Guiné-Bissau > Sinchã Sambel > 2005 > Duas fotos da dona Fatumatá, viúva do régulo de Contabane, Sambel Baldé, aliado de Spínola... Era já viúva, quando morreu, em 2010, com 114 luas, dizem uns, ou 100 anos, dizem outros. A foto de cima, a primeira, é do José Teixeira, a outra é do Paulo Santiago, dois "tugas" com uma enorme sensibilidade sociocultural, que honram a Tabanca Grande: um e outro conheceram a senhora Fatumatá, ainda em vida, o Paulo Santiago (ex-alf mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, que voltou à Guiné em 2005, 2008 e 2010), e o José Teixeira (ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70; tem mais de 340 referências no nosso blogue; régulo da Tabanca de Matosinhos)
Fotos: Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Fotos: Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
(i) Cherno Baldé (*):
Caros amigos Luis e Mário Migueis,
O nome correcto deve ser "Fatumata" (*), que é a versão fula do árabe Fátima ou Fátmah, todas as outras formas serão variantes abreviadas do mesmo nome, por exemplo: Fátu/Fáru, Máta/Mára, Fatumá/Farumá, Matâel/Marâel (diminuitivos), no meio fula.
Isto afinal não é nada estranho...
Hélder Sousa
(*) Vd. poste de 21 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20001: (In)citações (136): Fatemá (ou Fatumatá), a mulher grande, viúva do régulo de Contabane, Sambel Baldé, mãe do atual régulo, Suleimane Baldé, que foi soldado do exército português... Morreu em 2010, centenária... Um exemplo espantoso da arte de bem envelhecer (Paulo Santiago / José Teixeira / José Brás / Cherno Baldé / Mário Miguéis da Silva)
Vd. também poste de 22 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20004: (De)Caras (110): Fatumatá, esposa do régulo Sambel, de Contabane. Fotografada em 2005, com 96 anos (José Teixeira, régulo da Tabanca de Matosinhos)
O nome correcto deve ser "Fatumata" (*), que é a versão fula do árabe Fátima ou Fátmah, todas as outras formas serão variantes abreviadas do mesmo nome, por exemplo: Fátu/Fáru, Máta/Mára, Fatumá/Farumá, Matâel/Marâel (diminuitivos), no meio fula.
Fatemá deverá ser uma versão portuguesa do mesmo nome, acho eu.
Voltando a questão da idade, acrescentaria que a minha mãe era da mesma geração que a Fatumata, talvez um pouco mais nova e, facto curioso, na opinião de muitos familiares, ela ja tinha mais de 100 anos, antes da sua morte ocorrida em 2017.
Não havendo forma de os contradizer, aceitava pacificamente este dado, mas por um feliz acaso, um dia, ela contou-me que quando o pai voltou da guerra de Canhabaque, ela ainda era uma miudinha dos seus 9/10 anos, mais ou menos. Sabendo que a última guerra de Canhabaque, que tinha contado com a participação de auxiliares de Sancorlã (nosso regulado), tinha sido em 1935/36, fiz as contas e conclui que a sua idade estava muito exagerada e que, na verdade, se em 1936 estava com 9/10 anos, entao em 2010 deveria andar, mais ou menos, à volta dos 83/84. Contudo, as minhas conclusões muito rigorosas, muito europeias, baseadas num marco histórico bem conhecido, simplesmente, foram rejeitadas e deitadas ao lixo da nossa memória colectiva.
Da mesma forma que em 1969/70 tinham rejeitado a ideia da chegada do homem à Lua (**), considerada uma ideia maluca dos brancos. Acontece que aceitar esta afirmação, para eles, era aceitar a ideia de que o céu não era o habitat de Deus. O meu pai nem sequer admitia que houvesse discussão acerca disso, corria com todos, grandes e pequenos. Aquilo punha o mundo por eles conhecido e aceite de pernas para o ar, o que era inadmissivel.
Cherno Baldé
(ii) Hélder Sousa (*):
Caros amigos,
Tenho acompanhado este caso com alguma curiosidade e acho que tem sido abordado com correcção e bom senso.
Não havendo forma de os contradizer, aceitava pacificamente este dado, mas por um feliz acaso, um dia, ela contou-me que quando o pai voltou da guerra de Canhabaque, ela ainda era uma miudinha dos seus 9/10 anos, mais ou menos. Sabendo que a última guerra de Canhabaque, que tinha contado com a participação de auxiliares de Sancorlã (nosso regulado), tinha sido em 1935/36, fiz as contas e conclui que a sua idade estava muito exagerada e que, na verdade, se em 1936 estava com 9/10 anos, entao em 2010 deveria andar, mais ou menos, à volta dos 83/84. Contudo, as minhas conclusões muito rigorosas, muito europeias, baseadas num marco histórico bem conhecido, simplesmente, foram rejeitadas e deitadas ao lixo da nossa memória colectiva.
Da mesma forma que em 1969/70 tinham rejeitado a ideia da chegada do homem à Lua (**), considerada uma ideia maluca dos brancos. Acontece que aceitar esta afirmação, para eles, era aceitar a ideia de que o céu não era o habitat de Deus. O meu pai nem sequer admitia que houvesse discussão acerca disso, corria com todos, grandes e pequenos. Aquilo punha o mundo por eles conhecido e aceite de pernas para o ar, o que era inadmissivel.
Cherno Baldé
(ii) Hélder Sousa (*):
Caros amigos,
Tenho acompanhado este caso com alguma curiosidade e acho que tem sido abordado com correcção e bom senso.
Falando em "bom senso" acho que ele está quase sempre presente nas oportunas intervenções, solicitadas ou não, do Cherno.
Apenas acho que a expressão "Fatemá" não tem obrigação de ser uma "versão portuguesa", no sentido de se ter superiormente arranjado uma grafia para o nome. Acho mais provável que portugueses, isso sim, ao ouvirem referir-se à senhora e sem conhecer essas nuances dos nomes que o Cherno refere, passaram a grafar tal como lhe soava e depois foi passando de uns para outros
.
O que acho mesmo uma delícia são aqueles dois aspectos que o Cherno conta: ao tentar determinar com o "rigor dos brancos" a idade de sua mãe, isso foi "rejeitado e deitado ao lixo da nossa memória colectiva", o que mostra como as comunidades normalmente se fecham e defendem as "suas verdades".
O outro aspecto, aliás no seguimento do anterior mas muito mais implicante, foi a discussão/posição sobre a "ida à Lua", pois isso, como o Cherno diz, "punha o mundo por eles conhecido e aceite de pernas para o ar o que era inadmíssvel". (***)
Isto afinal não é nada estranho...
Hélder Sousa
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 21 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20001: (In)citações (136): Fatemá (ou Fatumatá), a mulher grande, viúva do régulo de Contabane, Sambel Baldé, mãe do atual régulo, Suleimane Baldé, que foi soldado do exército português... Morreu em 2010, centenária... Um exemplo espantoso da arte de bem envelhecer (Paulo Santiago / José Teixeira / José Brás / Cherno Baldé / Mário Miguéis da Silva)
(***) Último poste da série > 18 de julho de 2019 > ões (357): Guiné 61/74 - P19988: (Ex)citações (356): A Exposição Colonial do Porto, 1934: a balanta Rosinha, com os seus seios ao léu, foi capa de revista, num tempo e lugar em que nenhum jornal ou revista se atreveria a mostrar uma mulher branca de mamas à mostra... (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880, Angola, 1972-74)