1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 21 de Abril de 2010:
Meu Caro Luís Graça,
Vai a minha participação – mais do que isso a homenagem ao Mendes, aos “Mendes” que nos acompanharam, lado a lado, numa guerra de que ainda não se escreveu de forma verdadeiramente científica…
Posta lá isso, o que vai em itálico.
Um abraço tertuliano.
Paulo Salgado
As notícias
Que me desculpem os companheiros bloguistas e os que, não participando nesta tertúlia – aqueles milhares que palmilharam bolanhas, matas e matagais, tarrafos, rios, riachos – eu não pretendo “armar-me” em intelectual, que não sou. Gosto de ler, de reflectir. É verdade. Lá no Olossato, em tempo de algum breve lazer, e para além das cervejas geladinhas ou gins ou cocas no bar, tive oportunidade de ler o Alves Redol quase todo, algum Rodrigues Miguéis, as pequenas (grandes) obras do Soeiro, o Russell – com troca com outros. Ou ouvíamos a Mahalia Jackson ou o Ray Charles ou la burrita – não sei quem é o autor (o Moreira ainda guarda esse disco ali em Gaia), verdade que às vezes púnhamos a rodar a 3.ª sinfonia ou a 5.ª sinfonia do Beethoven…enquanto ao longe se ouvia o batuque!
Vem isto a propósito do saboroso texto do Miguel Esteves Cardoso que escrevinha todos os dias um artigo interessante no Público. Diz ele, a propósito das nuvens do vulcão: «Já fui atingido pela nuvem de cinza e finalmente compreendi a tragédia. As coisas são mais tocantes quando nos tocam a nós. É que a nuvem atrasou o correio expresso.»
De imediato me lembrei que as nossas “nuvens” (desta natureza) por toda a Guiné eram os atrasos do aviãozinho (Dornier) que trazia o saco verde do correio. Pois é. Toda a maralha ficava fodiscada. Mas quem recordo, meus caros, é o Mendes, o homem da G3 e das imensas fitas que transportava, logo a seguir ao guia (bom, não me recordo se era a seguir imediatamente…) que, em dia de ausência de correio, bebia que se fartava e era um corrupio no que se chamava de caserna. Punha todos em polvorosa: fosse quem fosse, até o filho da puta do alferes… Não admira a razão: era casado, tinha uma filha…
Ao Mendes e a tantos “Mendes” eu quero endereçar neste dia de aniversário do nosso blogue, este humilde contributo.
Na verdade, as notícias que nos interessavam vinham em aerogramas carregados de emoção…
Obrigado, Mendes, pelo teu humano sofrimento de que me recordo vivamente, e que me ajudou a crescer e pensar muito.
Paulo Salgado
23 de Abril de 2010
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(*) Vd. poste de 19 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5500: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Novo Ano 2010 (11): Natal com calor (Paulo Salgado)
Vd. último poste da série de 22 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6213: O 6º aniversário do nosso blogue (13): A nossa blogoterapia, objecto de artigo da revista Visão, edição de hoje
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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