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quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24559: Convívios (969): CCAÇ 3398 (Buba, 1971/73): Cinquentenário do regresso (1 set 1973): Freiriz, Vila Verde, a "terra dos lencinhos dos namorados", 2 de setembro de 2023 (José da Silva Lourenço / Joaquim Pinto Carvalho)


Inscrições até ao dia 19 de agosto: telem 916 653 615 (José da Silva Lourenço)





1. Mensagem que nos chegou ontem, às 21h19, da parte do nosso amigo e camarada Joaquim Pinto Carvalho, que tem mais de 60 referências no nosso blogue, e é membro nº 633 da Tabanca Grande, foi alf mil da CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda) (1971/73); natural do Cadaval, é advogado, poeta e régulo da Tabanca do Atira-te ao Mar, Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã; é autor de uma brochura com a história da unidade, a CCAÇ 3398, distribuída no respetivo XXV Convívio, realizado no Cadaval, em 18/9/2021.


Assunto - Convívio da CCAÇ 3398, em 2 de setembro de 2023

Olá! Mando-te anúncio do convívio que fiz e digitalização da carta qu recebi do organizador. Vê se dá para aproveitar alguma coisa para colocares no blogue.
Obrigado

Um abraço, J. Pinto de Carvalho



Vila Verde, no distrito de Braga,  é a terra dos lenços dos namorados... "Amor juro ser / Sempre tua até morrer / Garda bem este lencinho / Nele tens  o meu saber."

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22083: Listagem de postes do nosso blogue com o(s) descritor(es)... (1): "Cristina Allen"... (uma das "nossas mulheres" que, de uma maneira ou doutra, "foram à guerra", e que era de uma viva inteligência, grande cultura e sentido de humor mordaz: deixou-nos no passado dia 5 de abril)

 

Peça de artesanato guineense que a Cristina Allen ofereceu, em 2009, com muito carinho,  ao blogue, na pessoa do seu editor,  num gesto de apreço pela nossa homenagem à memória da sua filha, mais nova, Maria da Glória (Locas) (1976-2009). 

A peça,  de olaria, devia ter originalmente alguma funcionalidade, que desconhecemos, e que na altura não me foi explicado pela Cristina: tem 4 orifícios no bojo, na parte inferior, e dois, muito mais pequenos, na parte superior (, possivelmente  para entrada de água e saída de vapor)... Seria uma queimador de ervas aromáticas ?... Não, diz o Fernando Gouveia, que conhece muito bem o artesanato guineense: "É uma bilha de Teixeira Pinto!"... Obrigado, Fernando e Regina Gouveia (Vd. poste P4670,  de 11 de julho de 2009).




Lisboa > Adro da Igreja do Campo Grande > 8 de Julho de 2009 > c. 19h30 > A Cristina Allen, tal como a conheci,  na missa do 7º dia por alma de sua querida Locas... Uma grande dignidade na dor e no luto... E sempre de perto acompanhada pela sua filha, mais velha,  Joana, que é psicóloga  na Guarda Nacional Republicana.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009 /2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].






1. A Cristina Allen, membro da nossa Tabanca Grande,  desde novembro de 2008. deixou-nos passado dia 5, aos 78 anos (*).  Os últimos 12 anos da sua existència foram assombrados pelo desgosto de perder uma filha, e depois pela sua doença crónica degenerativa, 

Mulher crente, esperemos que tenha encontrado agora os caminhos da paz eterna.  A sua passagem pelo nosso blogue foi episódica (tem menos de duas dezenas de referências), mas deixou-nos alguns textos, fortes e desassombrados, e nomeadamente a evocação que fez, com ternura e humor,  dos seus 53 dias de "lua de mel", algo rocambolescos,  passados em Bissau ( cidadezinha pela qual, apesar de tudo, conseguiu apaixonar-se).

Poucas mulheres, como ela, aceitariam ir casar-se em Bissau, em plena guerra, em situação penúria e desconforto, com o noivo em véspera de ser hospitalizado. E, para mais,  voltar sozinha a casa, em Lisboa. Ao marido (, impossibilitado de ir de férias, por razões disciplinares,)  ainda lhe faltavam alguns meses de comissão de serviço militar. Ficam aqui, à nossa disposição, estes textos, que são de antologia, e que nos permitem, de algum modo, colmatar o vazio da sua ausência.  

Por outro lado, poucos de nós conviveram com ela, tirando o Beja Santos, o Jorge Cabral e poucos mais. Os membros mais recentes da Tabanca Grande nunca tiveram, por certo, a oportunidade de ler nenhum destes postes (, perdidos entre mais de 22 mil).  

Conhecia-a pessoalmente em circunstâncias muito tristes (em 8 de julho de 2009), antes tínhamos falado uma ou outra vez ao telefone.  Quero recordá-la aqui como uma grande senhora e "uma das nossas mulheres" que, de uma maneira ou de outra, "foram à guerra".

Era natural de Aljustrel. Foi professora de liceu. Deixa uma filha, Joana, e uma neta, Benedita. E um grande saudade aos amigos que com ela tiveram o privilégio de conviver.

Sobre ela escrevi em 9/1/2009: 

(,,,) Sentiu-se útil e acarinhada por todos nós, ao apreciarmos o seu gesto (generoso e corajoso) de facultar ao seu ex-marido as cartas e aerogramas que ele lhe escreveu durante dois anos de comissão militar na Guiné. E não foram poucas: algumas centenas...

Quem já leu os dois volumes do "Diário da Guiné", do nosso camarada e amigo Beja Santos, sabe quão preciosas foram, para ele (e nós, seus leitores em primeira mão), essas cartas e aerogramas, como fonte de informação minuciosa sobre a actividade diária, operacional e não operacional, primeiro em Missirá e depois em Bambadinca, à frente do Pel Caç Nat 52, entre meados de 1968 e meados de 1970.

A Cristina Allen (...) é uma mulher, de inteligência viva, de grande cultura e com um sentido de humor mordaz... É um privilégio, para nós, ela querer partilhar as emoções que sentiu e as experiências por que passou no curto espaço de tempo (53 dias) que (sobre)viveu em Bissau, entre Abril e Junho de 1970.

"Dias de brasa", chamei-lhe eu, com alguma propriedade. A Cristina não nos pediu, mas isso está implícito: "Meus bravos, saibam-me ler, nas linhas e entrelinhas"... A Cristina não é nossa camarada, mas é doravante uma amiga nossa (e da Guiné). Precisa também do nosso afecto e carinho, na véspera de uma intervenção cirúrgica a que vai ser submetida. Vamos desejar-lhe que tudo corra bem. E que volte rápido e bem, e sempre que o desejar, ao nosso convívio.

Já agora deixem-me, como leitor, dizer que este pedaço de prosa é de antologia. O próximo biógrafo de Spínola não o poderá ignorar. Ora releiam o modo como a Cristina, em duas pinceladas de mestre, fez um soberbo retrato-robô do nosso Com-Chefe: 

(...) "Havia um toque (A recolher? Por causa dele? Nunca perguntei). Mas via aquele homem passar para a mão esquerda o pingalim, encostá-lo firmemente à perna, pôr-se em sentido, crescer, enchendo o peito de ar, o ventre liso, o braço direito, o cotovelo, a mão, na mais perfeita continência que jamais vi. Ficava desmesuradamente imenso, desmesuradamente rígido, só o monóculo coruscava.

"Estarrecida, não sabia que fazer dos pés, das mãos, da mala, da mini-saia, parava, cruzava as mãos, endireitava-me (postura por postura, não baixaria a cabeça, olhava-o nos olhos, ou, melhor dizendo, no olho e no monóculo). Acudiam-me ideias bizarras – que o meu avô materno fora lanceiro e, certamente, teria sabido fazer aquilo mesmo; que ele, Spínola, escorregara em Missirá, numas cascas de batata e fora ao chão, pose, pingalim, monóculo e tudo, soltando palavrões… que aquele homem era o… 'Caco Baldé'!

"Apertava os lábios para não me rir: este é o Caco, 'Caco Baldé'" (...)

Enfim, era uma mulher de grande nobreza e sensibilidade, capaz de escrever, em público, estas palavras extraordinárias:

(...) Caro Luís Graça, as histórias de amor a que alude , morrem, por vezes, mas de nada me arrependo. Ainda hoje voltaria a subir as escadas da pequena Catedral de Bissau, mesmo que fosse, apenas, para viver o primeiro dia da “estação das chuvas”. Um trovão enorme e seco, torrentes de água lavando tudo e, à noite, a visão transcendental e única de um céu riscado de relâmpagos, na luz azul-turquesa, feérica e metálica, como se um deus antigo revelasse a sua ira e escrevesse “basta!” na caligrafia da natureza, solta em fúria. (...) 


2. Listagem de postes do nosso blogue com o descritor "Cristina Allen":

24/12/2008 > Guiné 63/74 - P3667: As Nossas Mulheres (5): De Bissau a Lisboa, com amor (Cristina Allen)

(...) Na cidade, a vida aparentemente almofadada e facilitada por amigos do Mário e também meus, nada podia ocultar os abafados ruídos de combate a quinze quilómetros de distância, nem a visão dos feridos e emocionalmente perturbados no Hospital Militar.

Na companhia do Mário ou sem ele (internado ou já em Bambadinca), andava em bolandas, com as malas, de casa de amigos para o hotel; do hotel para a casa de amigos. Repito que não foi fácil ter vivido em Bissau. A noiva radiante, que o Mário descreve no segundo volume do seu Diário da Guiné, depressa murcharia. Permitiu a sorte que se formasse, como reduto de consolo, uma tabancazinha de gente amiga, em passagem ou residente, militar e civil. Relembro esses amigos (...)

9/1/2009 > Guiné 63/74 - P3713: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (1): Just married...

(...) Cheguei a Bissau a 15 de Abril, casei a 16, parti para Lisboa a 8 de Junho. Cinquenta e três dias. Se achar interesse a isto que escrevo, pode editar, pois já esclareci com o Mário esta questão. Terá havido uma semana e poucos dias de alegria e em todos os restantes, a quotidiana eternidade de desespero controlado. O meu marido sofria do que hoje chamamos, sem complexos, “stress de guerra”. E um súbito muro se atravessava entre nós. Não sei se o escreveu, mas, de olhos desmesuradamente abertos, mandava-me embora e dizia que queria morrer e ser enterrado em Missirá. Pior ainda, eu obrigara-o a casar e o nosso casamento não era válido porque não estava consciente. Doença de guerra, pura e dura.

Levei-o ao Padre. Experiente conhecedor de almas, o Padre Afonso, muito calmo, tinha ali o livro de registos e foi dizendo que, se ele queria ir morrer a Missirá, que fosse. E, quanto ao casamento, abrira uma folha nova nos assentos, bastava arrancá-la… o nosso “Tigre” deu um salto, eu temi pelo Padre, mas tudo se acalmou. “Vão lá almoçar”, disse. Porém, discretamente, fez-me um gesto e percebi que ia telefonar. (...)

8/2/2009 > Guiné 63/74 - P3850: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (2): Quarto, precisa-se, por favor!

(...) Nessa manhã em que seria hospitalizado, o Mário e eu faríamos as malas e procuraríamos outro quarto, na “Berta”. Estava ali um espaço fresco e sombrio, com uma larga cama. Sem desfazer as malas, desci para o almoço e deparei com uma execrável salada de feijão-frade com atum. Os feijões, minúsculos e mal cozidos, o atum, na prática inexistente, cebola avonde, a gritar pela intervenção rápida da escova e pasta de dentes! Pousei ainda os talheres, mas (“saco limpo cá tá firma!”) enfrentei o questionável cozinhado.

Uma mãozinha leve tocou-me no ombro. Era a Berta, untuosa, que me perguntava se gostara do almoço (“sim.”), se o meu marido vinha almoçar (“não, foi hospitalizado.”), por quanto tempo (“não sei”) e, por fim, o tiro certeiro: num quarto de casal, eu não podia ficar, seria perder dinheiro com uma pessoa que ocupava um quarto de duas… mas ela conhecia uma senhora que alugava quartos, pessoa muito decente, e eu poderia ir comer ali as refeições (“é o vais!”,  pensei…). (...)

19/2/2009 > Guiné 63/74 - P3913: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (3): Quanta chuva, Mário ?

(...) A poucos dias do seu aniversário (31 de Maio), consegui, por intermédio de um vizinho, bacalhau. E foi, enquanto preparava o enorme pirex de arroz, receita longa e complicada, que, súbita, irrompeu a estação das chuvas. O Mário não estava.

Chovia em catadupas. Corri para a rua, molhei-me toda, voltei ao forno, a roupa a secar-se-me no corpo.

Trinta e um de Maio de 1970. Quanta chuva, Mário? Vinte e cinco.

Um dia, dois dias, quantos, antes que ele partisse? Não recordo. Na sua ausência, um outro amor crescera – Bissau, a suja, colorida, mal crescida cidade africana, o cinzento opaco do Geba, junto ao cais, o céu atravessado de helicópteros, suspensas notícias, indo e vindo, silêncio povoado pelo longínquo matraquear do medo.

Nela aprendi que o belo não é o perfeito, que o belo pode ser, também, o feio em ignota desmesura, estado de alma, inquieta quietude, inesperada transigência. (...)
te cantarei bela
em cada esquina.
Bissau, como te vi,
luzeiro e sombra densa,
Bissau da paz
e luta ardente,
Bissau benvinda,
oculta para sempre. (...)

Outros postes:

7/4/2021 > Guiné 61/74 - P22077: In Memoriam (391): Maria Cristina Robalo Allen Revez (8/3/1943 - 5/4/2021) - A Cristina, a Guiné e a sua presença na nossa sala de conversa (Mário Beja Santos)

6/7/2017 > Guiné 61/74 - P17550: O Serviço Postal Militar (SPM) do nosso contentamento: cartas e aerogramas... (E, a propósito, o que é feito dessas 10 toneladas de correio diário que circulavam nos vários teatros de operações durante a guerra ?)

9/1/2013  > Guiné 63/74 - P11024: O Spínola que eu conheci (24): Alcunha, antonomásia, apodo, cognome ou epiteto... "Caco Baldé"... Qual a origem ? (Cristina Allen / Luís Graça / Jorge Cabral / Carlos Fabião / Cherno Baldé)

1/10/2009 > Guiné 63/74 - P5038: História de vida (23): Maria da Glória, uma saudosa filha com um dom especial para o fado (Cristina Allen)

23/7/2009 > Guiné 63/74 - P4726: In Memoriam (28): Saudades da nossa Locas (1976-2009): com a dor e o riso também se faz o luto... (Cristina Allen)

9/7/2009 >Guiné 63/74 - P4660: In Memoriam (26): Fazendo o luto pela Maria da Glória e agradecendo a todos a solidariedade (Mário Beja Santos)

6/7/2009 > Guiné 63/74 - P4644: In Memoriam (24): Maria da Glória Revez Allen Beja Santos: "Morte, onde está a tua vitória ?" (Mário Beja Santos / Luís Graça)

25/12/2008 > Guiné 63/74 - P3668: (Ex)citações (9): Obrigado, Cristina, por esta doce e terna prenda de Natal (Torcato Mendonça / Hélder Sousa)

8/11/2008 > Guiné 63/74 - P3422: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (2): O exemplar nº 1, autografado, dedicado à malta do blogue

11/07/2008 > Guiné 63/74 - P3048: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (38): No HM241, em Bissau, voando sobre um ninho de jagudis

28/03/2008 > Guiné 63/74 - P2693: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos (25): A festa do meu casamento, 7 de Fevereiro de 1970

__________

Nota do editor:

(*) Vd. postes  de:

  7/4/ 2021 > Guiné 61/74 - P22077: In Memoriam (391): Maria Cristina Robalo Allen Revez (8/3/1943 - 5/4/2021) - A Cristina, a Guiné e a sua presença na nossa sala de conversa (Mário Beja Santos)

7 de Abril de 2021 > Guiné 61/74 - P22075: In Memoriam (390): Maria Cristina Robalo Allen Revez (8/3/1943 - 5/4/2021), ex-esposa do nosso camarada Mário Beja Santos, faleceu no Lar de Santa Catarina de Labouré, Lumiar, Lisboa (Editores)

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21562: A arte guineense, fula e mandinga: o legado do império do Mali ou da arte sudanesa (Cherno Baldé / António J. Pereira da Costa / Valdemar Queiroz)


Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (maio de 1968/fevereiro de 1970) > A Rosinha, então com 18 anos... Era a lavadeiar do alf mil cav Jaime Machado... Não sabemos se era cristã... Os brincos e o fio que usa ao pescoço não seriam arte mandinga, inclinamo-nos para a hipótese de serem pechisbeque importado... Os trabalhos do ourives de Bafatá, o Tchame, mandinga, eram caros, podiam custar centenas ou até milhares de pesos... Os guineenses tinham um fascínio pelo ouro, em especial pelos nossos fios de ouro com crucifixo.

Quanto ao penteado da Rosinha, parece-nos mandinga... Será ? De qualquer modo, não é de uma mulher grande, é de uma bajuda. Os penteados africanos obedecem a uma gramática bem estruturada...

Foto (e legenda): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > O chefe da tabanca, com o traje usado durante o período do Ramadão: usa ao peito um colar de prata, trabalho que só podia ser de ourives mandinga: há várias teorias sobre a funcção da caixinha. uns dizem que servia para guardar amuletos e outros "roncos";  outros, como o Cherno Baldé, dizem que era uma espécie de "guarda-joias" ambulantes, sobretudo no caso das mulheres...


Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi >   CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74) >  O alf mil Luís Dias empunhando uma "longa". usada para a  caça grossa... Não sabemos sea confeção é fula, mandinga ou europeia...

Fotos (e legendas): © Luís Dias (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > O alf mil at art Jorge Cabral, ao peito um amuleto de origem fula ou mandinga, e mais dois, um à cintura e outro no direito direito...  

A função dos amuletos de guerra era "fechar (blindar) o corpo" contra as balas do inimigo... Todos combatentes, em todas as guerras, são "supersticiosos", sejam cristãos, mulçulmanos, judeus, crentes ou não crentes... E mal deles se não desenvolvem uma "idelogia defensiva" que os proteja contra o medo... Todas as profissões de risco (, dos médicos aos pilotos de aviação...) têm estratégias de "racionalização" para lidar com os "riscos"...

Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários ao poste P21559 (*):

(i) Cherno Baldé:

Como podem notar, a arte entre fulas e mandingas é um prolongamento da arte do então chamado Sudão Ocidental com o centro em Mali que, após a independência e durante alguns anos o teria adoptado como nome oficial do país. 

O Mali, como império e centro de cultura na Árica Ocidental, de modo geral, foi zona de apropriação e expansão da religião muçulmana e das artes dos povos árabes.

Respondendo à questão dos colares em prata, a vossa dedução é lógica e faz sentido, pois que as caixinhas teriam sido feitas para alguma utilidade como guardar e/ou transportar pequenas coisas de valor e uso pessoal. 

Da minha experiência em criança, tenho visto em ocasiões de festas a minha mae abri-la e retirar de lé dinheiro em moedinhas de prata (poucas), brincos das filhas mais pequenas e até pedaços de cola. 

No caso dos homens, certamente, era mais para ronco, como diz o Tozé, sem excluir a possibilidade de transportar amuletos ou guardas, não sendo todavia uma prática muito usada, porque estes, normalmente, eram considerados adornos modernos e de luxo ao alcance de poucos e também pouco propícios para albergar ou atrair poderes de protecção. Para isso era utilizado exclusivamente a pele (couro) dos animais.

O Canhangulo [etimologia: do quimbundo, Angola ] em Crioulo da Guiné-Bissau é "Longa", e em fula é "Noku-low", quer dizer (a arma de) "carregar à mão". 

O meu avô materno tinha uma igual e era carregada, salvo erro, pela boca com um chifre de boi, utilizando um pequeno cabo para empurrar e compactar a pólvora.

Quanto ao termo "cafala" (bainha de alfange),  é de origem árabe e pode ter diferentes significados, entre os quais de protecção (bainha) ou de adopção no sentido da protecção social ou familiar,  muito usado no seio das tribos árabes do Próximo e Mêdio Oriente. 

O mesmo se poderá dizer do termo Alfange [árabe al-kanjal: sabre largo e curvo].

Pode ser que tenham outros nomes nas línguas fula ou mandinga, mas não conheço. Eu nasci na época das armas automáticas e nunca tive nenhuma curiosidade ou fascínio por armas dos séculos passados.

(ii) António J. Pereira da Costa:

Também tenho esse artesanato. (*)

Os enfeites das kafalas [ou cafalas] de couro eram feitos de palha - ou ráfia - cosida nuns golpes dados no cabedal.

Há alguém que saiba para que servem aquelas caixas redondas penduradas nos fios de prata? É só ronco ou transportam alguma coisa?

(iii) Valdemar Queiroz: 

Quase todos soldados fulas da minha CART 11 usavam "amuletos",  envolvidos em couro. Tenho um com cerca de 7 cm envolvendo uma presa ou corno, só com a ponta à vista, de forma triangular para pendurar ao pescoço.

Nós também usavámos as nossas medalhinhas nos fios ao pescoço e até santinhos que as nossas mães metiam nas nossas carteiras. 

A propósito de medalhinhas, o soldado Mamadu Cano, do meu Pelotão, quando eu vim de férias pediu-me para lhe trazer de Lisboa "fio doro com cruz", provavelmente por ver muitos de nós com um crucifixo. Evidentemente que me esqueci desta e de muitas outras "traz-me de Lisboa".
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Notas do editor:

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Guiné 61/74: P21559: Arte guineense, fula e mandinga (Luís Dias, ex-alf mil inf, CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > O chefe da tabanca, com o traje usado durante o período do Ramadão [detalhe: usa ao peito um colar de prata, trabalho que só podia ser de ourives mandinga, vd. foto nº 8]


 Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Cerimónia do Ramadão


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi >  s/d [c. 1972/74] > Arte fula; alfange  e punhais, com bainha de couro




Foto nº 4 Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > s/d , c. 1972/74]  > Arte mandinga, pulseira em prata do ourives de Bafatá


Foto nº 6 Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Arte fula; machados da fertilidade: o masculino, à esquerda;o feminino, à direita.


Foto nº 6 Guiné > Região de Bafatá > Setor de Galomaro > Dulombi > 1972 > Arte fula  [?} > O alf mil Luís Dias empunhando um canhangulo de caça grossa


Foto nº 7  Guiné > Região de Bafatá > Bafatá >> 1972 > Arte mandinga:trabalho do ourives de Bafatá, o Tchame, já falecido.

Fotos (e legendas): © Luís Dias (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > s/l > s/d > Arte mandinga: colares de prata



1. Mensagem de Luís Dias [, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), o nosso especialista em armamento; tem mais de 8 dezenas de referências no nosso blogue]:


Data - sexta, 6/11, 12:10
Assunto - mais fotos agora de material de arte fula 


Seguem mais fotos, agora de arte fula e algumas de arte mandinga:.

(i) Arte fula: machados da fertilidade (representado à esquerda, o macho, e à direita a fêmea) [Foto nº 6];

(ii) Arte guerreira fula: alfange com com bainha de  couro  [, Foto nº 3];

(iii) Trabalhos em prata do famoso ourives de Bafatá [, de seu nome Tchame] [Fotos nºs 4 e 7];

(iv) Traje de cerimónia do Chefe da Tabanca do Dulombi, no período do Ramadão [Foto nº 1] e o Ramadão na Tabanca do Dulombi, ambas de 1972 [Foto nº 2];

7ª Um canhangulo usado pela população do Dulombi para abater animais de maior porte.



Foto nº 9 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1968/70 > O Tchame, o famoso ourives de Bafatá, em dia de Ramadão frente à Mesquita, com os seus dentes de ouro.


Foto nº 10 > Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1968/70 > Uma pulseira, executada pelo ourives de Bafatá, , que a minha amiga Regina Gouveia, esposa do nosso camarada Fernando Gouveia.


(...) De seu nome Chame (não sei se é assim que se escreve o nome), era conhecido em toda a Guiné pelo seu trabalho de ourives. Executava peças de prata e de ouro como qualquer oficina de ourivesaria de Gondomar e digo isto porque o género de trabalho mais praticado por ele era muito semelhante à nossa filigrana. 

Por mais que uma vez estive na sua oficina, uma pequena palhota na tabanca da Ponte Nova. No chão uma pequena fogueira ladeada por duas pedras onde eram colocados os cadinhos para derreter os metais e onde, soprando com o auxílio de um maçarico de boca, se iam soldando os fios dos metais preciosos. Completava a oficina, uma pequena mesa com ferramentas rudimentares. 

Lamento não ter tirado uma foto das instalações, mas não tinha flash. Numa das vezes fui lá com a minha mulher e comprámos-lhe uma pulseira (ver foto). Mas talvez o mais espectacular é que era o artífice das coroas de ouro dos seus próprios dentes, serviço que não fazia a mais ninguém. (...)

Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor: