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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22841: O meu sapatinho de Natal (20): Cantando as janeiras: "Muita saúde nos traga / O ano que aí vem,/ E oxalá que também / Se vá de vez esta praga. / (Luís Graça, Alfragide, Lourinhã, Madalena, Candoz e Funchal...)

 
Madalena, V. N. Gaia > 23 de dezembro de 2021 > As rabanadas da tia Nitas...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há um stress de Natal. No Norte, diz-se "freima". Há dias estava sentado a tomar um café a observar o "formigueiro humano" a entrar e  a sair de um dos "templos" da "nova religião" que é o consumismo... Tudo em passo apressado, como se participassem numa corrida em contra-relógio. Bolas, o Natal era só no dia 24/25 de dezembro, e a gente ainda estava na manhã de 19... 

É verdade que eu próprio ainda fui à FNAC com a minha lista de livros para fazer as últimas compras... Já estavam escolhidos, ao menos... Era só pegar, pagar e andar, embora de canadianas... Pela primeira vez na vida, senti-me discriminado pela positiva... Encaminharam-me logo (, um simpático e despachado funcionário com ar de gerente da loja)  para o guichê dos pagamentos, passando um bicha que dava duas voltas... Não dá grande jeito andar de canadianas nos centros comerciais na quadra natalícia, com cesto de livros, e muito menos é aconselhável.

Já fiz o meu Natalito, em 19 passado, em Alfragide, com o número máximo, recomendável, de pessoas à mesa para o tamanho da sala e da mesa: oito com a netinha, que tem dois anos e um mês... E tudo autotestado... Das cinco da tarde até às nove da noite de domingo, que o dia seguinte era de trabalho...

O Natal em stress é na cidade grande... Não havia nada disso na vilória onde eu nasci há mais de 7 décadas. Ainda o Pai Natal  não existia, pelo menos o Pai Natal da Televisão e dos centros comerciais. Não havia televisão, nem eletricidade nem centros comerciais. Muito menos corrida às compras, com medo que o mundo acabasse, o bacalhau desaparecesse, e as estantes do hipermercado ficassem vazias...

Mas nem por isso o Natal deixava de ter magia. Punha-se o sapatinho, limpo, engraxado,  na chaminé, para no dia seguinte, de manhã cedo, ir recolher a(s) prenda(s) do Menino Jesus... Que era tão pobre como nós, diziam  as nossas mães, mas a verdade é que ele já tinha uma fábrica de chocolates e de chupa-chupas, além de outra de fazer meias, o que fazia confusão aos putos naquele tempo. Como é que ele podia distribuir tantas guloseimas e outras prendinhas ?

Hoje andamos todos a correr, porque os membros das  famílias já se não se podem juntar todos na Consoada: os filhos vão para as sogras... Quem tiver o azar de só ter filhos machos passa o Natal sozinho em casa... E depois temos que viajar para nos reunirmo-nos com a família alargada: há 45 anos que eu passo o Natal no Norte... E o meu filho  vai para a Madeira (via Porto)... Foi hoje.  

São as circunstâncias da vida atual. Não vale a pena chorar no molhado nem fazer comparações. Felizmente, que já não levamos um saco com cem prendas, gastando a guita do 13º mês... Agora no Norte cada um dá só uma prenda: os nomes são tirados à sorte... O A dá ao B, o B dá ao Cê, e por aí fora...Quando entrámos na CCE, em 1986, deslumbrámo-nos e achámos que estávamos ricos... Pobre ilusão!...

O mais importante do Natal, para além do "rancho melhorado", é a partilha de afetos (, e claro também a agradável surpresa das prendinhas,  sobretudo para as crianças...). Para mim, é o estar à mesa e depois à volta da lareira ou do recuperador de calor, beber um copo, repescar memórias, contar histórias, tocar e cantar, sem esquecer as janeiras... 

Não é preciso sair de casa, cantam-se as janeiras, logo na noite da Consoada... É preciso é que haja uma quadra para cada conviva...Faço isso há anos, e gosto de manter a "tradição"...Há sempre uma pontinha de humor, de verve, de ironia, de picardia em cada quadra, e sobretudo muita ternura, amor e amizade. 

Costumo ser eu a encarregar-me das "escritas", que às vezes levam um tarde ou uma manhã inteiras, se não falhar a inspiração. Outros/as tratam dos comes & bebes e de toda a logística natalícia: o bacalhau "lascudo" ou "lascoso" (dois adjetivos que não vêm no dicionário...) "com todos" (e as insubstituíveis "pencas de Candoz", mais os "grelhos"), servindo os generosos restos para fazer a "roupa velha" do dia seguinte, 25... E claro um bom vinho... E há discussões de grande profundidade enológica e organolética sobre se o vinho deve ser um branco ou um tinto... Com o molho em azeite e alho que aqui fazem (, com muito alho!), é difícil (se não inpossível) ao palato mais exigente saborear um bom tinto. Há quem prefira um branco com mais corpo e alma...

Nas nossas idades, o Natal (e em especial este Natal de 2021) tem restrições, contratempos, alegrias, tristezas, dúvidas, perplexidades: nos casais, nem todos estão bem de saúde, há sempre um mais frágil do que o outro, com uma doença, em geral, crónica, de evolução prolongada, degenerativa ou não... Ou acamado.. Ou já instucionalziado (nos cuidados continuados, no lar de idosos...). Há quem já esteja viúvo. Ou separadado. Ou divorciado, vivendo só...  

Enfim, há quem esteja só. Há quem esteja longe, ou com os filhos longe, no estrangeiro...E depois é o segundo Natal que passamos na pandemia provocada pela SARS-CoV2. Vai fazer oficialmemnte dois anos em meados de março de 2022. Equivalente a uma comissão na Guiné. 

Foi duro para todos nós, os meses e meses de confinamento e de restrições, e pior ainda para quem apanhou a Covid-19... Houve amigos e camaradas nossos que morreram. A mortalidade vai já em cerca de 5,4 milhões em todo o mundo, e o nº de casos de infetados está acaminho dos 280 milhões (em Portugal, 18,4 mil  mortos e 1,25 milhões de casos;  no nosso caso, quase o dobro dos mortos na guerra colonial, 10 mil em 13 anos.)

Dito isto (e o preâmbulo já vai extenso demais, para esta noite tão especial), só posso desejar aqui o melhor Natal possível a todos os amigos e camaradas que pertencem à nossa Tabanca Grande e a todos os que nos leem. E que são muitos: este ano, e até ao dia de hoje,  já tivemos mais de 900 mil visualizações de páginas, e publicámos 1115 postes....

E quero deixar aqui, no sapatinho de Natal, a minha prendinha, um excerto dos versinhos das "janeiras"... Descontando as particularidades do meu contexto familiar, pode ser que o exemplo inspire alguém que queira também fazer ainda umas quadras para ler na Noite da Consoada, que costuma ser longa e cheia de emoções...

Como é sabuido, as quadras populares são constituídas por quatro estrofes (linhas), cada uma com versos de sete sílabas poéticas,  e uma esquema de rimas tipo ABAB ou ABBA: o 1º verso rima com o 3º e o 2º com o 4º (ABAB) ou então o 1º rima com o 4º e o 2º com o 3º (ABBA)...

Este ano os versinhos sairam todos com o esquema ABBA. O meu robô é quem manda... Segue uma amostra das cerca de meia centena de quadras que fiz este ano, para duas ocasiões (o Natalito de Alfragide, em 19; e a "Consoada dos Primos", Madalena, V. N. Gaia, ontem,  23; amanhã fazemos, além da tradicional "roupa velha",  o peru à moda da "chef" Alice, só pernas, assadas no forno, e bem regadas com o bagaço do alambique: os "primos" ficaram fãs, desde há muito, deste prato do Sul).

Chicorações, para todos/as. Luís (e Alice)


As janeiras de Alfragide e da Madalena


"Não ao stress de Natal,
Não ao passo apressado,
Se não, fico bem tramado
E não chego ao Funchal.”

“Vou ao Porto consoar,
Com o bacalhau e os mimos
De tantos tios e primos,
É o meu Natal a dobrar.”

 Vem reclamar a Clarinha,
Do bacalhau lascudo,
“O papá já comeu tudo,
‘Inda come mais um nadinha”.

A carne de vinha d’alhos
É a receita da Madeira,
Diz a nossa cozinheira:
“Tudo tem os seus trabalhos”.

Mais o famoso bolo preto,
Para honrar a tradição,
Faço das tripas coração,
Já não sei onde tanto meto.

Eu, por mim, é penca ou troncha,
Cada terra com seu uso,
“Mas, se não for muito abuso,
Eu cá preferia a poncha.”

É o Stephen que assim fala,
Tem costela d’ irlandês,
… “No resto, sou português,
E gosto bué desta chavala”!

No Brasil com pai e mãe,
Não tem que ser convidada,
E à mesa já esta sentada
À nossa Urchi, também.

Anda sempre numa fona,
A correr para as filmagens,
Mas queixa-se das sacanagens
E do tempo não é dona.

Muito sofre p’los seus canitos,
E um deles se chama Alfredo,
Se ela tarda, têm medo,
Ficam logo muito aflitos""

(...) “O meu avô, esse, coitado,
Já não pode com as muletas,
Por estar farto de tantas tretas,
Queria ser operado.”

(...) “Não gosto da brincadeira,
Não quero apanhar a peste,
Tenho que fazer o autoteste,
Antes de embarcar p’ra Madeira.”

“E o avô prometeu-me um conto,
Daqueles ‘Era uma vez…’,
Estou p’ra ver se no fim do mês,
Esse tal conto está pronto.”

 (...) “Parabéns, querida avó Chita,
Tenho muito que a aprender,
Contigo, a ver e a fazer,
Na cozinha és perita.”

“Obrigadinha p’las prendas,´
Os casaquinhos de lã,
‘Made in’ Lourinhã,
E outras coisas estupendas.”

Está na hora de ir dormir,
Já chega de lengalenga,
Diz a avó: “Se não, fico trenga,
Tenho mais p’ra onde ir.”

“P’ró Norte toca a marchar
Ajudar a mana Nitas,
Não é co’ as tuas escritas
Que ponho o peru a assar.”

Foi um Natal domingueiro,
Esteve cá a Joaninha,
Muito brincou co’a Clarinha,
E o jantar estava porreiro.

A Catarina ajudou
A fazer a nossa ponte,
C’o Funchal no horizonte,
A festa não acabou.

E imagino a netinha,
No fogo de fim de ano,
A pensar que era engano
O céu com tanta estrelinha.

(...) Muita saúde nos traga
O ano que aí vem,
E oxalá que também
Se vá de vez esta praga.

Foi o segundo Natal
Deste século com pandemia,
Não venha agora a anarquia
P’ra nos agravar o mal.

Cantadas estão as janeiras,
P’ra espantar os nossos males,
Seguem por montes e vales,
Acabam-se as brincadeiras…

(...) “Temos Natal a dobrar,
Com nossos filhos e noras,
Valem ouro estas horas”,
Diz a Nitas, a chorar.

Na Madalena há magia,
Na Consoada dos primos,
Mais que prendas, querem mimos,
E que acabe a pandemia.

(...) Estão bem cheias as baterias,
Que a vida é p’ra se viver,
Mesmo que tenha de ser
Com tristezas e alegrias.

“P’ra a semana se verá,
Quem mandam são as plaquetas,
Já estou farta de tantas tretas,
Mas ainda ando por cá.

“Três anos de tratamento,
Muitas horas no hospital,
Hoje esqueço, é Natal,
É o meu contentamento.

“E p’ró ano com novas pernas
Virá muito mais animado,
O Luís, nosso cunhado,
Com as suas rimas fraternas.”
 
Apontem na vossa agenda,
Que a vinte e cinco é rainha
A mãe da nossa Clarinha,
Com direito a uma prenda.

Faz aninhos no Funchal,
E a festa é a dobrar,
Parabéns lhe vamos dar,
No seu dia de Natal.

Já está longa a versalhada,
Boa noite, chicoração,
Amanhã há avião
E uma nova… Consoada!... (...)

Alfragide, 19, e Madalena, 23/12/2021

domingo, 1 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16902: Manuscrito(s) (Luís Graça) (107): As janeiras da tabanca da Madalena: vivó 2017!... (E saudando todas as tabancas e todos/as os/as tabanqueiros/as da Tabanca Grande: AD - Bissau, Ajuda Amiga, Algarve, Bandop do Café Progresso - Porto, Bedanda, Candoz, Centro - Monte Real, Ferrel, Guilamilo, Lapónia, Linha - Cascais, Maia, Matosinhos, Melros - Gondomar, Oeste, Ponta de Sagres - Martinhal, São Martinho do Porto, Setúbal, e por aí fora, que o mundo afinal é pequeno!)




Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 27 de dezembro de 2016  > Os bugalhos dos carvalhos



Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 27 de dezembro de 2016  > O sobreiro grande... com 50 anos!









Vila Nova de Gaia  > Madalena  >"Tabanca da Madalena" > 24 de dezembro de 2016  >  Algumas das coisas boas do Natal português nortenho... Os arranjos de azevinho (de Candoz), as rabanadas, os bolinhos de chila, o arroz doce (prós "mouros", que a aletria é que é prós "morcões"...), a lareira, e sobretudo o calor humano, a amizade, a arte de ben receber... coisas que não têm preço e nem se vendem nas grandes superfícies!


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné] (Com a devida vénais aos donos da casa da Madalena, Gusto e Nitas)


As janeiras 
da tabanca da Madalena 

> Vivó 2017

por Luís Graça





O dois mil e dezasseis
Já lá vai e deixa saudade,
Depois da festa dos Reis,
Ficamos mais velhos de idade.


Ficamos mais velhos de idade,
Todos  aqueles que aqui estão,
Uns com mais ruindade,
Outros jurando que não.


Outros jurando que não,
Tão frescos que nem um pêro,
Mente sã em corpo são,
Cuidando de si com esmero.



Cuidando de si com esmero,
E nós cultivando a  esp’rança,
Por mim, este ano só espero
Que não nos falta a confiança.


Que não nos falta a confiança,
E nos aguentemos nas canetas,
Vivendo com temperança,
Sem ter que andar de muletas.


Sem ter que andar de muletas,
E sermos uns coitadinhos,
Mas pior é ir de carretas
Lá pró mundo dos anjinhos.


Lá pró mundo dos anjinhos,
Quanto mais tarde melhor,
Tratem bem desses corpinhos,
Que eu a todos desejo amor.


Que eu a todos desejo amor
(e paz nesta terra querida),
Traz mais cor e melhor sabor
A uma vida bem vivida.


A uma vida bem vivida,
Neste ano que chega agora,
Dêmos  à má sorte uma corrida,
A tristeza mandemos embora.


A tristeza mandemos embora,
Que a vida é que vale a pena,
Aqui é que ela não mora,
Nesta casa da Madalena.


Nesta casa da Madalena.
Há o melhor “réveillon”,
Tia Nitas, mulher pequena,
Toca tudo, menos “acordéon”.


Toca tudo, menos “acordéon”,
Do cavaquinho à panela,
Sabe receber, é um dom,
Que, dizem, nasceu com ela.


Que, dizem, nasceu com ela,
É o marido que nos garante,
Enquanto por todos nós zela
E nos serve o espumante.


E nos serve o espumante,
Formam os dois um belo par,
Obrigado a este restaurante
Por este rico jantar.


Por este rico jantar,
Fica desde já prometido,
Pró ano nós cá voltar,
Fica escrito e fica dito.


Madalena,  V. N. Gaia,

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16885: Manuscrito(s) (Luís Graça) (106): Que 2017 seja, para os jovens idosos da Tabanca Grande, um ano de prática do envelhecimento ativo, saudável e produtivo, a exemplo dos meus amigos caminheiros do Parque da Quinta das Conchas, Lumiar, Lisboa


Lisboa 18 de dezembro de 2016 >  Lisboa > Jardim Olavo Bilac,  Largo das Necessidades >  A Lisboa ribeirinha ao lusco-fusco. Lisboa  (e o resto do pais ..) é cada vez mais uma cidade de... jovens idosos (e de adultos idosos e de idosos-idosos) que aprendem a viver e a envelhecer de maneira ativa e saudável.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]




As janeiras dos caminheiros da Quinta das Conchas


por Luis Graça






Anda o poeta desinspirado
Nesta quadra de natal,
Mais que triste, desassossegado,
Quando no mundo triunfa o mal.


Mas hoje de conta façamos
Que a quadra vai ter magia,
E a todos vós desejamos
Bom almoço e alegria.

Natal é consumição,
Mas não p’ra estes caminheiros,
Tratam bem do coração,
Na saúde são os primeiros.

Fazem guerra ao colesterol,
Os das Conchas, gente amiga,
Gostam de apanhar sol
E fazem guerra à barriga.

Também gostam de blá-blá,
Os donzéis e as donzelas,
São inimigos do sofá,
Tanto eles como elas.

Aqui respiram bem fundo,
Desligam o complicómetro,
Depois de viajar p'lo mundo,
E fazer muito quilómetro.

Ninguém chateia ninguém,
Nem ninguém se atropela,
Sabe-se o gosto o que a vida tem
E anda-se com mais cautela.

Neste almoço de Natal,
A amizade estreita laços,
Que esta gente quer, afinal,
É beijinhos e… abraços!

Boas festas, queridos amigos,
Mais um ano está passado,
Com fintas a alguns perigos, 
Mas por certo bem gozado.


Lisboa, Quinta das Conchas,

20 de dezembro de 2016 (*)

Comentário de LG:

Já aqui falei deste de grupo de gente senior (**), que inclui alguns amigos e camaradas da Guiné, membros da nossa Tabanca Grande (Alice Carneiro, João Martins, Joaquim Pinto de Carvalho e esposa Maria do Céu, bem como outros antigos combatentes) e que se juntam todas as terças feiras de manhã para conviver e fazer duas horas de caminhada no Parque da Quinta das Conchas, no Lumiar, em Lisboa (vd. aqui o sitio da Camara Municipal de Lisboa).

De tempos a tempo fazem uma visita lúdico-gastronómico-cultural, geralmente de dois dias, fora de Lisboa... E almoçam juntos, em certas datas marcantes. Antes da partida para as férias de verão, fazem uma celebração gastronómico-tertuliana no restaurante O Arranhó, ali perto da Quinta das Conchas. Fazem também um almoço de Natal.

São todos ou quase todos (e são mais as donzelas do que os donzéis) gente reformada,  das mais diversas profissões, magistrados, advogados, professores, engenheiros, médicos, enfermeiros, jornalistas, topógrafos, técnicos de serviço social, etc. Gostam de viahar pelo mundo fora, e alguns já conhecem, os quatros cantos do planeta,,,

É a tertúlia da Quinta das Conchas, como eu lhes chamo, mas à qual eu ainda não pertenço,  formalmente... Acolhe-me com simpatia e amizade, sempre que por lá apareço... Uma vez por outra, sento-me à mesa com eles e elas, os/as caminheiros/as da Quinta das Conchas, para dar dois dedos de conversa, almoçar, tomar um café, ... Digamos, três ou quatro vezes por ano... Costumo levar para a "sobremesa" uns versinhos, de fabrico próprio,,, Estes foram os últimos que fiz (e que a Alice "declamou"), há dias, no almoço de Natal, a que eu não pude ir.

Regressam no início do novo ano de 2017... E oxalá / inshallá / enxalé o seu exemplo frutifique, nomeadamente entre os nossos grã/tabanqueiros.., que são mais "sedentários".

Porqu~e destacar este grupo de am,igos/as ? Os caminheiros da Quinta das Conchas promovem o envelhecimento ativo, e saudável, através da atividade física e do convívio, importantes para a gente se manter á tona da vida, com saúde e qualidade de vida,,, E são, de facto,  um exemplo a seguir... Quem quiser lá aparecer às 3ªs feiras, às 10h00, será bem vindo. Reunem-se a essa para tomar café (, entrada pela Rua da  Tobis Portuguesa), antes de darem início à caminhada de duas horas... Cada um ao seu ritmo, pois claro... Não há metas nem pódium...

Recorde-se que a OMS (Organização Mundial de Saúde) define envelhecimento ativo como o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem.

Que 2017 seja, para os jovens idosos da Tabanca Grande,  um ano de prática do envelhecimento ativo, saudável e produtivo, a exemplo  dos nossos  amigos caminheiros do Parque da Quinta das Conchas, Lumiar,  Lisboa.  (LG)
______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 18 de dezembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16846: Manuscrito(s) (Luís Graça) (105): Natal de 1955 (... quando ainda o Pai Natal não tinha sequestrado e morto o Menino Jesus)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15563: Manuscrito(s) (Luís Graça) (73): Vamos cantar as janeiras: "O Novo Ano é sempre assim, /Traz sonhos e inquietações, / Em português ou em mandarim, / Aguardaremos as instruções."



"Por detrás do Marão, mandam os que lá estão"... Tabanca de Candoz, 27 de dezembro de 2015.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados. 


1. Desde pelo menos 1999 que componho as quadras populares que animam as festas de família (nascimentos, batizados, primeiras comunhões, casamentos, bodas de prata e ouro, reuniões anuais e até enterros...), bem como outros eventos, incluindo as festas de Natal, Ano Novo e Páscoa... São já muitas largas centenas, se não milhares, de quadras, ao gosto popular, com rigorosos versos de sete sílabas métricas, a que se juntam as "janeiras" que desde 2006, se não erro, escrevo para se dizer ou cantar na ENSP/NOVA, a minha escola, na festa de Natal... (Tudo começou por umaq brincadeira que, hoje, é quase uma "obrigação").

Lembrei-me de fazer aqui, para os meus amigos e camaradas da Guiné, que apreciam este singelo género literário, uma pequena seleção de algumas das quadras, ditas à mesa da consoada,  no Norte, onde costumo passar o Natal. Tenho sempre a preocupação de escrever um ou mais quadras personalizadas, dirigidas a cada um dos convivas, das crianças aos adultos...

Mas também, há quadras mais gerais, brejeiras, jocosas e satíricas, na velha tradição bem portuguesa das cantigas de escárnio e maldizer, alusivas ao estado do país e da governação... Nesta amostra só inclui, por razões óbvias, as quadras não personalizadas... São uma forma de homenagear e dar continuidade à tradição popular, tão portuguesa e sobretudo nortenha e beirã, de "cantar as janeiras" (em geral, no período que vai do 1º dia do ano até ao dia de Reis).

É também um momento de partilha dos nossos melhores sentimentos e valores como pessoas, famílias, comunidades e povo... Momento de gratidão, de alegria e de esperança. Momento também de saudade: nos nossos tempos de Guiné, recordo-me de cantarolarmos, com acompanhamento à viola, no bar de sargentos de Bambadinca, o Natal dos Simples, do Zeca Afonso (do disco "Cantares de Andarilho", 1968).

Aproveito, para em nome pessoal, e dos demais editores e colaboradores do blogue, desejar a todos/as os/as /nossos/as leitores/as e autores/as,  que tenham passado um bom momento de fim de ano, com bons augúrios para o ano (novo, dizem ) que aí vem (e que já chegou hoje)...

É uma ilusão circadiana, essa do ano novo, mas os seres humanos precisam disso: somos, como todos os seres vivos, "heliotrópicos" e "heliocêntricos", e na realidade a nossa vida (biológica e social) acaba por funcionar em regime binário, em função do solstício do inverno e do solstício do verão...  Por agora é tempo de "carregar baterias"... Que o 2016 não defraude as nossas melhores expectativas... E que Deus, Alá e os bons irãs nos protejam. LG


Vamos cantar as janeiras...

por Luís Graça


Manda a nossa tradição
Que se cantem as janeiras,
À patroa e ao patrão,
Gente boa, com maneiras.

Mais os seus convidados,
Companheiras e companheiros,
À mesa bem instalados,
Com fama de lambareiros.

Mesa farta, caldo quente,
Na ceia de fim de ano,
É sinal de boa gente,
Bato à porta, não m’ engano.

É entre a gente do norte
Que se bebe o verde vinho,
Gente de altivo porte
P’ra quem amigo é vizinho.

Saibam todos que isto não é convento,
Nem a patroa abadessa,
No Natal estica o orçamento,
E põe alegria na travessa.

patrão,  esse, dá de frosques,
Para não ser mais roubado,
Foge do Robim dos Bosques,
E evita o Zé do Telhado.

Nesta noite de encantar,
Cantemos, e com a voz quente.
Mesmo c’o  a crise a durar,
Ninguém chora, minha gente.

No Natal dos sem abrigo,
Não há de faltar cá nada,
Bem dispenso o formigo,
Mas como um rabanada.
 
Pode a saúde estar em cacos,
Acabar-se o alcatrão,
A rua ser só  buracos,
Mas faltar esta noite, não!

O Natal não se compadece
Das tristezas e mazelas,
Quem é vivo sempre aparece,
Todos juntos, eles e elas.

Saúde agora é saudinha,
Diz o rei mago Gaspar,
Medicamento é mezinha,
Sopa do pobre, jantar.

Tristezas não pagam dívidas,
As tuas e as da Nação,
Muito menos faces lívidas
Ficam bem aos que aqui estão.

Mandam-me ser responsável
Em matéria de consumo,
Mas é pouco aceitável
Esta mesa só ter sumo.

Manda a troika comer pouco
E, ainda menos, beber,
O Pai Natal está taralhouco
Vão-se todos mas é f…

Diz o povo, que é otimista,
“A cada dia Deus m’lhora”,
Eu, que sou racionalista,
Não me fui ainda embora.

Comam e bebam sem IVA,
Diz o dono, com todo o gosto,
Que ele tem escrita criativa,
Seu Natal não paga imposto.

Lá sem guita não há… broas,
Mas ó da casa, ó patrão,
Tantas coisas e tão boas,
Vão p’ró rol da gratidão.

E a ter que pedir, neste ano,
Algo à troika e ao Pai Natal,
É que volte a ser soberano
O nosso querido Portugal.

Olha a bela rabanada,
As pencas e o bacalhau,
Ceia farta, bem regada,
Nesta noite sem igual.

Nem faltou o bacalhau,
Que já foi mais fiel amigo,
Anda com cara de pau,
Estando agora em perigo.

Estando agora em perigo,
Nas mãos dos noruegueses,
Quiçá até inimigo,
À mesa dos portugueses.

Boas festas, patrão justo,
Nesta noite de cegarrega,
Não quero saber o custo
Do bacalhau da Noruega!

Os nossos anfitriões
Têm direito a gabadela,
Dos pequenos aos matulões
Todos vêm comer... na gamela.

 Viva a fada deste lar,
Que dá o melhor que tem,
É por muito nos amar
Que a gente de longe vem.

O patrão com o acordeão,
O outro com o violino,
Dispenso o rabecão,
Mas não o meu vinho fino.
 
Só nos resta o triste fado,
Feito o balanço da Nação
Que penhorou o seu Estado,
Do hospital à prisão.

Chamam-lhe a dama de ferro,
À ministra das finanças,
Não deixemos que vá ao enterro
Das nossas melhores esp’ranças.

Boas festas, senhores doutores!
Se aí vem o fim do mundo,
Pra quê quererem ser prof'ssores
Se isto vai tudo ao fundo ?

Pandemias e pandemónios
Vão e vêm com o  inverno
Entre anjos e demónios,
Lá escaparemos ao inferno.

Boas festas, senhor engenheiro,
Um bom ano p’ra sua empresa,
Que ganhe muito dinheiro,
Tenha farta e rica mesa.

Nada mais belo no mundo,
Que as nossas criancinhas,
Seus sorrisos calam fundo,
São elas as melhores prendinhas.

Vamos pôr o melhor sorriso,
E ajudar este mundo,
Que precisa de mais siso,
P’ra gente não ir... ao fundo.

Há no céu uma estrelinha,
Que a todos alumia,
Uma é tua, outra é minha,
É a da vida e da al'gria.

Pois que brilhe em esplendor
E em charme, este hotel,
Onde a comida é amor
E Natal se diz… Nöel.

Vamos cantar as janeiras
A todos os que aqui estão,
Gente fina e sem peneiras,
Fizeram um belo serão.

Parabéns às cozinheiras
Deste tão lauto jantar,
Já não digo mais asneiras,
Vou à rua apanhar ar.

Estão as janeiras cumpridas,
Obrigado, ó patrão,
Estavam boas as comidas
P’ro ano virei ou não.

Boas festas, boas festas,
Boas festas viemos dar,
C’o a promessa, mais que certa,
De p’ro ano cá voltar.

O Novo Ano é sempre assim,
Traz sonhos e inquietações,
Em português ou em mandarim,
Aguardaremos as instruções.

Sintam-se todos contemplados,
Nestas letras sem maldade,
Nelas vão embrulhados
Os melhores votos de fraternidade.


Natal e Ano Novo, 1999-2015 
(Seleção de quadras de LG)
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Nota do editor:

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12501: Boas festas 2013/14 (12): Amig@s: Sintam-se todos contemplados, / Por estas quadras natalícias, / E nelas vão embrulhados / Meus abraços, beijos e carícias (Luís Graça)





 Marco de Canaveses, Paredes de Viadores, Candoz, Quinta de Candoz > 21 de dezembro de 2013 > Despedida do outono, e saudação ao inverno... À lareira, a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro, com a cadela lá de casa, a Nina...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.


As janeiras da Madalena, 2013

Aí vão as últimas quatro quadras das vinte e quatro que fiz esta tarde para dizer logo à noite na consoada do natal da Madalena, Vila Nova de Gaia... numa mesa cheia de amigos e familiares (cerca de 20). Os votos de alegria, música, boa disposição, saúde e esperança são  extensivos a todos os meus/nossos amigos e camaradas da Guiné, pensando nomeadamente naqueles que estão longe da Pátria, em viagem ou na diáspora, os que estão doentes e os que estão sós, os que estão em luto, os que estão tristes e desconsolados... Camaradas e amigos, não deixem morrer a esperança... E usem, também, neste Natal a arma do humor... (LG)


Manda a Troika comer pouco
E, ainda menos, beber,
O Pai Natal está taralhouco,
Vão-se todos mas é f…

Comam e bebam sem IVA,
Diz o dono, com todo o gosto,
Tenho escrita criativa,
Meu Natal não paga imposto.

E a ter que pedir, neste ano,
Algo à Troika e ao Pai Natal,
É que volte a ser soberano
O nosso querido Portugal.

Sintam-se todos contemplados,
Por estas quadras natalícias,
E nelas vão embrulhados
Meus abraços, beijos e carícias.


Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12495: Boas Festas (2013/14) (11): António Paiva, Albino Silva, Abel Santos, António Eduardo Ferreira, Sousa de Castro e Júlio Abreu