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sábado, 18 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27323: O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (2): qual era a ração diária em campanha ? Um copo à refeição, 2,5 dl por dia ? Se sim, uma companhia no mato (=160 homens) tinha um consumo médio mensal de 240 garrafões de 5 l...




Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a carregar (do barco para as viaturas)  garrafões de 5 litros de vinho, alguns dos quais têm o rótulo, perfeitamente reconhecível,  da Adega Cooperativa do Cartaxo.  Outra marca seria "Paladar" (será que ainda existe ?). Mas havia mais, de acordo os  rótulos, não legíveis.

Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados


1. Qual era a dose ou ração  diária de vinho de um soldado português em África durante a guerra colonial ? Um copo à refeição, 1 ou 2 decilitros ? E como era fornecido o vinho, pela Manutenção Militar, na Guiné-Bissau ? Em garrafões de 5 litros, 10 litros ou mais ? Ou em barris de 50 litros ? Ou em bidões (metálicos) de 210 ? Sabemos que havia problemas logísticos...


Esta pergunta foi  formulada há tempos (em 2018...) aos nossos camaradas do Batalhão de Intendência(BINT), o Fernando Franco (1951-2020) (falecido na pandemia, no IPO)  o João Lourenço,  o António Baia (ex-1º cabo aux, outero histórico do nosso blogue, juntamente com o Franco) (*)




João Lourenço, ex-alf mil
SAM,. cmdt  PINT
9288 (Cufar5, 1973/74);
mora na Figueira da Foz.
Aliás, náo era uma pergunta, eram quatro: adicionalmente interessava-nos saber se: (i)  o vinho levava aditivos (cânfora, por exemplo); (ii) era batizado, com "água do Geba"; (iii)   havia alguma marca de vinhos conhecida,  como por exemplo, o "Cartaxo", distribuído em garrafões de 5 litros...

A questão da ração diária de um soldado na Guiné era importante para termos uma noção do consumo diário, mensal e anual de vinho:  Dois coipos / dois decilitros e meio por dia dava, a multiplicar por 160 homens=1 companhia, 40 litros por companhia, ou sejam, 8 garrafões de vinho de 5 litros... 

Ao fim do mês eram 240 garrafões, o que obrigava a uma logística complicada, em termos de transporte, armazenamento, gestão, etc...

 Ao fim do ano, uma companhia no mato consumia c. de 14600 litros (=146 hectolitros). Só em vasilhame era um quebra-cabeças. (Partimos do princípio que cada compmhia no mato era abastecida regularmente...).

2. Só nos respondeu, em parte, o João Lourenço,  ex-alf mil SAM, cmdt do PINT 9288, Cufar (1973/74) (*):

 (...) "A cânfora é, quanto a mim, um mito.  E fui responsável pelo tacho, fui comandante de um PINT.

O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras....

Havia algum controle para evitar grandes 'bubas'. Em especial em Bissau. No mato... dependia. (...) 

Fernando Franco,
(1951-2020)
ex-1º cabo caixeiro,
PINT 9288 (Cufar, 1973/74),
um histórico da Tabanca Grande;
morava na Amadora

3. Recorde-se aqui o essencial da ficha de unidade do BINT (Batalháo de Intendència):

(i) o BlNT foi criado com base em Qaudro Orgânico aprovado por despacho ministerial de 21Nov63;

(ii) englobava uma Companhia de Intendência, uma Companhia de Depósito e os destacamentos de Intendência (4, em  Bissau, Tite, Bula e Bafatá, este depois instalado em Bambadinca, a partir de 2Jun66, e, mais tarde, outro pelotão instalado em Farim, a partir de 1Jan67);

(iii) era considerado  uma unidade da guarnição normal;

(iv) em 1Abr68, as funções da Companhia de Depósito passaram a ser executadas por um novo órgão, então criado, o Depósito Base de Intendência e a partir de 1Set68, o batalhão passou a ser constituído pelas subunidades designadas por Companhia de Intendência de A/D [Apoio Direto], C  , Companhia de Intendência de A/G  [Apoio Geral], e Pelotões de Intendência [PINT], , tendo ainda sido instalado outro pelotão em Cufar, a partir de 01Ago73, o PINT 9288;

(iv) forneciao apoio logístico às unidades e subunidades em serviço na Guiné, efectuava a reparação dos meios de frio, máquinas de escritório e de bobinagem, entre outros, para o que dispunha também de equipas itinerantes;

(v) ministrava também instrução de formação de especialistas de intendência de padeiros, magarefes, caixeiros e outras;

(vi) mantinha ainda as reservas de combustíveis e lubrificantes e accionaav o funcionamento dos centros de fabrico de pão e de abate;
.
(vii) em 140ut74, após entrega das instalações e equipamentos ao PAIGC, o batalhão foi desactivado e extinto;

(viii) não tem História da Unidade.

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 675/676

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