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quinta-feira, 24 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23108: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - IV Parte: de 60 a 79


Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande > 26 de Junho de 2010 > O heterodoxo Jorge Cabral, de punho erguido (e dedos descaídos) como nos heróico-operáticos tempos da guerra do Cuor, entre o Jorge Picado (o bravo capitão miliciano ilhavense que, além dos 4 filhos legítimos, arranjou mais uma centena e meia de adoptivos, aos 32 anos, ou seja, uma companhia) e o Hélder de Sousa (o homem da TSF no CTIG, que tinha um poster do Che Guevara no quarto em Bissau, longe do Vietname)... Não foi possível identificar a misteriosa bajuda, que está do lado direito, escondendo o rosto e com uma máquina fotográfica na mão. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro de Jorge Cabral, "Estórias Cabralianas", vol I.
Lisboa: Ed José Almendra, 2020, 144 pp. Tinha um II volume,
 praticamente pronto para ser publicado. 
O editor adoeceu e a  morte surpreendeu o autor.


1. A propósito deste II Volume que o Jorge queria muito publicar em vida, fica aqui o pedido do  camarada Alberto Branquinho, que também fazemos nosso:

"Companheiros: Tentei contactar o filho do Jorge Cabral através do telemóvel que o meu irmão conseguiu obter. Pretendia alertá-lo para a existência de um conjunto de textos que correspondem ao 2º.vol. das "Estórias Cabralianas", que ele queria publicar. Não o conseguiu devido à pandemia e ao agravamento da sua saúde.

Acontece que esse telemóvel respondeu, durante o passado fim de semana, com uma gravação: "não está atribuído". Terá sido, talvez, um 2º. telemóvel que o Jorge teria e que foi desactivado.

Como não pude estar no velório, não contactei o filho, que não vejo há mais de 20 anos. Assim, deixo aqui a todos vós o pedido de, caso tenham meios, contactem o filho Pedro Cabral para o alertar da existência do material correspondente ao 2º. volume (que poderá estar em dossier ou, até, mal organizado, porque o Jorge era assim). É que ele terá que recolher os papéis do pai antes de entregar a casa ao senhorio. Será uma acção para manter a sua memória e satisfazer a sua vontade. Cumprimentos. Alberto Branquinho. 10 de janeiro de 2022 às 11:33 " (Comentário ao poste P22890) (*)


2. Lista das estórias cabralianas, por ordem numérica e cronológica - Parte IV: De 60 a 79 (*):


O Jorge irá continuar a "inspirar-nos" e a "provocar-nos" com as suas "estórias cabralianas"... que não envelheceram!... Continuo, ao fim deste tempo todo, a ler e a reler, divertido, estes "microcontos", um género literário em que  ele se tornou mestre. 

As desta lista são "estórias" publicadas no nosso blogue, entre maio  de 2010 e junho de 2013. A mais lida  da lista terá sido  a n.º 61 (Os poderes do professor Wanatu...): teve 711 visualizalções. A que teve mais comentários (16) foi a n.º 64 (O avô, o neto e os heróis...).

O nosso JERO (a quem chamava o "último monge de Alcobaça", e que também já lá está no Olimpo dos Combatentes, e era um avô  babado) escreveu o seguinte comentário à estória n.º 64:

"Boa noite Jorge. Que bonita história! Li a tua história em voz alta para a minha mulher que se tinha acabado de sentar e não esteve para se levantar quando lhe pedi que viesse até ao cumputador. Na parte final quase me engasguei... comovido. Meia dúzia de linhas e uma história de vida tão sentida. Era tão bom que todos os avós fossem heróis para os seus netos! Esta foi a minha mulher que disse. Um grande abraço de Alcobaça, JERO.

PS - Deste-me força para mandar para o nosso blogue uma história da minha neta Mariana que tem quase 4 anos. 9 de novembro de 2010 às 23:12" (Comentário ao poste P7251)

O Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mndinga e Missirá, 1969/71), advogado, especialista em direito penal, professor do ensino superior, era muito querido e popular entre a malta da Tabanca Grande: basta referir, por exemplo, que o seu poste de parabéns, do dia 6/11/2009 (P5221) teve 1531 visualizações e 30 comentários. Era igualmente uma figura muito querida entre as suas antigas alunas, as assistentes sociais,  que, antes dele morrer, fizeram-lhe uma despedida emocionante à porta da sua casa no Estoril.


19 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6428: Estórias cabralianas (60): O manifesto do nosso alfero (Jorge Cabral)

(...) Caro Luís,
nunca será demais enaltecer o teu blogue,
o qual nos tem permitido, principalmente recordar.

Como tu dizes,
fui um tropa desalinhado,
marginal
e quase sempre provocador,
características que mantive ao longo da vida. (...)


21 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)

(...) Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram. Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome. Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô! (...)


26 de Julho de 2010 > > Guiné 63/74 - P6787: Estórias cabralianas (62): À Tesão, Pelotão!... Este é o Alfero Souza, meu amigo (Jorge Cabral)

(...) Com o Pelotão [, o Pel Caç Nat 63,] em Bambadinca, preparando-me para arrancar para o Xime, eis que deparo, com um Gandhi, de camuflado, que avança para mim com os braços abertos. É o Souza, com "z", meu amigo e camarada de Vendas Novas. (...)


14 de Agosto de 2010 >Guiné 63/74 - P6851: Estórias cabralianas (63): As Sereias do Rio Geba... ou a violência doméstica subaquática (Jorge Cabral)

(...) Foi na Guiné que aprendi a contar estórias às Crianças. Comecei lá e nunca mais parei. Ainda ontem conheci uma Menina. Disse-me que tem um gato e eu falei-lhe das minhas duas moscas, uma de cama, coitada, cheia de febre… Em Missirá, na Escola, comecei com a Branca de Neve e os 7 Anões, mas logo desisti. (...)

9 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7251: Estórias cabralianas (64): O Avô, o Neto e os Heróis (Jorge Cabral)

(...) Mais um dia. Lá vou eu entalado entre os anafados peitos de uma dama e a gravata de um cavalheiro, que hoje fez greve ao chuveiro. O Metro segue cheio, mas há sempre lugar para mais um. Na Estação do Saldanha, é invadido por uma excursão de meninos, com a Mestra à frente (bem jeitosa, por sinal). São barulhentos os putos… e eis que um, apontando para mim, grita:
– Aquele ali, é da raça do meu Avô, é um Senhor Herói!. (...)


15 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7792: Estórias cabralianas (65): Os românticos... também mijam (Jorge Cabral)

(...) Estava calor e todo o quartel dormia a sesta. Em cuecas, o Alfero urinava contra a parede (bem não urinava, mijava, pois na Tropa, ninguém urina, mija). Eis que um jipe se acerca. Nele, três alferes de Bambadinca, acompanhados de duas raparigas. Ainda a sacudir “o corpo do delito”, disfarça, cora, mas que vergonha (!). Claro, ninguém lhe aperta a mão. Elas são a filha do Senhor Brandão e uma amiga de Bissau, cabo-verdiana. Vêm visitar Fá. Chama o fiel Branquinho. Que os leve a todos para o Bar, enquanto ele se veste e se penteia. Regressa impecável. À paisana, de camisinha branca, calças azul-bebé. (...)


17 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7959: Estórias cabralianas (66): O meu colega Mãozinhas (Jorge Cabral)

(...) Foi na prisão de Alcoentre que conheci o Mãozinhas, por intermédio do meu amigo e cliente, o 24, nome que ganhou há muito tempo, num bordel, sito à Rua do Mundo. E porquê, 24? Ora, é fácil adivinhar. O tamanho, melhor, o comprimento (...)


11 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8892: Estórias cabralianas (67): Lagarto ka ta tchora! (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá não existiam rafeiros, até porque era muito mais uma Tabanca do que um Quartel. Lá viviam duzentas almas, pelotão Nativo e pelotão de Milícias, mais população e, no meio de toda esta gente, apenas dez europeus, o que levou muitas vezes o Alfero a interrogar-se: Afinal quem 'colonizava' quem? (...)


4 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8992: Estórias cabralianas (68): Zina, a bordadeira do Pilão (Jorge Cabral)

(...) Chegado na véspera e instalado no Biafra, entrei pela primeira e última vez na Messe de Oficiais em Santa Luzia. Era noite do Bingo. Procurei algum conhecido e encontrei o Gato Félix, estudante de Letras, ora Alferes, o qual também me pareceu entediado. (...)


18 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9223: Estórias cabralianas (69): Onde mora o Natal, alfero ? (Jorge Cabral)

(...) Também houve Natal em Missirá naquele ano de 1970. Na consoada, os onze brancos e o puto Sitafá, que vivia connosco. Todos iam lembrando outros Natais. Dizia um:
– Na minha terra…

E acrescentava outro:
– A minha Mãe fazia… (...)

3 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9304: Estórias cabralianas (70): Sambaro, o Dicionário e o Afecto (Jorge Cabral)

(...) Agora que tenho tempo, tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível. Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo. (...)


24 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9796: Estórias cabralianas (71): Fixações etnomamárias: evocando o meu avoengo Carloto Cabral que, no séc. XVIII, crismou Quebo como a Aldeia das Mamas Formosas (Jorge Cabral)

(...) Há uns tempos recebi uma simpática mensagem de uma leitora das “estórias cabralianas”. Gabava-me o humor mas alertava-me, algumas indiciavam uma certa “fixação mamária”. Nada de grave, que não pudesse ser tratado no seu divã, de psicanalista, presumo. (...)

9 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)

(...) Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia. Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”. Resolvi pois gravar uma das minhas noites. (...)

29 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10307: Estórias cabralianas (73): O Conde de Bobadela (Jorge Cabral)

(...) Estou no Tribunal de Mafra à espera de um Julgamento, quando uma mulher me interpela:
- É o Senhor Conde, não é?

Hesito, mas para evitar mais conversa, respondo:
-Sou sim. Como vai a senhora?
-Ai, que já não se lembra da Aurora! Eu trabalhava em casa do Senhor D.Ilídio. O Senhor Conde ia lá muito, quando estava na tropa. (...)

1 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10463: Estórias cabralianas (74): Danado para as cúpulas... (Jorge Cabral)

(...) – Branquinho, eu era danado para as cúpulas ? – perguntei-lhe um dia destes, porque habitualmente me socorro da sua memória. Ainda há meses, logo depois do almoço da CCS do Bart 2917, em Guimarães, no qual contaram tantas estórias do meu Missirá, tive de procurar confirmação junto dele. Praticamente eram todas invenções, pois também têm direito…

A esta questão, o Branquinho nem soube responder.
–Cúpulas ? Quais cúpulas? (...)

10 de novembnro de 2012 > Guiné 63/74 - P10647: Estórias cabralianas (75): O alfero na Casa dos Segredos (Jorge Cabral)

(...) Há mais de sessenta anos que conheço esta Leitaria. Fica na Avenida do Brasil e quando eu era miúdo havia lá uma vaca. Uma vaca em plena Lisboa…Quando conto,pensam que é estória, mas não é, a Senhora Margarida, vendia o leite produzido à vista do cliente. (...)


15 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10943: Estórias cabralianas (76): Não sei se por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer... (Jorge Cabral)

(...) Não sei se foi por distracção ou por preguiça, mas esqueci-me de morrer. Claro que tenho pago escrupulosamente o Imposto de Sobrevivência, mas agora resolvi aceder ao apelo governamental “ todos os velhos devem comparecer na Central de Abate,o que constitui um dever patriótico”. Comuniquei a decisão à família, que ficou muito contente, principalmente a minha bisneta Carol, que foi logo requerer mais um filho nos Serviços de Programação Genética. Um rapagão que nasça já crescido para não dar trabalho (...).

18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11586: Estórias cabralianas (77): As bagas da Dona Binta e os seus efeitos... secundários (Jorge Cabral)

(...) Não sei porque razão os Guineenses escolheram o Largo de S. Domingos, para se reunirem todos os dias. Logo de manhã, chegam, conversam, discutem, compram e vendem. É um lugar recheado de História. Foi de lá que partiram os quarenta conjurados para, em 1640, restaurarem a Independência, mas foi também ali que se iniciou a grande matança de Judeus em 1506. Deixo porém para outros a História séria, pois este velho Alfero conta é estórias (...)

12 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11707: Estórias cabralianas (78): A Justiça da Velha Mandinga (Jorge Cabral)


(...) Em Agosto de 1969, nasceu a minha sobrinha Maria João e logo fui nomeado padrinho, tendo sido marcado o baptizado para Janeiro de 1970, nas minhas férias. Numa sortida a Batatá, comprei um boneco, coisa fina, talvez de origem francesa, para levar como prenda. Parecia mesmo um bébé, de bochechas rosadas, com fralda e biberon. Guardei-o na mesa de cabeceira, mas às vezes mostrava-o às meninas da Tabanca, que frequentavam a escola. (...)



17 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11720: Estórias cabralianas (79): O Capitão-Tenente dos Submarinos (Jorge Cabral)

(...) Qual Guiné? São tantas. Cada um cria a sua ou inventa... E quem diz Guiné, diz Guerra. Por mim conheço muitas... Mas como esta, que mora no Beco do Cotovelo, à beira da Mouraria, não deve haver mais nenhuma. É na tasca da Conceição, onde às vezes abanco com três ex-combatentes da Guiné. Todos eles lá estiveram, em lugares e tempos diferentes e todos davam pelo nome de Mouraria. (...)
___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

domingo, 10 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20961: Estórias avulsas (98): Histórias do vovô Zé (2): História da Carochinha, contada em confinamento, em homenagem à D. Virgínia Teixeira e ao Senhor Jotex (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

1. Em mensagem do dia 9 de Maio de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta versão bem a seu modo da conhecida História da Carochinha, dedicada à esposa do Jotex e ao marido da esposa do Jotex.


Histórias do vovô Zé

História da Carochinha, contada em confinamento

Em Homenagem
À Dona Virgínia Teixeira e ao Senhor Jotex


Era uma vez uma jovem cadela chamada Carochinha, vinda duma família respeitável dos confins de Vila Nova de Gaia, onde vivia abastadamente junto de seus entes mais queridos. Rebelde e muito fogosa, ela vivia, na ânsia do luxo e da boémia. Sempre contrariada, fugiu de casa, atravessou a ponte e logo se deixou embrenhar nos esquemas e prazeres da noite.

Iludida com o seu poderio social e económico, apaixonou-se por um “Cão Grande”, tipo “Papa do Norte”, já maduro e bem conhecido pelos seus dotes desportivos e culturais (muito querido no seio das raças pobres e minoritárias) e, também, pelo negócio de frutas e chocolates. Foram tempos breves, mas vividos muito intensamente. Rapidamente se familiarizou com o luxuoso ambiente de cães poderosos, onde se destacavam “Tóbi” e o “Tabeco”, investigadores de prestígio. Foram tempos de ouro. A Carochinha passeou pelo Mundo inteiro. Chegou a ir ver o Papa a Roma, onde foi abençoada e acarinhada.
Porém, insaciável nos seus desejos, a Carochinha, a quem nada faltava, da sua sorte muito abusava. Por isso, viu-se repentinamente, controlada e insatisfeita.


Expulsa do condomínio das Antas, a despeitada, incentivada por cães e cadelas de Lisboa sem pedigree, veio para a praça pública acusar o “Cão Grande” de práticas sociais pouco correctas e, até, das suas fraquezas físicas, nomeadamente da sua excessiva produção de flatulência malcheirosa.

No Real Canil do Império, a Carochinha virou vedeta do Jet Set e do Show Business. Colaborou em tudo que lhe pediram, cuspindo ódio e rancor no “prato de quem tanto lhe deu de comer”, sem um mínimo de vergonha ou de respeito. Utilizada abusivamente pelos cobardes e invejosos nas suas investidas habituais contra a naçon tripeira, cedo se apercebeu que ali, o seu reinado terminara. As honrarias e amizades que lhe prestaram esfumaram-se em pouco tempo.

Voltou ao norte. Trouxe, como paga de uma história mal contada e de um filme de mau gosto, apenas um cãozinho criado pelo “Grande Chefão”, que era alegadamente ligado à corrupção, à droga e ao mundo dos pneus. Tudo bem compensado com uma rede de padres, missas e macumbas ao redor de uma catedral dominadora do mundo da política, da Justiça e da Comunicação Social.

Veio à boleia e passou pelas Caldas, onde a reconheceram e lhe deram um souvenir local.
Regressou à baixa Portuense onde, numa noite louca, o seu cãozinho se excedera a lamber as botas de um Ilustre Jurista nortenho, por sinal cliente assíduo daquela rua e daquela zona, muito activa no métier (e no tirer). Diríamos que aquela atracção se identifica com a célebre frase do “amor à primeira vista”.
Coincidências do diabo! Não é que a senhora esposa desse Ilustre Doutor, se havia condoído pela situação de uma vizinha que acolhera dois outros cães expulsos recentemente? Nada mais nada menos que os ex-influentes “Tóbi” e “Tabeco”, cuja nova patroa do condomínio das Antas (uma jovem brazuca), deles se desfizera cruelmente.

A Senhora, que era uma Rainha no lar e uma Santa na sociedade, impôs desde logo uma habitação condigna aos seus protegidos (camas, colchões e cobertores, em pequenos quartos climatizados etc., etc.). Para gente de posses, não havia problemas.
Porém, havia uma pequena questão: - Que fazer do cãozinho que o seu marido, alegadamente encontrou à saída do seu escritório?
(Coitadinho, tão pequenino e tão desprotegido!)
“Tóbi” e “Tabeco” foram logo para a casa de férias no campo e o cãozinho protegido assumiu o seu manhoso papel de meiguice, sabiamente fingida junto do seu patrão. Condicionado pela sua presença, o Doutor dava a ideia que vivia com medo que o cãozinho falasse.


Como andava sempre dentro do carro, um dia “chateou-se” com a boleia dada a um amigo que, ao vê-lo de coletezinho vermelho, chamou-lhe “Orelhas”.

Ao ouvir esse nome, que lhe era muito familiar, o “Orelhas” ripostou agressivamente com o tal amigo e, perante alguma achega do patrão, ele peidou-se sonorosa e malcheirosamente e… descaradamente. Não contente com tudo isto e analisados outros pormenores, o Doutor, resolveu atribuir-lhe um nome mais compatível. Passou a chamar-lhe Dr. Simplício Merdinhas. Mais tarde, os filhos do patrão, só o tratavam por Rex. Mas não levou muito tempo para lhe ser corrigido o tal apelido para Rex Fodelhão.
Como a bondosa patroa tem muitos afazeres, nem se apercebe do quanto é chocante ver-se a diferença de tratamento dado pelo dono ao tal “inocente” cãozinho “Orelhas” e aos outros.

Com a cobertura do patrão, o “Orelhas” impõe-se vergonhosamente

A Carochinha foi apanhada numa ronda (Ramona), mas foi salva por uma associação protectora dos animais e ficou à guarda de uma sensível senhora da Rua da Alegria.
A Carochinha descobriu, lá em casa, um saco azul com dinheiro. Não se pode falar nisso, mas é voz comum que o marido da senhora é chefe de um “Bando” qualquer. Agora, menos viciada na vida fácil e desejosa de se submeter ao aconchego de um lar, a Carochinha só pensa em libertar-se. Quer casar. Então vem para a janela apregoar para todos os cães que lá passam:
 - Quem quer casar com a Carochinha, tão rica e bonitinha?


Num dia desses, o senhor seu dono, acordou mais cedo e, ao ouvir o pregão, veio observar o desfile de cães que iam passando por baixo da janela.


Eram cães com bom aspecto. Porém, com poucas hipóteses de conquistar a Carochinha. Aquela passagem por Lisboa, a humilhação de voltar às origens e a necessidade de constituir uma família séria, moldaram-na para uma nova vida.


E foi assim que a Carochinha escolheu o cão mais rafeiro que passou por baixo da janela. E como ele estava ferido, mereceu ainda mais carinho por parte da patroa, que o tratou e curou com muito amor.

Estão a ser felizes e vamos ver se têm muitos cãezinhos e… cadelinhas.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
____________

Nota do editor

Vd. poste de 4 DE MARÇO DE 2019 > Guiné 61/74 - P19549: Estórias avulsas (93): Histórias do vovô Zé (1): As nossas andorinhas (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp)

Último poste da série de 23 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20006: Estórias avulsas (97): quando ia ficando soterrado no abrigo do canhão s/r, 82-B10, de fabrico russo... Salvei-me por um triz... Afinal, ainda não tinha chegado a minha hora! (Martins Julião, ex-alf mil, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72)

domingo, 12 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20850: Manuscrito(s) (Luís Graça) (183): para a minha neta que hoje faz 5 meses e para todos os avós e netos que estão sozinhos em casa, em dia de Páscoa...


Lourinhã > Paimogo > 2020 > Pandemia de COVID-19 > Só as aves do céu não estão confinadas...


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Parabéns, Clarinha, pelos teus 5 meses de vida,
em plena pandemia de COVID-19!


À minha neta terei de contar um dia
Os primeiros meses da sua aventura,
No planeta azul, e este tempo de clausura,
Que nos foi imposto por uma pandemia.

Nada sabe do mal e sua virulência,
Seu sorriso é mais belo que a mais bela flor,
Seus olhos claros já perscrutam em redor,
Mas toda ela é apenas inocência.

É Páscoa, hoje o amor e a vida celebramos,
E as alegrias que tu tens dado, bebé,
A teus pais e a todos nós, que muito te amamos.

É Páscoa, é abril, mas nada de beijinhos,
Porque há um vírus que nos quer mal, pois é,
E os avós, cá e lá(*), em casa estão sozinhos.

Lourinhã, 12 de abril de 2020.

(*) no Funchal



2. Mensagem que mandámos, eu e a Alice, à nossa "gente do Norte", em nosso nome e dos nossos filhos, cada um para seu lado, em confinamento:

Queridos/as irmãs, irmãos, cunhados/as, tios/as, primos/as:

Dizem que a distância faz esquecer…
Talvez, se for prolongada no tempo.
Mas agora, não é distância, é confinamento,
que nos foi imposto por uma pandemia…

E logo hoje que é Páscoa,
festa maior da nossa gente de Candoz.
E logo hoje que não nos podemos abraçar nem beijar,
cada um de nós confinados nas nossas casas.

Esta dramática circunstância aviva a saudade,
que nos faz lembrar, e lembrar cada um de vós,
com quem gostaríamos de estar,
hoje muito em particular…

É Páscoa, é abril, é primavera,
não haverá compasso, nem arroz pingado, nem foguetes,
nem o ruído nem a alegria de uma mesa grande e farta.

Mas, daqui, do Sul, da Lourinhã, de Alfragide, de Lisboa,
comungamos da esperança de, em breve,
nos podermos voltar a encontrar
e sabermos, de viva voz,
como é que cada um de vós “toureou o corno do vírus”…

Hoje é dia de alegria também
pelos cinco mesinhos de vida da nossa Clarinha,
que ainda nada sabe dos males do mundo.

Estaremos, em pensamento, convosco.
E desejamos que rapidamente a gente
consiga, individual e coletivamente,
sair bem deste tempo de ameaça e de clausura.

Um cesto grande de abraços, chicorações, beijinhos… 
com uma lagrimazinha devidamente “higienizada”…

Luís e Alice (Lourinhã), Joana (Alfragide), João e Catarina (Lisboa)

12/4/2020

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 12 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20822: Manuscrito(s) (Luís Graça) (182): para a Joana que hoje faz anos, e para todos os nossos filhos que estão sozinhos em casa...

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20338: Parabéns a você (1706): Nasceu hoje, dia 12, 3.ª feira, às 6h01, a Clarinha (Avô Luís Graça)

Foto: © Luís Graça


NASCEU A CLARINHA

1 - Amigos tertulianos:

Indo em serviço ao facebook vi este post da nossa tertuliana Alice Carneiro:

Mas que dia inteiro e limpo, logo pela manhã bem cedinho, a minha primeira netinha fez-se ao caminho. 
Que o mundo que te acolhe, te saiba receber e que tu venhas ajudar a construir um mundo ainda melhor. 
Que não haja mais criancinhas no contentor, nem mulheres sem abrigo. 
O melhor dos mundos para ti meu grande amor!


2 - De seguida enviei esta mensagem ao Luís:

Luís 
Acabei de ler no face a mensagem da Alice a dar conta do nascimento da vossa netinha. 
Muitos parabéns aos avós e aos papás. 
Muitas felicidades para a nova cidadã que vai receber um mundo instável porque nós não tivemos juízo. 
Dá um abraço ao João a quem desejamos as maiores venturas. 

Carlos e Dina
____________

3 - A resposta não se fez rogada:

Obrigados, bons amigos desde há 15 anos!...
Acabámos de sair do quarto onde mãe, pai e filha estão bem... 
Imaginem, recebemos a notícia quase em direto, a Clarinha nasceu às 6h01... E o avô às 8h00 já tinha escritos que já leu...
É um momento de alguma ansiedade mas também de muita alegria, quando corre tudo (ou quase tudo) bem. 
[...]
O João está radiante, a Catarina cansada mas serena e feliz, está cá a avó madeirense (que foi mãe aos... 16 anos!), a avó Alice já pôs a boca no trombone em tudo o que é sitio... 
Enfim, uma nova etapa nas nossas vidas. 
Juntos versinhos.

Abraços, chicorações, 
Luís e Alice

********************

Os "versinhos" do avô Luís:

Nasceu hoje, dia 12, 3.ª feira, às 6h01, da manhã
No Hospital da Luz, a Clarinha,
Uma menina de nome Clara Klut da Graça,
Com 3,050 kg.
Parabéns aos pais, João Graça
Catarina klut

Já nasceu nossa Clarinha,
Logo às seis da madrugada,
E é linda, é moreninha,
Diz o pai, que não dormiu nada.

Diz o pai, que não dormiu nada,
Ao lado da mãe Catarina,
Sempre de mãozinha dada,
Foi no parto uma heroína.

Foi no parto uma heroína,
Dando à luz em lua cheia,
Será feliz esta menina,
Portuguesa, europeia.

Portuguesa, europeia,
Feita no bairro da Graça,
Que do mundo é uma aldeia,
Onde o Funchal se entrelaça.

Onde o Funchal se entrelaça,
Num presépio de luzinhas,
À Clara Klut da Graça,
Não lhe faltam avozinhas.

Não lhe faltam avozinhas,
Sendo da Atlântida princesa,
Nem poetas nem fadinhas,
P’ra lhe dar a papa à mesa.

P’ra lhe dar a papa à mesa
E lhe ensinar os sabores,
E as palavras e a certeza
Dos mil sons e das mil cores.

Dos mil sons e das mil cores,
Da grande paleta da vida:
Aos pais, queridos amores,
Gratidão vos é devida!

Alfragide, 12/11/2010, 8h,
Os avós, Alice e Luís
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Nota do editor:

Julgo poder deixar aqui, em nome de toda a tertúlia, os parabéns ao João, à Alice e ao Luís, por este acontecimento. 
O nascimento de uma criança é um acontecimento muito significativo e importante no seio de qualquer família, especialmente para os pais e avós. Os amigos como nós, os que por este blogue militam há tantos anos, são também contagiados pela felicidade destes particulares amigos.
Para a Clarinha e seus pais desejamos o melhor da vida.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20329: Parabéns a você (1104): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Especiais da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20294: Blogpoesia (642): "Porque tardaste?" - Poema de Juvenal Amado dedicado ao seu neto que hoje completa o seu primeiro ano de vida

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 18 de Outubro de 2019, trazendo um poema dedicado ao seu neto que completa hoje o seu primeiro ano de vida:

Caros camaradas,
É costume falarmos das agruras do nosso passado de militares mas hoje cabe-me falar das alegrias do presente, bem como de algumas dores nas costas.
Faz um ano, hoje dia 31, que nasceu o meu neto Henrique, e como esse acontecimento veio transformar a minha vida de piloto experimental de sofás, bem como umas reconfortantes sestas, numa agitação de parques infantis, sopas e fruta esmagada, fraldas mijadas e pior que isso choradeiras e agora já com umas nódoas negras.
Não é nada que milhares de camaradas não tenham passado e perguntarão alguns para quê tanta tragédia. Mas para que servem os momentos felizes se não falarmos deles e dos seus actores, agora que estão aí as castanhas e a água-pé mais logo o vinho novo?
Assim sendo cá vai um poema que as cataratas me deixaram escrever.

Um abraço para todos
Juvenal Amado


Porque tardaste?

Porque tardaste tanto?
- Não conhecerás se não os meus olhos cansados
As minhas mãos que tremulam
O meu andar pesado e lento
As minhas barbas brancas
O meu cabelo raro.
-Porque tardaste tanto?
Miro-te
Não sabes ainda que o tempo será sempre pouco
Vou guardar o teu sono
Pois os dias em que te contemplo serão curtos
Não te assustes com o vento e trovoada
Que eu rezo a Santa Bárbara.
- Vou ajudar nos teus os primeiros passos
Vou magoar-me com o teu choro
Quero-te mostrar a beleza do mar
Ensinar-te o quanto é suave o odor das árvores
Por recompensa beberei o teu riso
Cada gargalhada tua será um hino.
- Só chegaste no meu entardecer
Fizeste-me renascer
Trouxeste-me amanheceres límpidos
- Porque demoraste tanto a chegar?
Só tenho amor para dar e estórias para te contar.
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20279: Blogpoesia (641): "Noites bravas", "Os frascos" e "Vales sombrios", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728