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segunda-feira, 27 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23389: A galeria dos meus heróis (45): uma história pícara de três “a(r)didos” - Parte I (Luís Graça)

 

Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambujeira e Serra do Calvo aos seus combatentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013, numa iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira e Serra do Calvo.

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-se], / Que eu hei-de regressar"... No chão, em calçada portuguesa, lê-se: "Em defesa da Pátria". Abaixo do painel, há um livro metálico com os nomes de todos os nossos camaradas, naturais das duas povoações vizinhas (hoje praticamemte ligadas), que combateram no Ultramar.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O autor, Luís Graça> Guiné, região de Bafatá, Contuboel,
c. junho de 1969


A galeria dos meus
heróis: uma história
pícara de três
“a(r)didos” - Parte I

 

por Luís Graça (*)






1. Eram três “desterrados”, ali, na Calçada da Ajuda, em Lisboa, no Depósito Geral de Adidos (DGA).

O quartel dos Adidos, criado no princípio dos anos 60, era uma espécie de “placa giratória” e “albergue espanhol” onde os militares do nosso exército de então, das diversas armas, de rendição individual, faziam tempo enquanto aguardavam a “guia de marcha” e a “ordem de embarque” para o ultramar.

Na época dizia-se “ultramar” e não “guerra”, e muito menos “guerra colonial. Era um eufemismo, ou então um questão de pudor, hipocrisia social ou até mesmo autocensura. Na realidade, o país não estava em guerra contra nenhuma potência estrangeira, mas parecia ser diabolizado por meio mundo (os países do chamado "terceiro mundo" mais os do bloco soviético ou comunista e até alguns "amigos ocidentais", como os países nórdicos). Sopravam, então, os "ventos da História"...

Em suma, "ir para o ultramar" significava, para a nossa geração, ir para a guerra, em Angola, Guiné e Moçambique.

Os três “desterrados” acabariam por ir comigo, em 24 de maio de 1969, por sinal num sábado, no T/T “Niassa”, com destino à Guiné. “Pior não nos podia caber na rifa”, concordavam tacitamente os três. Ou melhor, ou quatro, se eu me incluir no grupo.


2. Conheci-os, por mero acaso, no bar da classe turística do navio, misto de carga e passageiros, da carreira colonial, requisitado pelo exército para transporte de tropas. (Tinha pouco mais de 10 mil toneladas de arqueação bruta, e media centena e meia de metros de comprimento, da proa à ré, ou seja, umcampo de futebol e meio.)

Acabei por estabelecer com eles uma relação circunstancial de alguma cumplicidade e camaradagem, mesmo que depois nunca mais tenha sabido deles, quando cada um foi para o seu destino. (Ainda estaremos juntos dois ou três dias no Depósito de Adidos, em Brá, Bissau:)

O navio ia sobrelotado, éramos mais de 1700 homens, dos quais duas centenas de sargentos. Tínhamos cinco dias de enjoos e de tédio pela frente. E sobretudo de muita incerteza quanto ao nosso futuro.

Na realidade, sabíamos muito pouco daquele território, a então Guiné Portuguesa. E muito menos do que nos poderia esperar, com a guerra a entrar no seu 9º ano. A única exceção era o 2º sargento Parente (nome fictício), que já lá tinha estado por volta de 1961/63. Como ele dizia, com graça e ironia, “assistira aos ensaios e ainda à estreia da peça”, referindo-se à guerra que, oficial ou oficiosamente, teria começado a 23 de janeiro de 1963, com o atalabalhoado ataque ao quartel de Tite, na região de Quínara. (Na realidade, a guerra "surda e suja", já tinha começado muito antes. mas isso é outra história.)

Os “ensaios”, a que se referia o Parente, seriam os clássicos exercícios, em qualquer guerra de tipo subversivo, que passavam pelo aliciamento de (e terror sobre) as populações, pelas sabotagens (destruição de infra-estruturas, como pontões, postes telefónicos, abatizes nas estradas, etc.), pela preparação e organização político-militar da guerrilha, etc.

O sargento era um alentejano de Barrancos, terra de que eu nunca ouvira falar antes, perdida (vi mais tarde no mapa)  numa ponta da fronteira com a Espanha. Afinal, ficava mais perto de Badajoz do que de Beja, a capital do Baixo Alentejo, como comprovarei, muitos anos mais tarde, quando lá for de propósito para conhecer a terra, na véspera das festas em que havia touros de morte, mas a que eu não quis assistir.

Era um tipo simpático, afável, folgazão, brejeiro, bom conversador, com um sotaque que ele procurava disfarçar. Tinha "pinta de malandro"... E sobretudo era um “excelente copo”, o que naquela época tanto poderia querer dizer “bebedor excessivo” como “bebedor social”. Em África, todos nos iríamos, de resto,  tornar “excelentes copos”, destilando uísque  e água de Perrier por todos os poros, embora outros preferissem a cerveja. Na verdade, não há guerras sem álcool (ou outro tipo de droga).

O Parente, um das três dezenas de militares do Depósito Geral de Adidos, que viajavam connosco no “Niassa” (navio que levava diversas companhias ditas “independentes”, como a minha, incluindo uma companhia de polícia militar onde se integrava um soldado condutor que viria mais tarde a tornar-se secretário-geral do PCP – Partido Comunista Português), estava destinado a um pelotão de morteiros ou de canhão sem recuo, já não posso recordar.

Tinha feito duas anteriores comissões de serviço (outro eufemismo), a primeira na Guiné, altura em que “meteu o chico”, e uma segunda em Angola (como voluntário). Foi no regresso da Guiné que tirou a especialidade de armas pesadas de infantaria. Deu, entretanto, instrução, como monitor,no CISMI,  em Tavira, muito antes de eu também por lá passar (no último trimestre de 1968).


3. Já conhecia, pois, o território guineense, mas em 1961/63 não se podia falar ainda em “guerra a sério” (outro eufemismo, como se houvesse guerras a brincar!)… Para o final da comissão, em meados de 1963, o Parente já tinha a clara perceção de que “a coisa ia ficar preta”, queria ele dizer "feia", sem qualquer conotação racista.

Foi nessa altura que as nossas tropas terão acionado a primeira mina anticarro (na realidade um fornilho), na estrada São João-Fulacunda, na região de Quínara, de que resultarão ferimentos graves (e depois a morte) de um furriel cabo-verdiano ou açoriano, seu conhecido. 

 Além das minas, o Parente receava o armamento pesado de que o PAIGC passou a dispor, ao longo do tempo, incluindo “morteiros 82 e 120, canhões sem recuo 75 e 82” (e, mais tarde, em novembro de 1969, foguetões 122 mm).

Todavia, na época em que ele lá esteve, o episódio “mais cruel” de que se lembrava fora quando a nossa tropa chegara a uma tabanca da região de Quínara, abandonada pela população sob a pressão da guerrilha (ele raramente usava o termo, depreciativo, “turras”), no decurso de uma operação para “instalar lá uma força nossa”, um destacamento. Ou mais provavelmente, naquela época, ter-se-á tratado de um patrulhamento ofensivo, Entraram sem qualquer resistência, o único ser vivo com que depararam, no meio de palhotas calcinadas pelo fogo, era um cego, de etnia biafada.

Um dos alferes fez-lhe, por intermédio de um intérprete (e guia local), um interrogatório sumário. O pobre diabo, aparentemente ali deixado pela população em fuga, respondeu a tudo, e até deu pormenores descritivos que levaram alguns militares a desconfiar da sua cegueira… Não se trataria de um “falso cego”, deixado ali pelos “turras”, na margem direita do rio ou canal, frente à decadente cidade de Bolama (antiga capital até 1943), para despistar os “tugas”?

Mas o homem, de idade indefinida, era mesmo cego. Provavelmente sofria da cegueira dos rios, adiantou o furriel enfermeiro que tinha tido, em Coimbra, umas luzes sobre doenças tropicais. Ninguém sabia o que era a “oncocercose”, nem sequer o capitão, que pertencia ao batalhão sediado em Tite.

O interrogatório foi inconclusivo, o alferes não teve necessidade de usar de violência, verbal ou física, para com o desgraçado que se mostrara “colaborante”. E estava para o mandar embora, quando o capitão da força, não estando pelos ajustes, atalhou:

− O nosso alferes fez o seu trabalho. Eu, agora, como juiz, faço o meu. … Ouvi as duas partes. O homem é cego, ou parece sê-lo, mas não é surdo nem muito menos mudo… O que é que ele irá dizer sobre a nossa tropa quando os “turras” voltarem a encontrá-lo e lhe apertarem os calos ?... Vai dar à língua, está-se mesmo a ver…

Fez-se um silêncio de morte à volta do capitão e do cego. Mas não houve tempo para mais “perguntas e respostas”. Havia nervosismo no semblante dos milícias, que pressentiam a presença do inimigo, algures, não muito longe dali, na orla da bolanha ou da mata. O capitão deu de imediato a sua sentença:

− O nosso cabo A… − e apontou para um possante milícia, que empunhava uma catana − sabe o que tem a fazer. Leva-o a dar uma volta até ao rio, dá-lhe um encosto e o suspeito vai fazer companhia aos crocodilos… É, afinal, uma obra de misericórdia.

E ameaçou:

− E, psst!,  não quero barulho!

E ao que parece, ninguém tugiu nem mugiu.

O Parente registou esta cena e arquivou-a no fundo da memória. Numa noite de animada conversa e muito uísque, já ao largo das Canárias, com mar encapelado, falou deste e doutros “faits divers” (sic) da guerra… E repetia, tamborilando com os dedos na mesa, as palavras do capitão:

− O gajo era cego, mas não era surdo, nem muito menos mudo…


4. Os três eram de rendição individual, razão por que se haviam conhecido, umas semanas antes,  nos “Adidos”, na Calçada da Ajuda… “A(r)didos”, emendava, sarcástico, o furriel miliciano, o “Matosinhos” que conhecia, pela primeira vez, a “capital do império”.

− A(r)didos, f... e mal pagos! − gozava ele, com o pagode.

Já não me lembro do seu nome, ao fim destes anos todos. Sei que era de Matosinhos, filho de pescador, e que a mãe era vendedora de peixe, ambulante. “Varina” ou “ovarina”, oriunda de Ovar. Não escondia o seu sotaque nortenho nem as suas “humildes raízes populares”. Mas quem era “conde, marquês ou duque” ali, naquela “caixa de sardinhas”, anfíbia, a caminho da Guiné ?! − ironizava o Parente.

O “Matosinhos” estava destinado a uma companhia de caçadores, instalada no sul, na região de Tombali, disse-me o nome da localidade, que não fixei de todo. E dessa subunidade só sabia o SPM, o código do correio militar. Ao longo da viagem foi escrevendo aerogramas e aerogramas de saudade, para a família, a namorada, os amigos...

Na época todos os topónimos da Guiné eram exóticos, para nós, “periquitos”, mas havia alguns mais falados do que outros quando chegámos a Bissau: Madina do Boé, Gandembel, Guileje, Choquemone, Morés…

O “Matosinhos” estava apreensivo, tal como todos nós, pela sorte que lhe coubera, para mais tratando-se do temível sul da Guiné. Além disso, era de operações especiais (e de pouco lhe valeu ter ficado bem classificado), e ainda por cima com o curso de minas e armadilhas tirado em Tancos. “Não podia ser pior, carago!”, brincava ele connosco na popa do navio, fustigado pelo vento e pela espuma das ondas.

O terceiro dos “a(r)didos” era outro furriel miliciano, atirador de infantaria, como a maior parte do pessoal embarcado. Julgo que ia render alguém que “lerpara em combate” (sic), na região do Cacheu (“lerpar” era outro termo da gíria da tropa que cedo nos habituámos a ouvir e repetir). 

Também não me lembro do seu nome. Chamemos-lhe o “Algarvio”. Passara igualmente por Tavira, no mesmo turno que eu, mas pertencíamos a companhias de instrução diferentes. Seguramente que nos cruzámos várias vezes, dentro e fora do quartel, mas sinceramente não me lembrava da cara dele. 

O “Algarvio” fazia, entretanto, a meu pedido, o retrato-robô do “Matosinhos” nestes termos:

− Olha, é um gajo ‘reguila’, com piada, com muita ‘lata’, talvez um pouco ‘desbocado’ para o meu gosto… Como sabes, a malta do sul não diz asneiras…

Eu, de vez em quando, desenfiava-me da minha mesa e do convívio com os meus camaradas de companhia, e juntava-me aos três "a(r)didos, a quem achava alguma piada. Estávamos os quatro a aprender a geografia (e a etnografia) da Guiné através da consulta de uma pequena brochura que nos deram na hora da partida, e onde havia um minúsculo mapa com as principais regiões e localidades da Guiné.

Lá estava Contuboel, acima de Bafatá, não longe da fronteira com o Senegal, que seria o meu poiso durante cerca de mês e meio, segundo informação do capitão da minha reduzida companhia (éramos uns sessenta gatos pingados, metropolitanos, entre graduados e especialistas, que se deveriam juntar, em Contuboel, a uns cem soldados guineenses, fulas, do recrutamento local, que haviam acabado, em abril de 1969, de jurar bandeira, diante do “homem grande de Bissau”).

O 2º sargento Parente era o nosso professor, embora ele só conhecesse Bissau e arredores, Bambadinca e Bafatá na zona leste, bem como a regão de Quínara e a bacia hidrográfica dos rios Geba e Corubal, até ao Saltinho. Faltava-lhe conhecer as zonas talvez “mais quentes” da guerra, as regiões do Cacheu e do Oio, a Norte, e de Tombali, a sul.

− Mas em terra de cegos, quem tem um olho, é rei – gostava ele de repetir, gozando connosco, “periquitos”.

Via-se que tinha um “natural ascendente” sobre os outros dois “a(r)didos”, como eles se tratavam uns aos outros na galhofa. Não só era o mais velho (ia fazer 30 anos, e já com duas comissões), como tinha um posto acima e, sobretudo, conhecia Lisboa. Apesar de alguma deferência, o “Matosinhos” e o “Algarvio” tratavam o 2º sargento por tu, o que não era então prática corrente, mesmo entre a classe de sargentos, e muito menos entre oficiais e sargentos milicianos. 

− Cada macaco no seu galho! − lembrava o Parente, sarcástico.

Curiosamente, o Parente não se mostrava próximo dos outros sargentos, e muito menos dos 1ºs sargentos, alguns dos quais ele seguramente devia conhecer, pelo menos de vista.  A "chicalhada", como dizíamos, alguns de nós, milicianos, que cultivávamos o humor de caserna.

Nada tinha de “chicalhão”, o Parente, pensei eu cá com os meus botões. E até comecei a simpatizar com ele. Pelo decorrer das nossas conversas, ao longo daquela viagem ("o cruzeiro das nossas vidas”) , comecei a aperceber-me que ele, tal como eu, não morria de amores por Spínola e torcia o nariz à evolução dos acontecimentos político-militares da Guiné. Eu não gostava de Spínola pelo seu passado de leal servidor do salazarismo e pelos seus tiques prussianos, a começar pela sua pose (que só conhecia, e mal,  da RTP).


5. Era inevitável falarmos da tragédia, ainda recente, ocorrida em 6 de fevereiro de 1969 no rio Corubal, que custara a vida a quase uma meia centenas de militares. Ninguém sabia pormenores, só o que a censura autorizara que se soubesse através dos jornais, da rádio e da televisão. Eu estava nessa altura no BC 6, em Castelo Branco, a dar instrução de recrutas, enquanto aguardava também o momento da ordem de mobilização para o ultramar, o que viria a acontecer na véspera do sismo  de 28 de fevereiro de 1969... (Era a única certeza que eu tinha então na vida, a de que seria mobilizado muito em breve, só me restava saber para onde, Angola, Guiné ou Moçambique.)

O Parente garantia que tinha sido um “acidente” com uma jangada. O “Matosinhos” julgava saber algo mais, e falava-nos da retirada de um quartel, Madina do Boé. Era também o que eu sabia. Mas insinuou que o pessoal da jangada, sobrelotada, com excesso de peso, se terá desequilibrado e caído ao rio, quando se ouviram disparos de morteiro que terão vindo “do interior da mata” (sic).

− Onde é que ouviste ou leste isso ?

− Na rádio “Voz da Liberdade”, que emite de Argel…

− Também eu sintonizei a rádio Argel, na altura, mas não me lembro desse pormenor…− comentei eu, cético.

− Seja como for – atalhou o Parente – foi uma meia centena de camaradas nossos que não regressaram a casa… nem muito menos no caixão de chumbo.

− Para mim – acrescentei eu – o Spínola ficou mal na fotografia, um acidente desta gravidade não podia (nem devia) ter acontecido. Imaginem o rombo que provocou no moral da nossa tropa! Lá e cá…  Eu fiquei abalado, confesso...

− Já não o apanhei em Angola, esteve lá antes de mim – disse o Parente, referindo-se ao Spínola. – Mas contavam-se histórias de bravura (e de crueldade) do seu batalhão… Nunca fui de ‘emprenhar’ pelos ouvidos. Nem de pôr rótulos em ninguém… Vou dar-lhe o benefício da dúvida. De qualquer modo, vai ser (ou já é) o meu comandante-chefe.

− O nosso com-chefe, segundo a ordem de serviço que eu li… − completei eu.

− Quando lá chegarmos, logo veremos. Parece que lhe chamam o “Caco Baldé” e é agora muito amigo dos africanos… É também o terror de todos os oficiais superiores que não sejam da arma de cavalaria… A todos os que se mostrem fracos comandantes, e incompetentes, põe-lhes logo um ‘par de patins’ (como se diz em Bissau) e manda-os para casa, o que para alguns até será uma bênção, senão mesmo um prémio!... Isto pelo que me contam alguns sargentos com quem falei, e que já estiveram sob as ordens do general Spínola… − arrematou o Parente.


6. Do Parente vim a saber algo mais, já que me interessava a história de vida, por muito insignificante que fosse, daqueles homens que iam para a Guiné comigo. Mas nós cumpríamos o serviço militar obrigatório, e íamos contrariados para a Guiné. Pelo contrário, aquele homem escolhera a tropa como profissão. Como tantos outros, de resto, quer sargentos quer oficiais do quadro permanente.

Não foi difícil perceber que ele “metera o chico” para fugir à miséria e ao abandono daquelas terras raianas do Alentejo. Não escondia que aprendera, cedo, a sobreviver graças ao pequeno contrabando transfronteiriço numa altura, no pós-guerra, em que o escudo de Salazar “valia mais” do que a fraca peseta do Franco. Aprendeu a ganhar uns tostões nas barbas da GNR, da Guarda Fiscal e da Guardia Civil.” Desde puto, aprendi a lidar com o medo”, confidenciara-me ele.

Pelo que apurei das nossas conversas avulsas, ao longo daqueles cinco dias (e cinco noites) que durou o “nosso cruzeiro”, a família do pai refugiara-se em Barrancos ou num “pueblo vecino”, aquando do início da guerra civil espanhola, em 1936. Ele, o Parente, viria a nascer uns anos depois, por volta de 1940, filho de mãe portuguesa. Foi, entretanto, batizado e registado como português.

O pai, sem ofício certo, e sem grande jeito para o contrabando, acabaria por assentar arraiais em Badajoz, atraído pela boémia, a “fiesta” e os “trajes de luces”. No entanto, morreria cedo, de “soledad y cirrosis hepática”, nunca tendo chegado a pisar a arena como bandarilheiro de verdade, tal como havia sonhado quando era novo. Creio que ele era da Estremadura espanhola.

Com uma bolsa de uma confraria religiosa, que amparava viúvas e órfãos de toureiros e outros artistas tauromáticos, o filho (não sei se tinha mais irmãos) ainda conseguiu estudar num colégio de padres, jesuítas, em Badajoz, onde vivia com a mãe, criada de servir num “hostal”, não longe da praça de touros. Mas seria expulso, aos dezasseis anos, por alegadas ofensas ao bom nome e à honra do generalíssimo Franco, “caudilho de España, por la gracia de Dios”.

Alguém, certamente um “bufo”, o terá ouvido cantarolar ou dizer, no páteo do recreio, numa roda de colegas de turma, umas “coplas”, brejeiras mas de teor pública e notoriamente antifranquista, do tempo da guerra civil, e como tal proibidas em Espanha na altura… A cantilena, “Ay, Carmela!”, rezava assim:

“La mujer de Paco Franco / No cocina com carbón,/ Ay, Carmela, ay, Carmela ,/ Pues cocina com los cuernos / De su marido, el cabrón…/ Ay, Carmela, ay, Carmela”.

Denunciado, chamado ao reitor (para mais um conhecido falangista da cidade), o jovem Parente protestou, em vão, a sua inocência, alegando nem sequer  quem era o tal Paco Franco… 

Voltou com a sua mãe a Barrancos. A “pobrecita” ficou desolada pela “vergonhosa” expulsão do filho, que “se tivesse tido sorte na vida” (sic), bem poderia ter chegado a ser um grande seguidor do Inácio de Loyola.

Regressaram, ambos, com uma mão à frente e outra atrás.. Mas, antes da tropa, o Parente ainda andou por Lisboa. Conheceu um galego que lhe dei a mão, tinha um tasco (com carvoaria) no Bairro Alto, famoso pelas suas "iscas com elas"... Arranjaria depois um emprego como paquete ou moço de recados na redação de um dos jornais diários que lá tinha as suas instalações. Talvez o “Diário de Lisboa” ou o “Diário Popular”, já não sei ao certo. Chegou a levar aos serviços de censura as provas tipográficas do jornal. Fez conhecimento e amizade com alguns dos melhores jornalistas da época. E, claro, arranjou uma miúda, na rua da Atalaia, a “Sissi”.

Mesmo depois da tropa e da 1ª comissão, de passagem por Lisboa, visitava-a sempre que podia e ela estava “livre”. Era uma “rapariga da vida” (sic) que, mais tarde, já depois da extinção das casas de passe em 1963, haveria de montar o seu próprio negócio.

No final dos anos 50, e até à tropa,  fora ele o seu “faia”, o seu “fadista”. E reaprendeu a usar a “naifa”, dos tempos do contrabando, para se precaver das investidas traiçoeiras da “fauna da noite”. Ainda conheceu o Bairro Alto no tempo em que não era lá muito recomendada a sua frequência, sobretudo à noite, a “meninos de coro”. E ainda conheceu os calaboiços do Governo Civil mas, “felizmente” (sic) nunca chegou a ter cadastro, o que o impossibilitaria, legalmente, de concorrer à carreira militar.

Para mim, era uma sargento “atípico”, pelo pouco que eu ainda conhecia da classe de sargentos do quadro permanente.

− Há três sítios onde gosto de parar e entrar, quando vou na rua: a igreja, a tasca e a livraria… É uma hábito que me vem do tempo em que vivi em Espanha. O meu pai, que era supersticioso como toda a gente da ‘afición’, ensinou-me certas coisas, algumas delas a respeito destes três sítios, também para ele, ‘sagrados’, para além da ‘arena’… 

E depois de mais um gole de uísque, adiantou:
− A ‘arena’ deixei-a de frequentar, desde que o meu pai morreu e eu vim a saber que  as arenas tinham sido num passado recente, locais onde foram fuzilados milhares de espanhóis, durante e depois da guerra civil, coisa que só soube quando li, com emoção, no “Diário de Lisboa”, muitos anos depois, as reportagens de Mário Neves sobre os massacres de Badajoz em 1936…

Confesso que me surpreendeu ouvi-lo, certa noite, dizer alguns poemas do Frederico Garcia Lorca e do Pablo Neruda. Dizia muito bem, ao modo teatral do João Villaret, de cor, e quase por  inteiro (!), o espantoso “Llanto por Ignacio Sánchez Mejías”, depois de molhar a garganta com um uísque duplo:

A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde. (…)

(Continua)

____________

Nota do editior:

(*) Último poste da série > 19 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23094: A galeria dos meus heróis (44): O "mô camba" Jorge Levi, natural de Luanda, levado por engano pela "garota de Ipanema" a desertar do exército colonial... Um filho de pai ausente, que foi quase tudo na vida, não se achava mau ator de todo mas que, afinal, não sabia como sair de cena... (Luís Graça)

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17025: Tabanca Grande (425): Evaristo Pereira Reis, ex-1º cabo condutor auto, colocado em rendição individual no QG, mas na prática trabalhou como mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau... Reside em Setúbal, passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 735

 

T/T Angra do Heroísmo > 29 de novembro de 1971 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis, no convés do navio {Foto 1]


Guiné > Quartel General > Novembro de 1971 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis  (1) [Foto 2]





Guiné > Quartel General > Novembro de 1971 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis  (2) [Foto 3]


Guiné > C M Bissau > 1972 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis, destacado em comissão, como civil,  na Câmara Municipal de Bissau (onde permaneceu 23 meses, até novembro de 1973) [Foto 4]



Guiné >Bissau >  Novembro de 1973 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis  esperando o "dia final" da comissão [Foto 5]



Guiné >Bissau >  Novembro de 1973 > O 1º cabo Evaristo Pereira Reis, voltando a vestir a farda, 23 anos meses depois de trabalhar no serviço de obras da CMBissau,  e na véspera de regressar a casa. [Foto 6]



Guiné >Bissau >  Novembro de 1973 > Medalha municipal da cidade de Bissau, atribuída ao Evaristo Pereira dos Reis por serviços prestados [Foto 7]

Fotos (e legendas): © Evaristo Pereira Reis(2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso camarada Evaristo Pereira dos Reis  com data de 2 do corrente:

[foto à esquerda: ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, Bissau, QG, 1971/73; mestre de obras na CM Bissau, 1971/73; reside em Setúbal]

Olá, boa tarde

Como não consegui entrar directamente no blog, utilizo este meio para participar com algumas fotos da minha passagem, pela Guiné 71/73.

Já tive noutra oportunidade de participar anteriormente, comentando a minha participação como responsável pelas obras da Câmara Municipal de Bissau (*). Desempenhei  tais funções na qualidade de militar em comissão civil, durante 23 meses.

Ao abrir o blog da Tabanca Grande, já foram feitos alguns comentários de camaradas nossos manifestando-se sobre a sorte que tive naquela época, facto que não rejeito. Contudo, para tal também foram necessárias algumas capacidades que eu tinha adquirido como civil, as quais foram úteis para tal desempenho das funções naquele Município de Bissau .

Anexo algumas fotos da minha viagem e locais nessa época.
Um abraço a todos.

Cps
Evaristo Reis
(telemóvel: contactar os editores)



2. Comentário do editor:

Obrigado, Evaristo, por teres aceitado o nosso convite para te juntares a esta Tabanca Grande. Passas a ser o grã-tabanqueiro nº 735 (**). Podes sentar-te à vontade à sombra do nosso mágico poilão que acolhe os amigos e camaradas da Guiné. Como já te expliquei, o blogue não funciona como o Facebook, infelizmente só alguns de nós podem ser editores... Tens, de facto, de mandar os teus materiais (textos e fotos) para o nosso endereço de email. Só os editores é que podem publicar diretamente. Em contrapartida, qualquer leitor pode publicar um ou mais comentários a um poste; basta clicar, no fim do poste,  onde diz "comentários"...

Já falei ao Hélder Sousa, teu vizinho de Setúbal, para te ajudar a a enquadrar melhor.  Tens, por certo, histórias para contar dos tempos em que viveste em Bissau, praticamente como "civil", destacado no serviço de obras da Câmara Municipal de Bissau.  O teu testemunho é tão importante como o dos outros camaradas que foram operacionais. Desejo-te boa saúde, e está atento ao nosso encontro nacional, a realizar em 29 de abril de 2017, em Monte Real, Leiria... Só é obrigatório ir, mas se puderes aparecer serás bem vindo. Um abraço, Luís Graça
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente

(**) Último poste da série >  25 de janeiro de  2017 > Guiné 61/74 - P16987: Tabanca Grande (424): Armando Tavares da Silva, nosso grã-tabanqueiro nº 734, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Caminhos Romanos, 2016), livro galardoado com o prémio "Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo"

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente



Brasão de armas da cidade de Bissau (1973)


1, Mensagem do nosso leitor e camarada,  Evaristo Pereira dos Reis, que foi 1º cabo condutor auto, de rendição individual (Bissau, QG, 1971/73), com quem já conversámos ao telefone e convidámos para integrar a Tabanca Grande:


Data: 31 de dezembro de 2016 às 16:44
Assunto: Guiné 71/73

Cumprimentos a todos os intervenientes naquela malfadada guerra.

Também participei nela durante 24 meses certos. Embarquei no paquete de então, o "Angra do Heroísmo",  em 24 de Novembro de 1971. Foram cinco dias de viagem que jamais me esquecerei, fui alojado no porão daquele monte de ferrugem e humidade, com colchões de palha com várias
dezenas de anos e dedicatórias com datas mais antigas do que o meu nascimento.

Ao terceiro dia o navio avariou,  ficando á deriva, escusado será dizer que a sensação de náuseas e com o vomitado daquelesestômagos mal fornecidos e mentes abaladas, o cheiro era azedo com a
humidade e calor, fazia um cocktail que qualquer ser humano não
gostava de passar.

Nesse mesmo barco viajava também a 35ª Companhia de Comandos, esses um
pouco mais bem instalados.

Finalmente chegados ao cais Pijdjiguiti, estava-me esperando o 1º sargento Furtado, homem que tinha conhecido no antigo aquartelamento,Trem Auto, onde tive a função de instrutor de condução, localizado na Av. de Berna em Lisboa, hoje e muito bem transformado em Universidade.

Voltando á minha chegada fui colocado na secção do ficheiro, no Quartel General, local aparentemente privilegiado em relação aos meus camaradas, local onde comecei a ter consciência do
que se passava naquela província em gura. Nesse serviço  estavam arquivadas as fichas de todos os intervenientes naquele teatro de guerra que eu considero de tortura física, mental e psicológica,

No arquivo assinalava os mortos, os desaparecidos, os evacuados, os que tiveram a sorte de já ter regressado e os que se encontravam presentes. Claro que a curiosidade principal foi ver a ficha do maestro da banda, Tive oportunidade de estar bem perto dele, diversas vezes, Refiro-me ao
homem da lupa pelo qual nunca tive qualquer simpatia.

Passado um mês tive oportunidade de concorrer a um cargo de Mestre de Obras, para a Cãmara Municipal  de Bissau para o qual estava talhado, Chefiada pelo major [cav Eduardo} Matos Guerra [1931-2016] como Presidente da Câmara, homem duro, aliado e bastante protegido pelo Governador,

A partir desse dia a minha farda foi arquivada no armário atá ao dia do regresso, Foi muito difícil
desempenhar tal cargo, a Câmara não tinha recursos, imaginem que tinha que fazer os remendos das ruas com cimento, porque não tínhamos alcatrão, Mesmo assim consegui fazer obras de algum vulto praticamente sem recursos, recorrendo a máquinas da engenharia militar,  chefiada pelo então Cap. Branquinho e Furriel Guedelha, sobre os quais nunca mais tive noticias.

Também existia uma empresa civil de construção ali sediada com o nome de TECNIL, Esses eram os meus fornecedores gratuitos.

Fiz uma messe para Sargentos e renovei o bar de oficiais dentro do Hospital Militar. Alarguei parte da estrada de Bissalanca, para o aeroporto,  arrancando dezenas de mangueiros. Fiz uma vala de drenagem e alargamento da estrada para o Quartel General, Enfim, fiz várias obras de
beneficiação para melhorar aquela cidade, passando nestas lides diárias os restantes e difíceis 23 meses.



Guiné > Mapa de Bissau (1949) > Escala de 1 /50 mil > Posição relativa de Bissau e Bissalanca (aeroporto)

Infogravura: Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné (2017)


Regressei no avião dos TAM, no dia 29 de Novembro de 1973, Regressei bastante desgastado, tive a sorte de não estar directamente no teatro de guerra, mas estava bastante informado,  sabendo o que os
mais desafortunados sofriam diariamente.

Durante muitos anos não desejei voltar aquele País, mas hoje talvez voltasse.

Não estou ligado a qualquer grupo de convívio de antigos combatentes, talvez por ter poucos conhecimentos da época, visto ter ido em rendição individual.

Hoje tenho 66 anos,  resido em Setúbal, tenho esposa,   filho e dois netos de 5 e 8 anos, tenho algumas dores mas estou vivo.

Desejo a todos o melhor da vida e aproveitem- na no que puderem.
Bem hajam a todos.
Evaristo Pereira dos Reis
Telem (...)

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Nota do editor,

Último poste da série > 25 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16133: O nosso livro de visitas (189): Morreu, em 17/4/2016, o meu pai, Cherno Sanhá, formado em Cuba, em engenharia de telecomunicações, filho do rei de Badora (Luís Causso Sanhá)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13209: Camaradas da diáspora (8): Alô, Lisboa, daqui Vancouver, Canadá... Luciano Vital, natural de Valpaços, Trás-os-Montes, ex-fur mil, de rendição individual, que andou pelas CCAV 3463 (Mareué), CCAÇ 3460 (Cacheu) e Adidos (Bissau), 1973/74

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Luciano Vital:


Data: 26 de Maio de 2014 às 01:25
Assunto: Guine 72-74

Foi por acaso que encontrei esta página. Também eu pertenci à CCAÇ 3460 sob o comando do capitão Morgado, aonde cheguei em rendição individual em1973 para ajudar o furriel Lacasta comandar o pelotão que ele comandava sozinho até à minha chegada.

Outros nomes de que me lembro: Furriéis Canha, Bravo, Pacheco, Pinto.

Antes de ir para o Cacheu,  estive 14 meses na CCAV 3463 em Mareué, batalhão de Pirada, Capitão Touças, Furriéis Santos, Peres, Freitas, Ivo, Luís, Malhoa, etc.

Depois da CCAÇ 3460 voltar para Portugal, passei os últimos 6 meses nos Adidos em Bissau aonde tinha sido colocado quando cheguei de Portugal. Ai conheci os furriéis Palmeiro, Nunes, Buiça etc.

Gostaria de entrar em contacto com estes velhos amigos.

Luciano Vital, Fur Mil natural de Valpaços, Trás os Montes e residente em Vancouver, Canada
contacto; louvital@gmail.com.

Obrigado

2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro Luciano: Como a gente aqui diz, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Chamamos tabanca à comunidade virtual que se reúne à volta do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Somos 658 membros registados, e tu podes ser o 659, se nos mandares, na volta do correio, um pedido para te sentares à sombra do nosso poilão, e mandares as duas fotos  da praxe (uma atual e outra do teu tempo de Guiné), mais uma pequena história ou episódio de que te lembres...  

Um em cada cinco dos nossos visitantes vive fora de Portugal (desde o Brasil, EUA, etc., até à Austrália). E uma boa parte deles devem ser camaradas como tu que procuram camaradas do seu tempo de Guiné, e querem, matar saudades... Este é um lugar de partilha e de afetos, e naturalmente um local de (re)encontros. 

Tens aqui algumas  referências à CCAÇ 3460 que pertencia ao BCAÇ 3863, curiosamente a companhia a que pertenceu originalmente o nosso camarada e amigo, conhecido especialista em história e cultura da China, o António Graça de Abreu. Mas não chegou a partir para a Guiné com os camaradas (que foram para o Cacheu)... Tem sido ele, o António Graça de Abreu, a falar da CCAÇ 3460, do capitão Morgado, e do infeliz alf Mil Potra que ficou sem uma perna... Tu, sendo de rendição individual, não o deves ter conhecido.

Em contrapartida, da CCAV 3463, não temos nenhuma referência ou simples notícia...

Vai tu dando notícias e divulga o nosso blogue pelo teu círculo de conhecidos e amigos, aí no Canadá. Vamos realizar, em Monte Real, Leiria, no dia 14 de junho próximo, o IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, o mesmo é dizer que estão convidados  todos os camaradas e amigos da Guiné que queiram aparecer... LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de  2011 > Guiné 63/74 - P9269: Camaradas da diáspora (8): José Freitas, ex-Fur Mil, CART/CCAÇ 11, "Os Lacraus de Paunca", Nov 70/Set 72: vive hoje em Sydney, Austrália

Postes anteriores:

14 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9043: Camaradas da diáspora (7): José Marçal Wang de Ferraz de Carvalho, Fur Mil Op Esp, da 16ª CCmds e da CART 1746 (Xime, 1968/69): vive hoje em Austin, Texas, EUA

15 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8779: Camaradas da diáspora (6): O nova-iorquino João Crisóstomo, português, cidadão do mundo, em Lisboa, no aeroporto a caminho de Paris... com vontade de conhecer mais camaradas da Tabanca Grande

20 de janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7646: Camaradas da diáspora (5): José Oliveira Marques, condutor de White, ERC 2640 (Bafatá e Piche, 1969/71), a viver em Estrasburgo, França

17 de Janeiro de 2011> Guiné 63/74 - P7626: Camaradas na diáspora (4): José (ou Joe) Ribeiro, natural de Leiria, a viver em Toronto, Canadá, há mais de 35 anos: Sold Inf , 4º Gr Comb, CCAÇ 3307/BCAÇ 3833 (Pelundo, Jolmete, Ilha de Jete, 1970/72)

22 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7488: Camaradas na diáspora (3): O luso-americano Franklin Galina, aliás, ex-Fur Mil Franklin, Pel Mort 4575 (Bambadinca, Julho de 1972 / Agosto de 1974)

29 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6659: Camaradas na diáspora (2): Na morte do Luís Zagallo, (João Crisóstomo, Nova Iorque)

18 de Março de 2010 > Guiné 63/74: P6013: Camaradas na diáspora (1): João Crisóstomo, ex-Alf Mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), militante de causas nobres, a viver em Nova Iorque

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13148: A minha CCAÇ 12 (30): fevereiro de 1971: batismo dos "piras" que nos vieram render... Adeus, Bissau, em 17 de março de 1971, no T/T Uíge... A CCAÇ 12 será extinta em 18 de agosto de.. 1974 ! (Luís Graça)


Foto nº 240


Foto nº 234


Foto nº 235


Foto nº 236

Guiné > Bissau > Imagens da Bissau Colonial que deixámos, a maior parte de nós (oficiais, sargentos e especialistas, de origem metropolitana, pais-fundadores da CCAÇ 12, de rendição individual)...

O T/T Uíge levou-nos de novo a casa, com partida a 17/3/1971... E, a maior parte de nós, nunca mais quis saber da guerra nem da sorte dos nossos camaradas guineenses... A CCAÇ 12 foi desativada e extinta em 18 de agosto de 1974. E alguns destes nossos camaradas do recrutamento local, a quem demos a instrução de especialidade em Contuboel, e que fizeram a guerra connosco - sempre bravos e leais - foram as primeiras vítimas da "justiça revolucionária" do PAIGC, como foi o caso do Abibo Jau, o "bom gigante" do 1º Gr Comb, que era comandado pelo alf mil op esp Francisco Moreira.

Conforme se pode ler na ficha resumo do Arquivo Histórico.Militar que abaixo reproduzimos, a CCAÇ 12 (CCAÇ 2590 até 19 de janeiro de 1970) teve 5 comandantes, o primeiro dos quais o cap inf  Carlos Alberto Machado Brito, felizmente ainda vivo, cor inf ref.

Foi originalmente uma companhia de intervenção ao serviço do comando do setor L1 (Bambadinca). Passou a unidade de quadrícula em finais de março de 1973, rendendo  a CART 3494 e assumindo a responsabilidade do subsetor do Xime que os seus homens conheciam como ninguém e one tiveram numerosas baixas.  

Tem história da unidade até fevereiro de 1971. É uma brochura de 50 páginas, escrita, datilografada e copiada a "stencil" por Luís Graça (que pertenceu a esta companhia como fur mil armas pes inf, na realidade atirador de infantaria a quem, em vez das armas pesadas, deram uma G3, tendo integrado praticamente todos os grupos de combate e particiupado na maior parte das operações aqui descritas) (*)


Fotos: © Arlindo Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G.]


1. Última parte da série A minha CCAÇ 12






História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971. Cap. II. 45-46.


2. Informação complementar do ex-alf mil at inf, cmdt do 3º Gr Comb, Abel Maria Rodrigues, com data de 16 de maio de 2014, enviada por mail, às 18h14;

Desta operacao,eu sei tudo, pois fui o actor principal. Penso que dos velhinhos só fomos três (capitão, Piça e eu). 

Depois da flagelação,  o 2º pelotao que ia na vanguarda, recusou-se a avançar .Passei com o meu pelotão para a frente e completámos a operacao sem mais qualquer problema, porque os guerrilheiros vieram esperar-nos em Madina Colhido. 

Deviam ter-se fartado de esperar por nós,  como não apareciamos desmobilizaram,deduzindo que nós já estariamos no quartel do Xime.Foi em 28/2/1971,  um domingo. 

Devo dizer que tivemos muita sorte não nos termos encontrado, pois pelo rasto que deixaram onde estiveram à nossa espera não eram poucos .

Um grande abraço.
Abel



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Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série:



9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11077: A minha CCAÇ 12 (28): Dezembro de 1970: Flagelação ao pessoal e às máquinas da TECNIL, na nova estrada em construção, Bambadinca-Xime (Luís Graça)


26 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10726: A minha CCAÇ 12 (27): Novembro de 1970: a 22, a Op Mar Verde (Conacri), a 26, a Op Abencerragem Cadente (Xime)...(Luís Graça)


30 de julho de 2012 > Guiné 62/74 - P10209: A minha CCAÇ 12 (26): Outubro de 1970: o jogo do rato e do gato... (Luís Graça)


30 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10094: A minha CCAÇ 12 (25): Setembro de 1970: Levando 50 toneladas de arroz às populações da área do Xitole/Saltinho, e aguardando o macaréu no Rio Xaianga (Luís Graça)


21 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)

20 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9630: A minha CCAÇ 12 (23): Julho de 1970: "pessoal não ataca população, guerra é com tropa", diz o comissário político... (Luís Graça)


16 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9492: A minha CCAÇ 12 (22): Junho de 1970: Um ano de comissão... (Luís Graça)


24 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9089: A minha CCAÇ 12 (21): Maio de 1970: Chega o BART 2917 que vai render o BCAÇ 2852 (Luís Graça)


15 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9048: A minha CCAÇ 12 (20): Abril de 1970: intensificação da acção psicossocial através de contacto pop, e suspensão temporária da actividade operacional ofensiva por causa das negociações com o IN no chão manjaco (Luís Graça)


26 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8604: A minha CCAÇ 12 (19): Março de 1970, a rotina da guerra, a visita do Ministro do Ultramar ao reordenamento de Bambadincazinho... (Luís Graça)


8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8388: A minha CCAÇ 12 (18): Tugas, poucos, mas loucos...30 de Março-1 de Abril de 1970, a dramática e temerária Op Tigre Vadio (Luís Graça)



16 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8112: A minha CCAÇ 12 (17): 14 e 15 de Fevereiro de 1970: Op Bodião Decidido, com a CCAÇ 2404 (Mansambo) e a CART 2413 (Xitole) em Satecuta, na margem diireita do Rio Corubal: morto um guerrilheiro e apreendido um RPG2

17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7957: A minha CCAÇ 12 (14): Op Borboleta Destemida, 14 de Janeiro de 1970: a ferro a fogo no Poindon/Ponta Varela ou... como nunca confiar num guia-prisioneiro (Luís Graça)

24 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7852: A minha CCAÇ 12 (12): Dezembro de 1969, tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo (Luís Graça / Humberto Reis)


28 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7048: A minha CCAÇ 12 (7): Op Pato Rufia, 7 de Setembro de 1969: golpe de mão a um acampamento IN, perto da antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, morte do Sold Iero Jaló, e ferimentos graves no prisioneiro-guia Malan Mané e no 1º Cabo António Braga Rodrigues Mateus (Luís Graça)

7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai... (Luís Graça)

7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6686: A minha CCAÇ 12 (5): Baptismo de fogo em farda nº 3, em Madina Xaquili, e os primeiros feridos graves: Sori Jau, Braima Bá, Uri Baldé... (Julho de 1969) (Luís Graça)

25 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6642: A minha CCAÇ 12 (4): Contuboel, Maio/Junho de 1969... ou Capri, c'est fini (Luís Graça)

29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6490: A minha CCAÇ 12 (3): A única história da unidade, no Arquivo Histórico-Militar, é a que cobre o período de Maio de 1969 (ainda como CCAÇ 2590) até Março de 1971... e foi escrita por mim, dactilografada e policopiada a stencil (Luís Graça)

25 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6466: A minha CCAÇ 12 (2): De Santa Margarida a Contuboel, 5 mil quilómetros mais a sul (Luís Graça)

21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6447: A minha CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971) (1): Composição orgânica (Luís Graça)



quarta-feira, 6 de abril de 2011

Guiné 61/74 - P8055: O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande (40): A aparição do Florimundo Rocha, de Lagoa, Algarve (Carlos Alexandre, ex-Sold Trns, CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Legenda rectificada (*): Quatro camaradas, quatro amigos: Da esquerda para a esquerda: (i) Serra (sold atirador, natural de Barcelos, e não o 1º Cabo Santiago, que é da Covilhã); (ii) Florimundo Rocha (sold condutor auto, algarvio de Lagoa); (iii) Carlos Alexandre (operador de transmissões, fadista, carpinteiro naval, natural de Peniche); e (iv) Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro, natural de Ferreira do Alentejo)...

Foto gentilmente cedida pelo meu amigo (e camarada) Jacinto Cristina,d e Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo.


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Carlos Alexandre, outro bravo de Caium, membro da nossa Tabanca Grande, a viver em Peniche:

Data: 2 de Abril de 2011 15:00
Assunto: A aparição do Rocha


Luís, boa tarde. Como era de esperar, ao ter conhecimento desta nova aparição (*), e como não podia deixar de ser, apenas esperei horas decentes para fazer o contacto telefónico, e por volta das doze e trinta surgiu a mesma voz perdida há trinta e sete anos atrás aquando,  por força das circunstâncias, o batalhão [, o BCAÇ 3883, ] regressou a Portugal e deixou os de rendição individual ao Deus dará,  sem o mínimo de condições de agir, dado o estado físico e psicológico subjacente aos dias vividos naqueles lugares... Mas até aí em grupo, onde nos identificávamos como um colectivo e nesse colectivo éramos como um por todos e todos por um,  como é evidente eu tal como outros que lá ficaram, fomos entregues ao desprezo angustiante, por aqueles cuja responsabilidade, no mínimo, era acompanhá-los e deixá-los bem entregues, para que não tivessem de passar o que é próprio de quem se sente completamente só e ao abandono, depois de termos passado por onde passámos.

Foi com muita expectativa e alegria que marquei os números indicados, e com eles o prazer de falar com o Rocha [, o Florimundo Rocha] (*). A conversa foi curta, apenas uma troca de informações, mas ficou presente a importância da sua presença no próximo encontro do batalhão a realizar nem sei quando nem onde, mas espero contactá-lo quando receber essa informação.

O Rocha estava instalado no abrigo em frente ao das transmissões, os companheiros destes grupos estavam mais perto uns dos outros,  como é natural, por consequência o contacto estava mais presente, a nossa relação era mais achegada, pertencíamos ao grupo dos abrigos do lado de Buruntuma.

Foi um prazer falar com o Rocha, espero ser muito maior o encontro depois destes anos todos.

Já a gora permitam-me voltar ao mesmo esclarecimento, o companheiro indicado como sendo o Santiago não corresponde à verdade, como já foi referenciado anteriormente, e segundo o Rocha esse companheiro é o Serra. O Rocha saberá identificá-lo melhor deu.

Obrigado pela presença tão especial que o passado nos presentei-a através do vosso esforço.

Carlos Alexandre.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2011 | Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973

terça-feira, 13 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6726: Memórias do Bachile, chão manjaco (1): O que será feito do menino Augusto Martins Caboiana ? (António Branco, ex-1º Cabo Reab Mat, CCAÇ 16, 1972/74)



Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, junto ao obus 10,5 com  a mascote da companhia, um menino do mato, Augusto Martins Caboiana, que todos os camaradas da CCAÇ 16 adoptaram e ajudaram a crescer...



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco  e o João Pereira no espaldão do Mort 81.




Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > O António Branco, na "tradicional foto na árvore de grande porte" [, poilão].





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1973 > O Augusto, feliz e sorridente, foi o motivo principal  do cartão de boas festas do Natal de 1973.





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > Natal de 1972 > Cartão de boas festas





Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Bachile > CCAÇ 16 > 22 de Julho de 1973 > Um convite criado pela "comissão de festas"...

Fotos: ©António Branco (2010). Direitos reservados

1. Mensagem do António Branco, um dos membros mais recentes da nossa Tabanca Grande (*)


Data: 11 de Julho de 2010 22:19

Assunto: Memórias do Bachile


Camaradas

Hoje resolvi partilhar um pouco,  ainda que de forma superficial, a minha experiência vivida durante cerca de dois anos no Chão Manjaco, Bachile e CCAÇ 16.

Não pretendo evidenciar os momentos mais belicistas desta minha experiência, porque isso deixo para os mais entendidos na matéria, quero sim antes de mais realçar quanto para mim foi gratificante experienciar os contactos sociais mais diferenciados.

Na totalidade na companhia éramos apenas,  se a memória não me falha, cerca de trinta metropolitanos das mais diversas origens, das mais variadas classes sociais e com níveis de cultura diferentes.

Mas estas diferenças não eram minimamente visíveis no dia-a-dia, porque entre todos sempre existiu uma enorme cumplicidade tal como se de uma família se tratasse.

O facto de a maioria dos camaradas terem ido para o Bachile em rendição individual, a meu ver proporcionou uma maior e mais forte aproximação, camaradagem e solidariedade entre todos.

Recordo com muita frequência que um problema,  de qualquer um de nós, era um problema de todos e só descansávamos quando se possível o problema conseguia ser sanado.

Quando havia motivos para festejar, festejávamos todos, reforçando assim esse espírito familiar que se vivia.

Todos os dias e nas mais diversas situações, aprendíamos algo uns com os outros, todos os dias se cimentava a cumplicidade de um grupo de homens que,  apesar da sua juventude, tinham bem presentes valores cada vez mais difíceis de encontrar.

Com os militares africanos sempre tive um extraordinário relacionamento, encontrei muito boa gente e compreendi muitas vezes as suas frustrações.

O Augusto Martins Caboiana, um menino que todos ajudámos a cria, e do qual gostava de saber o seu paradeiro,  foi estou em crer um ponto marcante para todos que passaram pelo Bachile.

Em anexo algumas fotos do Augusto que camaradas de outras companhias, enfermeiras pára-quedistas e camaradas da Força Aérea concerteza recordarão.

Não refiro outros nomes para não ferir susceptibilidades, pois a memória e o tempo decorrido já não permite que os recorde a todos, até porque enquanto desempenhei funções no bar de sargentos foram muitos os camaradas de outras companhias com quem convivi quando da sua passagem pelo Bachile com destino a operações na zona da Caboiana.

Falta-me referir o privilégio que foi contactar com muita da população civil que nas mais diversas situações foi sempre de uma extrema cordialidade, humildade e sem dúvida merecedora de uma vida melhor.

Aprecio imenso todas as iniciativas de origem particular de apoio à população da Guiné e estou sempre muito atento a tudo o que com esta terra se relacione.

Tenho esperança de vir ainda a encontrar mais camaradas que estiveram no Bachile para que com a experiência de cada um contar a história daquele que foi um simples bocado de terra rodeado de mato por todo o lado e que hoje pouco ou nada sabemos como é.

Voltarei à tabanca com mais relatos de experiências guardadas na memória e com mais fotos que espero ajudem a reencontrar outros camaradas.

Um abraço para todos

António Branco

Exz-1º Cabo Reabastecimento Material
CCAÇ 16  -Bachile  (1972/74)


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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74


(...) Sou natural de Lisboa onde nasci em 24-06-1950 e onde ainda resido. Estou presentemente reformado após ter passado por um período de três anos desempregado e sem poder exercer a minha actividade na área do sector automóvel que iniciei com quatorze anos.


Na sequência da situação de desempregado, ocupei o tempo disponível melhorando o meu nível de escolaridade completando o ensino secundário e consequentemente entrei no mundo das novas tecnologias.


Foi assim que acedi ao blogue que faz já parte dos meus favoritos e que visito diariamente pois sou fã incondicional de tudo o que diz respeito à Guiné e muito particularmente ao Bachile e à CCAÇ 16.


E foi através desta enorme família residente na tabanca que decorridos 38 anos consegui encontrar lá longe na China o ex-Capitão José Martins, o ex-1.º Cabo Operador Cripto Miranda, o ex-Furriel Bernardino Parreira, o ex-Furriel José Romão e mais recentemente o ex-1.º Cabo Mecânico Auto João Pereira. (...).

Vd. também poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (92): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4784: Em busca de... (83): Companheiros de viagem para a Guiné em 25OUT66 (António Delmar R. Pereira)

1. Mensagem de António Delmar Rodrigues Pereira, com data de 2 de Agosto de 2009:

Camarada Luís Graça.

Procuro camaradas da rendição individual que embarcaram para a Guiné no navio 'Alfredo da Silva' em 25 de Outubro de 1966; desembarque em Bissau em 03 de Novembro de 1966 e regressaram com embarque em Bissau no navio Niassa em 30 de Outubro de 1968; desembarque em Lisboa em 06 de Novembro de 1968.

Sendo leitor assíduo do blogue, é a primeira vez que me dirijo.

O meu nome é António Delmar Rodrigues Pereira e era conhecido, por alguns, por Delmar d'Âncora por, fazer uns desenhos e ter a mania das ciências e dos inventos, um camarada, por maldade, me comparou a Da Vinci.

Éramos cerca de oitenta camaradas e regressámos todos. Eu como alguns de nós, fomos combatentes do chamado ar condicionado dos quartéis e repartições de Bissau.

Bem Haja.

Cumprimentos.
António Delmar R. Pereira
adelmarodrigues@sapo.pt


Navio Alfredo da Slva

Navio Niassa

Fotos: © Navios Mercantes Portugueses. Com a devida vénia


Bissau, 1969 > Ponte Cais e Ihéu do Rei no Estuário do Rio Geba

Foto: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados. Com a devida vénia

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4771: Em busca de... (82): Domingos Alves procura pessoal da CCAV 8352, Guiné 1973/74

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2509: Estórias de Bissau (15): Na esplanada do Pelicano, a ouvir embrulhar lá longe (Hélder Sousa)

Guiné-Bissau > Saltinho > Abril de 2006 > Um olhar de esperança no futuro... É, pelo menos, o que gostaríamos de adivinhar neste olhar inocente de uma criança às costas de sua mãe... O que mudou na Guiné-Bissau, desde que o Hélder Sousa desembarcou, em Bissau, do Ambrizete, em rendição individual, em 9 de Novembro de 1970...

Foto: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados.

Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > Rua onde ficava a célebre cervejaria Solmar, aqui evocada pelo Hélder Sousa.... "Após o jantar, uma voltinha para desmoer e reconhecer os vários locais de interesse, Solmar, Solar do 10, Ronda, o inevitável Café do Bento (5ª Rep.), a casa das ostras na rua paralela à marginal, o Pelicano" (HS).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Um velho Toca-Toca (transporte colectivo) que morreu no asfalto, numa das ruas da capital guineense... Em 1970, apesar de militarizada, Bissau ainda era uma pequena cidade, com ar pacato, limpa, bonitinha, colonial... Como comentou o Hélder nouro poste, afinal Bissau sempre era maior do que a nossa aldeia: (...) "Bissau era o que mais se aproximava à realidade da maioria daqueles jovens que estavam espalhados no TO do CTIG (era também assim que se dizia) e que, naqueles idos dos finais de 60, inícios de 70 - excepção feita aos habitantes da grande Lisboa, Porto, Coimbra e limítrofes - não tinham a vivência de grandes metrópoles e para eles aquilo já era um grande movimento"....

Foto: © Hugo Costa (2006). Direitos reservados.

Navio de carga Ambrizete > Construído em 1948 na Inglaterra, tinha cerca de 138 metros de comprimento e 5500 toneladas de arqueação bruta. Deslocava-se a uma velocidade de 13 nós, tinha 37 tripulantes e pertencia à SG, a Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, com sede em Lisboa (Grupo CUF). Recorde-se que a CUF - Companhia União Fabril estava representado na Guiné pela Casa Gouveia, adquirida na década de 1920 (1)... Eram cargueiros da SG como o Ambrizete que traziam para a Metrópole a mancarra com que a CUF fazia o seu famoso Óleo Fula (em 1929 conseguiu a autorização para produzir óleo alimentar, em regime de monopólio, e em clara concorrência, desleal, com os produtores de azeite)...

Fonte: © Navios Mercantes Portugueses, página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...). O autor foi oficial da marinha mercante. A página, alojada do Sapo, deixou entretanto de estar disponível.


1. Texto do Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72), em que ele descreve a sua chegada a Bissau, no navio da marinha mercante Ambrizete, em rendição individual, e as suas primeiras impressões da cidade, dos seus lugares mais afamados e da sua fauna humana (2).

Luís Graça e Caros Co-Editores:

Há algum tempo atrás enviei-vos a história da minha partida para a Guiné (3), a qual foi precedida pela ida ao Tivoli assistir ao filme O Último Adeus.

Pois bem, agora pretendo relatar a minha chegada à Guiné, mais propriamente a Bissau.

A partida ocorreu então cerca das 22 horas do dia 3 de Novembro de 1970, quando o velho Ambrizete rumou à foz do Tejo com destino a Bissau, navegando com uma inclinação de 7º para estibordo motivada por uma qualquer má distribução da carga que consistia, para além de géneros alimentícios, em material de guerra diverso e sobressalentes para manutenção.

A viagem correu bem, com mar sem causar problemas (vaga larga, como nos explicaram), gozando aqui e ali da companhia dos peixes voadores que faziam questão de acompanhar e, aparentemente, rivalizar com o navio.

A aproximação à costa da Guiné deu-se pela madrugada do dia 9 de Novembro, com todas as sensações que aqui no Blogue já foram descritas por outros camaradas, como a visualização da linha do que parecia ser uma mata cerrada, o bafo quente e húmido de que lá emanava, os sons e os silêncios, tudo isto ainda mais ampliado pelo facto de estar a nascer o sol em contra-luz em relação à nossa posição.

Durante a madrugada tínhamos ultrapassado o Carvalho Araújo que seguia carregado de militares mas que nos disseram ter tido um conjunto de problemas (fogo a bordo?) que o fazia navegar muito lentamente. Deste modo, todos aqueles que seguiam no Ambrizete (como tinha dito, 6 militares, todos Furriéis de Transmissões, 3 TPF (transmissões por fios) e 3 TSF (eu, o Nélson Batalha e o Manuel Martinho)) desembarcámos a meio da manhã desse dia 9, enquanto que o desembarque do pessoal do Carvalho Araújo só ocorreu no dia seguinte, dia 10 de Novembro, dia de S. Martinho, o que nos fez ficar com velhice acrescida em relação a todos os que viajaram naquele barco, nomeadamente os nossos camaradas de curso e especialidade, Furriéis Milicianos Eduardo Pinto, Luís Dutra Figueiredo, António Calmeiro e José Manuel Fanha, sendo que, como era sabido, "a velhice era um posto"!

O episódio do desembarque teve algo que me marcou e que me deixou de pé atrás, como se costuma dizer...

Devido à tal situação do posicionamento relativo dos dois barcos que estavam a chegar ao cais de Bissau, o Ambrizete ficou um tanto ancorado ao largo para dar a primazia ao Carvalho Araújo, razão pela qual a passagem dos passageiros do barco para terra foi feita por intermédio de pequenas embarcações do tipo que lá se usavam para fazer as cambanças mas que no nosso imaginário eram pirogas dirigidas por nativos, sendo aí o primeiro contacto (desconfiado) com os naturais.

Quando o barquito manobrava na aproximação à rampa, estando nós naturalmente a um nível mais baixo do que aqueles que se encontravam no cais, um militar que lá se encontrava procurou saber se "algum de vós é o Furriel Hélder Sousa ?". Após a confirmação de que eu "era eu", o militar em causa, de que eu era o substituto, desesperado pela demora da minha chegada (não esquecer que oficialmente parti a 23 de Outubro, embora só o tenha feito realmente em 3 de Novembro e, sendo das Transmissões, sabia que eu já tinha embarcado) começa aos saltos e aos gritos de É ele!, é ele!, é ele!", o que fez aumentar a minha preocupação sobre onde me vinha meter para suscitar tanta alegria pela partida...

Hoje já não me lembro do seu nome, ele que fez tanta questão em me acompanhar em todas as voltas que foi necessário dar para me apresentar no Quartel, de me levar a uns amigos de Vila Franca que me tinham guardado um lugar para ficar, de me levar a almoçar à messe de sargentos, etc., mas a imagem que tenho é de um macaquinho aos saltos (era o que me parecia, já que o via de baixo para cima e ele estava acocorado), feliz da vida por ter encontrado o seu pira e safar-se dali o mais depressa possível, provavelmente na viagem de regresso do Carvalho Araújo.

Depois das apresentações fiquei a saber que os Comandantes da Companhia de Transmissões e do STM (Serviço de Telecomunicações Militares) eram respectivamente os Capitães Cordeiro e Oliveira Pinto (excelentes pessoas), que eram cunhados e contemporâneos da minha (nossa) passagem pelo B.T., no Quartel da Graça, quando fazíamos a especialidade, o 2º Ciclo do C.S.M., e eles eram Tenentes a fazer o tirocínio para capitães, período de alguma agitação pois ocorreu no último trimestre de 1969, quando tiveram lugar as chamadas Eleições de 69.

Igualmente o 1º Sargento que supervisionava o STM em Bissau e que nos iria instruir preparando-nos para as tarefas que teríamos que desempenhar quando fossemos destacados para os postos no interior era meu velho conhecido, já que tinha sido ele a orientar o meu estágio da especialidade em Tancos, na EPE (meu e do Manuel Martinho que também foi para a Guiné, bem como do Miguel Rodrigues que foi para Angola, salvo erro, e do Fernando Marques que ficou cá em Portugal, na CHERET).

O camarada que fui substituir deixou-me depois aos cuidados dos meus conterrâneos vilafranquenses, Furriéis Milicianos José Augusto Gonçalves e Vitor Ferreira, o primeiro deles meu colega da Escola Industrial e o outro das tertúlias do Café A Brasileira, mais parceiro que adversário das partidas de bilhar, os quais estavam integrados nas Transmissões (nessa ocasião ainda estava em criação o futuro Agrupamento de Transmissões) os quais arranjaram um espaço para me acomodar no quarto que compartilhavam nas instalações para sargentos em Santa Luzia, juntamente com outro Furriel, de apelido Pechincha, que tinha estado numa Companhia de Caçadores Nativos e que estava agora destacado numa repartição qualquer do Q.G..

Levaram-me a jantar à Meta (já li algumas referências no Blogue mas não me parece que lhe tenham dado o relevo que de facto tinha naqueles finais de 1970), lugar muito frequentado, com uma zona de Bar, zona de restauração e uma enorme pista de minicarros, muito maior que as que conhecia cá na Metrópole e que era palco de acesas e renhidas disputas de competição dos vários miniaceleras que por lá iam gastando o seu tempo e dinheiro.

Após o jantar, uma voltinha para desmoer e reconhecer os vários locais de interesse, Solmar, Solar do 10, Ronda, o inevitável Café do Bento (5ª Rep.), a casa das ostras na rua paralela à marginal, o Pelicano.

Aqui no Pelicano, quando para me integrar saboreava a minha Coca Cola com uísque (era um privilegiado, já tinha tido a oportunidade de beber aquela coisa quando em 1968 estivera em França, Bélgica e Inglaterra), tive contacto directo com mais algumas das realidades do mundo onde estava a entrar...

O primeiro foi a sensação estranha de estar ali na esplanada a ouvir embrulhar lá longe, do outro lado do grande e largo Geba, diziam que era em Tite, ou Fulacunda ou qualquer outro nome que para mim naquela ocasião não assumia personalidade, coisa que mais tarde já não era assim, os nomes tinham depois uma identidade própria, acho mesmo que havia até uma como que espécie de hierarquia, no que respeita à forma como eram identificados pelas dificuladdes de vida que lhes eram inerentes. Estar ali a ouvir os rebentamentos abafados pela distância e a ver alguns clarões deu logo um arrepiozinho na espinha, com aquele misto de temor e de ansiedade que nessas ocasiões nos assaltam, mas também com um pensamento de solidaridade e angústia pela impotência de quem só pode assistir e não intervir.

O segundo contacto foi mais do género de constactar a degradação moral que a permanência em situações daquelas podia produzir em espíritos mais fracos. Já se falava do que acontecia no Vietnam com os soldados americanos consumindo droga para resolver os seus problemas mas ali no Pelicano não foi esse o caso. Tratou-se apenas do facto de que em determinado momento um desgraçado qualquer acercou-se da mesa onde estávamos e procurou vender uma fotos "de gaijas nuas". É claro que recusámos mas fui depois esclarecido de que não se tratavam de "gaijas" mas sim de "uma gaija", a própria mulher dele, a quem ele (diziam que era um fulano já bastante apanhado do clima) enviava fotos que tirava a si mesmo sem roupa e pedindo que ela lhe enviasse fotos do mesmo jeito, que ele depois reproduzia e tentava vender.

Fiquei bastante impressionado com aquela demonstração prática da alienação a que o clima de guerra e o consequente improviso da vivência podiam produzir em seres humanos e jurei a mim mesmo que haveria de sair da Guiné são de cabeça e mais determinado em contribuir para as mudanças inevitáveis que haveriam de ocorrer na nossa sociedade.

Cumprimentos
Hélder Sousa
Ex-Furriel Mil
Transmissões TSF
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Notas dos editores:

(1) Vd. o interessante blogue do jovem Ricardo Ferreira, 26 anos, estudante de história, O Grupo CUF - Elementos para a sua História e o primeiro poste que é dedicado à memória do seu fundador Alfredo da Silva (1871-1942):

(...) Em 1918 sobe ao poder Sidónio Pais, é conhecido o seu apoio pelo industrial, que durante este período será eleito senador, e também designado para o Conselho Superior Económico. Com a guerra terminada, lança-se na criação de uma nova empresa, que será crucial para o futuro da C.U.F., de seu nome Sociedade Geral de Indústria Comércio e Transportes. Esta empresa fundada em 1919, iria ainda antes de se lançar no ramo dos transportes marítimos (1922), estava apta a adquirir ou fazer parte do capital de outras empresas que interessassem ao projecto de expansão da C.U.F., foi esse o caso da Casa Gouveia na Guiné. Assentava na exploração agrícola, centrada na palma, no mendobi (amendoim) e gergelim, que passariam a ser carregados em barcos da S.G. e passariam a ser transformadas em óleos comestíveis no Barreiro (...)

(2) Vd. postes desta série Estórias de Bissau:

11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)

14 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1288: Estórias de Bissau (5): saudosismos (Sousa de Castro)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)

24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)

22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1391: Estórias de Bissau (9): Uma noite no Grande Hotel (José Casimiro Carvalho / Luís Graça

2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)

10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)

19 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2281: Estórias de Bissau (13) : O Pilão, a Nônô e o chulo da Nônô (Torcato Mendonça)

21 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2290: Estórias de Bissau (14) : O Pilão, a menina, o Jesus e os pesos que tinha esquecido (Virgínio Briote)

Vd. também:

17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2272: As nossas (in)confidências sobre o Cupelom, Cupilão ou Pilão (Helder Sousa / Luís Graça)

14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)

(3) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2438: História de vida (10): O Último Adeus ou as peripécias da minha partida no N/M Ambrizete (Helder Sousa)