terça-feira, 4 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24194: (Ex)citações (424): Adeus, até ao meu regresso !... Mas em que ainda se fala de esquizofrenias galopantes, de Diniz de Almeida e do velho... do Restelo da Revolução (José Belo, Suécia)

1. Mensagem de Joseph Belo:

Data - quinta, 23/03/2023, 18:23 

Caro Luís

Sempre na busca de reviver diálogos com alguns Camaradas que aparentemente (e infelizmente) tem vindo a diminuir as suas interessantes participações activas (!), enviei, em 22/02/2023, um despretensioso texto intitulado “O caminho marítimo para um certo socialismo“.

Quanto a mim, a conclusão final do velhote protagonista engloba de forma genial, na sua simplicidade realista, o interessante tipo de dialética (não existente no período) entre alguns dos actuantes na “Revolução” e grandes massas de pseudo receptores.

A minha comparticipação nestes diálogos sempre procurados será improvável por regressar dentro de dias para os States onde me espera um período muito activo a nível pessoal e empresarial.

Abraço do JBelo

2. Resposta do editor LG:

 Data - sexta, 24/03/12023, 10:55

José, não está esquecido. Mas primeiro tenho que enterrar uma pessoa que me é muito querida, a irmã da Alice e minha "mana"... Acaba de morrer... Sabes como é, quando morre alguém que muito amamos, morremos também um pouco. Ab, Luis

3. Mensagem de Joseph Belo:

Data - 24/03/2023/2023, 11:56 

Meu Caro Luís: Sinceros Sentimentos. Eu infelizmente sei bem demais o que são tais situações e o que elas nos trazem quanto a sentimentos. Um grande abraco, JBelo.

4. Resposta de Luís Graça:

Data - 24/03/2023, 12:10 

Obrigado, Zé. Foram 4 anos de sofrimento. Mas a minha mulher acompanhou-a nestes últimos dias, o que ajuda a fazer o luto. Eram "almas gémeas". E eu já lhe escrevi a oração fúnebre. Abraço fraterno. Luís

5. Texto emviado pelo Zé Belo:


Data - Sexta, 17/03/2023, 20:08

Assunto - Um texto já... fora de tempo.

 Caro Luís

O pequeno texto que te enviei no qual, muito de passagem, referia Diniz de Almeida, tinha por intenção estabelecer um diálogo à volta deste importante membro do MFA em data próxima do 11 de Março de 1975.

Apodado de tudo e mais alguma coisa pela direita então frustrada e, não menos, por pseudo políticos militares de então que, desde os seus confortáveis gabinetes em Belém, com alcatifas, interessantes mui simpáticas secretárias, e bonitas “vistas” das suas janelas sobre o Tejo, trabalhavam para o seu futuro pessoal.

Ele e um punhado de outros ingénuos que julgavam defender o espírito de Abril junto dos Soldados nos respectivos Quartéis. A contribuição de Diniz de Almeida para o êxito militar da movimentação de tropas em Abril merece leitura atenta antes de se cair nas críticas fáceis do tipo…. ”Fitipaldi das Chaimites“!

E alguns dos militares-politicos que, após o ataque ao RALIS  em 11 de Março,   “flutuaram“ até Novembro de 75, e não menos no período imediato posterior, não teriam continuado nos seus resguardados “postos” se Diniz de Almeida não tivesse “aguentado” o RALIS naquela data.

Para os que se consolam com a “inventora” possível à volta destes acontecimentos, recordo-lhes que além do cerco das tropas pára-quedistas, o RALIS  foi metralhado desde o ar com resultado em mortos e feridos.

Não me contaram a “história “.

Eu e alguns Aspirantes a Oficial, do Esquadrão que então comandava, quando aguardávamos
embarque para Angola, no Regimento de Cavalaria 5, em Santa Margarida, estivemos de armas na mão nos muros do RALIS nas horas imediatas ao ataque.

E, para muitos dos “revolucionários” que tanto gostam de se abrigar à sombra do politicamente correcto, se Diniz de Almeida não tivesse “agarrado” o RALIS naquela data (e a escolha daquele Regimento não foi por acaso) não teria sido necessário a perda de tempo até…Novembro de 1975.

As opiniões hoje, e de ambos os lados das barricadas, são risíveis por… ultrapassadas!

Um abraço, JBelo



Da Lapónia à Florida... Fotos de JBelo (2023)


6. Mensagem de Joseph Belo:

Data - quarta, 1/03/2023, 18:49
Assunto - Esquizofrenias galopantes

As últimas semanas têm sido bem agitadas nas suas voltas e reviravoltas.
Demasiado agitadas para as nossas idades bíblicas.

Vou "descomputamizar-me" por uns tempos, o que desde há muito compreendi ser... terapêutico!

Termino os meus inocentes diálogos com o umbigo com o texto "O caminho marítimo para um certo socialismo" que te enviei.

Não sabendo se será editorialmente publicável é no entanto uma daquelas histórias que definem um certo tipo de sociedade vista desde pequenas "alturas".

Com o saudoso (???)... Adeus até ao meu regresso...

Um grande abraco,
E... as tais esquizofrenias... JBelo

7. Resposta do editor Luís Graça

Data - 04/03/2023, 23:17

José, vou publicar... mas promete-me que não "desertas"... LG


O caminho marítimo 
para um certo socialismo | Joseph Belo

(Enviado em 22/02/2023, 14:07)

Caro Luís

A caminho de novo período (mais um) da minha já longa vida, veio-me à memória importante e inesperada conversa tida com um “velhote” em inícios de 1975.

Em companhia do então major Diniz de Almeida, a quem me ligava forte amizade pessoal bem anterior a Abrir de 74, decidimos aproveitar a hora do almoço regimental para irmos comer uns famosos “coiratos” em restaurante humilde e discreto nos arredores de Sacavem.

Os “grelhados“ eram cozinhados num terraço onde estavam colocadas algumas mesas artesanais e cadeiras.

Um velho, sentado em banco próximo ia aproveitando o sol. Ao ver-nos fardados com os camuflados abanou pensativamente com a cabeça. Como estava só e sem nada na mesa à frente dele, convidei-o para beber um “copo” connosco.

Mudou-se para junto de nós. Falou-se de tudo um pouco como era normal naquele período. Depois de o tal “copo” se ter tornado o terceiro, olhou-me frontalmente e disse quase num lamento:

−  Os senhores Oficiais nada sabem quanto às realidades em que andam metidos. Eu, quando criança passei muita fome. Quando adolescente,  passei muita fome. Como adulto,  passei muita fome. Agora, já bem velho... habituei-me!

Tudo dito de forma sincera, directa, com poucas palavras.

A vida deu muitas voltas mas esta conversa tem estado sempre presente no meu espírito. Como alguém escreveu: “São histórias que ficam na história da gente“.

Um abraço do JBelo
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 2 de abril de  2023 > Guiné 61/74 – P24187: (Ex)citações (423): Camaradas que se separaram na Guiné (José Saúde)

13 comentários:

antónio graça de abreu disse...

Criança, adolescente, adulto, velho, sempre a fome.Os coiratos. Nesses tempo duros, a ponte dourada no caminho para o socialismo quase nos salvava da fome. Mas o tenebroso capitalismo venceu e os coiratos voltaram, com o seu gordurento perfume que empesta terra, mar e céu.

Abraço,

António Graça de Abreu

Manuel Luís Lomba disse...

Zé Belo: do frio para o bb (bem bom). Parabéns. Aproveita! Somos pó que levantamos e somos pó que baixamos - p. padre António Vieira (penso eu de que...).

Não nutria qualquer consideração nem pela prestação militar nem pelo "socialismo" do então capitão Dinis de Almeida: mereceu-ma pela valentia evidenciada em directo, no 11 de Março.

No relativo aos pseudo-militares há um no 11 de Março que conheci como paradigma do verdadeiro
militar: o então tenente-coronel Ricardo Durão: foi 2.º comandante do meu batalhão, na Guiné.

A história é feita por factos. E já que referes tempos idos, que partilhamos, ainda não me encaixa bem o facto do Marcelo Caetano conhecer o MFA e o seu propósito, iniciado conversações secretas com o PAIGC, em Londres, em 26 e 27 de Março de 1974, com nova ronda para 5 de Maio seguinte, e a eclosão do 25A74.

Terá sido pela ausência sobre a mesa da Angola e Moçambique?.

Terá funcionado a "célula soviética"?

Abr.

Valdemar Silva disse...

Luís Lomba esta é que é das boas e com um grande avalista na ideia do 'estava tudo combinado'.
Os senhores generais, ministros e a direcção-geral de segurança estão safos daquela de terem levado um grande baile, afinal sabiam de tudo o que se estava a passar.
Até Marcelo Caetano estava conhecedor dos propósitos do MFA e em conversações com o PAIGC.

Eles nem traziam balas nos carregadores, por isso é que não houve mortos e feridos.

... mas a 'célula soviética' funcionou e estragou tudo.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

TEMPOS ...
Morava na AV.da República em frente à feira popular,quando vejo um T6 com rockets nas asas.
Passava-se qualquer coisa no RALIS..as diferentes rádios transmitiam notícias contraditórias..por curiosidade dirigi-me ao RALIS tentando apanhar um táxi sem conseguir e por isso fiz todo o trajecto a pé.
Quando cheguei, qual não é o meu espanto, vi um autentico caos, os PÁRAS ainda cercavam o RALIS,alguns auto-obuses 8,8 estavam no exterior do quartel, e um deles estava sobre o viaduto da auto-estrada com o tubo virado para a mesma e com bastantes civis em cima.
Nisto surge um alferes do ralis, meu conhecido que me intima para tomar conta daquilo !!!!
Subo para cima do obus, tento e consegui que toda a gente descesse,e ao inspecionar o dito verifico que estava carregado e pronto a disparar.
Foi a minha contribuição no 11 de março.
Posteriormente convivi com militares de ambos os lados, alguns meus conhecidos da GUINÉ.

"saudações revolucionárias e sempre, sempre ao lado do povo" se bem me recordo.

AB
C.Martins

JB disse...

Os coiratos da tasca de Sacavem.
Os coiratos soviéticos.
Os coiratos maoistas.

Teräo em comum o "gordurento perfume" täo do desagrado do sensível Camarada e Amigo comentador.

Sempre preferi os de Sacavem!
Cada vez menos sei se seriam os melhores.
Fui surpreendido ao encontrar coiratos grelhados em alguns Estados do "deep south"americano.

Mas estamos em Abril!
Com o passar das décadas o mês dos poetas ingénuos.

*Lisboa é a única cidade europeia onde nas neblinas de inverno se podem (ainda!) ver magestosas naus no estuário do Tejo*

Um abraco do J.Belo

Antº Rosinha disse...

Onde estavas tu no 11 de Março?

Eu estava no Brasil, para onde cavei logo em 74 depois de ver Lisboa e Luanda naquela azafama imensa, e quando aparece no Rio de Janeiro o general Spínola num desalinho e sem monóculo, rodeado de jornalistas sem saber explicar em condições o que se passava.

Era uma imagem bastante triste e muito terceiro mundista.

Mais tarde lá se compôs a imagem com a visita de Eanes com o nó da gravata em condições.

Aí repensei que as coisas se arrumassem um dia.

Manuel Luís Lomba disse...

Valdemar:
O governo de Marcelo Caetano era a continuidade do mau caminho - mas não era totó. Atente-se nos indicadores do seu crescimento económico, na preparação dos grandes investimentos estruturais do país: Sines, aeroporto de Lisboa, Alqueva, auto-estradas, etc.

Que o governo conhecia o MFA e os seus propósitos é a opinião de muito boa (e má gente), inclusive a deste comentador.

No livro Os Rapazes dos Tanques, de Alfredo Cunha e Adelino Gomes, alguns dos nossos camaradas decisivos do êxito do 25A manifestam a mesma opinião.

Será que a incompetência, venalidade e a corrupção dos nossos governantes (veja-se a TAP...) estão a conduzir a democracia portuguesa à falência?

Votos da melhor saúde. não desistas de malhar: é uma das tuas provas de vida.

Valdemar Silva disse...

Luís Lomba
A chamada "Primavera Marcelista" já toda a gente conhece, que não foi nada parecida com céu azul e passarinhos a chilrear, e as batalhas de flores foram outras: continuação de mortos e feridos na guerra colonial/províncias ultramarinas.
O alargamento do aeroporto para Rio Frio, a refiaria de Sines e o petróleo de Angola, o Convénio da utilização dos rios Peninsulares e os mais 400 km de auto-estradas, já eu antes e depois da tropa, cumprir o serviço militar obrigatório, conhecia dos jornais e das conversas de café. Mas nada foi realizado, tudo se fez a partir de 25 de Abril de 1974.

Luís Lomba, afinal toda a gente conhecia/sabia do que aconteceu em 24-25 de Abril de 1974, e essas novidades do "conhecimento" varia ao longo dos anos conforme seja interessante.
Eu provavelmente não, mas tu ainda andarás por cá mais uns anos para assistir ao haver um movimento, sem sequer contraditório, com direito para anular os acontecimentos do MFA e repor tudo de 25A para 24Z. Isto tudo por causa da mais que conhecida influência da célula soviética comprovada pela senha "Grândola Vila Morena". (aproveitando, agora, que a Rússia volta a estar na moda)

Saúde e boa Páscoa
Valdemar Queiroz

JB disse...

Amigos e Camaradas

Todos sabemos (desde há muito) o que o Camarada A,B,C,D,pensa e defende.
Torna-se repetitivo,como na liturgia católica se repete a oração do “Credo”.
Será verdade que ,como portugueses d’antanho,somos tradicionalistas nos lugares que sempre ocupamos nas barricadas destes comentários.
Um sentimento de segurança na continuidade.
Um pouco como ( a ser-me permitido o sacrílegio)nos discursos repetitivos tanto do governo da ditadura como de alguns marxistas-leninistas de gabarito.

Facilmente esquecemos que ,nas tão sérias e quase sagradas touradas,cada grupo de heróicos forcados tem sempre um rabejador de serviço.
Ajuda a “aliviar” o drama.

Na minha profunda dissertação sobre os COIRATOS e as dialécticas inerentes senti-me chamado a humildades por um dos mais importantes pensadores da língua portuguesa-Padre António Vieira-citado por um dos comentadores.
Tendo eu um pensamento sempre eivado das mais variegadas patologias,acabei por englobar as gorduras dos coiratos com o “Pó” que em verdade todos somos,tanto em vida como na morte.

E,desde a minha continua escuridão interna,surge a história do paciente que pergunta ao seu médico:
-Sr.Dr….eu não fumo,não bebo,não como absolutamente nada com gorduras….acha que vou ter uma longa vida?
Responde o experiente médico:
-Que viverá mais anos não lhe posso garantir.
O que lhe garanto é que quando morrer….morre saudável!

(….os tais rabejadores…)

E,mais um abraço do JBelo

Tabanca Grande Luís Graça disse...

18 DEZEMBRO 2003
Portugal sacro-profano - XII: Cem anos de solidão

Pergunta um velhote alentejano ao seu médico de família, no primeiro exame de saúde que este lhe fez:

- Sô doutor, acha que eu ainda terei a sorte de viver até aos cem anos ?

- Bom, depende das asneiras que o meu amigo tem feito... Ora, diga-me lá: você fuma ?

- Ná, nunca me puxou prá aí.

- E beber, bebe o seu copo ?!...

- Ná, na gosto de álcool.

- E o comer ?

- Só o que a terra dá, pão, azeite, alho e coentros... Carne, pouca!

- O senhor é casado ? Tem filhos ?

- Ná, nunca tive.

- Então... e não tem mais nenhum vício ? Quero eu dizer: jogo, mulheres... ?

- Ná, sô doutor. Nada disso! Fui pastor, ‘tou reformado, vivo sozinho no monte...



O médico ficou uns largos segundos pensativo, e depois perguntou, em tom de brincadeira:

- Diga-me cá uma coisa: o senhor quer viver até aos cem anos... para quê??

O alentejano, quase ofendido, muito sério, deu uma resposta que fez corar o jovem clínico geral, acabado de chegar há pouco tempo ao centro de saúde:

- Atão porque a vida é a única coisa que pertence a um home e que um home pode tirar a ele próprio...

https://blogueforanada.blogspot.com/2003/12/portugal-sacro-profano-xii-cem-anos-de_18.html

antonio graça de abreu disse...

Ainda bem que eu não sou como este alentejano, do alho e coentros. E quanto a coiratos de Sacavém, também estamos entendidos... Sou um rapaz do Porto, amante dos excelentes prazeres de viver.

Aí vai o comprovativo, aos 76 anos, em poema ainda inédito:

Hoje vens dormir comigo

Hoje vens dormir comigo,
os teus olhos e todo o mundo.
Os bicos dos teus seios, duas framboesas,
para eu adoçar a polpa dos meus lábios.
entre as tuas pernas, penas de melro,
para eu esvoaçar no teu regaço.
Sou um simples ourives
engastando ternura
na filigrana do teu corpo.
Depois, um passo de dança,
a vida recomeça.

António Graça de Abreu

JB disse...

Grato ao Poeta.

Com a habitual sensibilidade erótica que (o) possui vem demonstrar que não é só o sensual perfume (por gordurento?) dos humildes coiratos da tasca de Sacavem que nos eleva a outras dimensões espirituais…….mesmo se acompanhados por copo do encorpado vinho tinto do Redondo!

(Repare-se que estamos em bom caminho.
Em total auto-censura nem me atreveria a escrever…..COOPERATIVA do Redondo!)

E ,apesar de ser um “menino” criado nos “Estoris” dos anos sessenta admito gostar de coentros,alho e azeitona.
Descriminações “gastronómicas”?
Para as não caracterizar como (ridículas) político-regionais,por descabidas na dimensão nacional e suas” homogeneidades” rácicas.

A cada um o seu “coirato” ou ….tripas à moda do Porto!

Mais um abraço do JBelo

antonio graça de abreu disse...

Obrigado, Zé Belo. Um dia destes vou falar-te de KeY West e de Ernest Hemingway, Andei por lá em 2016, Vai em texto das minhas loucas viagens pelo mundo. Prometo.

Abraço,.

António Graça de Abreu