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Guiné < Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Meninos cristãos, em dia de primeira comunhão, ao tempo da CCS/BCAÇ 2952 (1968/70). Foto do álbum do ex-fur mil rebastecimentos José Carlos Lopes, grã-tabanqueiro nº 604.
Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)
1. Texto enviado pelo nosso amigo Armando Tavares da Silva, com data de 12 de agosto último
Caro Luís Graça,
Segue um texto sobre Missionários na Guiné para publicação no blogue. Se assim o entender, e para facilidade de publicação, pode dividir o texto em duas partes.
Abraço e bom período de férias
Armando Tavares da Silva
Missionários na Guiné
por Armando Tavares da Silva
Os últimos textos do blogue relativos à recente presença de padres missionários na Guiné (*) levam-me a discorrer um pouco sobre esta questão no período de 1878 a 1926, e como sobre ela se pronunciaram alguns governadores. (**)
Assim, em Outubro de 1879 (portanto no mesmo ano em que a Guiné se separou administrativamente de Cabo Verde), o secretário-geral, que ficara encarregado do governo, enquanto o governador Agostinho Coelho se encontrava em Lisboa, escreve que o arquipélago dos Bijagós mantém “as melhores relações com Bolama onde estes ainda muito selvagens indígenas vêm fazer o seu pequeno comércio”. E acrescenta que nesta parte da Guiné se houvesse “mais alguns missionários, teriam estes em que se ocupar”.
Na mesma altura, em Lisboa, Agostinho Coelho, mencionando as necessidades da província referia, entre outras, a falta de padres e de objectos de culto, e relativamente ao problema da instrução pública, requisitava mil exemplares dos compêndios que serviam nas escolas de instrução elementar do reino. Mais tarde, em Março de 1880, o mesmo governador volta a mencionar a falta de padres, notando que na província só havia três “para uma tão vasta colónia”.
O problema da falta de missionários irá manter-se pois, em Junho de 1891, o secretário-geral Viriato Passalagua, que ficara encarregado do governo depois do governador Rogério dos Santos se ter retirado para Lisboa, no rescaldo dos acontecimentos de Bissau desse ano, escrevia ao ministro renovando a proposta já feita no ano anterior para o aumento na província de padres missionários.
Alguns anos mais tarde, em Janeiro de 1900, um outro governador, Herculano da Cunha, renovando um pedido já feito no ano anterior, pede que na Guiné seja estabelecida uma missão, tendo em acréscimo funções de educação elementar e ensino de ofícios, acrescentando ainda o pedido de envio de três padres para as paróquias de Buba, Geba e Farim.
Júdice Biker excluía daquele propósito o território dos fulas e mandingas, pois seguiam a religião muçulmana, que lhes falava melhor aos sentidos e à sensualidade, e que dificilmente abraçariam a religião cristã que é toda espiritual.
Júdice Biker fora o governador que, devidamente autorizado, pela primeira vez procedera à cobrança do imposto de palhota, numa extensa digressão realizada a cavalo e apenas acompanhado pelo seu ajudante de campo, por um médico, por um padre, e por “uma pequena música formada de garotos e regida pelo padre”. Iniciada a 14 de Janeiro de 1903 em Buba, só terminaria a 2 de Março em Geba, depois de percorridos 275 quilómetros.
Durante essa digressão, o padre, cuja presença deverá ter sido preciosa, dissera missa todas as manhãs, e procedera à realização de 5 baptizados. Terminada a digressão, Júdice Biker mostrara-se satisfeito pela forma como fora recebido nas várias povoações por onde passara e pernoitara, e pelo modo como as populações reagiram a essa cobrança, De facto, estas sempre tinham pago aos régulos um tributo sob o nome de dacha, mas que o governador considerava ser cobrado irregularmente segundo as simpatias dos régulos, não sendo igual para todos. Isso deixava agora de acontecer, recebendo os régulos 20% do imposto cobrado e os chefes de povoação 15%.
Não obstante a escassez de padres e missionários que os relatos anteriores testemunham, é certo que desde cedo encontramos a sua presença na Guiné. Na segunda expedição de Diogo Gomes, é o chefe mandinga Nomimansa que a seu pedido vem a receber o baptismo em 1458. Fora o mesmo chefe que dois anos antes atacara Diogo Gomes quando este, explorando a costa, procurava subir o rio Jumbas, antes de, rumando a sul, vir a atingir o rio de Gâmbia que percorreu em grande extensão.
Um outro régulo que viria a receber o baptismo no decorrer de uma missa solene fora o régulo de Bolor, Jogane Angulenhor, em 1867. Este baptismo resultara de o régulo, o seu filho e os seus grandes terem solicitado que o governo lhes mandasse um padre para os baptizar, assim como uma pessoa que os curasse em suas doenças. Ao mesmo tempo pediam para que o governo português os tomasse sobre sua protecção, fizesse ali edificar uma igreja, e lhes “desse também um oficial com soldados para defenderem o seu território em caso de ser atacado pelos gentios limítrofes”.
Um tal ataque vem efectivamente a acontecer dois anos mais tarde, quando o gentio coligado de Jufunco, Ossor e Egin arrasam Bolor. De notar que o régulo de Jufunco, Ampá-Cabú, assinara, em 13 de Agosto de 1869, um tratado pelo qual era cedido “de hoje para sempre todo o território de Jufunco à nação portuguesa, a quem desde muito reconheciam como legítima senhoria deste território”. Aquele ataque fora consequência de os habitantes de Bolor lhes impedirem o caminho de Cacheu, onde pretendiam ir negociar. Ataque este que iria ocasionar pouco depois o chamado “desastre de Bolor”.
A presença missionária portuguesa, traduzindo-se em boa parte na cristianização de muitos nativos, remonta, como se viu, ao século XV, e manifestar-se-ia sob várias formas daí para a frente, embora com meios insuficientes, do que muitos governadores se queixavam.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 8 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17658: Historiografia da presença portuguesa em África (86): Quando até os padres, católicos, apostólicos, romanos, do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Exteriores), eram acusados de "subversão": o caso de Mario Faccioli (1922-2015), que esteve em Catió
(**) Último post da série > 21 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17785: Historiografia da presença portuguesa em África (92): quando a Guiné do tempo de Sarmento Rodrigues tinha uma "boa imprensa": Norberto Lopes, o grande repórter da "terra ardente"