sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26244: Os nossos seres, saberes e lazeres (657): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (182): From Southeast to the North of England; and back to London (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2024:

Queridos amigos,
Confesso que a minha vida profissional continua a marcar o olhar que deito pelos ambientes que me são menos familiares, ou que revisito: como conversam as pessoas na via pública, quando se encontram, o preço dos alimentos e das bebidas, os dados sobre a vida cultural, o número de crianças, o número de velhos, as creches e as ocupações dos seniores, bisbilhoto a biblioteca pública, faço perguntas sobre os serviços públicos, vejo que os britânicos não estão muito melhor do que nós, os caminhos de ferro desmantelados, manda-se correio em lojas que podem ser papelarias, as transações bancárias decorrem online, não vi uma caixa ATM a não ser no hipermercado do Tesco. Como cá, os edifícios reparam-se, o alcatrão degrada-se, as listas de espera na saúde são impressionantes. E de Faringdon vou matar saudades para o Peak District e depois rever a minha adorada Leeds.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (182):
From Southeast to the North of England; and back to London – 2


Mário Beja Santos


É a despedida de Faringdon, ver o que já foi visto, benefício de um mês de junho com temperaturas amenas, a humidade não é sufocante, há flores por toda a parte, Faringdon cresce, acolhe gente que trabalha na cidade de Oxford, aqui a habitação é mais em conta. Se bem que a vida cultural não seja intensa, Oxford monopoliza o cinema, o teatro, a música, os principais entretenimentos, andei a bisbilhotar o que faz a autarquia, cheguei mesmo a estar à porta de uma aula de ginástica para rapazes e raparigas de 80 e 90 anos num espaço de convívio dentro da antiga Bolsa dos Cereais, ali perto funcionam creches, as reuniões para seniores são frequentes. A rede de transportes públicos liga Faringdon a Oxford e a Swindon, e há mesmo algumas carreiras para locais próximos, como Lechlade.
Morreram o correio e a delegações bancárias, não vi uma caixa para levantar dinheiro, a não ser dentro de um grande supermercado.
E continua a surpreender-me o número de crianças, 2-3 filhos por casal, há muita imigração, como em Portugal vão tomando conta dos serviços públicos, desde os lares de terceira idade ao matadouro. Despeço-me com vontade de voltar em breve, de manhã cedo vamos partir para a região do Peak Districk, dela tenho muitas lembranças, e do que vi e revi vos vou contar.

Por aqui se entra para a Igreja de Todos os Santos, a construção principal data dos séculos XII e XIII, gosto imenso do diálogo entre a pedra, a porta e o seu ornamento. Tudo correu bem à igreja até aos tempos da guerra civil, os adeptos de Carlos I resistiram aqui em Faringdon, vieram as tropas de Cromwell, uma canhonada deu cabo da agulha da torre, nunca se fez qualquer restauro
Caixa de correio com monograma de Eduardo VII, é um milagre como escapou a antigas atualizações, o que é mais frequente encontrar são caixa de correio com Elizabeth Regina
Inglaterra é um país de rosas, com muitas hibridações, exposições, destaques nos jardins, nos canteiros das casas, em inesperados espaços públicos. Talvez na hora da manhã e de uma inusitada luminosidade, o que me atraiu é esta mistura de branco e amarelo em belíssimo botão
Fachada principal do Great Coxwell Tithe Barn, data do reinado de João Sem Terra
Interior longitudinal do celeiro principal
Pormenor da construção mais antiga do celeiro
Se dúvidas subsistem de que esta obra é genuinamente medieval, atenda-se a esta porta lateral e ao lajedo e ao tipo de janela
À saída do Great Coxwell Barn vim sentar-me num banco em frente de uma velha casa, com outra ao fundo. Há nestes ambientes rurais um sentimento de eflúvio romântico, uma clara nostalgia do passado, uma paisagem que atraiu notáveis pintores e ocorreu-me pensar num pintor romântico do meu culto, John Constable.
Passeio à Folly, talvez a obra mais excêntrica do excêntrico Lord Berners, feita exclusivamente para dar trabalho a desempregados, construção de 1935, não tive ensejo de subir à torre, as visitas estão sujeitas a marcação prévia no centro de informação
Para que o visitante não esqueça que isto é obra de Lord Berners, 14.º barão, e de nome Gerald Hugh Tyrwhitt-Wilson
É tempo dos Hollyhock (em português, Malva-rosa), crescem por toda a parte, os jardineiros misturam esta flor com outras mais odorosas, mas o que me fascina são os cromatismos que elas produzem
A rua principal de Faringdon dá pelo nome de London Street, e efetivamente ligava Faringdon a Londres. Dentro das crepitantes alterações comerciais, restam sinais do passado, o que vemos aqui são mosaicos arte nova, terá sido uma alfaiataria para gente com posses, hoje é um estabelecimento de tatuagem, pedi licença para fotografar esta entrada de loja que terá mais de um século
Nos baixos do velho edifício da Câmara Municipal faz-se preito a quem caiu pela pátria, é assim em qualquer localidade do Reino Unido onde se perderam vidas em duas guerras mundiais
No caminho entre Faringdon e Witney pedi para parar em Clanfield, senti-me atraído por esta igreja que tem como patrono Sto. Estevão, o seu interior não me impressionou muito, mas parei junto de uma lápide, aí sim, um baque de comoção, o jovem tinha 18 anos, pertencia à infantaria ligeira, deu a vida pela pátria, em 1917, chamava-se J. Monk, morreu talvez em França ou na Flandres, ali me detive, há sempre uma lembrança para os meus mortos em combate.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26217: Os nossos seres, saberes e lazeres (656): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (181): From Southeast to the North of England; and back to London (1) (Mário Beja Santos)

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