Guiné > Zona Oeste > Região de Cacheu > São Domingos > CCS/BCAÇ 1933 > Novembro de 1968 > O alf mil SAM Virgílio Teixeira (o segundo a contar da esquerda), a ajudar a carregar (do barco para as viaturas) garrafões de 5 litros de vinho, alguns dos quais têm o rótulo, perfeitamente reconhecível, da Adega Cooperativa do Cartaxo. Outra marca seria "Paladar" (será que ainda existe ?). Mas havia mais, de acordo os rótulos, não legíveis.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018) / Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados
1. Qual era a dose ou ração diária de vinho de um soldado português em África durante a guerra colonial ? Um copo à refeição, 1 ou 2 decilitros ? E como era fornecido o vinho, pela Manutenção Militar, na Guiné-Bissau ? Em garrafões de 5 litros, 10 litros ou mais ? Ou em barris de 50 litros ? Ou em bidões (metálicos) de 210 ? Sabemos que havia problemas logísticos...
Esta pergunta foi formulada há tempos (em 2018...) aos nossos camaradas do Batalhão de Intendência(BINT), o Fernando Franco (1951-2020) (falecido na pandemia, no IPO) o João Lourenço, o António Baia (ex-1º cabo aux, outero histórico do nosso blogue, juntamente com o Franco) (*)
1. Qual era a dose ou ração diária de vinho de um soldado português em África durante a guerra colonial ? Um copo à refeição, 1 ou 2 decilitros ? E como era fornecido o vinho, pela Manutenção Militar, na Guiné-Bissau ? Em garrafões de 5 litros, 10 litros ou mais ? Ou em barris de 50 litros ? Ou em bidões (metálicos) de 210 ? Sabemos que havia problemas logísticos...
Esta pergunta foi formulada há tempos (em 2018...) aos nossos camaradas do Batalhão de Intendência(BINT), o Fernando Franco (1951-2020) (falecido na pandemia, no IPO) o João Lourenço, o António Baia (ex-1º cabo aux, outero histórico do nosso blogue, juntamente com o Franco) (*)
Aliás, náo era uma pergunta, eram quatro: adicionalmente interessava-nos saber se:
(i) o vinho levava aditivos (cânfora, por exemplo);
(ii) era batizado, com "água do Geba";
(iii) havia alguma marca de vinhos conhecida, como por exemplo, o "Cartaxo", distribuído em garrafões de 5 litros...
A questão da ração diária de um soldado na Guiné era importante para termos uma noção do consumo diário, mensal e anual de vinho:
Dois copos / dois decilitros e meio por dia dava, a multiplicar por 160 homens=1 companhia, 40 litros por companhia, ou sejam, 8 garrafões de vinho de 5 litros...
Ao fim do mês eram 240 garrafões, o que obrigava a uma logística complicada, em termos de transporte, armazenamento, gestão, etc...
Ao fim do ano, uma companhia no mato consumia c. de 14600 litros (=146 hectolitros). Só em vasilhame era um quebra-cabeças. (Partimos do princípio que cada compmhia no mato era abastecida regularmente...).
2. Só nos respondeu, em parte, o João Lourenço, ex-alf mil SAM, cmdt do PINT 9288, Cufar (1973/74) (*):
(...) "A cânfora é, quanto a mim, um mito. E fui responsável pelo tacho, fui comandante de um PINT.
O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras....
Havia algum controle para evitar grandes 'bubas'. Em especial em Bissau. No mato... dependia. (...)
3. Vd. Decreto-Lei 329-G/75, de 30 de Junho:
O Decreto-Lei 329-G/75, de 30 de Junho, veio atualizar e unificar as ementas e tabelas de rações dos militares dos 3 ramos das Forças Armas.
Algumas das normas alimentares ainda em vigor, até então, nas Forças Armadas remontavam ao ano de 1926 (Decreto nº 12949, de 16 de dezembro de 1926),
No seu artigo 1.º do D.L. 329-GHH/75, de 30 de junhoo, obriga que a alimentação tenha valor nutritivo adequado e que as rações sejam compostas de “víveres, decompostas” em refeições. A capitação diária de vinho é de 0,4 l (e da fruta, é de 250/300 gramas) (Tabela VII, anexa ao diploma).
Há ainda direito ao abono de um suplemento de alimentação quando o militar esteja de serviço, durante 4 ou mais horas, no período das 20h00 às 08h00. No que respeita ao vinho, esse abono é de 0,2 l. Acresce ainda, no caso desse serviço ser de guarda, ronda ou patrulha ou equivalemte, na "época fria" (sic), o direito a uma raçáo de aguardente no quantatitavo de 0,3 l por abonado. (Diários da República - Versão do cidadão).
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Fernando Franco, (1951-2020) ex-1º cabo caixeiro, PINT 9288 (Cufar, 1973/74), um histórico da Tabanca Grande; morava na Amadora |
4. Recorde-se aqui o essencial da ficha de unidade do BINT (Batalháo de Intendència):
(i) o BlNT foi criado com base em Qaudro Orgânico aprovado por despacho ministerial de 21Nov63;
(ii) englobava uma Companhia de Intendência, uma Companhia de Depósito e os destacamentos de Intendência (4, em Bissau, Tite, Bula e Bafatá, este depois instalado em Bambadinca, a partir de 2Jun66, e, mais tarde, outro pelotão instalado em Farim, a partir de 1Jan67);
(iii) era considerado uma unidade da guarnição normal;
(iv) em 1Abr68, as funções da Companhia de Depósito passaram a ser executadas por um novo órgão, então criado, o Depósito Base de Intendência e a partir de 1Set68, o batalhão passou a ser constituído pelas subunidades designadas por Companhia de Intendência de A/D [Apoio Direto], C , Companhia de Intendência de A/G [Apoio Geral], e Pelotões de Intendência [PINT], , tendo ainda sido instalado outro pelotão em Cufar, a partir de 01Ago73, o PINT 9288;
(iv) fornecia apoio logístico às unidades e subunidades em serviço na Guiné, efectuava a reparação dos meios de frio, máquinas de escritório e de bobinagem, entre outros, para o que dispunha também de equipas itinerantes;
(v) ministrava também instrução de formação de especialistas de intendência de padeiros, magarefes, caixeiros e outras;
(iv) em 1Abr68, as funções da Companhia de Depósito passaram a ser executadas por um novo órgão, então criado, o Depósito Base de Intendência e a partir de 1Set68, o batalhão passou a ser constituído pelas subunidades designadas por Companhia de Intendência de A/D [Apoio Direto], C , Companhia de Intendência de A/G [Apoio Geral], e Pelotões de Intendência [PINT], , tendo ainda sido instalado outro pelotão em Cufar, a partir de 01Ago73, o PINT 9288;
(iv) fornecia apoio logístico às unidades e subunidades em serviço na Guiné, efectuava a reparação dos meios de frio, máquinas de escritório e de bobinagem, entre outros, para o que dispunha também de equipas itinerantes;
(v) ministrava também instrução de formação de especialistas de intendência de padeiros, magarefes, caixeiros e outras;
(vi) mantinha ainda as reservas de combustíveis e lubrificantes e accionava o funcionamento dos centros de fabrico de pão e de abate;
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(vii) em 140ut74, após entrega das instalações e equipamentos ao PAIGC, o batalhão foi desactivado e extinto;
(vii) em 140ut74, após entrega das instalações e equipamentos ao PAIGC, o batalhão foi desactivado e extinto;
(viii) não tem História da Unidade.
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 675/676
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 675/676
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Notas do editor LG:
(*) Vd. poste de 8 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)
(**) Último poste da série >, 16 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27323: O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (1): o "vinho para o preto" em Lourenço Marques, a "água de Lisboa" em Bissau e a "cerveja Cuca" em Luanda...
(*) Vd. poste de 8 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18825: (Ex)citações (341): Cânfora no vinho para tirar a "tusa"?... É um mito, diz o "intendente" João Lourenço, ex-alf mil, cmdt, PINT 9288 (Cufar, 1973/74)
5 comentários:
Talvez os nossos vagomestre possam esclarecer esta questão da ração diária de vinho.
Eu, em relação ao vinho, tenho de contar um acontecimento,na minha C.Cart.2479/C.C.Art.11. que não me recordo se o Valdemar Queiroz da Silva, chegou a contar.
Então aí vai, em meados de 1969, a nossa Compª. saiu de Contuboel e foi reforçar Piche, durante algumas semanas, onde estava mos adidos, ao respectivo Batalhão,depois fomos informados, que iria mos passar a Compª. independente, com Quartel próprio , em Nova Lamego (GABÚ), com secretaria, Deposito de Generos e Material de Guerra (onde fui por umas semanas responsável) enfermaria e secção auto, como e diria hoje, autonomia quanto possível... só que na transferência do Quartel da Compª. anterior, para a nossa, houve uma banhada, e a vitima, foi o vagomestre, recebeu umq quantidade de pipas de vinho tinto, e depois quando nós chegamos de Piche e nos instala mos, veio a verificar-se, que o pipos tinham era água suja...daí para a frente o 1ºSargento, nunca mais perdoou, ao vago mestre, que chegou ao displante, de não lhe dar dinheiro para ir ao civil, fazer compras, nem para o pão. Recordações, de um miudo, metido a adulto numa guerra.
Abílio Duarte - C.ART.2479/C.ART.11- Guiné 1969/70.
Abílio, andava meio mundo a enganar outro meio...O IN era o mesmo, mas depois verificamos que entre nós, "tugas", também havia muita sacanice...Até mesmo dentro da própria companhia... Essa tua história não é única...mas é "edificante".
É curioso.Nunca vi garrafões de vinho nos locais que estive,sul da Guiné,nem mesmo em Bissau.....O vinho vinha em pipos de talvez cinquenta litros.....Rebentavam um tampo,para o "batisar"antes de o servir á malta.....
As minhas bebidas vinham directamente do meu stock privado. Não sei Qual era a
Dose na Messe.
Mas era vinho rose.
Os pipos de 50 litros,
Já chegavam batizados com vinho tinto e metade de água do Geba e também do Cacheu.
Quando eram servidas as canecas, já estavam cheias cheias de blocos de gelo.
Tudo mistura o era um rose com 50 % de vinho.
Não me lembro de bidões de 200 litros.
Isto era comum no refeitório geral onde comia muita vezes por estar de serviço de oficial de dia, e gostei sempre, isto é, não me lembro de reclamar nada.
Em S. Domingos, na companhia de cima. A CART1744 A montou um restaurante privado com tudo natural e frescos da terra,
Para acompanhar o respectivo frango caseiro à cafreal6c
Cafreal e umas a, bazucasfresquinhas. Ab,
VT
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