1. Há muito que o cor art 'comando' ref Octávio Emanuel Barbosa Henriques nos deixou. Nasceu na ilha do Fogo, Cabo Verde, em 1938) e morreu em Lisboa em 2007, aos 69 anos.
O Virgínio Briote conheceu-o na Academia Militar. Eu e o "alfero Cabral" acabámos por o conhecer na Guiné e conviver com ele (o Cabral muito mais do que eu) durante a fase de instrução e formação da 1ª CCmds Africanos (de dezembro de 1969 a junho de 1970) em Fá Mandinga, a escassos quilómetros de Bambadinca.
O portal UTW - Ultramar Terra Web - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar publicou, na altura da sua morte, o seu CV militar detalhado:
O portal UTW - Ultramar Terra Web - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar publicou, na altura da sua morte, o seu CV militar detalhado:
(i) depois de ter frequentadio o curso de comandos no CIOE de Lamego (abr/mai 1968), foi mobilizdao para o CTIG;
(ii) foi um dos quatro capitães que passaram pela CCAÇ 2316 (1968/69) como comandantes; esteve em Guileje (de setembro de 1968 a julho de 1969);
(ii) foi um dos quatro capitães que passaram pela CCAÇ 2316 (1968/69) como comandantes; esteve em Guileje (de setembro de 1968 a julho de 1969);
(iii) em agosto de 1969 regressou à metrópole, ao CIOE, para ser de novo mobilizado para a Guiné, em dezembro de 1969: será sentão o instrutor da 1ª CCmds Africanos;
(iv) em agosto de 1970, assume o comando da 27ª CCmds até final de 1971.
2. Foi nesse breve lapso de tempo (1º semestre de 1970) que eu conhecio o cap art 'comando' Barbosa Henriques. Dele deixei um esboço de retrato-robô (*)
(...) É a ele, muito provavelmente, que se refere o Carlos França, ao evocar a figura do capitão pretoriano, arrancado às páginas de clássicos romances de guerra como os de Jean Lartéguy.
E, no entanto, por detrás daquela máscara impassível de duro e daquele comportamento quase robotizado que me causava simultaneamente atracção e repulsa, havia um homem de carne e osso, tímido e sentimental, tão só como nós, capaz de deixar trair as suas emoções, e de falar de outras coisas bem mais comezinhas e menos metafísicas do que a arte da guerra. Ou não fora ele de origem cabo-verdiana (...)
Chegámos a conversar, em grupo, com alguma descontracção e civilidade, entre dois copos de uísque e o 'All you need is love' dos Beatles, como música de fundo, no bar do quartel de Fá Mandinga, enquanto lá fora os seus rapazes, sedentos de aventura e de emoções fortes, preparavam um 'festival de fogo de artifício' como recepção ao periquito do alferes miliciano médico que acabava de chegar à companhia (... diga-se de passagem que nunca convivi com o médico dos comandos, nem me lembro do seu nome). (...)
3. Com muito mais humor, vivacidade e propriedade do que eu, o Jorge Cabral (ex-alf mil art, comandante do Pel Caç Nat 63) já aqui embrou a sua figura: foi de resto seu amigo e cúmplice das noites de Lisboa, no regresso da Guiné, nomeadamente em 1972.
O texto, que se reproduz a seguir, sem ter sido escrito propositadamente para a série "Estórias cabralianas", bem pode figurar como a nº 95 (**). É também uma homenagem do nosso blogue a ambos, dois homens que, apesar de tudo aquilo que os podia separar, conseguiram construir uma base sólida para uma amizade e uma camaradagem que perdurou para além das contingèncias das suas vidas, pessoais, profissionais e militares.
O meu amigo Barbosa Henriques (1938-2007)
por Jorge Cabral (1944-2021)
Confesso que, quando em janeiro de 1970 me informaram que os Comandos Africanos vinham completar a instrução em Fá [destacamento à guarda do Pel Caç Nat 63], não fiquei nada satisfeito.
Ali me encontrava desde julho de 1969, com os meus soldados e famílias, vivendo uma pacífica rotina, só de quando em quando interrompida, com a chamada para alguma operação para os lados de Xime ou de Mansambo.
Em fevereiro, e após a Engenharia ter preparado as instalações, chegaram os Comandos Africanos, e conheci o capitão Barbosa Henriques. Talvez porque os contrários se atraem, logo entre nós se estabeleceu uma relação cordial que veio dar lugar a uma verdadeira amizade.
Comandante do Destacamento, dependendo apenas de Bambadinca [BCAÇ 2842, 1968/70], não alterei em nada a minha forma de estar, continuando a andar semi-vestido, e a passar longo tempo na Tabanca, mas não hesitei em oferecer toda a colaboração, tendo até ajudado na instrução e servido de cripto.
Como Comando-Instrutor, o capitão Barbosa Henriques era duro, severo, espartano, quase um centurião. Teve porém sensibilidade para me compreender, apreciando e mesmo alinhando, nalgumas loucuras, daquele estranho alferes. Sei que, estando em Bolama, ainda falava do Cabral, e da declaração de Amor à D. Rosa, que eu diante dele recitei no Café das Libanesas, em Bafatá (1).
Nos anos de 72 e 73, em Lisboa, convivemos, frequentando o Parque Mayer, suas Revistas e Coristas. Calculem que até me quis convencer a meter o chico, para ser seu adjunto no Forte das Raposeiras, pois ambos pertencíamos à Arma de Artilharia.
Em fevereiro, e após a Engenharia ter preparado as instalações, chegaram os Comandos Africanos, e conheci o capitão Barbosa Henriques. Talvez porque os contrários se atraem, logo entre nós se estabeleceu uma relação cordial que veio dar lugar a uma verdadeira amizade.
Comandante do Destacamento, dependendo apenas de Bambadinca [BCAÇ 2842, 1968/70], não alterei em nada a minha forma de estar, continuando a andar semi-vestido, e a passar longo tempo na Tabanca, mas não hesitei em oferecer toda a colaboração, tendo até ajudado na instrução e servido de cripto.
Como Comando-Instrutor, o capitão Barbosa Henriques era duro, severo, espartano, quase um centurião. Teve porém sensibilidade para me compreender, apreciando e mesmo alinhando, nalgumas loucuras, daquele estranho alferes. Sei que, estando em Bolama, ainda falava do Cabral, e da declaração de Amor à D. Rosa, que eu diante dele recitei no Café das Libanesas, em Bafatá (1).
Nos anos de 72 e 73, em Lisboa, convivemos, frequentando o Parque Mayer, suas Revistas e Coristas. Calculem que até me quis convencer a meter o chico, para ser seu adjunto no Forte das Raposeiras, pois ambos pertencíamos à Arma de Artilharia.
Creio que a última vez que o vi, foi em meados dos anos 80, quando almoçámos no Quartel onde estava colocado. Tinha boa memória, e recordou aquela vez que me havia pedido para
fazer tiro de metralhadora a roçar a cabeça dos instruendos, e eu disparei tão alto que matei oito vacas na Tabanca de Biana.
− Bons tempos, Cabral, consigo ia ficando maluco! − disse-me então.
− E eu ia ficando comando! − retorqui ao meu único amigo capitão.
Fora de Lisboa, não pude comparecer no funeral, mas a sua morte entristeceu-me, e é com saudade que lembro o capitão Barbosa Henriques, meu Amigo.
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 19 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1536: In Memoriam... Barbosa Henriques (1938-2007), o ex-instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos (Luís Graça / Jorge Cabral)
(**) Último poste da série > 16 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16958: Estórias cabralianas (94): 1º Cabo Monteiro, pedicure: "Ó meu alferes, olhe-me só essas unhas dos pés, essas enxadas! Venha cá!"... (Jorge Cabral)
(...) Entre os meus militares metropolitanos, há o homem mais habilidoso que conheci, o Monteiro. Foi ele que construiu o forno e desmontou e montou o gerador. Ora uma vez, ainda em Fá, olhando as minhas unhas dos pés, chamou-me:
– Oh, Meu Alferes, olhe-me essas enxadas! Venha cá! (...)
– Oh, Meu Alferes, olhe-me essas enxadas! Venha cá! (...)
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