terça-feira, 5 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2022:
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.

Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva





ERA AQUELA COMPANHIA

Parte I - (1/2)

Desembarcados no Cais
Quando ao Canchungo chegámos
E a terra da Guiné
a primeira vez nós pisámos.

Foi-nos dado uma Caserna
Para toda a comissão
Junto ao arame farpado
Bem pertinho da Prisão.

Eram tantas as mulheres
Pois havia a Tabanca à beira
Cada uma delas só queria
Ser a nossa lavadeira.

Havia muitas Bajudas
Lavadeiras para a farda
Todos escolhemos uma
Só para lavar e mais nada.

O Quartel conhecemos
Tudo quanto lá havia
Cantina, Casernas, Cozinhas
As camas onde se dormia.

Estava junta a CCS
a Companhia formada
dando início à missão
naquela terra azarada.

Comandava o Batalhão
Um Coronel porreiro
O Martiniano Gonçalves
Depois Aristides Pinheiro.

Guilhermino Militar
Um Major mal humorado
Só dizia não há figos
Era mau para o soldado.

Era Segundo Comandante
E por Vacas conhecido
Rabugento muito mau
Ele era destemido.

Tinha outro Major
Se chamava Milheiriço
Ameaçava tudo à chapada
Era Oficial castiço.

Deu uma chapada a um militar
E dessa cena quem viu
O soldado ficou de pé
E foi o Major que caiu.

O Nelson Santos
Como oficial era bom
Com nós em Teixeira Pinto
Onde era Capitão.

O Tenente Paulo Dias
Fazendo o que mais sabia
Por gostar de escrever
Era chefe de Secretaria.

Era Alferes de Transmissões
E disso bem ele sabia
O António S. Ferreira
Lá na nossa Companhia.

O Alferes Leite Faria
Oficial bem aplicado
A comandar a "ferrugem"
Andava sempre borrado

Foi sempre bem estimado
Era um Alferes verdadeiro
Trabalhava na oficina auto
Mas por fora era um lateiro.

Havia em Teixeira Pinto
Uma Igreja para a oração
Francisco da Costa e Silva
Era o Alferes Capelão

Era bom Capelão
E até a bajuda rezava
Passava o tempo connosco
E na Tabanca pregava.

Como era militar
Era nosso Capelão
Com eles todos rezavam
E a cantar era bom.

Maximino Vaz da Cunha
Alferes Médico Miliciano
E o Sargento Ajudante
Era o António Maria Mano.

Era o Alferes Lamares
Quase com a nossa idade
Ele também Miliciano
Chefe da Contabilidade.

Outro Alferes era o Corais
Com um pouco de mania
Era ele o Tesoureiro
Lá na nossa Companhia.

Bessa de Melo outro Alferes
Era Médico que mal o vi
Ele tinha a nossa idade
Por isso não o esqueci.

Alferes Miliciano Médico
O Maymone Martins então
Excelente militar aplicado
Tudo o que fazia era bom.

Como nós era Periquito
Mas com ele se aprendia
Grande Médico corajoso
Em tudo quanto fazia.

Era amigo e ensinava
E muito a gente aprendeu
Bom camarada e gentil
A malta não o esqueceu.

Com prazer tudo fazia
Fosse no Quartel ou não
As consultas que ele dava
Para todo o Batalhão.

Via e ouvia o doente
Quando estava a consultar
Depois fazia a receita
Para o doente tomar.

Companhia de Comando e Serviço
Lá na Guiné era assim
Era aquela companhia
Do principio até ao fim.

O Comandante da CCS
Aquele que mais dava a voz
Era o nosso Capitão
António Rodrigo Queiroz.

Era um Homem cumpridor
Como Oficial era bom
Zeloso com a Companhia
Um excelente Capitão.

Comandava muito bem
Pois exigia respeito
Gostava que todos cumprissem
Fazendo tudo bem feito.

O Alferes Vidal era forte
Dos Sapadores comandante
Punha-os a abrir trincheiras
Que faziam num instante.

No Reconhecimento o Sanches
Era Alferes entendido
Até de Oficial Dia
Ele era bem recebido.

Era a nossa CCS
Eram nossos oficiais
Em quem tanto confiámos
Pois eram todos iguais.

O Nosso Primeiro Mestre
A quem via dia a dia
Até altas horas da noite
Em sua Secretaria.

O Nosso Primeiro Mestre
Um homem bem educado
A todos tratava bem
Fosse Oficial ou soldado.


(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23406: Blogpoesia (771): "Amor e Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887)

9 comentários:

José Botelho Colaço disse...


Deu uma chapada a um militar
E dessa cena quem viu
O soldado ficou de pé
E foi o Major que caiu.

Belo poema gostei: Explica lá isso mesmo sem ser em rima e foi o Major que caiu! O soldado fintou o Major?

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bino, gostei à brava. És um verdadeiro discipulo dos nossos trovadores e do Gil Vicente, e honras toda uma plêiade de cultivalores da nossa tradição da poesia de "escárnio e mal dizer"...

És brejeito sem ser grosseiro, és irónico sem ser deselegante, és contundente sem ser justiceiro, és empático sem cair na demagogia...

Eu mais diria: és o António Aleixo do Canchungo... Uma seleção das tuas quadras populares (retirando uma ou outra de pé quebrado) tem de ser reunida em livro!...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o dr. Maximino Vaz da Cunha, ver aqui:

11 DE AGOSTO DE 2013
Guiné 63/74 - P11930: Os nossos médicos (67): Maximino [José Vaz da] Cunha, natural de Chaves, ex-alf mil médico, BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto) e HM 241 (Bissau, 1968/70)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/08/guine-6374-p11930-os-nossos-medicos-67.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há referências, na Net, ao Maximino Vaz da Cunha, estudante, preso em 21 de janeiro de 1965, justamente com outros estudantes, e torturado pela PIDE (segundo a Amnistia Internacional), e que terá sido defendido pelo então advogado dr. Jorge Sampaio...

https://www.rtp.pt/noticias/politica/jorge-sampaio-o-despertar-politico-e-o-servico-ate-ao-fim-da-vida_es1061156

(...) Os primeiros anos após o curso de Direito ficam também marcados pela entrada no mundo da advocacia e pela defesa de presos políticos, o primeiro logo em 1964, tinha Jorge Sampaio 24 anos. Mário Soares, que coordena a equipa de defesa de mais de oito dezenas de réus no âmbito do “Processo de Beja”, chama todos os advogados afetos à Oposição que consegue. Manuel Peralta Bação, militante do PCP e operário metalúrgico de profissão, é o primeiro preso político que defende no Tribunal Plenário, mas o réu acaba por ser condenado. O mesmo destino conhecem José Justino Machado, Maximino Vaz da Cunha, Sara Amâncio, ou o advogado e amigo Joaquim Monteiro Matias e José Ernesto Cartaxo nos anos seguintes, entre outros que serão defendidos por Sampaio nos anos seguintes.(...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores n.º 2845

Identificação BCaç 2845
Unidade Mob: BC 10 - Chaves
Cmdt: TCor Inf José Martiniano Moreno Gonçalves
TCor Art Aristides Américo de Araújo Pinheiro
TCor Inf Armando Duarte de Azevedo
2.° Cmdt: Maj Inf Guilhermino Nogueira Rocha
Maj Inf António Rodrigo Rodrigues Queirós
OInfOp/Adj: Maj Inf José Pedro Milheiriço Heitor Marques
Cmdts Comp:
CCS: Cap Inf António Rodrigo Rodrigues Queirós
Alf Mil Inf Mário Miguel dos Santos Sanches
CCaç 2366: Cap Mil Art Fernando Lourenço Barbeitos
CCaç 2367: Cap Inf José Júlio da Silva de Santana Pereira
Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias
CCaç 2368: Cap Inf Manuel Joaquim Sampaio Cerveira
Divisa: "Sempre Excelentes e Valorosos"
Partida: Embarque em 01Mai68; desembarque em 06Mai68
Regresso: Embarque em 03Abr70

Síntese da Actividade Operacional

Em 07Mai68, rendendo o BCaç 1911, assumiu a responsabilidade do Sector 01-A, a partir de 040ut68, designado por Sector 05, com sede em Teixeira Pinto e abrangendo os subsectores de Cacheu, CÓ, Jolmete e Teixeira Pinto e a partir de 29Abr69, o subsector de Pelundo, então criado e até a sua passagem a outro batalhão em 011uI69.

Em 01Dez68, a zona de acção foi reduzida do subsector de CÓ, transferido para a zona de acção do BCav 1915, e, em O 11uI69, do subsector de Jolmete, transferido para a zona de acção do BArt 2866, e, no período de 01Abr69 a 19Fev70, ainda, transitoriamente, do
subsector de Cacheu.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamentos, escoltas e emboscadas, com vista à neutralização do esforço inimigo em atingir o "Chão Manjaco" e à destruição das bases inimigas existentes da sua zona. Simultaneamente, exerceu uma constante acção psicossocial sobre as populações, promovendo o seu desenvolvimento e melhoramento das suas condições, e dos itinerários.

Pelo resultados obtidos ou pela sua duração, efectivos e importância das áreas batidas, destacam-se as operações "Acetileno", "Apalpar" e "Alpista", entre outras.

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 16 pistolas-metralhadoras, 11 espingardas, 1 lança-granadas foguete, 93 granadas de armas pesadas e 9489 munições de armas ligeiras.

Em 21Fev70, foi rendido no sector pelo BCaç 2905, recolhendo em 01Mar70, a Bissau, onde permaneceu aguardando embarque.

(...) Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 109 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág., 111/113

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em 1967, o Maximino Vaz da Cunha já era "médico estagiário"... Esteve preso. Deve ter sido chamado depois para a tropa e mobilizado em 1968 para a Guiné,para o BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70)...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Bino, se calhar não sabias nada do "passado recente" do dr. Maximino Vaz da Cunha, preso pela PIDE por ser dirigente da associação de estudantes...antes de ir para a Teixeira Pinto... Nem ele nunca deve ter referido a sua passagem pelas prisões políticas...
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Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Oliveira Salazar/Correspondência Oficial/Educação-10,

Apelo dos estudantes de Lisboa em 1967,

«Que sabe a população de Lisboa do que se passa na Universidade? Mais de 60 colegas nossos estão presos na PIDE. Sofrem torturas diárias. Carlos Morim foi obrigado a permanecer oito dias e meio sem dormir, Arguinaldo Cabral esteve 120 horas de pé; quando caia no chão era espancado. A maior parte deles sofreram espancamentos. Alguns enlouqueceram, como Guine Azevedo; outros tiveram graves perturbações mentais, com Maximino Vaz da Cunha, outros ainda tentaram suicidar-se durante os interrogatórios, engolindo os vidros partidos dos óculos, como Fernando Boeta Neves. E tudo isto porque eram colaboradores das Associações Académicas. Porque queriam uma democratização do ensino. Porque desejavam que a Universidade se abrisse às pessoas de todas as condições económicas. São problemas gravíssimos sobre os quais a censura governamental levanta uma barreira de silêncio. Leia as publicações dos estudantes. Informe-se do que sé passa na Universidade. População de Lisboa solidarizai-vos com os ESTUDANTES: DAI-NOS A VOSSA COLABORAÇÃO ACTIVA!».

Documento citadado (pág. 136) por Tessadori, Pietro - O Homem Novo do fascismo italiano e do Estado Novo português. Tese de doutoramento em Hstória (Especialidade Dinâmicas do Mundo Contemporâneo). ICS-UL, ISCTE-IUL, UCP, UE, 2014, 343 pp.

https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/15449/1/ulsd069172_td_Pietro_Tessadori.pdf

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Isto bate certo com o que ele disse, há doze anos atrás, num artigo publicado no JN - Jornal de Notícas, de 7/2/2010, "Solidários em nome da saúde", com o subtítulo: "Os beneméritos da Medicina dos tempos modernos são cada vez menos, mas a crise e o desemprego podem fazer renascer o trabalho voluntário".

O trabalho é assinado por Margarida Lúzio, Glória Lopes, Teixeira Correia e Carlos Rui Abreu. Aqui vão alguns excertos (com a devida vénia...):

(...) A avó materna, galega e católica da cabeça aos pés, queria que fosse padre. Ele queria emigrar. Para os Estados Unidos. No fim, nem uma coisa, nem outra. O pai, bancário, começaria a ganhar melhor e Maximino Cunha haveria de rumar de Chaves para Coimbra e, depois, para Lisboa. E assim se faria médico. E comunista.

A opção política condicionou-lhe a progressão na carreira. "Antes do 25 de Abril, nunca pude aceder a nenhum lugar do Estado", recorda. Mas haveria também de marcar a forma de exercer a profissão. Já doutor, regressou a Chaves por castigo (político). "Julgo que não sabiam que me estavam a mandar para a minha terra natal".

Nessa altura, depois do serviço clínico no quartel, Maximino Cunha exercia Medicina privada. Muitas vezes sem cobrar. "Sabia perfeitamente que não tinham dinheiro para me pagar. Ah, quantas vezes!", lembra. E justifica: "Se não fosse sensível à pobreza não seria comunista". Hoje, garante que este tipo de casos são cada vez mais raros, mas teme que a crise os possa fazer renascer. "Provavelmente vão aparecer por causa do desemprego e da crise ".

O consultório, em casa, não está identificado. "A publicidade são os doentes que a fazem". Não tem computador. Olha para os doentes. A tabela de preços, no corredor, está em euros e escudos. 40 (8 contos) na primeira consulta e 30 na segunda e seguintes. João Semana puro, talvez não, mas com uma costela, certamente. (...)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2013/08/guine-6374-p11930-os-nossos-medicos-67.html

Albino Silva disse...

Caro José Botelho Colaço. Foi assim:
Tínhamos um Major, (Milheiriço) que até nem era mau ou seja, cumpria bem o seu papel.
Era um Homem bem alto mas muito magro pendurado na sua farda e por vezes fazia-se de mau, mas nem para isso tinha habilidade.
Tinha o seu motorista, um Excelente militar que era da Madragoa e por isso assim era tratado lá na companhia e ainda hoje.
O Major ao precisar de serviço dele, camava, Madragoa, Madragoa, e quando o Madragoa apareceu
deu-lhe um estalo, que mal o atingiu porque o Madragoa soube desviar-se, e então o Major caiu no chão, para as grandes gargalhadas do Comandante e nossa também.
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Pois é Luís Graça, a respeito do Médico Maximino Vaz da Cunha, (já Falecido) apenas o conhecia-mos no serviço Militar e lá na Guiné, mas nunca soubemos nada dele antes do serviço Militar, e depois da tropa dada trabalhava no Hospital em Chaves.
Quanto ao que vou escrevendo, mal ou bem, vou continuar.
Um Grande Abraço para todos.