terça-feira, 20 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6196: Notas de leitura (96): Aquelas Longas Horas, de Manuel Barão da Cunha (Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2010:

Queridos amigos,
Peço encarecidamente aos tertulianos que me ajudem a concluir o levantamento dos escritos dos anos 60, referentes à Guiné: quem mais, além do Armor Pires Mota, Álvaro Guerra, Amândio César e Barão da Cunha, escreveu nessa década?
Conhecem mais alguém? Se conhecem, por favor, indiquem-me.
E quanto aos anos 70, quem mais para além do José Martins Garcia?
Sei muito bem que o pior está para vir, no dobrar do século.
Mas até lá, seria bom que se deixasse para a posteridade um inventário asseado.

Um abraço do
Mário


Nós precisamos que não nos tratem com indiferença

Beja Santos

Manuel Barão da Cunha publicou “Aquelas Longas Horas – Narrativas sobre a actual epopeia africana” em 1968, no serviço de publicações da Mocidade Portuguesa, com capa e ilustrações de Neves e Sousa. Que o autor não teve ilusões sobre a datação da obra e os condicionalismos da escrita temos a prova na adaptação que fez a este e outro livro (“A Flor e a Guerra”) recriando as atmosferas no seu livro mais recente “Tempo Africano”, de que já se fez recensão no blogue.

Trata-se de uma narrativa épica, uma exaltação da gesta que os portugueses estavam a viver no continente africano. Barão da Cunha escreve para recordar o heroísmo, a generosidade e até a dádiva da vida dos soldados anónimos. Escreve com orgulho, apela à compreensão e ao respeito, como a exigir que nada caia no esquecimento: os desembarques no tarrafo, em que o soldado cai, levanta-se, torna a cair para de novo se levantar, caminha para o objectivo e mesmo com o equipamento destroçado segue destemido no cumprimento do dever; aqueles que na emboscada reagem a peito descoberto; denunciando os comportamentos daqueles que na metrópole se pavoneiam, indiferentes àqueles que combatem destemidamente; exaltando os portugueses de todas as cores que combatem o terrorismo; tirando do anonimato o capelão que reza junto do moribundo e que se segue estoicamente em todas as colunas para levar a fé aos combatentes nos lugares mais ermos; engrandecendo os soldados africanos que à sombra de bandeira portuguesa invadem os santuários do Morés.

O livro de Manuel Barão da Cunha é produto de quem esteve em Angola de 1961 a 1963 e na Guiné de 1964 a 1966. É um livro de moralidade, feito para sobressaltar os indiferentes e comodistas, lá longe, ignorando a dureza da vida do combatente, praticamente ignorado pelos órgãos de comunicação social. É um livro de solidariedade com os soldados anónimos, condenados ao esquecimento, com destaque para os africanos, mais também o enfermeiro, o condutor, o ordenança, o guarda-costas. Manuel Barão da Cunha vai ocupar o lugar do oficial do quadro permanente que se junta aos milicianos (Armor Pires Mota e Álvaro Guerra) e aos jornalistas de intervenção (destaque para Amândio César) ainda na década de 60. São soldados armados de Mauser, são operações efectuadas com poucos meios de transmissões, são soldados carregados com burros, são soldados de consciência tranquila, dispostos a derramar o sangue pela Pátria. São soldados que deixaram obra, permitindo que a bandeira verde-rubra continue a flutuar ao vento. São soldados que no fim da comissão estão alegres por terem cumprido a sua missão. Estes soldados tinham nascido de novo para a vida, libertados do medo, ligados àquela terra de combates tão castigadores. “A obra ficava, o homem partia. A obra ficava para outros homens e o homem partia para outras obras”. Não foi exactamente isso que aconteceu, como se sabe, mas Barão da Cunha destacara a transformação de uma geração implicada nesse esforço de guerra. É esse dever de memória que estamos a reter. E a saudar.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6181: Notas de leitura (95): Até Hoje (Memória de Cão), de Álamo Oliveira (Beja Santos)

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