Foto 3 > Porto-cais de Bissau, visto cais do Pidjiguiti; ali nos esperava uma LDG para nos transportar até ao CIM (Centro de Instrução Militar) em Bolama, para a conclusão da última parte da instrução geral. [Foto do álbum do Luciano de Jesus, fur mil da CART 3494].
1. – INTRODUÇÃO
Passam hoje quarenta e nove anos – 1974.04.03/2023.04.03 – que a Companhia deArtilharia 3494, do Batalhão de Artilharia 3873, completou a sua missão militar em território da, então, Província Ultramarina da Guiné, regressando de Bissau a Lisboa, ao Aeroporto de Figo Maduro, em avião dos TAM.
O recordar esta efeméride, nos termos em que o estamos a fazer, aqui e agora, foi uma incrível coincidência, e resulta de um acto de grande generosidade do nosso camarada Luciano de Jesus, pois, ao tomar a iniciativa de me oferecer uma cópia do seu álbum de imagens que foi construindo ao longo dos mais de vinte e sete meses de permanência no CTIG, concedeu-me a premissa de escolher o tempo e o espaço de o partilhar para memória futura.
Considerando que a grande maioria das suas fotos ainda não foram editadas, e são algumas dezenas, ficou acordado entre nós que as mesmas seriam organizadas segundo uma cronologia de eventos e de factos observados nos diferentes contextos que constituem o portefólio operacional da sua missão como miliciano.
Uma vez que tenho, também, algumas fotos ainda não editadas, e porque os itinerários e contextos foram, a maioria, comuns, as “imagens são das nossas vidas”, título dado a esta série.
Esta PARTE I percorre o itinerário náutico desde Lisboa a Bissau e, depois, a estadia na Ilha de Bolama, no C.I.M (Centro de Inmstruçáo Militar=) para conclusão do processo de instrução global para a “guerra de guerrilha”, denominado de I.A.O. (Instrução de Aperfeiçoamento Operacionla).
Recordamos, neste âmbito, que a Companhia de Artilharia 3494 [CART 3494], a terceira Unidade de Quadrícula do Batalhão de Artilharia 3873 [BART 3873], do TCor António Tiago Martins [1919-1992], foi mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada [RAP 2], da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, tendo embarcado em Lisboa, no Cais da Rocha, a 22 de Dezembro de 1971, 4.ª feira, a bordo do N/M «NIASSA», rumo ao TO do Comando Territorial Independente da Guiné [CTIG], numa altura em que o conflito armado contabilizava nove anos (Foto 1).
Foto 1 > Rio Tejo > Cais da Rocha > Lisboa > 22 de Dezembro de 1971 > N/M«NIASSA». Mais um contingente de cerca de mil e quinhentos jovens milicianos rumo ao TO do CTIG. [Foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494].
A chegada do contingente metropolitano a Bissau, onde ficou fundeado em frente ao Cais do Pidjiguiti, ocorreu a 29 de Dezembro, 4.ª feira, tendo este sido transferido para uma LDG (Lancha de Desembarque Grande) que o transportou até Bolama, com o propósito de concluir, no C.I.M. (Centro de Instrução Militar), a instrução geral com a realização do I.A.O. (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional), a qual decorreu até 27 de Janeiro de 1972, 5.ª feira (foto 2).
Segundo consta na História do Unidade [BART 3873], “os resultados obtidos na instrução geral e I.A.O. foram animadores. O esforço do Comando e instrutores visou não apenas consciencializar o Soldado do tipo «sui generis» de luta a enfrentar, como também ministrar-lhe o adequado endurecimento físico e destreza operacional, de maneira a evitar surpresas fatais no teatro da guerra.
Ensinou-se, exemplificou-se e corrigiu-se: são as três palavras sintetizadoras daactividade preparatória” (op. cit. p 4).
Após a conclusão deste período final de instrução, o Contingente foi conduzido, de novo em LDG, até ao Xime, localidade onde aportou a 28 de Janeiro de 1972, 6.ª feira, tendo ali ficado instalada a CART 3494, e as restantes Companhias seguido, em coluna-auto, para os Aquartelamentos que lhes estavam destinados, isto é: Companhia de Comando e Serviços (CCS), em Bambadinca; CART 3492, no Xitole, e CART 3493, em Mansambo (op. cit. p 20).
Foto 2 > Bissau > 29 de Dezembro de 1971 > O N/M «NIASSA» fundeado em frente ao Cais do Pidjiguiti, seguido do desembarque do contingente metropolitano da foto 1. Foto do álbum do António Bonito, fur mil da CART 3494].
Foto 3A > Porto-cais de Bissau, visto cais do Pidjiguiti; ali nos esperava uma LDG para nos transportar até ao CIM (Centro de Instrução Militar) em Bolama, para a conclusão da última parte da instrução geral.
Foto 4 > Bolama > Jan 1972 > Da esquerda para a direita: os furriéis milicianos da CART 3494, Abílio Oliveira (Alimentação); José Peixoto (Artilharia); Luciano de Jesus (Art); Carvalhido da Ponte (Enfermeiro) e Luís Domingues (Transmissões).
Os intervalos da citada instrução permitiram, ainda, registar alguns momentos dedescontração, como comprovam as imagens abaixo, do álbum do camarada Luciano de Jesus ainda não editadas, e que fazem parte das nossas vidas na Guiné (1971-1974).
Foto 5 > Bolama > Jan 1972 > Da esquerda para a direita; o fur mil Sousa Pinto [1950-2012]; o alf mil op esp Manuel Carneiro; o fur mil art Luciano de Jesus e o fur mil enf Carvalhido da Ponte, todos da CART 3494.
Foto 7 > Bolama > Jan 1972 > Da esquerda para a direita: o fur art Luciano de Jesus; o fur mil enf Carvalhido da Ponte; o fur art José Peixoto e o alf mil op espe Manuel Carneiro, todos da CART 3494.
Foto 9 > 28Jan’1972 > Algures no Rio Geba a caminho do Xime. Os camaradas Luciano de Jesus e Luís Domingues a bordo de uma LDG….
Fotos (e legendas): © Luciano Jesus (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Continua…
Terminamos agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita Saúde.
Jorge Araújo e Luciano de Jesus
03ABR2023
3 comentários:
Lendo este poste do Jorge Araújo, lembrei-me que a a nossa CART2479, oficiais, sargentos e praças especializados não fez o chamado I.A.O. usual em Bolama, para melhor perceber o que iria encontrar quando colocados no interior da Guiné.
Assim que chegamos, partimos de LDM para o Xime e em coluna até Contuboel, sem armas e munições, apenas com segurança, em terra à saída do Xime pela mílícia e na coluna por ?? não me lembro, talvez o Abílio Duarte se lembre.
E sem IAO para nós próprios demos instrução a recrutas como estivéssemos na Carregueira, outra forma também não saberíamos explicar.
Depois, formada a CART11 com os soldados fulas da recruta é que foi o verdadeiro IAO ao vivo, com tiros e explosões, emboscadas, ataques a quartel, minas e a guerra verdadeiramente.
Não sei, se o Luís Graça também seguiu directamente de Bissau para Contuboel ou passou primeiro por IAO em Bolama.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
Não, meu caro Valdemar. Vocês, CART 2479,foram à nossa frente, três ou quatro meses antes. Deram instrução de recruta aos nossos fulas (de Baforadas e Cossé ), foram com eles a Bissau para jurarem bandeira e fidelidade à pátria portuguesa, voltaram ao CIM de Contuboel e deram-nos metade da rapaziada.
Depois foi a nossa vez de dar-lhes a instrução de especialidade. No subsetor de Contuboel fizemos "uma espécie de IAO" em farda no.3 e G3 com munições de de salva... Só os graduados tinham balas reais e camuflados...
Desembarcamos em Bissau a 29 ou 30 de Maio, a CCAÇ 2590 (uns 60 e tal "tugas") , meteram-nos numa LDG rio acima até ao Ximemomento 2 de junho... Chegamos à noite a Contuboel e dormimos em tendas...
Em 18 de julho de 1969 já estávamos em Bambadinca (Sector L1) e dias depois a levar porrada em Madina Xaquili... Para dois feridos graves, teus recrutas,acabou ali a guerra...
Boas e santas Páscoas. Ou bom e santo Ramadão. Que este ano em Candoz não se abre a porta ao compasso. Estamos de luto. Manda a tradição e o coração. É tramado o luto.
Isto de 'ainda me lembro de' não é fácil para mim, por ter sido completamente eliminado da minha memória momentos que não deveram ter sido esquecidos.
Afinal, a nossa CART 2479 chegou ao Xime em 07 de Março, depois de desde o dia 25 de Fevereiro andar por Bissau no bem bom de ostras na Ultramarina, cervejolas e whiskys na Solmar. No período de 25 de Fevereiro a 06 de Março os soldados da nossa CART2479 estiveram instalados numas tendas de campanha nos Adidos e tiveram os primeiros encontros com lacraus.
Do contacto arrepiante com a tropa no cais do Xime, depois com a coluna em andamento pela estrada de terra vermelha, com marcas de "embrulhanços" e a segurança pela milícia ainda me lembro bem, a partir daí o limpei o "disco rígido" e nem me lembro de ter pernoitado em Bambadinca antes de seguir para Bafatá e depois Contuboel.
Pois, Luís, vocês chegaram a 2 de Junho e ficaram instalados nas "saunas do resort", e da vossa CCAÇ2590 só me lembro de um furriel que fazia hipnotismo.
Valdemar Queiroz
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