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terça-feira, 19 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23442: Blogpoesia (776): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte II

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 14 de Julho de 2022:

Bom dia Carlos Vinhal
"ERA AQUELA COMPANHIA" - segunda parte, é o trabalho que hoje envio para a Tabanca Grande.

Para todos um bom abraço, em especial para os Chefes de Tabanca.
Depois deste trabalho, voltarei depois das férias em Agosto.
Albino Silva



ERA AQUELA COMPANHIA(*)

PARTE 2

Como já escrevi de Oficiais
De Sargentos também quis fazer
Agora Cabos e Soldados
Aquilo que vou escrever.


O Cabo Arvéola era Cripto
O Peixoto também era
Outro Arvéola e o Ângelo
No Canchungo aquela terra.


O Abel era Escriturário
Esteves Matos também
Fazia de SPM
Por não haver mais ninguém.


O Sílvio nas Transmissões
Afonso analista de águas
E com o Jorge Ferreira
Este a lidar com tábuas.


O Valentim no Reconhecimento
Fartava-se de passear
Na Oficina o Magalhães
Com pneus para mudar.


O Monteiro Sapador
Pegava a G3 pela alsa
O Armindo que na companhia
Era conhecido por Salsa.


O Valadares da Cunha
Este era o bate chapas
João Monteiro Escriturário
Fazia consultas nos mapas.


Fernando Fonseca era
Homem de bom coração
Ajudava o Padre Francisco
Porque era o Sacristão.


O Joaquim Constantino
Bem ligado a munições
Orlando Silva Mecânico
Fugindo a confusões.


O Cardoso era Atirador
Era mesmo de Infantaria
No Canchungo Quarteleiro
Lá na nossa Companhia.


Acácio era Escriturário
O Martins era também
O Costa Pinto e o Guerra
Escreviam como ninguém.


O Peixoto era Condutor
O Constantino Enfermeiro
O Horácio era Mecânico
O Carmo Dias Caixeiro.


O Mesquita electro Auto
O Lemos Operador
Nunes Pereira Transmissões
O Fonseca era pintor.


O Moreira no Reconhecimento
O Vieira Estofador
O Fontão era Auto Rodas
O Figueiredo Sapador.


Até o Vidal Pinheiro
Com Reconhecimento à vista
Correia Pinto nas Armas
O Alceu Radiotelegrafista.


O Sousa no Reconhecimento
Um Cabo bem desportista
Conhecido por Coimbrões
Para comer era artista.


O Guedes de Amorim
Este era Corneteiro
Magalhães Faria Informação
Albino Veiga Carpinteiro.


O Costelha Corneteiro
Em momentos especiais
Ainda servia à mesa
Na Messe de Oficiais.


O Altino S. Rocha
Era um Cabo interesseiro
Era o Chefe da Cozinha
Porque era o Cozinheiro.


Ainda no Reconhecimento
O Sousa se encontrava
O Amílcar era Sapador
Quando de serviço estava.


O Santos e o Albino
Eram Rádiomontadores
O Leonel Auto Rodas
Como outros Condutores.


A CCS era grande
E lá na Guiné cumpria
Com todos os seus Soldados
Formados na Companhia.


Condutor Auto Rodas
O Aníbal Martins na Guiné
Como o Ernesto e Américo
Lá ninguém andava a pé.


O Garcia era Maqueiro
O António Costa igual
Era o Albino e o Borges
Tratando quem estava mal.


Havia ainda o Daniel
Condutor mas bem matreiro
Em vez de ter viaturas
Foi na Messe cantineiro.


Eram tantos Condutores
Na CCS que assim
Faziam tantos serviços
Em tantas coisas sem fim.


Francisco Rodrigues era
O Patrício era também
Rodrigues Dias impedido
Que cumpria muito bem.


João Vicente Soldado
Mas que Condutor porreiro
Em vez de conduzir Jipe
Meteram-no de Carcereiro.


Lá andava o Marques Mendes
Também Condutor e bom
Ao serviço da CCS
Lá no nosso Batalhão.


O Aníbal Eiras Novo
Que nunca fez condução
Pois armou-se em Padeiro
No forno fazia o pão.


António Rodrigues assim era
O Ribeiro de Sousa igual
O Ramalho e o Correia
Até não conduziam mal.


O Neto era Condutor
Homem cheio de azar
Porque apanhou uma mina
Até andou pelo ar.


Aníbal Alves
O Borges Antunes era bom
Mesmo o Miguel Lourenço
E o Ramos Julião.

Heliodoro Lisboa
Que conduzia também
Igual ao João Machado
Que conduzia e bem.


O Octávio era Mecânico
O Morais era Cozinheiro
O Manuel Maria em motores
Sousa e Silva Corneteiro.

O Barros lá na cozinha
Ajudava o cozinheiro
O Pires bom tocador
Porque era Corneteiro.


Auxiliares de Cozinha
Era o Castro e o Vieira
Também era o Guimarães
Pois tinham a cantina à beira.

Fazia o Reconhecimento
Cardoso e Sousa Vieira
Bernardino Lopes e ainda
O Silvério de Oliveira.

O António Correia
Também tudo reconhecia
Sendo o Leonel de Almeida
Sapador da companhia.

O Isaac Sapador
Como o Oliveira era
Armelim nas Transmições
Na Guiné naquela terra.

Auxiliar de Cozinha
Era o Tomás Ribeiro
O Amado era Sapador
O Abílio seu parceiro.


Costa Bento na cozinha
O Curralo Sapador
Carvalhinho Transmissões
O Abano Atirador.

Também eram Sapadores
O Herculano e Moreira
Faziam abrigos então
O Barbosa e Oliveira.


Já durante o mês de Julho
Lá mais algum aparecia
Com o fim de completar
Aquela nossa companhia.

O Joaquim José Pinto
Manuel Rego então
Só um era Sapador
O outro era Plantão.

Veio o Adelino Rocha
Também lá chegou o Naia
O Juvenal Olival
Fazendo da bolanha praia.


Manuel Isaac Senha
À CCS se juntou
E o José Moniz Moreira
Também esse lá ficou.


Mais tarde o Tomás Sousa
Santos e Martins foi igual
Eduardo Manuel Pinto
Que vinham de Portugal.


A meio da comissão
Vinha o Porto de outro lado
E muito mais velho que nós
Chegou lá o Arranhado


Eram estes os Camaradas
Que nenhum de nós esquece
Era assim a Companhia
Era forte a CCS.


Cada um de nós conhece
E bem guarda na memoria
Assim cada um de nós guarda
Lá da Guiné uma historia.


FIM

____________

Notas do editor:

(*) - Vd. poste de 7 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23414: Blogpoesia (773): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (2)

Último poste da série de 17 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23438: Blogpoesia (775): "Ao fim da tarde", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21893: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira


Chaves > RI 19 > Os meus amigos de Chaves – Julgo ser o o 6,º da última fila


Chaves > Regimento de Infantaria n.º 19 > Para mim, foi um hotel de 4 estrelas


Chaves > Ponte romana, também conhecida como ponte de Trajano
 (c. fins séc. I / inícios séc. II)

 Fotos (e legendas): © Joaquim Costa  (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã", da autoria de  Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74), membro nº 826 da Tabanca Grande, engenheiro técnico reformado, natural de Vila Nova de Famalicão, residente em Gondomar (*):


 
Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)

Parte II: A minha passagem pela maravilhosa cidade de Chaves depois do martírio de Tavira

  Chaves: Férias, O Estraga a Tábua...e o Forte de S. Francisco



Joaquim Costa


Depois de Tavira,  só mesmo Chaves para recuperar (boas águas, bons pasteis de carne e bom presunto...), física e mentalmente.  

Mas que boas férias.! A minha  única tarefa era dar instrução a um pelotão de mancebos, quase todos da região transmontana. Tudo muita boa gente,  a quem nunca conseguimos acertar o passo na marcha e muito menos sincronismo na ordem unida, de resto tudo bem…

Quando recebo a guia de marcha de Tavira para Chaves, pensei: "Bem!  Bom mesmo era fazer toda a nacional n.º 2, de Faro a Chaves, na minha (ou seja! do meu irmão) Zundap (estilo Che Guevara na sua poderosa)."

Mas, verdadeiramente radical foi fazer a viagem de comboio do Porto a Chaves (terra da Pedra Bolideira) (1) na admirável linha do Corgo, hoje desativad [., foto à esquerda]. 

Esta viagem só foi superada pela viagem que fiz na nacional n.º 222. no maravilhoso Douro Vinhateiro, com a minha Diane. (2)

Muitas histórias ouvi sobre a viagem de comboio do Porto para Chaves, em que os passageiros saltavam com este em andamento, iam apanhar umas uvas e, em andamento, voltavam a entrar. Constatei que a realidade superava as histórias que me tinham contado. As curvas e contracurvas quase que se tocavam passados uns quilómetros. Em dez quilómetros de  marcha na sinuosa linha avançava um na direção do destino.

Não obstante toda a informação recolhida sobre as peripécias da viagem, a surpresa foi avassaladora.

 Estava eu a saborear as belas paisagens e a respirar os puros ares, na plataforma do comboio (uma zona exterior estilo varandim),  quando o mesmo para no meio do nada, ouço um assobio, e de repente vejo-me rodeado de cabras por todos os lados. Uns quilómetros à frente, o comboio volta a parar, e, ao apito do pastor, de uma forma ordeira e organizada, o rebanho saiu, com um cumprimento efusivo da parte do revisor e do maquinista, denunciando estarmos na presença de passageiros habituais. Penso hoje que mais facilmente conseguiria sincronizar a marcha deste grupo do que o que tive à minha guarda no quartel de Chaves.

Contudo, sendo certo que nunca iria com estes homens para um  desfile militar, se pudesse escolher, era com certeza com esta gente que iria para a guerra. Gente simples, rija, com um coração do tamanho da Serra do Marão e capaz de tudo (mesmo de tudo!...) para defender um amigo.

Guardo com emoção a festa que estes maravilhosos homens fizeram aos três  graduados que lhe deram a instrução, pagando o jantar e oferecendo a cada um de nós uma lembrança. Foi um momento muito bonito e muito emotivo, particularmente para mim que já tinha recebido a mobilização para a Guiné bem como  guia de marcha para Estremoz.

Foi neste moderno e agradável quartel que tive o grato prazer de conhecer o pai do malogrado e excelente jogador de futebol do FCP,  Pavão, que teve morte súbita em pleno estádio das Antas no fatídico dia 16 de dezembro de 1973. (3).

Era sargento, excelente pessoa, mas rezava a história, no quartel e na cidade, sem grande jeito para os trabalhos manuais. Contava-se que um cão  rafeiro apareceu no quartel e logo foi adotado  por todos, desde o comandante ao soldado raso. Dado que o canino não tinha sitio para dormir e abrigar-se dos dias mais agrestes, foi decidido construir-lhe uma casota. Logo o bom sargento  se ofereceu para a tarefa, tendo sido feita uma coleta para comprar a madeira necessária para a obra.

O homem comprou a madeira e muniu-se das ferramentas necessárias, nas oficinas do quartel,  e dum projeto de casota elaborado por um habilidoso em desenho. Mede e volta a medir, corta aqui, corta ali, corta acolá, e montadas as peças nenhuma bateu certo com o projeto. Volta a medir a  cortar aqui,  a cortar ali e acolá, voltou a montar e ainda pior.

O comandante, que também tinha contribuído para a casota,  ao fim de uns dias, vendo que o cão continuava a dormir em todo o sítio manda chamar o sargento para saber da casa do cão. O sargento, muito constrangido, e à espera do pior, lá foi contando as peripécias da construção da dita casota acabando por confessar que nem tinha casota nem tinha tábuas. O bom comandante, dando uma grande gargalhada,  virou-se para o velho Sargento e diz-lhe: Áh! Homem do “diacho”, fizeste-me à tábua o que o diabo fez à “coisa”: para além de não construires a casota ainda me estragaste a tábua!...E assim nasce a alcunha do Sargento Neves – O estraga a tábua.

O Comandante do quartel era um bom homem, bonacheirão, preocupado com o bem estar de todos os seus homens… e até da mascote do quartel – o cão.  Fazia questão de manter o quartel, um lugar limpo e asseado, fosse as casernas o refeitório ou a parada.

Um dia, estava eu de sargento de dia ao quartel, vejo-o em altos berros, no meio da parada, a gesticular e a chamar por todo o pessoal de serviço. O primeiro a chegar fui eu, pelo que se vira para mim e me diz: 

  Você não está a ver que eu não consigo passar com este enorme tronco de árvore à minha frente! 

Eu  olhava para a frente do homem e não via tronco nenhum nem se quer um pequeno pau. O homem cada vez gesticulava e gritava mais,  pelo que temi que as minhas férias terminassem ali. Felizmente, um cabo já velhinho, chega perto de mim e diz-me: 

– Deixe  que eu resolvo.  

Vai ao chão e pega num fósforo, de madeira, que alguém inadvertidamente tinha deitado para o chão ao acender um cigarro... 

 Uff... –  disse eu para com os meus botões – nais  uma batalha ganha… siga a tropa...sigam as férias!


Chaves > Forte de São Francisco
Uma das tarefas que nos cabia, vai-se lá saber porquê (coisas da tropa!), era fazer guarda num forte em ruínas (forte de S. Francisco) (4) perto do quartel, todos os dias, estilo render da guarda à residência oficial da Rainha de Inglaterra... neste caso às lagartixas.

Dado o número reduzido de pessoal que aí fazia guarda e o recato do local, muitas histórias ouvi sobre as atividades noturnas que aí  tinham lugar.

Acabado de chegar ao quartel, fui escalado para comandar o pequeno grupo de homens (eu, um cabo miliciano e  cinco soldados), para ir render o grupo que  passou o dia e pernoutou no referido Forte de S. Francisco.

De manhã cedinho, depois de um bom pequeno almoço com pão sempre quentinho e muita manteiga a derreter-se no mesmo, formado o  grupo, lá fomos nós, todos catitas, a marchar até ao forte de S. Francisco.

Chegados à porta de armas, um soldado aparece ao portão, com um leve sorriso nos olhos brilhantes, e, baixinho diz-me ao ouvido: 

– O seu colega Ferreira pede  para aguardar só  uns segundos.

 Achei estranho, geralmente nestes casos já todo e pessoal costumava  estar à porta “mortinho” por se ir embora depois de 24 horas passadas naquele buraco. Aproximo-me mais um pouco do portão e vejo o Ferreira ainda a vestir as calças e uma loira  a esgueirar-se,  escondendo-se por trás dos soldados. Logo a seguir aparece  o Ferreira, com um sorriso de felicidade, com um malmequer bravio, colhido no forte, colocado na orelha e a cantarolar a celebre canção, hino do movimento hippie e do amor livre:  “Se vais a  San Francisco, leva flores no teu cabelo…”  

_________

Notas do autor:

(1)  Grande pedra, no caminho de Chaves a Bragança, que se move com um pequeno toque de um dedo.

(2) A Estrada Nacional 222 (EN 222) – considerada a estrada mais bonita do mundo - tem 226 km de extensão e liga o centro de Vila Nova de Gaia a Almendra, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, (todos deviam fazer, pelo menos uma vez, o caminho de Santiago e a Nacional Nº 222!)

 

Vista da EN 222 > Douro vinhateiro; De cortar a respiração. Bem disse Miguel Torga em S, Leonardo de Galafura: "um excesso da natureza"....

(3) Pavão, não de nascimento mas pela forma peculiar de jogar com os braços bem abertos.

(4) -  Utilizado como quartel general pelo general Soult no tempos das invasões francesas. Foi recentemente restaurada e recebe hoje um Hotel de 4 estrelas.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21844: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-fur mil arm pes inf, CCAV 3851, 1972/74) - Parte I: Caldas da Rainha (A chegada às portas da tropa: um fardo pesado); Tavira (Amor, ódio e... trampa)