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sábado, 2 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26109: Manuscrito(s) (Luís Graça) (260): Ao fim da tarde, ao pôr do sol no Atlântico, lembramos neste dia todos os nossos mortos queridos







Lourinhã > Praia do Areal Sul >2 de novembro de 2024 > Pôr do sol

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Hoje é Dia dos Fiéis Defuntos, Dia de Finados ou Dia dos Mortos, segundo o calendário litúrgico da Igreja Católica. Mas outras igrejas cristãs também celebram o dia dos mortos: além dos católicos,os anglicanos, os ortodosos, os metodistas...


Em todas as comunidades humanas, há rituais de celebração da morte e dos mortos... Sem quaisquer preocupações metafísicas, acabo de tirar essas fotos do pôr do sol  na minha terra, banhada pelo Atlântico.  Num fim de tarde, magnífico, e com um mar sereno... e tentando abstrair-me do facto de há 150 milhões de anos a duna onde me sento,  não existir, nem esta praia, nem este mar, nem a terra que me viu nascer, nem as Berlengas aqui à minha direita... 

É impossível, contudo,  neste sábado, dia 2 de novembro de 2024, e a esta hora mágica do fim de tarde, até por força das nossas tradições e da nossa cultura, não nos lembrarmos de todos os nossos entes queridos, que conhecemos em vida,  da família aos vizinhos, dos colegas de escola e de trabalho aos camaradas de armas, dos amigos aos compatriotas mais ilustres, enfim, de todos aqueles que da lei da morte já se libertaram (citando o maior de todos os nossos vates, o Luís Vaz de Camões, cujo quinto centenário de nascimento começámos a celebrar este ano)... 

Estão também no nosso pensamento  os membros da Tabanca Grande que já se despediram da Terra da Alegria... São já 150, nestes últimos 20 anos da nossa existência.  O último dos quais,  a nossa querida Regina Gouveia (1945-2024).

À boa maneira romana, rogamos a todos os deuses de todos os panteões, criados por todas as culturas humanas, para que os nossos queridos mortos possam descansar em paz, e que o sol continue a iluminar e a aquecer o nosso planeta, a nossa frágil casa comum... (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26092: Manuscrito(s) (Luís Graça) (259): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte IV

terça-feira, 9 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25360: Blogues da nossa blogosfera (191): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte IV: foto da semana, 2 de janeiro de 2011: a ilha-refúgio de Alfa Iaia, rio Corubal


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: A ilha refúgio de Alfa Iaia | Data de Publicação: 2 de Janeiro de 2011 | Data da foto: 6 de Novembro de 2010 | Palavras-chave: ecoturismo

Legenda:

No século XIX,  

Alfa Iaia, rei de Labé, c. 1900
Fonte: Wikimedia Commons 
(com a devida vénia...)
Alfa Iaia era rei de Labé no Futa Jalon, tendo sido coroado em 1892 e sendo hoje uma figura reverenciada na Guiné-Conacri e adorada como um herói nacional deste país.

Embora controversa pelas alianças que fez com o colonizador francês, acabou por ser um grande combatente que afrontou os colonialistas em numerosas batalhas a cavalo. 

Foi nesta ilha no meio do rio Corubal que por vezes se refugiava quando acossado pelos franceses que assim lhe perdiam a pista.

Acaba por morrer na Mauritânia em 1912, depois de ter sido para lá deportado pelos franceses, na sequência de uma anterior deportação para o Dahomé (atual Benin).

(com a devida vénia...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25356: Blogues da nossa blogosfera (190): Recuperando parte dos conteúdos do antigo  sítio da AD Bissau - Parte III: Foto da semana, 19 de dezembro de 2010, o canhão do fortim de Bolol (ou Bolor), memória silenciosa do desastre de 1870

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24738: Manuscrito(s) (Luís Graça) (236): Da minha varanda virada para poente...








Lourinhã, 5, 8 e 9 de outubro de 2023 > Da minha varanda, virada para poente... Paul Cézanne não passou por aqui, nem o Amadeo Sousa Cardoso.  Nem sequer o Almada Negreiros. Muito menos 
o Giorgio de Chirico.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)


Da minha varanda virada para poente...


Da minha varanda, virada para poente,
não vejo o mar,
mas vejo o sol a pôr-se sobre o mar,
a dois quilómetros em linha reta,
na praia do Porto das Barcas, ou da Peralta, 
para lá da Atalaia ou do Montoito.

Em boa verdade a 149,6 milhões de quilómetros de distància.
Há 150 milhões de anos os dinossauros iam a pé a Nova Iorque.
Há três séculos corsários e piratas infestavam a costa.

Mas que importa a insignificância da minha posição  no universo
e a impossilidade de percorrer, 
por muitos anos que eu vivesse,
a distância que me separa do astro-rei
a que me liga o cordão umbilical da vida.

Da minha varanda vejo uma nesga do mundo,
as casas ou os telhados das casas dos meus vizinhos,
fulano, sicrano e beltrano,uns novos, outros antigos,
a maior parte dos quais eu já não conheço,
ou não conheço de todo.

Lembro-me sobretudo dos que já morreram,
e que no seu tempo foram poderosos e temidos, uns,
estimados e amados, outros.
Hoje resta o seu nome nas placas toponímicas, ou nem isso.
Ou uma vaga memória nas suas casas, outrora solarengas, em ruinas.

Da minha varanda, em L,
na parte virada para o norte e o nascente, 
digo bom  dia ao sol que renasce, 
muito para lá da serra de Montejunto,
e que me dá força
para percorrer os trinta passos da minha ginástica matinal.
O bom dia é a mais universal e amiga saudação 
que se pode desejar aos vizinhos e aos estrangeiros.
 
Mais do que vizinho, 
mesmo a 149,6 milhões de quilómetros de distància,
o sol é meu amigo, companheiro e camarada.

Luís Graça

Lourinhã, edifício Canoa, 9 de outubro de 2023. 

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)
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Nota do editor:

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24730: Manuscrito(s) (Luís Graça) 235 ): O Van Gogh nunca pintou o pôr do sol no mar do Serro, visto da varanda do VIGIA, Praia da Areia Branca

 



Lourinhã > Praia da Areia Branca   Varanda do VIGIA - GAPAB (Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca >  5 de Outubro de 2023 >  Fotos HDR: na de cima o Jaime Silva, a Pepita, a Clarinha e a avó Alice Carneiro. O Van Gogh (1853-1890) nunca passou por aqui (nem tinha uma máquina fotográfica Nikon D5300) mas, se tivesse passado, teria pintado um pòr do sol a óleo sobre tela que hoje valeria milhões... 

O Mar do Serro também faz parte da nossa aventura trágico-marítima...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24694: Manuscrito(s) (Luís Graça) (234): o fim do verão, o princípio de outono, as vindimas da nossa alegria... E o que nós andámos para aqui chegar!...

sábado, 16 de setembro de 2023

Guiné 51/74 - P24659: As nossas geografias emocionais (6): o mergulho do astro-rei na praia de Faro (Eduardo Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2592/CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)



Praia de Faro > 14 de serembro de 2023 > Pòr do sol

Fotos (e legendas): © Humbero Rosa / Eduardo Estrela (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



1. Mensagem do nosso amigo e camarada Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha, a jóia da Ria Formosa (foto à esquerda):

Data . quinta, 14/09, 22:03
Assunto - O mergulho do astro-rei

Caro amigo e camarada!

Acabei há meia hora de ser presenteado com estas belas fotografias feitas por um companheiro, nosso contemporâneo. nas agruras da Guiné,  mais exactamente o Humberto Rosa,  ex-fur mil atirador de infantaria.

Como sabe que tenho estado por Cacela, não quis deixar de me proporcionar o pôr do sol de hoje na praia de Faro.

Tal como o mar da tua terra , cujas belezas tens mostrado no blogue, o mar do Algarve e o mergulho do astro rei nas suas águas também é muito bonito.

Calculava que tinhas que fazer trabalho de casa relativamente as fotos da piscina Farim. Pelo facto, o meu obrigado.

Continuação das tuas melhoras, boa vindima e abraço fraterno.

Eduardo Estrela

2. Comentário do editor LG: 

Obrigado, a ti e ao Humberto Rosa, pela partilha. Para ser nosso contemporàneo, deve tratar-se do ex-fur mil at inf da CCAÇ 2587 que foi connosco  no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969. Eu era da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12) , e tu  da CCAÇ 2592 /futura CCAÇ 14). Bate certo ? 

Não temos ninguém dessa companhia, que esteve em Mansoa, Jugudul e Porto Gole (1969/71). Convida-o, em meu nome,  a integrar a nossa Tabanca Grande. Sei que tem fotos da Guiné. Abraço para ambos. LG

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21037: Manuscrito(s) (Luís Graça) (184): a magia do pôr do sol no Mar do Cerro, Porto das Barcas, Lourinhã, na casa "Atira-te ao Mar!", dos "Duques do Cadaval"










Lourinhã > Porto das Barcas > 2 de junho de 2020 > Casa do meu amigo, camarada e grã-tabanqueiro Joaquim António Pinto Carvalho, onde ele mais a sua Céu(zinha)  têm passado o "confinamento"... O casal, que habitualmente vive em Carnaxide, e tem um turismo no Cadaval, nunca passou tanto tempo nesta casa de férias como agora...

De vez em quando eu e a Alice damos lá um salto, para beber um copo ou ver o pôr do sol e dar dois dedos de conversa...Os "Duques do Cadaval" (, como eu lhes chamo com ternura,) são excelentes na arte de bem receber... Enfim, também gostamos de os receber na nossa casa e partilhar com eles os petiscos da "Chef" Alice Carneiro. E pertencemos os quatro à Tabanca do Porto Dinheiro / Lourinhã... que continua triste depois da morte do nosso querido régulo Eduardo Jorge Ferreira.

E hoje (, ontem, dia 2...) até fomos juntos comer um choco frito  e uns caracóis no "100 Pratus" (, passe a publicidade,) na Praia da Areia Branca... Andamos a praticar a ciência & a arte do desconfinamento progressivo... Foi quando soubémos que o Pinto Carvalho tinha feito anos, no passado sábado, dia 30... (Toma boa nota,  Carlos Vinhal, que para o ano ele gostava de ver o boneco dele no blogue...).

Ainda a tempo, vai aqui, sob a forma destas fotos tiradas na sua casa do "Atira-te ao Mar!", a nossa manifestação (tranquila) de regozijo... Que a sua "picada" da vida seja longa (pelo menos, até ao km 100), e sem minas nem armadilhas (, que é o mais difícil para os SEXAS... como nós; aliás, SEXA é a Céu; SEPTUAS, somos nós, o Joaquim, eu e a Alice).

Parabéns, Joaquim, chicorações, ainda meio confinados da malta da Tabanca Grande que te conhece e estima.


Lourinhã > Porto das Barcas > 3 de junho de 2020 > 16h00 > Casa dos "Duques do Cadaval"

Foi bonito ver e ouvir (os motores de) as traineiras de Peniche (ontem contei 10,  a pescar sardinha, no nosso mar do Cerro, (aqui em frnte da nossa costa...que é um grande viveiro de sardinha... não sei por que é, bairrismos à parte,   lhe chamam sardinha de Peniche)... Hoje voltei lá para o  café o digestivo, e "partir mantenhas" a outro camarada da Guiné, o João Rebelo (, é cliente da Tabanca da Linha mas ainda não se fez grã-tabanqueiro por falta de pachorra...). À tarde, frente ao "miradouro envidraçado" do "Atira-te ao Mar!", havia já meia dúzia de traneiras... Dizem que ainda é pequenina e magricela...Mss até aos Santos vai engordar... Mais improtante: os nossos pescadores aindam felizes por poderem voltar à sardinha, cuja pesca estava proibida desde outubro passado... Oxalá a Dona Covide os deixe trabalhar...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21017: Manuscrito(s) (Luís Graça) (183): Paimogo, poema para dizer em voz alta à janela ou à varanda, uma boa terapia contra os "irãs maus" que infestam agora os poilões das nossas tabancas, em tempos de COVID-19

domingo, 6 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19370: Manuscrito(s) (Luís Graça) (149): O último pôr do sol... nas Azenhas do Mar














Sintrra > Azenhas do Mar > 31 de  dezembro de 2018 >  O último pôr do sol do ano...


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição : Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]



Um gajo não é uma merda, camarada!

por Luís Graça

Um gajo tem de acreditar que amanhã não é outro ano, 
mas apenas um outro dia,
mais um outro dia.

Um gajo tem de ter fé nos gajos que inventaram o calendário
e que dizem que amanhã é terça-feira,
dia 1 de janeiro de 2019.

É bom seres circadiano,
para não andares zonzo todo o ano,
e para poderes pensar que amanhã é outro dia.

Um gajo tem de poder vislumbrar uma nesga de luz
por entre as persianas da janela
do quarto escuro.

Um gajo tem de poder negar a visão do mundo 
como um quarto escuro.
Ou vermelho, quando tinhas sarampo, sarampelho,
que sete vezes vinha ao pelo.

Um gajo, mesmo sem fé,
agnóstico, não-crente, desalinhado, desformatado, 
tem de saber lidar contra a claustrofobia
do mundo feito quarto escuro como breu.

Um gajo, até mesmo ateu,
tem de alimentar a secreta esperança
de que o vento da infelicidade dos povos
vai mudar de direção.
Não rezes mais ao teu irã, Guiné!

Afinal, por que é haverias de soprar sempre na mesma direção,
ó grande irã ?!
No alto do poilão da nossa tabanca, 
não passas afinal de um catavento,
tanto te viras para Seca como para Meca.

Um gajo não é de ferro,
mas aguenta com raios e coriscos.
Como aguentou com a metralha da guerra.

Um gajo até pode ser de ferro, como os "rangers",
mas também oxida.
E pode ficar louco
só de pensar que amanhã não é outro dia,
ou pode não ser outro dia!

Um gajo, camarada, não é uma merda
como te queria fazer crer 
o sacana do teu instrutor militar em Tavira.
E como às vezes te segreda
o parasita do  irãzinho mau que se aloja no teu cocuruto.

Um gajo não é um herói, muito menos um deus.
Afinal, és melhor, camarada: 
és um homem, 
que tens de saber dar corda  aos sapatos e ao coração, 
e que és capaz de parar um segundo frente ao pôr do sol,
e tirar um autorretrato instantâneo
e, como um bom franciscano, 
dizer ao deus-sol:
-Até amanhã, camarada, amigo, irmão!

Azenhas do Mar, 31 de dezembro de 2018.

Luís Graça
v3


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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18193: Manuscrito(s) Luís Graça) (136): Não sigam a "estrela" dos outros, mas a vossa... E, por favor, não deixem morrer a vossa luz interior, a luz da vossa "estrela", a dos talentos, das emoções, dos afetos, das memórias...

1. Amigos/as, camaradas: Passou-se o Natal, passou-se o Ano Novo, passaram-se os Reis, e já lá vamos, em velocidade de cruzeiro,  a caminho do... futuro.

Pelo meio, morreu um amigo que me era muito querido, o psiquiatra Álvaro Andrade de Carvalho (*).  Uma morte "anunciada", mas sempre dolorosa para a família e amigos. Estivemos, eu e a Alice, com ele ainda no dia 19 de dezembro, no Hospital do Mar. O seu exemplo de coragem e dignidade na doença também nos reconforta. Mas, como soi dizer-se, a vida continua para os que cá ficam...

Muitos de vós mandaram-me, por email e telemóvel mensagens de boas festas na quadra festiva que agora finda. Alguns inclusive tiveram a gentileza de me telefonar. Não consigo agradecer a todos/as de maneira personalizada.

Algumas das mensagens enviadas para a caixa do correio do blogue deram inclusive lugar a postes publicados na série "Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018"

A todos/as, agradeço, em meu nome, em nome da minha família e em nome de toda a Tabanca Grande. A pensar em todos/as vós, deixo-vos uma "prendinha", esquecida no meu "sapato"... Espero que ainda possa ser útil e sobretudo inspiradora a leitura deste "manuscrito"...


2. Feliz Natal de 2017 e Melhor Ano Novo 2018 para todos os amigos e camaradas da Guiné

O Natal é tempo de "regressão"... Já não digo no sentido de querermos voltar, simbolicamente, ao seio materno (, numa arremedo de leitura freudiana), mas pelo menos de retorno à infância, às memórias da infância, às cores e sabores do tempo em que éramos crianças (... e éramos felizes, diria o Fernando Pessoa), no tempo em que o Pai Natal ainda não tinha 'assassinado' o Menino Jesus…

E repare-se: o que é "magia" (e continua a ser, de acordo com a nossa cultura judaico-cristã) é a "estrela" que guia os reis magos até à gruta de Belém... E a "magia" da estrelinha que veio do Oriente, guiando os reis magos, acaba por ofuscar o acontecimento central, que é o "milagre do nascimento" de um menino, feito deus, pobrezinho, entre palhinhas, rodeado de uma mulher, que o deu à luz, de um homem, pai adotivo, de uma vaca e de um burro que o aquecem ...

A “magia” não é propriamente o "milagre" do nascimento do menino Jesus… O que hoje  nos "ofusca" é a "indústria da festa" (o brilho e o ruído mediáticos, as “luzes da ribalta”...) e não a festa... O que nos atrai, como borboleta tonta, é a “estrela”, e não a história maravilhosa de um deus que se fez homem para nos salvar, a todos nós, homens, independentemente da cor ("raça"), sexo (homem ou mulher), nacionalidade (judeu ou estrangeiro), condição (livre ou escravo)...

O que nos fascina, dois mil a anos depois, ainda é a “estrela”... A "estrela" (as luzes, as iluminações de ruas, o "glamour" das grandes superfícies comerciais, o consumo, a fama, o sucesso, a glória como sucedâneos da eternidade...) é o que nos "cega”, a nós, putos e graúdos... Já é não a “inocência”, o maravilhoso dos contos da nossa infância, o nascimento de um deus que se fez homem para nos salvar... E o que nos deprime, logo no dia 2 de janeiro, é que o raio da humanidade é mesmo "suicidária", não se quer nem se deixa "salvar"... nem “curar”, nem aceita que “cuidem de si”…

Amigos/as, camaradas:

Que o ano de 2018 seja um bom ano,
se não puder ser o melhor,
para cada um e para todos vós.

Na vida e no trabalho, no amor e na amizade,
não precisamos de seguir a “estrela" dos outros,
precisamos sobretudo de ser autolíderes.
As escolas e os gurus da gestão andaram décadas,
desde o Século das Luzes,
a tentar ensinar-nos que que é preciso seguir a “estrela”,
o “líder” (aquele que vai à frente , mostrando o caminho),
e que só pode ser um “iluminado”…

Não há “iluminados”…
Sigam a vossa luz interior,
não deixem apagar a vossa luz (dos talentos, das emoções, dos afetos, das memórias…).

Afinal, hoje sabemos que não há “ciência”... sem “sapiência” (sabedoria)… (**)


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz >  Qta de Candoz > O nosso azevinho (Ilex aquifolium)... Planta rara, autóctone, em risco de extinção... Tem vindo a ser recuperada na nossa quinta... ao longo dos anos.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Natal das crianças que já fomos (e somos)…  


por Luís Graça 

Em todos os Natais nasce a esperança
De que p’ró ano o mundo seja melhor,
E de qu’haverá um novo portador
Da mágica mensagem de… mudança.

E a gente senta-se à mesa, na crença,
De que já nasceu o novo salvador,
Com ele a cura para toda a doença,
Tudo rimando com paz… e amor.

Qu’importa se a gente não lê a História,
E, se a lê, p’lo Natal faz a limpeza
Desta nossa seletiva memória.

Deixemos, pois, à solta, essas crianças,
Que já fomos, e co’elas a luz, acesa,
Das nossas melhores e doces… lembranças!


Lisboa, 19/12/2017
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Notas de leitura:

(*) Vd. poste de 5 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18177: In Memoriam (310): Álvaro Andrade de Carvalho (Lourinhã, 14/8/1948 - Lisboa, 4/1/2018): médico, psiquiatra, gestor de saúde, meu conterrâneo, meu condiscípulo, meu amigo de infância, meu amigo para sempre... O funeral é no sábado, às 14h00, na sua terra natal (Luís Graça)

(**) Último poste da série >  1 de janeiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18162: Manuscrito(s) (Luís Graça) (135): Bons augúrios para 2018!

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18168: Manuscrito(s) (Luís Graça) (136): testamento vital















Portugal > Vila Nova de Gaia > Canidelo > Praia de Salgueiros > Restaurante Mar à Vista > Av. Beira Mar, 1143 > 21 de dezembro de 2017 > Entre as 17h45 e as 17h53 > Adorador do sol, me confesso. O último pôr do sol que fotografei o ano passado...  Por sorte ía um navio a passar ao largo, possivelmente saído do porto de Leixões, quando o sol já  se punha na linha do horizonte... 

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]


1. O passadiço marítimo Gaia-Espinho é um dos encantos do sítio (Madalena) aonde eu vou passar o Natal, o Ano Novo e a Páscoa... Confesso que não sei qual é a sequência das praias, a contar da Foz do Douro... Só conheço duas ou três: Lavadores. Salgueiros, Madalena, Valadares... Mas para mim é tudo praia da Madalena... que ficou tristemente famosa por, em 1988, vai agora fazer 30 anos, um gigantesco navio porta-carros, japonês, lá ter encalhado  (e naufragado) com um carregamento de 5400 Toyotas!... Foi um dos maiores desastres ecológicos na nossa costa!...Durante anos deixei de lá pôr os pés, desgostoso... 

Mas hoje nunca perco a oportunidade de lá voltar e ir fotografar o pôr-do-sol, especialmente no fim do ano... além de dar uma passeata e dois dedos de conversa com os/as amigos/as... Este ano sairam-me estas fotos que mereciam uma legenda poética, que fica por fazer... Enfim, fui rebuscar os meus escritos do verão passado. Achei que este ("Testamemto vital") era apropriado... LG

Testamento vital

por Luís Graça

Confesso que sou um adorador do sol,
venero o sol como um deus,
devo a vida ao sol.
Perturbam-me os eclipses, totais ou parciais, do sol.
Extasio-me com o pôr-do-sol, e não tanto com o nascer.
Sei que o sol é um dado adquirido,

conto com ele todas as manhãs, ao acordar,
mesmo em dias de céu nublado,
mas um dia, daqui a alguns milhões de anos,
o sol apagar-se-á. 
Ou implodirá.

Pensava-o imortal:
quando descobri, aos catorze ou quinze anos,
que um dia o sol iria morrer,
tornei-me ateu (ou, talvez melhor, agnóstico,

ou talvez nem isso: 
tive muito simplesmente a minha primeira crise existencial).

Nunca liguei ao sol na Guiné,

na minha segunda crise existencial.
Ou melhor: odiei-o, com um ódio de morte.
Não tinha o mar, no interior, no mato,
para me deslumbrar com o pôr-do-sol.
Além disso, detestava o sol porque havia guerra,
e penosas operações que nos levavam 

à insolação, à desidratação
e, "in limine", à morte.

Odiei o sol da Guiné,
razão por que sempre preferi a noite.
Dormia de dia, sempre que podia.
E, quando eu morrer, 

se eu ainda puder decidir
(, isto é, escolher onde e quando...),
pois então eu peço para morrer 

ao pôr-do-sol, 
frente ao mar da minha infância...

Não, ainda não escrevi o meu testamento vital,
mas espero ainda ir a tempo de o fazer

e de lá pôr essa cláusula:

“Minha querida Chita,
não posso morrer na tua/nossa Quinta de Candoz,
onde o sol se põe às cinco da tarde,
emparedado pelas montanhas...

"Como um dia te escrevi,
em 8 de setembro de 2008,
na Praia da Peralta:

"(...) Posso gostar das tuas montanhas
e das tuas albufeiras
e das tuas florestas de castanheiros e carvalhos,
da gente rude e franca do teu norte,
mas preciso de regressar ao meu sul,
de vez em quando,
para respirar como as baleias" (...)

Praia da Areia Branca, 
Lourinhã, 22 de agosto de 2017.

In: Cancioneiro de Candoz (1999-2017), 3ª ed. revista e aumentada, 2017, pp. 43-44.
______________

Nota do editor

Último poste da série > 1 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18162: Manuscrito(s) (Luís Graça) (135): Bons augúrios para 2018!

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17964: Manuscritos(s) (Luís Graça) (129): o deus-sol ou... quem disse que uma imagem vale mil palavras ?...






Lourinhã > Praia da Areia Branca > 11 de novembro de 2017 > Das 17h59 às 18h02 > Pôr do sol  >

Fotos (e legenda) : © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


O deus-sol

por Luís Graça (*)


Quem disse que uma imagem vale mais 
do que mil palavras ?
Quem o disse, com tanta segurança,
é porque  conhece o poder da imagem
mas não o poder da palavra.
Uma e outra digladiam-se.
Uma e outra são armas e podem ser letais.
Mas entre a imagem e a palavra
eu tomo o partido da palavra.

Sou um compulsivo espetador do pôr do sol...
Confesso: é uma adição, 
o espetáculo do pôr do sol,
mesmo que seja uma treta: 
o gajo volta aparecer-nos, todas as manhãs,
depois de nos pregar a partida da noite, do breu, das trevas...
O gajo vai dar uma volta,
enquanto nos manda  fazer xixi e cama,
ao mesmo tempo que tomamos consciência
da nossa humana fragilidade:
somos seres circadianos,
com um delicada cronobiologia,
e sobretudo tememos a noite,
como o diabo, dizem, teme a cruz...

O sol dá-nos tanga, 
vai dar um volta,
vai bronzear os gajos e as gajas esculturais,
nossos vizinhos, 
nas praias que ficam na ponta mais a oeste,
enquanto nós, a leste,  afiamos as facas e os punhais.
A noite é má conselheira,
a noite é criminosa,
a noite é a cama de todos os pesadelos,
de todas as insónias,
de todas as matanças,
de todas as conspirações...
Mas é o sol, afinal,  que alimenta a vida e a morte,
a coragem e a perfídia.
E também o sonho.
E os poetas malditos.
Por mim, confesso a minha secreta adição:
não perco um pôr do sol, na praia...
E tenho dificuldade em viver na montanha
onde o sol se põe atrás de outra montanha...

Todos, de resto, temos uma adição,
do sexo às caminhadas,
do "shopping" às redes sociais,
das "slot-machines" ao álcool,
dos psis à escrita...
Mas o pôr do sol é um espetáculo tão esmagador
que ficamos sem palavras...

É difícil legendar a imagem de um pôr do sol, 
sem dizer trivialidades,
lugares-comuns,
frases feitas...
Mais: é difícil arranjar mil palavras
para contrapor a uma imagem.
Achamos que uma imagem se basta a si própria,
mas é pura ilusão.
Sem os teus olhos, sem os teus óculos,
nunca saberás ler
uma imagem.

Os poetas desistem de fazer poemas ao pôr do sol...
É mais fácil adorá-lo, ao sol, como um deus.
E um deus não precisa de adjetivos,
porque é um fenómono metasíco total.
Um deus, como o sol, é o conteúdo e o continente.
O sol é o puro deleite e o puro terror.

Luís Graça,
Praia da Areia Branca, 11 de novembro de 2017
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(...) Confesso que sou um adorador do sol. Venero o sol como um deus. Devo a vida ao sol. Perturbam-me os eclipses, totais ou parciais do sol. Extasio-me com o pôr do sol, e não tanto com o nascer. Sei que o sol é um dado adquirido. Mas um dia, daqui a alguns milhões de anos, o sol apaga-se. Pensava-o imortal: quando descobri, aos catorze ou quinze anos, que um dia o sol vai morrer, tornei-me ateu.

Nunca liguei ao sol na Guiné. Ou melhor: odiei-o, com um ódio de morte. Não tinha o mar, no interior, no mato, para me deslumbrar com o nascer e o pôr do sol. Além disso, detestava o sol porque havia guerra, e penosas operações que nos levavam à desidratação e, "in limine", à morte. Odiei o sol na Guiné, razão por que sempre preferi a noite. Dormia de dia, sempre que podia. E, quando morrer, e se eu ainda puder escolher, quero morrer ao pôr do sol. Ainda não escrevi o meu testamento vital, mas quero lá pôr essa cláusula. Minha querida Chita, não posso morrer na tua/nossa Quinta de Candoz, onde o sol se põe às cinco da tarde, emparedado pelas montanhas. (...)