Guiné > Bissau > Bissalanca > B 12 > 1973 > Esta foto recorda um dia de aniversário do Clube de Especialistas, em Bissalanca, tendo sido convidado o comando da BA 12 (1971/73), o cor pilav Gualdino Moura Pinto (à esqureda) e o ten cor pilav José Lemos Ferreira (à direita)
Foto (e legenda): © Victor Barata (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Victor Barata: (i) foi especialista de Instrumentos de Bordo,
esteve na BA 12, Bissalanca (1971/73), na linha da frente das DO 27";
(ii) terrou em tudo o que era bocado de pista;
(iii) membro da Tabanca Grande desde maio de 2006.
1. Com a devida vénia, reproduzimos a seguir um excerto de um poste do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, da autoria do nosso amigo e camarada Victor Barata, membro da nossa Tabanca Grande da primeira hora (com mais de três dezenas de referências), fundador e editor daquele blogue:
Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 > Quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012 > Voo 2730: O Grande Comandante Moura Pinto:
(...) Companheiros, há personagens na nossa vida que pela sua conduta, e pelas mais variadas acções, nos marcam para sempre.
(...) Pois bem, vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, alto, magro, com grandes qualidades humanas. (*)
(...) Pois bem, vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, alto, magro, com grandes qualidades humanas. (*)
Remonta ao ano de 1973, quando entre Março e Abril, a nossa Força Aérea perdeu Grandes Homens, companheiros do dia a dia dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem primeiro: ten cor pilav Brito, major pilav Montovani, furriéis mil pil Baltazar e Ferreira.
A instabilidade estava instalada, o receio, principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades, apoderou-se, por se desconhecer o tipo de arma utilizada pelo PAIGC para abater os nossos aviões.
É nestas ocasiões que se distinguem os grandes Comandantes: o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e, com a serenidade que lhe era virtude, foi dizendo:
"Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil”.
Em seguida afirmou ter duas certezas, uma, fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência de oficial: a primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase: Só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado. A segunda, também se dizia em poucas palavras:
"Ninguém pode ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais vulnerável e acaba por ser atingido."
Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino: "A sorte protege os audazes".
Estas afirmações no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos. Faltava na sala um único piloto, Furriel Santos, por se encontrar de serviço ás operações.
Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta, pedindo licença para falar. Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção. O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura,o furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um Batalhão do Exército que tinha sido atacado. Vinha pedir instruções.
Diz-lhe o Coronel Moura Pinto:
"Responda que se vai fazer a evacuação. Mande preparar o helicóptero. Quem faz essa evacuação sou eu".
Voltou-se para a assistência e perguntou:
"Meus senhores quem quer colocar alguma questão? "
Reinou o silêncio entre toda a gente;
"Se não têm perguntas, eu já disse tudo, e, como há coisas mais importantes a fazer, vou-me embora." (#)
Foi fazer a evacuação.
O desfecho desta reunião teve impacto fortíssimo no moral dos pilotos, o ânimo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.
Descanse em paz, meu COMANDANTE! (**)
Victor Barata
Melec/Av Inst
(#) Nota: Esta passagem foi retirada do livro "A Força Aérea na Guerra de África: Angola, Guiné e Moçambique 1961-1974", de autoria de Luís Alves de Fraga, ,Coronel da FAP na reserva (Editora Prefácio, 2004, 158 pp.).
Postado por Especialistas da BA 12 às 22:29:00
[Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação no nosso blogue: LG]
______________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 16 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20978: FAP (120): Ainda o trágico acidente com o T6 - 1795. em Canquelifá, de que resultou a morte do fur mil pil Moutinho (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte / Cândido Cunha, CART 2479 / CART 11, 1969/70)
(*) Último poste da série > 16 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20978: FAP (120): Ainda o trágico acidente com o T6 - 1795. em Canquelifá, de que resultou a morte do fur mil pil Moutinho (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte / Cândido Cunha, CART 2479 / CART 11, 1969/70)
(**) Vd. poste de 8 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21430: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (75): procuro mais notas biográficas sobre o cor pilav Gualdino Moura Pinto, dado erradamente como morto no acidente do avião da TAP, TP425, no Funchal, em 19/11/1977 (Santiago Garrido, jornalista, "La Voz de Galicia")
3 comentários:
Victor, fui repescar este teu texto de 2012, por boas e oportunas razões...
Serviste sob as ordens deste grande militar da nossa FAP, e fazes um retrato apropriado do que é o verdadeiro líder, na guerra ou na paz, "o que vai à frente mostrando o caminho"... Nada como a força do exemplo... Parabéns pela continuidade do teu blogue, apesar de todas as dificuldades e constrangimentos que vamos enfrentando: o envelhecimento da malta, o cansaço, a lassidão, a preguiça e, agora, o raio da pandemia de Convid-19... Admiro a tua força!... LG
Então não é voz comum neste blogue, e na falsa narrativa histórica que tanta gente tem impingido aos portugueses, que depois dos Strella perdemos a supremacia aérea, quase deixámos de voar, os hélis não faziam evacuações, etc? Honra aos nossos pilotos! Conhecí-os bem, voei com eles,sobretudo em Cufar, pós Strella, Junho de 73 a Abril de 74., onde iam quase todos os dias, com os Noratlas, os DOs, os Allouettes 3 e os helicanhões. Nenhum meio aéreo foi abatido pelos Strella durante esse período, no sul da Guiné.
Abraço,
António Graça de Abreu
victor manuel (por email)
domingo, 11/10/2020, 14:28
Boa Tarde Luis.
A notícia de que o Cor Pilav Moura Pinto teria falecido, foi anunciada no site do Sindicato dos pilotos de Linha Aérea.
Depois de publicarmos [, no Blogue Especialistas da BA 12, Guiné 65/74,] fomos alertados para o engano e de imediato entramos em contacto com a respectiva entidade que publicou tal noticia,que reconheceu o erro e o rectificou na sua página.
De imediato apresentamos as nossas desculpas no blogue e justificando a falha.
Isto apenas só para que fique esclarecido de uma vez por todas do nosso "grau de responsabilidade" sobre o assunto.
Um abraço
Victor Barata
[fundador e editor do Blogue Especailistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74]
http://especialistasdaba12.blogspot.com/
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