1. Mensagem de hoje do nosso camarada Domingos Gonçalves:
Foto (e legenda): © José Manuel Lopes (Josema) (2008). Todos os direitos reservados. [Edição de L.G.]
Data: 14 de Abril de 2014 às 09:45
Assunto: Feliz Páscoa
Braga, 14/04/2014
Com votos de Feliz e Alegre
Páscoa, cheia, só, de coisas boas, em especial boa recuperação da saúde, envio um pequeno texto, que poderá ser publicado.
Quanto à idade do Blog, está em plena infância, terá, por isso, ainda um longo caminho a percorrer, antes de atingir a velhice.
Feliz Páscoa.
Domingos Gonçalves
Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74), "Os Unidos de Mamaptá" > "Depois da caçada há que preparar o bicho, tal qual uma matança de porco numa das nossas aldeias"....
Assunto: Feliz Páscoa
Braga, 14/04/2014
Com votos de Feliz e Alegre
Páscoa, cheia, só, de coisas boas, em especial boa recuperação da saúde, envio um pequeno texto, que poderá ser publicado.
Quanto à idade do Blog, está em plena infância, terá, por isso, ainda um longo caminho a percorrer, antes de atingir a velhice.
Feliz Páscoa.
Domingos Gonçalves
Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74), "Os Unidos de Mamaptá" > "Depois da caçada há que preparar o bicho, tal qual uma matança de porco numa das nossas aldeias"....
2. Guiné, dia 20/03/1967 > O porco, animal sagrado, para o povo mandinga
por Domingos Gonçalves [ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68; foto atual à esquerda]
Às sete horas da manhã saí para Santancoto, onde fiquei emboscado todo o dia.
Preparei a emboscada a cerca de 300 metros do rio, tendo permanecido no local, à espera que o inimigo por lá passasse.
Mas não passou. Quando, a certa altura, saboreava a ração de combate, ofereci conservas de carne ao Malan, (soube recentemente que já faleceu), um nativo pertencente à milícia, que, regra geral, nos acompanha a servir de guia.
Não aceitou, com receio de que fosse carne de porco.
Perguntei-lhe, então, por que razão os Mandingas não comem carne de porco. Ele respondeu-me com a seguinte história:
por Domingos Gonçalves [ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68; foto atual à esquerda]
Às sete horas da manhã saí para Santancoto, onde fiquei emboscado todo o dia.
Preparei a emboscada a cerca de 300 metros do rio, tendo permanecido no local, à espera que o inimigo por lá passasse.
Mas não passou. Quando, a certa altura, saboreava a ração de combate, ofereci conservas de carne ao Malan, (soube recentemente que já faleceu), um nativo pertencente à milícia, que, regra geral, nos acompanha a servir de guia.
Não aceitou, com receio de que fosse carne de porco.
Perguntei-lhe, então, por que razão os Mandingas não comem carne de porco. Ele respondeu-me com a seguinte história:
Um dia, já lá vão muitíssimos anos, o povo Mandinga andava perdido no deserto, e morria de sede. O calor era muito, e todo o povo já perdia a esperança de encontrar água. A nação Mandinga ia desaparecer.
Então, o chefe do povo perguntou à galinha onde haveria água que pudesse beber, mas a galinha não o ajudou. Por isso é permitido ao povo comer carne de galinha.
Depois, perguntou a mesma coisa à cabra, mas esta também não lhe indicou onde havia água.
Sucessivamente, o chefe do povo Mandinga repetiu a pergunta à vaca, à ovelha, ao coelho e a muitos outros animais. Mas, nenhum lhe disse onde havia água.
Então, em último lugar, o chefe do povo, já desanimado e a pensar na sua morte, e na morte da sua nação, perguntou ao porco onde havia água. E o porco começou a caminhar... A caminhar... E conduziu o povo até à margem de um rio caudaloso, de aguas frescas e cristalinas.
O povo bebeu daquela água, e não morreu de sede.
É por isso – disse-me o Malan –, que o povo Mandinga não come a carne de porco. Foi ele quem o salvou de morrer de sede. É por isso que o povo Mandinga ainda existe, e guarda muito respeito pelo porco, como se ele fosse um animal sagrado.
Durante aquela nossa caminhada difícil, de travessia do deserto, foi o porco o nosso maior amigo. Foi ele que salvou da morte pela sede o povo Mandinga. Por isso, nós não matamos o porco, nem comemos a sua carne.
Esta, a explicação que permanece na alma do povo.
Todavia, se fizer a mesma pergunta ao sacerdote muçulmano, cá da terra, ele apenas me dará a seguinte resposta:
– Está escrito. É uma determinação sagrada do nosso livro santo, o Alcorão.
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Nota do editor:
Último poste da série > 14 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12983: 10º aniversário do nosso blogue (7): "Não fui soldado raso"... Poema de J. L. Mendes Gomes, bravo "Palmeirim de Catió", 1964/66