa de que forem beneficiárias para os mesmos fins.

Além disso, serão isentos de todos os direitos aduaneiros as imagens sagradas e outros objectos de culto.

Art. 12

Além dos subsídios previstos no artigo 9, o Governo Português garante aos Bispos residenciais, como Superiores das missões das respetivas dioceses e aos Vigários e Prefeitos Apostólicos honorários condignos e mantém-lhes o direito à pensão de aposentação. Para viagens ou deslocações, porém, não haverá direito a qualquer ajuda de custo.

Art. 13

O Govêrno Português continuara a abonar a pensão de aposentação ao pessoal missionário aposentado e para, o futuro dá-la-á aos membros do clero secular missionário quando tiverem completado o número de anos de serviço necessário para tal efeito.

Art. 14

Todo o pessoal missionário terá direito ao abono das despesas de viagem dentro e fora das colónias. 

Para gozar de tal direito basta que na Metrópole o Ordinário ou seu delegado apresente ao Governo os nomes das pessoas, juntamente com atestado médico, que comprove a robustez física necessária para viver nos territórios do Ultramar, sem necessidade de outras formalidades. 

Se o Governo, por fundados motivos, julgar insuficiente o atestado médico, poderá ordenar novo exame que será feito na forma devida por médicos de confiança, sempre do sexo feminino para as pessoas deste sexo.

As viagens de regresso à Metrópole por motivo de doença ou em gozo de licença graciosa serão, por proposta dos respectivos prelados, autorizadas segundo as normas vigentes para os funcionários públicos.

Art. 15

As missões católicas portuguesas podem expandir-se livremente, para exercerem as formas de actividade que lhes são próprias e nomeadamente a de fundar e dirigir escolas para os indígenas e europeus, colégios masculinos e femininos, institutos de ensino elementar, secundário e profissional, seminários, catecumenatos, ambulâncias e hospitais.

De acordo com a Autoridade eclesiástica local, poderão ser confiados a missionários portuguêses os serviços de assistência religiosa e escolar a súbditos portugueses em territórios estrangeiros.

Art. 16

Nas escolas indígenas missionárias é obrigatório o ensino da língua portuguesa, ficando plenamente livre, em harmonia com os princípios da Igreja, o uso da língua indígena no ensino da religião católica.

Art. 17

Os Ordinários, os missionários, o pessoal auxiliar e as irmãs missionárias, não sendo funcionários públicos, não estão sujeitos ao regulamento disciplinar nem a outras prescrições ou formalidades a que possam estar sujeitos aqueles funcionários.

Art. 18

Os Prelados das dioceses e circunscrições missionárias e os Superiores das corporações missionárias na Metrópole darão anualmente ao Governo informações sobre o movimento missionário e actividade exterior das missões.

Art. 19

A Santa Sé continuará a usar da sua autoridade para que as corporações missionárias portuguesas intensifiquem a evangelização dos indígenas e o apostolado missionário.

Art. 20

Mantém-se em vigor o regime paroquial da diocese de Cabo Verde.

Art. 21

Os dois textos do presente Acprdo, em língua portuguesa e em língua italiana, farão igualmente fé.

Feito em duplo exemplar.

Cidade do Vaticano, 7 Maio de 1940. (*)

L. Card. MAGLIONE

EDUARDO AUGUSTO MARQUES

MARIO DE FIGUEIREDO

S. VASCO FRANCISCO CAETANO DE QUEVEDO (**) 

(#) AAS 32 (1940) 235-244.

_____________

Notas do editor:

(*) Texto disponível aqui:

https://www.vatican.va/roman_curia/secretariat_state/archivio/documents/rc_seg-st_19400507_missioni-santa-sede-portogallo_po.html

(**) Último poste da série > 21 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23904: Documentos (41): "Diploma de Cobra", outorgado pelo cap inf Jorge Parracho, cmdt da CCAÇ 3325, "Cobras" (Guileje e Nhacra, 1971/72) ao seu amigo e camarada do tempo da Academia Militar, cap art Morais da Silva, cmdt da CCAÇ 2796, "Gaviões" (Gadamael e Nhacra, 1970/72)

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23361: Efemérides (371): 17 de junho de 2022, Dia da Consciência, em memória de Aristides de Sousa Mendes (João Crisóstomo, Eslovénia)


Aristides de Sousa Mendes, 1940.
Cortesia de Fundação Aristides de Sousa Mendes.


A. 17 de junho de 2022: Lisboa: D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa,  presidiu à celebração do Dia da Consciência


Conforme lembrete que nos mandou ontem o João Crisóstomo (o maior lobista, luso-americano, da Tabanca Grande...), e com base em notícia de 7 do corrente do portal da Agência Ecclesia, estava provisto que o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, presidisse, hoje,  dia 17,  às 10h30, no Convento de São Domingos de Benfica, à celebração do Dia da Consciência, lembrando a figura de Aristides Sousa Mendes.

Esta comemoração resultou da “conjugação de esforços” do Convento de São Domingos de Benfica; familiares e Fundação Aristides Sousa Mendes; Escola Delfim Santos /Agrupamento das Laranjeiras e ALÉM – Associação Literatura, Literacia e Mediação.

Estava também previsto que a celebração da Eucaristia tivesse acompanhamento musical por Susana Moody (contralto),Tiago Sepúlveda (tenor), Alexey Shakitko (pianista/organista) e Diana Matos (alaudista).

 Fonte: Ecclesia

Recorde-s que o  Dia da Consciência é celebrado, anualmente, a 17 de junho, em homenagem a Aristides de Sousa Mendes por ter seguido «a voz da consciência e ter salvo a vida de milhares de judeus e outros perseguidos».

Este dia comemora o respeito pela liberdade de consciência. As ações de Aristides Sousa Mendes foram motivadas pelos seus valores cristãos e humanistas.

Aristides de Sousa Mendes nasceu em Cabanas de Viriato, a 19 de julho de 1885 e desempenhava funções de cônsul em Bordéus, França, durante o início da II Guerra Mundial.

Fonte: Eurocid


B. DIA DA CONSCIÊNCIA, apêndice ao livro LAMETA, de João Crisóstomo

Já aqui reproduzimos em tempos largos excertos do livro do nosso querido amaigo e  camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque), ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste, edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp.

Como escrevemos, é um documento para a história, ou pelo menos, para "memória futura", dos timorenses, dos portugueses e os demais lusófonos, incluindo os filhos e os netos do autor, que vivem na Améria. 

Mais recentemente, o autor acrescentou ao livro um apêndice que poderá sair em papel, no caso de ele decidir fazer uma segunda edição, o que nos parece pouco provável... A edição do LAMETA, em papel, só possível após muitas insistências (e se calhar algumas "pragas"...) dos amigos.

Reproduz-se aqui o texto, em formato digital,  que o João Crisóstomo nos acaba de mandar da Eslovénia, terra da sua esposa Vilma, na véspera do Dia da Consciência:

(...) "Conforme devidamente mencionado no livro, a par deste envolvimento com Timor Leste e de alguma maneira relacionados com este, a LAMETA desenvolveu outras ações. Entre estas conta-se o reconhecimento mundial da figura e ação de Aristides de Sousa Mendes.

Em 2003/4, no contexto desse reconhecimento, LAMETA fundou um movimento para que o dia 17 de Junho fosse considerado e celebrado a nível mundial, como o “Dia da Consciência" de acordo com o espírito de Aristides que seguindo os ditames da sua consciência nesse dia em 1940 tomou a decisão de salvar todos os que fugiam dos Nazis.

Entre muitos outros eventos levados a cabo nesse sentido, permito-me destacar: Um primeiro evento em Nova Iorque no dia 17 de Junho de 2003 que constou de uma exposição, e uma exibição (com palestra pelo Rabbi David Baron, co-produtor do filme “Diplomats for the Damned “).

E logo no ano seguinte o Dia 17 de Junho de 2004 e o “Acto de Consciência” de Aristides de
Sousa Mendes foram celebrados com cerca de oitenta acontecimentos por todo o mundo, com
destaque para 34 Missas, celebradas com a maior solenidade em 21 países.

Em Junho de 2010 houve uma concelebração em Roma pelos Cardeais Walter Kasper,
Renato Martino, Cláudio Hummes e William Levada. Este acontecimento não foi despercebido
pela media e a Agência de notícias Zenit deu-lhe devida cobertura: “Tribute paid to those who
followed conscience”, (Rome June 18, 2010 (Zenit.org).

Semelhantes eventos ocorreram em outros países e no Parlamento do Canadá foi introduzida uma moção por Mário Silva M. P. “encouraging all parliamentarians to recognize this devotion to conscience by supporting my motion to designate June 17 each year a day of conscience, consistent with the international efforts of João Crisóstomo”.

O "Dia da Consciência ” continuou a ser celebrado desde então simultaneamente em muitos
países todos os anos no dia 17 de Junho.

Vaticano:

Foi em 2010 que enviei uma primeira carta a Sua Santidade, pedindo a bênção e participação do Vaticano para este projecto. Esta não teve então qualquer resposta. Sabia que seria um projecto difícil, tanto mais que havia vozes discordantes. Mas perseverante e sempre esperançado, continuei e repeti o pedido em vários anos seguintes.

Em 2017 ofereceu-se-me uma possibilidade que não deixei de aproveitar. A propósito da Escola de S. Francisco de Assis em Timor Leste (ideia original deRuci Chamusco e do casal luso-timorense Glória e Gaspar Sobral), fui recebido no Vaticano e no decurso de uma longa audiência com o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, tive ocasião de lhe falar sobre Aristides de Sousa Mendes e no projecto do “Dia da Consciência”, e pedi-lhe a sua colaboração.

Vaticano, Agosto de 2017: A Escola S. Francisco de Assis e o “Dia da Consciência” foram os
assuntos do encontro entre o Sr. Cardeal Pietro Parolin e João Crisóstomo.

No ano seguinte numa das cartas dele recebidas, atrás reproduzida, depois de falar de Timor Leste e da Escola de S. Francisco de Assis, o Sr. Cardeal Pietro Parolin mencionava não ter esquecido o meu pedido sobre Aristides de Sousa Mendes. E a partir daí, aproveitando todas as razões e oportunidades que se me ofereciam eu ia lembrando Sua Eminência da relevância deste projecto. Sua Eminência respondia-me que o assunto “estava a ser estudado”.

 A 11 de Setembro de 2019 o seu assistente Mons. Robert Murphy, ao mesmo tempo que me dava a conhecer a sua transferência para novo posto, enviou- me uma mensagem de Sua Eminência para me assegurar que o assunto das minhas cartas não estava esquecido (sic):

"Cardinal Parolin has asked me to reply on his behalf to your letters, sent over the course of the last months, to assure you that your proposal regarding the “Day of Conscience” is currently under study. "

E, já perto do dia 17 de Junho, a 22 de Março de 2020, eu recebia um outro Email de Sua
Eminência:

"Sorry for not giving any reply to your numerous letters, the last of which you sent at the
beginning of last February, about the Day of Conscience project".... e depois "I hope to be able to send you a definite answer without further delays. I apologise for this inconvenience and I rely on your understanding. May God bless you. Have a good Sunday! Pietro Parolin"


E de facto, a 17 de Junho de 2020, na Audiência Geral de 17 de Junho de 2020 o Papa Francisco lembrou este dia (*)

"Today is the Day of Conscience, inspired by the witness of the Portuguese diplomat Aristides Sousa Mendes, who around 80 years ago decided to follow his conscience and saved the lives of thousands of Jews and other persecuted people. May freedom of conscience be respected and always and everywhere and may every Christian give the example of the consistency of an upright conscience enlightened by the Word of God”.

Esta alusão do Papa Francisco neste dia da Consciência em 2020 foi para mim como que o
"reconhecimento oficial” de Aristides de Sousa Mendes e do Dia da Consciência por parte do
Vaticano.

Achei apropriado e aproveitei a data do “Dia do Pai”, alguns dias depois, para manifestar a Sua Santidade Papa Francisco e a Sua Eminência Cardeal Pietro Parolin o meu reconhecimento:

To His Holiness Pope Francis, New York, June 21 2020
Dear Father
Today is Fathers Day in USA. And I thought this the best way and best day to let Your Holiness know of my heartfelt gratitude for the “present “You gave the world by mentioning June 17 as the “Day of Conscience”.

Your Holiness: You are the father of all of us; and by doing so Your Holiness has given us a much welcome “father's present”. Thank you indeed."!

(...) (...) Yours in Christ,
João Crisóstomo


E igualmente a Sua Eminência Cardeal Pietro Parolin:

His Eminence Cardinal Pietro Parolin, New York, June 21 2020
Secretary of State of His Holiness

Dear Father, my dearest friend,

Today is Father’s Day in USA. And I thought this the best way and best day to let Your Eminence know of my heartfelt gratitude. You were kind in your heart: I know that it was your interest and help that “made the difference” in this “Day of Conscience project”.

I have sent a “Thank you” letter to His Holiness. (...) I thank Our Lord for putting you in the right place and I thank you for your very much appreciated help. (...)

I know you this letter will go to you first.(...)

Yours in Christ,
João Crisóstomo


O júbilo (bem justificado) por este final reconhecimento por parte do Vaticano foi geral, não só em Portugal como por esse mundo fora, como tive ocasião de verificar. Mesmo por parte de
alguns que antes não partilhavam comigo nesta ideia de lembrar o “Dia de Consciência” a 17 de Junho e que agora “reconsideraram" a sua opinião escrevendo: "Wow this is great news! (...) Congrats to João on this achievement!" ( assinatura reconhecida )

O nosso próprio Presidente da República Prof Marcelo Rebelo de Sousa, a quem logo no mesmo dia 17 de Junho dei conhecimento deste importante reconhecimento por parte do Vaticano, enviou uma carta de agradecimento a Sua Santidade o Papa Francisco. 
_________

Este “apêndice”, de nove páginas  (que inclui uma primeira parte sobre a Escola São Fransisco Assis, nas montanhas de Lorosae), o livro LAMETA foi escrito em 20 de Maio de 2022, dia do 20º aniversário da independência de Timor Leste. (**)

João Crisóstomo
__________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 19 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21089: Efemérides (328): O Papa Francisco recordou o "Dia da Consciência", celebrado nesta quarta-feira, dia 17,"inspirado no testemunho do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, que, oitenta anos atrás, decidiu seguir a voz da consciência e salvou a vida de milhares de judeus e outros perseguidos", lê-se no "Vatican News" (João Crisóstomo, Nova Iorque)

(**) Último poste da série > 6 de junho de  2022 > Guiné 61/74 - P23330: Efemérides (370): 10 de Junho de 2022 - Homenagem aos Combatentes da Guerra do Ultramar - XXIX Encontro Nacional, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21089: Efemérides (328): O Papa Francisco recordou o "Dia da Consciência", celebrado nesta quarta-feira, dia 17,"inspirado no testemunho do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, que, oitenta anos atrás, decidiu seguir a voz da consciência e salvou a vida de milhares de judeus e outros perseguidos", lê-se no "Vatican News" (João Crisóstomo, Nova Iorque)


O cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes
(Cabanas de Viriato, 1885 - Lisboa, 1954)


Um dos vistos passados pelo consulado português de Bordéus, França, com data de 19 de junho de 1940.

Fonte:  Vatican News,. de hoje, 19 do corrente (. com a devida vénia...)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, que vive em Nova Iorque:

Date: sexta, 19/06/2020 à(s) 11:50
Subject: O Papa Francisco e o Dia da Consciência

Caro Luís Graça,

Aqui está  o que pus na minha página do Facebook (, por vezes, quando é mesmo necessário, também me aventuro lá...)

No artigo do Vatican News,. de hoje, 19 do corrente,  aparecem duas boas   fotos   que não pude por no Facebook: a foto de Aristides,  e uma foto dum passaporte com um "visto" passado por ele... Talvez queiras (e possas) aproveitar  para pôr no teu poste.

O Secretário de Estado dpo Vaticano,
Cardeal Pietro Parolin, com o João Crisóstomo
Junto porém, caso aches relevante,  uma foto que tirei com o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin [, à esquerda.] , a quem "chateei tanto" que ele "só para se  ver  livre de mim",  teve de fazer o que eu pedi… mas não foi  o caso; em 2018 ele numa carta ( que junto) já mostrava boa vontade não só no referente a Timor Leste, como mencionava ter celebrado missa neste dia 17 de Junho, "Dia da Consciência"  como eu lhe havia pedido.

Desde então temos  estado  em contacto e há três meses Sua Eminência sossegava-me, assegurando que o assunto não tinha sido esquecido, conforme email que copio também. (E para ti, para saberes o que te espera quando vieres aqui a minha casa, junto uma foto tirada ontem, durante um "teste" para fazer um video para um canal de televisão italiano sobre o assunto do Dia da Consciência.) [Foto a seguir]



Nova Iorque > Queens >  19 de junho de 2020 > O João Crisóstomo no seu museu de recordações de uma vida de luta por causas nobres.

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


By the way: Por vezes dizem que minha casa é um pequeno museu… Neste caso podes ver na parede as fotos dos "humanistas" cujas causas tenho ajudado a dar a conhecer ao mundo, especialmente aqui nos Estados Unidos.

São eles, da esquerda para a direita:

(i) o humanista  brasileiro  Luís Martins de Sousa Dantas ( numa foto pequena sobreposta está o franciscano francês Father Benoit , a quem  chamavam " o Pai dos Judeus");

(ii) no meio está o nosso Aristides de Sousa Mendes [, a foto/montagem  sobreposta sobre os mapas de Bordéus e Carregal do Sal é um original que  me ofereceu Peter Malkin (que agarrou com suas mãos o famigerado Eichmann);

(iii) à direita Angelo Roncalli, que viria a ser papa (São João XXII);

(iv) por baixo, ainda um outro grande humanista, o conhecido sueco  Raoul Wallenberg;

(v) e no lado direito aparece uma foto de Xanana:  está aí apenas porque   os painéis à minha direita estão relacionados com Timor Leste.

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Estado do Vaticano > Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin > E mail de 22 de Março 2020:

Dear Mr. Crisostomo,

greetings from Rome, in these difficult days in which we are called to pray more and to put our confidence in God.  I hope that you are getting fine.  Here, we are under strict restrictions and it is very sad to see the churches closed and Holy Masses suspended.

Sorry for not giving any reply to your numerous letters, the last of which you sent at the beginning of last February,  about the Day of Conscience project, but, as you can understand, we are everyday under a huge pressure and there are so many dossier which claim our attention  so that it is not easy to follow everything.  

Unfortunately, the project has not been studied yet by our Office, in spite the fact that I have sent the documentation to them few months ago, Today I have sent a reminder, asking them to proceed speedily and to give my a opinion as quick as possible. 

 I hope to be able to send you a definite answer without further delays.  If apologie for this inconvenience and I rely on your understanding. 

May God bless you.  Have a good Sunday!
Pietro Parolin

[Tradução/adaptação livre do editor  L.G.;

Caro Sr. Crisóstomo, saudações de Roma, nestes dias difíceis em que somos chamados a rezar mais e a confiar em Deus. Espero que esteja bem. Nós, aqui, estamos com restrições estritas e é muito triste ver as igrejas fechadas e as missas suspensas. 

Peço desculpa por não ter respondido às suas numerosas cartas, a última das quais enviada no início de fevereiro passado, sobre o projeto do Dia da Consciência, mas, como pode  perceber, estamos todos os dias sob uma enorme pressão e há muitas dossiês que reclam a nossa atenção, pelo que não nos é fácil acompanhar tudo. 

 Infelizmente, o projeto ainda não foi analisado pelo nosso gabinete , apesar de eu já ter enviado a documentação para eles há alguns meses. Hoje enviei um lembrete, pedindo-lhes que acelerarem a resposta e  darem.me uma opinião o mais rápido possível. 

 Espero poder enviar--lhe  uma resposta definitiva sem mais delongas. Peço desculpa por este inconveniente e confio na sua compreensão. Que Deus o abençoe. Tenha um bom domingo! Pietro Parolin]

2. Aqui está, entretanto,  o que pus no meu Facebook, ontem:

Para quem por vezes duvida de que vale a pena envolvermos-nos em coisas que parecem muito difíceis, permitam-me discordar: desde 2004 tenho tentado que o Vaticano aceite o dia 17 de Junho, dia em que Aristides demonstrou o seu grande humanismo, salvando milhares de refugiados, como o "Dia da Consciência".

Se o conseguisse, pensava eu, seria um grande passo para que Aristides e o seu exemplo fossem mais conhecidos. E como me escreveu ontem o seu neto Gerald Mendes, "in these days of turmoil, conflicts and confusion around the world, it is an opportunity to reflect, to have a chat with our conscience". Se isto suceder a muita gente… é isso mesmo que é preciso: Aristides de Sousa Mendes continuará sempre a inspirar e motivar cada um de nós a sermos o que devemos ser.

Oxalá as pessoas pelo mundo fora ouçam as palavras do Papa Francisco na sua Audiência de de ontem, conforme foi publicada na "Vatican News" que me permito partilhar:

Francisco: que a liberdade de consciência seja em toda parte respeitada

O Papa recordou o "Dia da Consciência", celebrado nesta quarta-feira, inspirado no testemunho do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, que, oitenta anos atrás, decidiu seguir a voz da consciência e salvou a vida de milhares de judeus e outros perseguidos.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na Audiência Geral desta quarta-feira (17/06), o Papa Francisco fez um apelo em prol do "Dia da Consciência".

"Celebra-se hoje o "Dia da Consciência", inspirado no testemunho do diplomata português Aristides de Sousa Mendes, que, oitenta anos atrás, decidiu seguir a voz da consciência e salvou a vida de milhares de judeus e outros perseguidos. Que a liberdade de consciência seja sempre e em toda parte respeitada; e que cada cristão possa dar exemplo de coerência com uma consciência reta e iluminada pela Palavra de Deus."

Aristides de Sousa Mendes nasceu em Cabanas de Viriato, Portugal, em 19 de julho de 1885. Desempenhava as funções de cônsul de Bordeaux, na França, quando teve início a II Guerra Mundial. Concedeu cerca de trinta mil vistos para salvar a vida de refugiados do nazismo, a maioria judeus, contra as ordens expressas de Salazar.

Obrigado a voltar a Portugal, Sousa Mendes foi demitido do cargo e ficou na miséria, com a sua numerosa família. Faleceu pobre, em 3 de abril de 1954, no hospital dos franciscanos, em Lisboa.
Em 1966, foi reconhecido pelo instituto Yad Vashem, memorial dos mártires e heróis do Holocausto, como um "Justo entre as nações".

Em 1998, foi condecorado a título póstumo com a Cruz de Mérito pela República Portuguesa, por suas ações em Bordeaux."


É gratificante verificar o respeito e o reconhecimento finalmente dado a Aristides de Sousa Mendes também no nosso país, com a sua introdução no Panteão Nacional.

Para o caso de alguém ficar admirado de eu dizer "também no nosso país", permito-me recordar que durante muito tempo Aristides de Sousa Mendes foi propositadamente ignorado no nosso país e o seu reconhecimento só sucedeu depois de pressão por parte dos Estados Unidos onde Aristides foi reconhecido e homenageado anos antes.

Bem hajam todos os que estiveram envolvidos nesta entrada de Aristides no Panteão Nacional.
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Luís: Abraço meu e da Vilma (que acaba de acordar e, quando soube que te estava escrever,   berrou que mandasse um beijinho dela para ti e para a Alice.) 

João e Vilma
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21066: Efemérides (327): o 10 de junho de 2020, que não houve, por causa da COVID-19, na Lourinhã...