Mostrar mensagens com a etiqueta estrangeirados. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta estrangeirados. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)


Eduardo Lourenço (Almeida, 1923 - Lisboa, 2020).
Foto da Agência Lusa (2020). 
Cortesia de Wikimedia Commons


1. Mensagens do José Belo:

(1) Data - 6 ago 2022 11:31
Assunto - Talvez o menos estrangeirado

Caro Luís

O nosso Eduardo Lourenço soube, talvez melhor,  que muitos intelectuais contemporâneos, pôr o dedo na ferida quanto aos nossos grandiosos mitos lado a lado com profundos complexos.

Vou enviar-te um texto resultante de leitura muito atenta a alguns ensaios do mesmo

PS - Espero sinceramente que quanto às saúdes todos nós continuemos sem estar... ”piorzinhos”!

Um abraço, JBelo

(ii) Data - 6 ago 2022, 12h39

Assunto - Estrangeirados

Francamente que não sei se o tema, e texto, terá cabimento (ou interesse) para os seguidores do blogue. Os parâmetros são distintos.

A ser publicado fico grato se indicares uma data aproximada que possa permitir um debate… caso este venha a surgir.

A fins deste mês volto para Key West e, por lá,  os meus tempos dedicados à “com-puta-gem” perdem prioridade frente ao Sloppy Joe’s Bar.

Um abraço com votos, para ti e família, de Boas Férias! JBelo

 

"Lisboa é o sítio ideal para acreditar que as Caravelas continuam a existir" (Eduardo Lourenço). Foto: José Belo (2022).

2. Eduardo Lourenço:  “As palavras que definem uma Nação “ (*)

Um dos maiores intelectuais portugueses contemporâneos que, e segundo as suas palavras… ”se afastou do País para respirar liberdade”. (**)

Nascido na pequena aldeia de São Pedro do Rio Seco, passou longo período da sua vida no estrangeiro. 
Primeiro como professor na Alemanha e, posteriormente, como professor nas universidades francesas de Grenoble e Nice.

Regressou a Portugal no período final da sua vida.

O jornal “Le Monde” descreveu-o como um intelectual liberto da rigidez política das ideologias,  que soube sempre seguir o seu próprio caminho.

As suas obras mais conhecidas foram escritas nos anos setenta, antes, durante e depois da “revolução dos cravos“: Tempo e Poesia (1974); O Labirinto da Saudade (1978). Obras que o tornaram conhecido fora dos círculos literários e académicos.

Importante parte dos seus ensaios foram dedicados a Luís de Camões e a Fernando Pessoa.

No “Labirinto da Saudade“ afirma que a literatura histórica portuguesa se pode ler como uma busca de resposta às perguntas:
  • Quem são os portugueses?
  • O que significa ser-se português?
Com início em Camões, Eduardo Lourenço identifica todo um irrealismo que engloba o espírito português. Uma mistura de grandiosidades lado a lado com profundo complexo de inferioridade.

Segundo ele, a imagem histórica de Portugal não é resultante de observações baseadas em realidades. Resulta antes de sonhos político-ideológicos criados por uma minoria urbana, como referido pelo realismo de Eça de Queiroz. Uma aristocracia (e burguesia) endinheirada sempre com o pé no estribo do "Sud-Express", arrastando-se para uma Europa onde se produz a verdadeira cultura e o conhecimento.

A existência de um mítico “povo simples” torna o diálogo literário entre estes polos opostos num… monólogo literário limitativo.

É neste espaço (ou contradição) entre a “falta” e o “regresso” que, segundo ele, surge a palavra “saudade”.

Afirma também que, em Portugal, tanto o neo-realismo como o comunismo (verdadeiros polos opostos à ditadura do Estado Novo tanto nas artes como na política) se dedicaram ao mesmo tipo de “mitologia” no modo como integraram na sua visão mundial os mesmos clichês quanto ao “Povo simples”, em tudo semelhantes aos usados por intelectuais da Direita. Mitos que serviram, e servem, como conveniente “manta de cobertura “ sobre um tipo de fragilidade histórica.

Com Salazar, o patriotismo jacobino dos convulsionados 16 anos da Primeira República, transformou-se em nacionalismo exaltado. O Estado Novo, com o seu aparelho de propaganda desde a escola aos meios de comunicação, cria uma verdadeira “Disneylândia” de portugalidades feita.

Como poderá a cultura de um pequeno país, isolado num extremo europeu, manter a sua originalidade, usar de um pensamento crítico quando a análises do passado, manter vivas as suas tradições ao mesmo tempo que se abre perante o mundo?

Segundo Eduardo Lourenço é fundamental para Portugal... ser europeu!

Um abraço do JBelo

Adenda - Talvez o menos… estrangeirado!

Abandona o país em 1953, mas recusa a condição de exilado. É apenas emigrado.

“Como é que um homem nascido em São Pedro do Rio Seco, pode ser outra coisa que não português?” Não aceita ser estrangeirado:” Não, não aceito!... Fico furioso. Fico desesperado.”

O seu método é o “de olhar de dentro mesmo estando fora”. No "Labirinto da Saudade" escreve:

“Pensar Portugal como vontade e como comunidade plural de destinos e valores, pondo em diálogo os mitos e a razão e… procurando afastar a maldição do atraso.”

“…é a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá longe a solução que, como no apólogo célebre, está enterrada no nosso exíguo quintal.

Não estamos sós no mundo, nunca o estivemos. A conversão cultural necessária passa por um olhar crítico sobre o que somos e o que fazemos.”

PS - E como Eduardo Lourenço escreveu: "Lisboa é sítio ideal para acreditar que as Caravelas continuam a existir"



José Belo, jurista, o nosso camarada luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande:

(i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida); 

(ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; 

(iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); 

(iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel, se ele tivesse tratado da papelada a tempo) do exército português; 

(v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; 

(vi) tem 226 referências no nosso blogue.
 ___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23506: Notas de leitura (1472): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (1) (Mário Beja Santos)

(**) Vd. também postes de:

2 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21604: Manuscrito(s) (Luís Graça) (195): In Memoriam: Eduardo Lourenço (1923-2020), pensador maior da nossa história, da nossa cultura, da nossa identidade como povo

17 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15013: Notas de leitura (748): “Do Colonialismo como Nosso Impensado", Organização e Prefácio de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi, Gradiva Publicações, 2014 (Mário Beja Santos)