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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14629: A bianda nossa de cada dia (6): o nosso "restaurante Michelin" em Guiro Iero Bocari, lá no cu de Judas... E o Manuel Pereira era o nosso cozinheiro de muitas estrelas, o homem que tinha sempre cebolas ('manga de ronco') para as mulheres e raparigas da tabanca... .(Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, 1969/70)









Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > Guiro Iero Bocari > CART 11 (1969/70) > O refeitório de toda a malta...

"Vemos o ex-fur.mil Cunha, o ex-alf.mil Fagundo, o ex-1º.cabo enf José António e outros que não identifico a almoçar numa mesa, com o tampo feito de canas entrelaçadas, com o célebre garrafão de vinho e sentados nuns bancos de toros e as crianças à espera, no arame farpado, do 'parte' qualquer coisa que sobrar" (Legenda de Valdemar Queiroz).

Foto: © Abílio Duarte (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Paunca > Guiro Iero Bocari > CART 11 (1969/70) > Rua principal da povoação...

Foto: © Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Valdemar Queiroz, com data de 10 do corrente:


[Foto à direita: Valdemar Silva (mais conhecido por Valdemar Queirós), ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)]
Ora, viva, Luís Graça.

O Abilio Duarte, da nossa (ou como ele dizia 'eu não tinha lá nada') CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus",  é o autor/fotógrafo de uma das grandes fotografias do nosso Blogue: o 'Restaurante Michelin'.

Trata-se de uma fotografia tirada ao refeitório/messe (???),  o refeitório de todos: soldados, sargentos e oficiais, em Guiro Iero Bocari.

Foi, também, com esta fotografia do 'Restaurante Michelin' que Guiro Iero Bocari se revelou para todos nós.

Na foto, em Guiro Iero Bocari, vemos o ex-fur.mil Cunha, o ex-alf.mil Fagundo, o ex-1º.cabo enf José António e outros que não identifico a almoçar numa mesa, com o tampo feita de canas entrelaçadas, com o célebre garrafão de vinho e sentados nuns bancos de toros e as crianças à espera, no arame farpado, do 'parte' qualquer coisa que sobrar.

Guiro Iero Bocari era isto. Está cá tudo, pouca alegria, taciturnos, com uma pequena escala d' África, nitidamente 'o que é que eu estou aqui a fazer?'...



 Se o Elvis, com uns abanos de cintura, se os Beatles, Domonico Modugno, até Tony de Matos, faziam entusiasmar as raparigas, o Pereira, em Guiro Iero Bocari não precisava de ser gingão, roqueiro ou cantor romântico. O Pereira era cozinheiro e tinha cebolas.

Constou-se em Guiro Iero Bocari que o Pereira era, qual 'Love me tender', 'Yesterday', 'Ciao ciao banbina' ou 'Só nós dois', o homem que tinha cebolas para as mulheres e raparigas da tabanca (as cebolas 'manga de ronco' culinário).

O Pereira tratava da nossa bianda todos os dias. Viva o Pereira, cozinheiro, que esteve em Guiro Iero Bocari.

Valdemar Queiroz

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Nota do editor:

Postes anteriores da série > 


11 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14595: A bianda nossa de cada dia (4): Os nossos "chefs gourmet", lá no mato.. A fome aguçava o engenho... (Jorge Rosales / Manuel Serôdio / Vasco Pires)

9 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)

7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

5 de maio de 2015 Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!

sábado, 9 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14589: A bianda nossa de cada dia (3): o melhor casqueiro da zona leste, amassado e cozido em forno a lenha pelo Jacinto Cristina e pelo Manuel Sobral, no destacamento da ponte Caium... Mas nem só de pão viviam os homens do 3º Gr Comb, os "fantasmas do leste", da CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74)


Foto nº 1 A


Footo nº 1 


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5


Foto nº 6


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Setor de Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium, guarnecido pelo 3º grupo de combate, "Os fantasmas do leste".(*)


Fotos: © Jacinto Cristina (2010). Todos  Todos os direitos reservados. [EDição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A ponte, a padaria e o padeiro... O forno foi construído na parte inferior da ponte... Como o espaço era acanhado, tudo se aproveitava... O forno e a cozinha ficavam do lado esquerdo, no sentido Piche-Buruntuma... 

De costas, em tronco nu, vê-se o Manuel da Conceição Sobral (que vive hoje em Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém), e era o ajudante de padeiro  (Foto nº 1). O Jacinto Cristina, o padeiro, está a enfornar (Foto nº 1A)...

No destacamento da ponte de Caium estava um grupo de combate, à época pertencente à CCAÇ 3546 (Piche, 1972/74). O Sobral e o Cristina  faziam reforço das 4 às 6 da manhã. Por volta das 5h/5h30, um deles ia amassar a farinha (12 kg / dia)... O outro ficava de reforço até às 6. Depois das seis, até às 8h/8h30, ficavam os dois a trabalhar. Às 9h já havia pão fresco... 

Todos os dias coziam. Tinham um stock de farinha que dava para um mês. Faziam uma média de 30 pães de 400 gramas, por dia. Como bons tugas, os camaradas que defendiam a ponte, adoravam pão!... O resto do dia os padeiros descansavam, ou jogavam à bola, ou brincavam no rio, quando levava água...

O Sobral era o apontador do morteiro 81 e o Cristina o municiador. Portanto, uma parelha completa! Também havia um morteiro 10,7,  ao cuidado do Pinto e do Algés. O 81 ficava do lado direito, à saída da ponte, no sentido de Buruntuma. O 10,7 ficava no lado esquerdo, junto ao paiol, também no sentido de Buruntuma... Mais à frente estava o 1º cabo Torrão, apontador da HK 21 (irá morrer em 14 de Junho de 1973). Também havia o morteiro 60 e a bazuca 8,9.

O Cristina (eu trato-o sempre por Jacinto, pai da minha querida amiga engª Cristina Silva e sogro do meu querido amigo, dr. Rui Silva) tornou-se de tal maneira imprescindível (por causa do "pão nosso de cada dia") que, além de municiador (e apontador, quando necessário) do morteiro 81, ficou na ponte de Caium 14 meses (em rigor, 13, se descontarmos o glorioso mês de férias, em abril de 1973, em que veio a casa para estar com a mulher e a filha; com ele, de férias, vieram também  o Pinto, o Charlot e o Algés; no avião da TAP, uma alegria!...Já não se lembra de quanto pagou... "Seis contos, para aí", diz-me ele).

Diziam que era o melhor casqueiro da Zona Leste... Na foto nº 2  o Jacinto está varrer e a limpar o forno... Na foto nº 3, está a fazer um petisco, ou não fosse ele um alentejano dos quatro costados... Na foto nº 4, está a barbear-se... Mesmo com o metro quadrado mais caro da Guiné, nas "suites" da Ponte Caium não faltava nada... O chuveiro era um bidão de 200 litros, furado...

Terrível foi aquele período de um mês (entre meados de maio e junho de 1973) em que o destacamento esteve sem reabastecimentos, sem farinha, sem pão... Por que a fome era negra, meteram-se a caminho de Piche, a 14 de junho de 1973, tendo sofrido uma brutal emboscada, em que morreram o 1º cabo apontador de metralhadora David Fernandes Torrão, e os soldados atiradores Carlos Alberto Graça Gonçalves ("Charlot"), Hermínio Esteves Fernandes e José Maria dos Santos... 

Disse-me o Jacinto Cristina (que ficou na ponte a tomar conta do seu morteiro 81), que os corpos foram cortados em quatro, com rajadas de Kalash... O bigrupo do PAIGC (onde foram referenciados  cubanos) levou cinco armas (incluindo a do furriel que foi projectado com o impacto do RPG7, juntamente com o sold cond auto Rocha, o Florimundo ).

Uns meses antes, em 19 de Fevereiro de 1973, tinha morrido o fur mil op esp Amândio de Morais Cardoso, na sequência da desmontagem de uma armadilha de caça. Essa cena passou-se debaixo dos olhos do Cristina que se salvou, ao pressentir o perigo.

Na foto nº 5, vê-se o tabuleiro da ponte por onde passava a estrada Piche-Buruntuma,,, A padaria ficava em segundo plano do lado esquerdo... A foto deve ter sido tirada no dia dos anos do Sobral, em março de 1973, a avaliar pelos dois cabritos que estão junto ao "burrinho" (o Unimog 411)... Tinham sido comprados na tabanca fula, que ficava a nordeste da ponte, a 3 km, e onde residiam as lavadeiras...

Soldado atirador, o Cristina era, como já dissemos, municiador do morteiro 81. Mas, uma vez que Piche ficava longe e era preciso fazer pão todos os dias,  aprendeu a arte de padeiro (que depois seria o seu ganha-pão, em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, onde vive, hoje já refiormado; durante anos, teve um negócio próprio na  área da panificação; passei várias vezes pela casa e padaria, e trazia para Lisboa o seu pão feito na hora;  pude, pois, comprovar  que o seu "casqueiro" era, de facto, o melhor da região).

Como se percebe pelas fotografias, as estruturas da ponte foram aproveitadas ao milímetro...

Na foto nº 6 (s/d, tirada na  época seca, em 1973), o destacamento é visto da margem esquerda do Rio Caium, a sul da estrada, no sentido Buruntuma-Piche. Segundo o Carlos Alexandre (, de alcunha,  "Peniche"), ao  examinar melhor uma imagem destas  que lhe mandei, com maior resolução, vê que  à entrada do tabuleiro, estão dois camaradas que parecem ser o Cristina e o Sobral.

Um novo troço da estrada Piche-Buruntuma estava então em construção, a cargo da Tecnil. De Nova Lamego a Piche já se ia, há muito,  em estrada asfaltada. Daí talvez este desvio, contornando a ponte e atravessando. O desvio  é visível (parcialmente, em primeiro plano)  na foto nº 6.

Na época seca, o rio Caium ficava seco (ou reduzia-se a um pequeno charco à volta da ponte). Este rio é um afluente do Rio Coli, que fica a sul da estrada Nova Lamego-Piche-Buruntuma e serve de linha fronteiriça entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri.

2. Quem passou por aqui, entre Piche e Buruntuma, dificilmente acredita que um homem pudesse aguentar mais do que um mês, dois meses, neste Bu...rako. Recorde-se aqui a opinião, autorizada, do nosso camarada Luís Borrega (que infelizmdente, já nos deixou, em agosto de 2013, ficando vazio o  seu lugar à sombra do nosso poilão):

"Se houvesse um ranking para os maiores BURACOS da Guiné, Ponte Caium estaria certamente no TOP TEN, e provavelmente dentro dos 10, muito à cabeça (...) . O destacamento tinha que ser rendido a cada três semanas, (só em teoria), pela necessidade de géneros, mas também porque psicologicamente era o máximo de tempo que (...) podia aguentar. No entanto só éramos rendidos mês e meio ou dois meses depois. Numa das vezes estivemos 15 dias a sobreviver só com latas de atum, café e pão confeccionado sem fermento. Podem imaginar a qualidade desta panificação. Não havia mais nada no depósito de géneros. Era o meu grupo de combate que estava lá nessa altura. Foi um bocado complicado lidar com a situação, especialmente acalmar a guarnição" (...).

Houve quem vivessse e  sobrevivesse na Ponte Caium, comendo o pão que o Cristina e o Sobral amassaram e cozaram, sempre com dedicação e carinho... Mas também lembrando aos camaradas  que defendiam a ponte e aos transeuntes, que "nem só do pão vive o homem (**),,,




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Ponte Caium > Ao lado de um memorial aos mortos do 3º Gr Comb da  CCAÇ 3546 (1972/74) ("Honra e Glória: Fur Mil Cardoso, 1º Cabo Torrão, Sold Gonçalves, Fernandes, Santos, Sold AP Dani Silva. 3º Gr Comb, Fantasmas do Leste,. Guiné- 72/74"; ainda existia em 2010, no tabuleiro da ponte esta base "Nem só de pão vive o home. Guiné, 1972-1974".


Foto: © Eduardo Campos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor de Piche > Carta de Piche > Localização (assinalada a amarelo) da Ponte do Rio Caium, na estrada Piche (a sudoeste)-Buruntuma (nordeste, junto à fronteira com a Guiné-Conacri), sensivelmente a meio entre as duas localidades. O Rio Caium corre para sul, sendo um afluente do Rio Coli (que separa os dois países, num largo troco da fronteira leste).

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14584: A bianda nossa de cada dia (2): homenagem ao nosso cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração (Abílio Duarte, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

1. Mensagem do Abílio Duarte [, ex-fur mil,CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970,]

Data: 5 de maio de 2015 às 14:39

Assunto: A bianda nossa de cada dia...

Luís, é verdade o que afirmas (*). A minha CART 11, esteve muito tempo sem instalações próprias. Só quando chegamos a Nova Lamego, é que nos deram um quartel, chamado o Quartel de Baixo, junto á Administração do Concelho. Foi quando o nosso cozinheiro Manuel ficou responsável, pela messe e refeitório que era só para brancos, pois os fulas iam comer á tabanca.

No entanto não quero deixar de recordar os tempos que passei em Pirada e Quenquelifá, onde permaneci por vários períodos, a qualidade da alimentação, e em especial o pão, que era feito naquelas unidades, de grande qualidade.

Assim o meu bem haja para todos aqueles, que apesar de não saírem do arame farpado e das valas, lutavam para nos darem algum conforto, quando regressavámos do mato.

PS - militar, a quem me referia, o Manuel cozinheiro, está na foto anexa, de camisa com um copo de tinto na mão. Pessoa que muito estimo ao longo destes anos, que tem convivido connosco nos nossos, almoços, e que se tornou industrial de Restauração.

A malta da CART 11 , sabe quem é. Mais uma vez , agradeço a existência deste blogue, para poder,os recordar o nosso passado.


Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Nesta foto, à esquerda, o nosso Chef Michelin 5 Estrelas, o nosso ex-cozinheiro Manuel, hoje empresário de restauração: ao centro o Leonel cripto, e um condutor, de quem agora não recordo, o nome pelo que peço as minhas desculpas.
Foto (e legenda): © Abílio Duarte  (2014). Todos os direitos reservados.
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terça-feira, 5 de maio de 2015

Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!



Guiné > Região de Quínara > Gampará > CCAÇ 4142 (1972/74) > O sold cozinheiro Soviano Teixeira, com mais dois camaradas (ajudantes), à volta do tacho...

Foto: © Joviano Teixeira (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


1. Camaradas:

Acaba de entrar para a Tabanca Grande um camarada cozinheiro... Não é um acontecimento vulgar...Por isso o Joviano Teixeirra merece as nossas palmas. E para mais é o primeiro representante da CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74).

Recorde-se que na tropa (e na guerra) também havia o "front office" e o "back office", como se diz hoje nas empresas (banca, seguros, saúde...). Havia os operacionais e os serviços de apoio... Temos falado pouco dos que trabalhavam para alimentar o "ventre da guerra" (intendência, reabastecimentos, vaguemestria, cozinha...). Temos falado pouco dos nossos cozinheiros que trabalhavam em duras condições físicas, em cozinhas (?) improvisadas ou atamancadas, e a quem era pedido que fizessem milagres todos os dias... Em suma, temos falado pouco da "bianda nossa de cada dia"...

Dar de comer, no TO da Guiné, todos os dias, a 150/200 homens, numa unidade de quadrícula, isolada no mato, com problemas sérios de reabastecimento... era obra! Em geral, havia dois cozinheiros (um 1º cabo e um soldado) e dois auxiliares de cozinheiro (soldados).

Temos falado aqui dos nossos crónicos problemas de alimentação mas não tanto dos nossos camaradas que trabalhavam nas cozinhas... Ora, eles bem merecem uma palavra de apreço!... Eles também eram filhos de Deus, de Alá e dos bons irãs!

Fotos e histórias à volta da nossa bianda de cada dia, precisam-se!... E quanto ao Joviano, já lhe dei as boas vindas. Um alfabarvo para todos/as...


2. Por outro lado, o nosso camarada António José Pereira da Costa também nos acaba de contar hoje uma história que eu achei deliciosa, à volta do vinho que bebíamos e que dá pano para mangas (**)... Estou interessado em desenvolver este outro tema no nosso blogue... De resto, relacionado com a bianda... O casqueiro e o tintol, a par do correio, eram elementos importantes para manter o moral da tropa...

A questão que se pode pôr é a seguinte: Afinal, o vinho que nos chegava à mesa, no mato, era ou não uma variante do "vinho pró preto" ?...

O mercado ultramarino teve um papel importante no escoamento da nossa produção vinícola... Recorde-se que havia, ao tempo da guerra colonial, um problema de excesso de produção e falta de qualidade...

Dizia-se que Salazar dizia que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses... O que em parte era verdade: antes do êxodo rural nos anos 60, a vitivinicultura dava trabalho a um exército de mão de obra barata nas aldeias...  Em 1940, a vinha ocupava mais de 320 mil hectares e havia cerca de 337 mil produtores!... (Em termos de exportação de produtos agrícolas, só a cortiça ultrapava o vinho).

De facto, o trabalho na vinha ocupava muitos trabalhadores ao longo do ano... Recordo-me quando era puto, em meados dos anos 50,  de assistir à vinda de enormes ranchos de trabalhadores sazonais, homens e mulheres, para a minha zona (Lourinhã, Estremadura), na altura das vindimas... Eram os "ratinhos", vinham da Beira!... Tempos de miséria!...

Em resumo, seria interessante saber mais sobre o vinho que a metrópole (Lisboa() nos mandava dava... A tropa era um segmento de mercado precioso... O que é que a malta  sabe mais sobre isto ?

Em boa verdade,  a generalidade dos nossos camaradas, no TO da Guiné, não se podia dar ao luxo de dizer o provérbio popular: "pão que sobre, carne que baste e vinho que farte"... Muitas vezes, faltava o pão, a carne e o vinho... Em quantidade e qualidade... Mas também se diz que "a fome é a melhor cozinheira"...

PS - Que fique claro: não estão aqui em causa os nossos camaradas da Intendência que deram o seu melhor (e alguns morreram) no cumprimento da missão que lhes cabia no TO da Guiné...

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14568: Tabanca Grande (463): Joviano Teixeira, grã-tabanqueiro nº 687... É natural de Tavira, e pertenceu à CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)

(**) Vd. poste de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14572: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (13): Uma da nossa Intendência