Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Fortaleza da Amura > QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné) > O Virgílio Teixeira, numa das vezes que foi ao QG / CCFAG, na fortaleza da Amura, em data que já não pode precisar (c. 1967/68), encontrou no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo ("era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar").
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O Hugo Guerra (ex-alf mil, hoje Coronel DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 50, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), encontrou o Marco Paulo, que ele não conhecia, nos correios de Bissau, na época natalícia de dezembro de 1968. Tiveram um pequeno "desaguisado" por causa dos botões da camisa (*)...
Também num blogue do Luís de Matos (ex-fur mil, da CCAÇ 1590 / BCAÇ 189, Os Gazelas, 1966/68), havia uma referência ao Marco Paulo: ele chegou a Bissau, a 11 de agosto de 1966 e foi dar uma volta à noite com vários camaradas, alentejanos. O blogue já não está mais disponível na Net (o link era: http://luisdematos.blog.com/2007/7/) mas aqui vai um excerto (*)
– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins [, da Valentim de Carvalho], fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.
– Chegou a sentir medo?
– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!” Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.
– Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?
– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos.
Outra das entrevistas, com o Marco Paulo, "a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos vendidos". conduzida pelo jornalista e escritor Luís Osório, e publicada nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, em nembro de 2011, pode ler-se:
(...) Luís Osório [LO] - Sei que está a comemorar mais um ano de carreira..
Marco Paulo [MP] - E são já 35 anos a cantar, imagine só. Tanto tempo que quase parece, bem, quase parece que a pessoa que sou hoje nada tem a ver com a pessoa que fui... Passei muitas dificuldades no início, não foram apenas rosas.
LO - Que tipo de dificuldades?
MP - No início tive de cumprir 18 meses de serviço militar obrigatório, depois tive também de viver com o que diziam e faziam os meus críticos. Durante muitos anos o meu nome esteve vetado na televisão. Fui muitas vezes mal tratado. (...)
(...) LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar?
Infelizmente, não dispomos de nenhuma foto do nosso camarada Marco Paulo, do tempo da Guiné. Nem conhecemos o "sítio oficial" do popular cantor (***).
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1. Houve camaradas nossos, que passaram pelo TO da Guiné, e que depois se tornaram famosos, nas suas atividades profissionais: políticos, artistas, desportistas, médicos, jornalistas, etc. Famosos, quer dizer, conhecidos do grande público...
É o caso, por exemplo, do cantor Marco Paulo, que foi 1.º cabo escriturário, e que esteve colocado no QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné), na fortaleza da Amura... Não sabemos a sua unidade, nem exatamente em que período lá esteve: talvez entre 1966 e 1968, cerca de 18 meses; e talvez em rendição individual.
Vários camaradas já referiram aqui o seu nome:
Por sua vez, o Virgílio Teixeira (ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, set 1967 / ago 1969) escreveu que, nas suas visitas a Bissau, foi várias vezes ao QG, na fortaleza da Amura , e que "numa delas encontrei no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo, que já o conhecia do Porto, morava perto de mim, e já começava a ser conhecido".
E acrescenta: "ele era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar, servia no balcão ele ou outros em serviço. (...) Depois acabou por dar espectáculos em alguns lugares da Guiné, mas eu nunca vi nem assisti a nenhum". (**)
O Virgílio Teixeira esclarece, em comentário (**), que "o Marco Paulo, já depois de chegarmos da Guiné, morava por aí perto de mim, ao lado da casa de uma irmã minha, e só por isso o via raramente, quando visitava a minha irmã [no Porto]".
(...) O furriel miliciano Charneca, que é natural de Beja, ou arredores, não sei bem, pertence à CCS do meu batalhão, o [BCAÇ] 1894, disse-me que há um nosso camarada, já 'velho', o que equivale a dizer que não é 'periquito', que está no rádio do Quartel-General com o Marco Paulo, um artista da rádio e da TV e também alentejano, de Mourão. Vamos lá ter com eles, para nos mostrarem como é isto. Ou pelo menos, aquele meu amigo vai connosco. Estava uma noite escura como breu. Não me recordo de mais nada. O que sei é que me vi dentro dum táxi, com o Charneca e o tal amigo do QG, por um trilho, em que o capim era bem mais alto que o nosso transporte e fomos parar a uma vivenda onde havia música. Muita música cabo-verdiana e dança, frangos no churrasco, cerveja e whisky. (...)
2. Em tempos publicamos dois extractos de entrevista com o Marco Paulo (, nome artistico de João Simão da Silva, nascido em Mourão, na margem esquerda do Guadiana, Alentejo, em 21 de janeiro de 1945).
2. Em tempos publicamos dois extractos de entrevista com o Marco Paulo (, nome artistico de João Simão da Silva, nascido em Mourão, na margem esquerda do Guadiana, Alentejo, em 21 de janeiro de 1945).
Uma das entrevista era do Correio da Manhã, de 9 de junho de 2007:
(...) –Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?
(...) –Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?
– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins [, da Valentim de Carvalho], fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.
– Chegou a sentir medo?
– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!” Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.
– Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?
– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos.
Outra das entrevistas, com o Marco Paulo, "a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos vendidos". conduzida pelo jornalista e escritor Luís Osório, e publicada nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, em nembro de 2011, pode ler-se:
(...) Luís Osório [LO] - Sei que está a comemorar mais um ano de carreira..
Marco Paulo [MP] - E são já 35 anos a cantar, imagine só. Tanto tempo que quase parece, bem, quase parece que a pessoa que sou hoje nada tem a ver com a pessoa que fui... Passei muitas dificuldades no início, não foram apenas rosas.
LO - Que tipo de dificuldades?
MP - No início tive de cumprir 18 meses de serviço militar obrigatório, depois tive também de viver com o que diziam e faziam os meus críticos. Durante muitos anos o meu nome esteve vetado na televisão. Fui muitas vezes mal tratado. (...)
(...) LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar?
MP: Na Guiné. Quando fui para a guerra, já tinha gravado dois ou três discos, discos sem grande sucesso mas que passavam na rádio e que já vendiam alguma coisa. Ao regressar da guerra, não fazia ideia do que seria a minha vida no futuro, não era líquido que o meu futuro passasse pelas cantigas.
LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?
MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.
LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?
MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)
LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?
MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.
LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?
MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 22 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)
(**) Vd. poste de 7 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19078: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVI: Fortaleza da Amura, Quartel-General, Bissau, junho de 1969.
(*) Vd. poste de 22 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)
(**) Vd. poste de 7 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19078: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLVI: Fortaleza da Amura, Quartel-General, Bissau, junho de 1969.
(***) Último poste da série > 24 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19040: (De) Caras (121): António Salvada, bancário reformado, ex-fur mil, CCAÇ 2584 / BCAÇ 2884 (Có, 1969/71), membro desde 30/3/2017 da nossa Tabanca Grande