domingo, 18 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6180: Lançamento do livro do Amadu Bailo Djaló: Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril (3): Intervenção do Cor Cmd Ref Raúl Folques

 


 Lisboa, Museu Militar, 15 de Abril de 2010. Lançamento do livro do Amadú Bailo Djaló, "Comando, Guineense, Português" (edição da Associação dos Comandos, 2010). Intervenção do Cor Comando Ref Raúl Folques.

 Vídeo (8' 43''): © Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes (conta do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)




Raúl Folques, com o posto de major foi o último comandante do Batalhão de Comandos Africanos, antes do 25 de Abril de 1974, mais exactamente entre 28 de Julho de 1973 e 30 de Abril de 1974, tendo sido antecedido pelo major Almeida Bruno  (2 de Novembro de 1972 a 27 de Julho de 1973), e imediatamente seguido pelo Cap Matos Gomes (1 de Maio a 12 de Junho de 1974).  Os dois aparecem aqui na foto, à esquerda, o Matos Gomes, e à direita o Folques.

Foto editada, extraída de Amadu Bailo Djaló  - Guineense, comando, português. Lisboa: Associação de Comandos, 2010, p., 240 (com a devida vénia...)

Estes três oficiais, juntamente com o cap pára António Ramos, foram os únicos europeus a participar, com os militares do Batalhão de Comandos Africanos, e o Grupo do Marcelino da Mata, na célebre Op Ametista Real, de assalto à base do PAIGC em Cumbamori, no Senegal,  em 19 de Maio de 1973, e cujo sucesso permitiu aliviar a pressão sobre Guidaje. Nessa  dramática operação, o major Folques foi ferido. Os números oficiosos apontam para 9 mortes,  11 feridos graves e 23 ligeiros.

Amadu tem onze páginas (da 248 à 258), de grande intensidade dramática, sobre esta operação, e nomeadamente sobre a retirada dos comandos africanos até Guidaje e depois até Bigene. Cite-se o trecho que começa com a conversa que o Sargento Comando graduado Amadú tem com  o tenenente comando graduado Jamanca , que está ferido [ era o comandante da 1ª CCmds, e será depois fuzilado eplo PAIGC em 1975]:

(...)

- Amadú, anda cá! Mata-me, não deixes o PAIGC levar-me. Mata-me, Amadú, mata-me!
- Tu não ficas, levamos-te de qualquer forma! Não ficas aqui! Descansa um pouco, Jamanca!

Durante esta conversa vi o Alferes Melna, de pé, com dois soldados, um deitado, de frente para eles.
- Melna, de quem é esse corpo ?
- É o Alferes, o Mama Samba Baldé!

Fui para a beira deles. O Melna apontou para uma árvore e perguntou-me se eu sabia de quem era o corpo que estva lá. Não, não sabia, respondi.
- É o corpo do José Vieira,  [sold, 1ª CCmds].

Ouvi o Jamanca chamar-me:
-Vai chamar o Demba.

Dirigi-me para um grupo de soldados e perguntei pelo Demba.
- Já retiraram todos, só estamos nós aqui, respondeu alguém.

Quando transmiti ao Jamanca o que tinha ouvido, ele não queria acreditar. Depois, levantou-se e foi ver com os seus próprios olhos. Não viu nenhum dos seus oficiciais e abanou a cabeça.

No local estávamos 31 militares, três capitães europeus e vinte e oito comandos africanos. Os capitães eram o Folques, o Matos Gomes e o Ramos que era pára-quedista.

O grupo ainda ficou mais reduzido, pouco depois. Quando tentava recuperar o corpo do Alferes Mamassamba, o Melna foi atingido gravemente nas pernas com estilhaços de uma roquetada e os ossos ficaram a ver-se.

(..) De todo o pessoal que partiu, quatrocentos e noventa e tal militares com dois guias de Bigene, estávamos ali vinte e nove, porque um dos soldados do Melna também tinha sido atingido gravemente. Conseguimos abandonar o local, comigo em último lugar, a olhar para trás, de vez em quando, com a imagem, do Melna, que ainda hoje está na minha cabeça. Ele olhava para nós e voltava a cara para o lado de onde faziam fogo contra nós. E ainda consegui ouvir um grito, pareceu-me de contentamento (...). (pp. 252/253).

 Publicam-se mais fotos de camaradas nossos, que se associaram  à festa do Amadu Djaló (*).



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > O Virgínio Breiote "adiantando serviço" ao Amadú que não teve mãos a medir em matéria de pedidos de autógrafos... A seu lado, inclinado, apenas com a careca visível, o nosso amigo Rui Alexandrinho Ferrera, tratado afdectuosamente como Ruizinho. Recorde-se que foi que o Rui A. Ferreira, nascido em Angola,  cumpriu duas comissões de serviço na Guiné, primeiro como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67, e depois  como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72.




Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > Um guineense, Bamba, antigo dirigente do partido Resistência da Guiné-Bissau / Movimento Bafatá, e antigo ministro da Saúde Pública (Partido criado em 1986 como Movimento Bafatá, na sequência da execução de antigos dirigentes do PAIGC como Carlos Correia e Viriato Pã; nas primeiras eleições multipartidárias, realizadas em 1994, o RGB-MB conquistou 19 dos 100 lugares da Assembleia Nacional. Em 1999, tornou-se o 2º maior partido da Guiné-Bissau com 29 lugares dos 102 lugares da Assembleia Nacional). Julgo que viva actualmente em Lisboa. Dei-me o seu contacto de telemóvel.

Na foto, Bamba cumprimenta a Giselda, ladeada pela Alice e pelo Miguel. O Bamba é amigo pessoal do Agostinho Gaspar, recém entrado para o nosso blogue, membro da Tabanca do Centro.



Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010  > Sessão de autógrafos > Na foto, à esquerda e de perfil o nosso camarada António Santos.


Lisboa > Museu Militar > 15 de Abril de 2010  > O Alberyo Branquinho e o Coutinho e Lima, possivelmente à procura de referências a Guileje no livro do Amadú.


Lisboa >  Museu Militar > 15 de Abril de 2010 > O Rui Silva,  Ten Cor Inf Ref, ex-Cap Mil da CCAÇ 18 (1970/72), membro do nosso blogue, veio expressamente de Viseu, para assistir ao lançameno do livro do Amadú. Em contrapartida, teve a agradável surpresa de encontrar ali, por acaso, o Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Mec Auto da  CCS do batalhão  que estava então sediado em Aldeia Formosa. O Manuel Gonçalves, companheiro actual da minha amiga Tuxa, está em vias de se tornar membro da nossa Tabanca Grande. Um dos soldados do seu pelotão do Manuel Gonlçalves era o Silvério Lobo, membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos. Os dois já se voltaram a encontrar.

Fotos: © Luís Graça (2010).  Direitos reservados
 
__________________

Nota de L.G.:


7 comentários:

Joaquim Mexia Alves disse...

Obrigado!

Fez-me bem ao coração, fez-me bem á alma, ouvir o Raúl Folques.

Os homens com H grande são assim:
dizem o que têm a dizer sem vergonha, com simplicidade e dignidade, e sabem sempre ser gratos àqueles que com eles viveram os momentos decisivos.

Não esquecem os seus camaradas, não hesitam em afrontar "verdades" contadas, e têm sempre o respeito daqueles que com eles serviram.

Hoje, depois de ouvir o Raúl Folques, senti outra vez a alma portuguesa tomar conta de mim.

Obrigado!

Um abraço camarigo para todos os camaradas da Guiné e hoje sobretudo para os portugueses guineenses que combateram ao nosso lado.

Todos não somos demais!

Anónimo disse...

V. Briote, penso que deve haver maneira de receber à cobrança este livro.

Antº Rosinha

Torcato Mendonca disse...

Rodei a rodinha do rato e fui vendo e lendo por alto. Não vi o vídeo e quase que parei. Só que oito minutos e...já lá vou.
Voltei depois atrás e fui ouvir o Coronel Folques. Fiz uma ou outra pausa e respirei fundo e ouvi e de repente com Camões chegou ao fim e fiquei parado e recordei e recordei e tentei encontrar explicação - que raio de vida esta...então um tipo como eu depois de ter estado por lá, depois de ter pisado aquela terra vermelha, terra de gentes de que gostei e gosto eu fui esquecendo, evitando ler ou falar da guerra, sim aquilo não foi actividade policial como certos coirões diziam, agora há...quantos anos? para aí uns quatro...vou quase diariamente ao blogue e, quantas vezes não vou até lá? Sim á Guiné! Que porra de vida...e depois leio o comentário do Camarigo e concordo com ele. Desta vez a fazer quase o pleno. Talvez me tenha feito bem ao meu coração remendado, talvez precise de ter uma alma. Gostava de ter uma. Assim em vez da raiva surda que, de quando em vez sinto, falava com uma alma, a minha claro e, porque não ia aprendendo a esquecer actos e factos e até perdoando. Bem isso já é mais difícil oh Camarigo.
Ainda falamos um dia nisso.
É pena estas palavras do Cor. Folques não aparecerem escritas...ditas o vento...pois!
Para ele um bem haja pela frontalidade e pelo bem que fez ao Amadu, a tantos que, como ele combateram, a tantos que como o Zacarias foram cobardemente assassinados...
Camarigo um abraço, outro aos Editores e a toda esta Tertúlia.
Abraço do Torcato

Torcato Mendonca disse...

Rodei a rodinha do rato e fui vendo e lendo por alto. Não vi o vídeo e quase que parei. Só que oito minutos e...já lá vou.
Voltei depois atrás e fui ouvir o Coronel Folques. Fiz uma ou outra pausa e respirei fundo e ouvi e de repente com Camões chegou ao fim e fiquei parado e recordei e recordei e tentei encontrar explicação - que raio de vida esta...então um tipo como eu depois de ter estado por lá, depois de ter pisado aquela terra vermelha, terra de gentes de que gostei e gosto eu fui esquecendo, evitando ler ou falar da guerra, sim aquilo não foi actividade policial como certos coirões diziam, agora há...quantos anos? para aí uns quatro...vou quase diariamente ao blogue e, quantas vezes não vou até lá? Sim á Guiné! Que porra de vida...e depois leio o comentário do Camarigo e concordo com ele. Desta vez a fazer quase o pleno. Talvez me tenha feito bem ao meu coração remendado, talvez precise de ter uma alma. Gostava de ter uma. Assim em vez da raiva surda que, de quando em vez sinto, falava com uma alma, a minha claro e, porque não ia aprendendo a esquecer actos e factos e até perdoando. Bem isso já é mais difícil oh Camarigo.
Ainda falamos um dia nisso.
É pena estas palavras do Cor. Folques não aparecerem escritas...ditas o vento...pois!
Para ele um bem haja pela frontalidade e pelo bem que fez ao Amadu, a tantos que, como ele combateram, a tantos que como o Zacarias foram cobardemente assassinados...
Camarigo um abraço, outro aos Editores e a toda esta Tertúlia.
Abraço do Torcato - esta droga não envia. Modernices ou patices

Luís Graça disse...

VB:

A Associação de Comandos não tem, por detrás, uma verdadeira estrutura de marketing, distribuição e vendas, como têm as grandes editoras... O Amadú, como homem, guineense e membro do nosso blogue, merece que o seu livro seja um sucesso editorial. Não irão aparecer testemunhos, tão puros e espontâneos, como este, de entre os comandos africanos... O que me surpreende no livro é a oralidade da história de vida... Tu soubeste respeitar a "idiossincrasia" do Amadú, a sua ingenuidade, a sua naturalidade, a sua espontaneidade...

O nosso blogue está a dar uma ajuda na promoção do livro, mas não chega. As pessoas querem saber como e onde comprar o livro... Naturalmente que à cobrança fica mais caro...

Anónimo disse...

Caros Camaradas,

Primeiro que tudo os agradecimentos. Do Amadu e meus pelo interesse e pela força que têm sido feita na divulgação do livro. E é importante e justo salientar que, sem ter contado as pessoas presentes no lançamento do livro, estou seguro não errar se disser que pelo menos metade dos asistentes são membros da nossa Tabanca.
Em relação ao livro: para já a única forma disponível é recebê-lo à cobrança, pedindo-o através do mail assoc.cmds@mail.telepac.pt com a indicação do local para onde deve ser remetido ou então através do nº do secretário da AssCmds (213 538 373 - Vítor Rodrigues).
Se houver dificuldade agradeço que me contactem. Mais uma vez que não é demais: muito obrigado pelo vosso interesse.
vbriote@netcabo.pt

vbriote

Anónimo disse...

Ouvi as palavras do Cor. Raul Folques na homenagem muito digna ao Amadu Djaló e através dele aos Comds. Afric. que me deixaram muito sensibilizado, e ter a certeza que com testemunhos assim, será impossível calar e fazer esquecer o que foi, a luta dos nossos camaradas Africanos na Guiné, e a forma ignóbil como foram posteriormente tratados.

Obrigado Cor. Folques, ao Briote, e a todos os camaradas que com a sua presença abrilhantaram o livro do Amadú.

Um abraço para todos

Manuel Marinho