Guiné > Nota de 50 escudos (pesos), frente e verso. Banco emissor: BNU - Banco Nacional Ultramarino. No câmbio e no comércio, em relação ao escudo da metrópole, emitido pelo Banco de Portugal, havia uma quebra de 10%... Ou seja: 100 pesos (escudos do BNU) só valiam 90 escudos (do Banco de Portugal)... Recorde-se que o BNU foi criado em 1864 como Banco Emissor para as ex-colónias portuguesas (, tendo também exercido funções de banco de fomento e comercial no país e no estrangeiro; vd,.
).
Em matéria de comes & bebes, por exemplo, podemos ver quanto custaria hoje, em euros, os alguns dos artigos que consumíamos na Guiné por volta de 1969/70 (**):
(i) um quilo de camarões tigres ou lagostins, do rio Geba Estreito, comidos na tasca do Zé Maria, em Bambadinca custava 50 pesos ou escudos da Guiné, o quilo, cozidinhos)= 14,79 € (em 1969);
(ii) uma arrafa de whisky novo (J. Walker Juanito Camiñante de 5 anos, rótulo vermelho, JB): 48,50 pesos = 14,35 € (em 1969);
(iii) uísques mais caros: 12 anos, J. Walker rótulo preto, Dimple, Antiquary: 98,50 [=29,14 €]: 15 anos, Monkhs, Old Parr: 103,50 [=30,52 €] (estou a confiar na memória do Humberto Reis, acho que eram mais caros, os uísques velhos] (, em 1969);
(iv) um bife com batatas fritas e ovo a cavalo na Transmontana, em Bafatá, custava 25 pesos, vinho ou cerveja aparte = 7,40 € (em 1969);
(v) uma vaca raquítica, em Sonaco, comprava-se (quando fui gerente de messe, em 1970) 950 pesos = 269,36 €;
(vi) nas tabancas, fulas, por onde passávamos e onde ficávamos uma semana ou mais, de cada vez, em reforço do sistema de autodefesa, era costume comprar, mesmo a custo, galinhas e frangos, a sete pesos e meio por bico [= 2,22 €]:
(vii) um parto de ostras em Bissau, numa esplanada á beira rio, em meados de 1970, custava 20 pesos [= 5,67 €];
(viii) um relógio da
prestigiada marca suiça Longines, na loja libanesa Taufik Saad, Lda, em Bissau, custou ao Valdenar Queiroz, em 16/12/1970, 2950 pesos [=836,45 €].
(ix) coisas miúdas do dia a dia: um maço de SG Filtro 2,5 pesos [=0,74 €]; um uísque, no bar da messe, eram 2,50 pesos sem água de sifão [= 0,74 €] e com água eram 3,00 pesos [= 0,89]; era mais barato que a cervejola...
(x) quanto à lerpa, ou ramim, uma noite boa, ou má, poderia dar (valor médio) 200 a 300 pesos para a lerpa e 50 a 100 para o ramim (, garantia um jogador como o Humberto Reis);
(xi) uma queca, dependia: 50, 100, 150 pesos... "Quando em Bissau, no Pilão, frequentei várias vezes a Fátima, que não era caboverdiana mas sim fula, e dava-lhe 50 pesos de cada vez" (, confessa o nosso camarada A.Marques Lopes, que é de 1967/68)...
2. O Sousa de Castro, por seu turno, diz-nos que "no meu tempo (1972/74) não era muito diferente: os preços que se praticavam eram mais ou menos os mesmos"...
Quanto ao que o exército nos pagava... "Puxando um pouco pela memória, eu como 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade." [, tudo somado, 1500§00 em 1973 =305,10 €].
Segundo a mesma fonte, o Sousa de Castro, "a dita queca, se a memória não me trai, creio que era assim: para os soldados cinquenta pesos; para os cabos sessenta pesos; a partir daqui não me lembro quanto pagavam os mais graduados... Quanto às cabo-verdianas, a coisa era de facto mais cara, em final de comissão paguei cento e cinquenta ou duzentos pesos, isto em Fevereiro de 1974" [mais ou menos 24 ou 32 euros]...
"Por lavar a roupa, como cabo pagava 60 pesos [, em 1973]", informa o Sousa de Castro.[=12,20 ]
Em 1969, recordo-me que os soldados da CCAÇ 12 (que eram praças de 2ª classe, oriundos do recrutamento local), recebiam de pré 600 pesos/mês [=177, 51 €], além de mais uma diária de 24$50 [=7,25€] por serem desarranchados. 600 pesos deviam dar para comprar duas sacas de arroz de 100 kg cada...
3. E um capitão miliciano, comandante de companhia, quanto é que recebia ao fim do mês? (Sabemos que um parte dos nossos vencimentos era depositado na metrópole)...
Temos as memórias (e os papéis) do Jorge Picado:
(...) "Apontamento que resistiu ao tempo, referente ao mês de junho [de 1970]: Total abonos:13900$00; total descontos; 8967$00; a receber 4932$00. Nos abonos estão incluidos 4000$00, relativos aos abonos de família (já tinha os 4 filhos), de março, abril, maio e junho. [de 1970]". (...)
(...) "Vencimentos a receber em agosto em virtude do aumento: março-julho [1970]: 10500$00;
Fev 1326$00; total 11826$00; descontos Cx Geral Aposentações; 710$00; Imposto de selo -12$00; a receber (líquido): 11104$00 [=3148,45€]...
4. E a viagem de férias à metrópole, na nossa querida TAP ?
O António Tavares pagou, em meados de 1971, à Agência Correia, em Bissau, um total de 6 430$80 [ = 1643,21 €] pela viagem "Bissau- Lisboa.- Porto -Lisboa -Bissau "... Diz que pagou em três prestações "a importância total, que não ganhava, como explico: 4.430$80 em 03-08-71; 500$00 em 22-09-71 e finalmente 1.500$00 em 21-10-1971"... Na
cópia do bilhete (que ele juntou, no poste P15216] consta uma taxa de 110$80.... O pagamento foi em pesos. "O Escudo era trocado com uma agiotagem de 10%."...
É difícil fazer comparações com os preços dos bens e serviços que se pagavam nessa época, na metrópole, para não falar dos salários médios nos diferentes ramos de atividade... No blogue
A Nossa Quinta de Candoz tenho um pequeno apontamento sobre a estrutura e a evolução dos salários, num ramo muito específicio, a "construção civil de ramadas", nas décadas de 1950 e 1960, no Douro Litoral...
Numa pequena empresa que podia empregar em média meia dúzia de homens, pagos ao dia, o patrão, o "ramadeiro", podia ganhar no máximo 50 escudos (=21,41 €), o oficial mais qualificado 30 escudos (=12,84 €) e os serventes 20 escudos (=8,56 €). Fizemos esta conversão para os valores nominais de 1960.. Uma década depois (em 1970), com a inflação, estes valores (a preços constantes de 2014) seriam 14,18 €, 8,51 € e 5,67 €, respetivamente...
Vinte escudos (!) era quanto um assalariado agrícola, jornaleiro, não qualificado, podia ganhar no norte do país, durante os anos 50/60... Claro que os salários na agricultura vão começar a subir com a rarefação da mão de obra rural, devido ao êxodo do interior (industrialização e urbanização, emigração, guerra colonial)...
Enfim, e para acabar por hoje, lembro-me que em 1972, cá na metrópole, um carrinho Fiat 127 custava 62 contos [= 14.256,05 €], o que era muita massa...(1972 foi antes da grande crise de 1973, em que os salários levaram uma machadada de 25%!)...
Mais massa ainda eram 200 contos, que dava para comprar um apartamento no final da década de 1960 (, arredondando, cerca e 60 mil euros, hoje): alguém me contou que foi quanto pagou uma avozinha, a um oficial general médico, para livrar o querido netinho da obrigação de ir defender a Pátria, "lá longe onde o sol castiga(va) mais"... Éramos todos iguais, todos os portugueses (menos as portuguesas...), mas havia uns mais iguais do que outros!... (Sempre foi assim, e sempre será assim, dizem os mais cínicos ou os mais realistas...).
Mas podemos fazer um apelo à memória dos nossos leitores; quanto custava, na época da guerra colonial, cá na metrópole, uma bica ("cimbalino" no Porto), o jornal "A Bola", um maço de cigarros SG, um bilhete de cinema, uma imperial ou um fino, um uísque marado numa "boite" da Reboleira, o aluguer de um quarto em Lisboa ou Coimbra, um quilo de bacalhau e por aí fora ?... E quanto é que a malta ganhava, em média, nas fábricas e nos escritórios, antes de ir conhecer os "resorts" turísticos, as rias, os rios, as matas e as bolanhas da Guiné ?... LG