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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27120: Felizmente ainda há verão em 2025 (17): relembrando alguns encontros imediatos... de 3º grau com "jibóias", na região dos Dembos, em Angola (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, 1972/74)



Foto nº 2 > Pitão-africano-da-rocha (Python sebae), fotografado vivo  no quartel de Mucondo 



Foto nº 2 > Pitão-africano-da-rocha (Python sebae), fotografado morto no quartel de Mucondo: tinha acabo de comer um cão


Angola > Província do Uíge > Mucondo > CCAÇ 3537 / BCAÇ 3880, 1972/74. Imagens disponibilizadas por Fernando de Sousa Ribeiro, e que fazem parte do álbum da página do Facebook do BCAÇ 3880 (grupo privado).



1. Comentário ao poste P27116 (*),  assinado pelo nosso grão-tabanqueiro Fernando de Sousa Ribeiro:




Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 /
BCAÇ 3880 ( Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);
membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018,
com o nº 780, tem 34 referências no nosso blogue.
Engenheiro, natural do Porto, é o administror
que mantém ativo desde janeiro de 2006 até hoje.
Um caso notável de longevidade.

 

O BCCAÇ 3880 e Companhias tem um grupo privado no Facebook.

Há também um blogue, ativo entre 2010 e 2016, administrado pelo Jorge Madureira



Eu peço desculpa por meter o nariz onde não sou chamado, mas esta discussão a propósito de cobras fez-me recordar as que vi em Angola, e foram algumas. 

Numa ocasião tive mesmo uma cobra venenosa a poucos centímetros de mim. Devia ter meio metro de comprimento e era lindíssima, em que as cores das escamas variavam conforme a incidência da luz do sol. Acabou decapitada por uma catana.


Foto nº 1 > Angola, Zemba,
 c. 1972/74
Em Angola existiam cobras para todos os "gostos", desde as inofensivas cobras de água até às temidas cobras cuspideiras, que esguichavam o veneno pelo ar em direção aos olhos da vítima. 

Vi uma vez uma minúscula cobra verde, do tamanho de uma minhoca, que era tão pequena e tão leve que estava em cima de uma folha de cafezeiro sem que a folha vergasse com o seu peso. Apesar do tamanho e do peso, o veneno desta cobra (seria uma mamba verde?) era mortal.

Não admira por isso que, em todas as bolsas levadas pelos auxiliares de enfermeiro para as operações militares, havia obrigatoriamente um frasco de soro antiofídico. Era um item que não podia faltar, a par do soro fisiológico, do garrote ou dos comprimidos e/ou injeções contra a malária. Felizmente, o soro antiofídico nunca foi necessário no meu batalhão. 

Apesar da relativa abundância de cobras, nenhum militar do BCaç 3880 foi alguma vez mordido por um destes répteis.

Na região dos Dembos, no norte de Angola, onde eu estive em 1972-73, as cobras mais vulgares eram as jibóias. Vi várias, umas vivas e outras mortas. Onde quer que o terreno fosse pedregoso, podíamos ter a certeza que por ali havia pelo menos um ninho de jibóias.

Houve casos de jibóias que foram apanhadas e foram mortas dentro dos quartéis ou das sanzalas. Na página do meu batalhão no Facebook, camaradas meus publicaram fotografias de jibóias apanhadas dentro do arame farpado. Permito-me o atrevimento de partilhar três dessas fotografias.

A primeira fotografia mostra uma jibóia encontrada dentro do quartel de Zemba e que estava tão magrinha, tão magrinha, que devia estar cheia de fome e se preparava para atacar o galinheiro. (Fotografia que se reproduz, acima à direita, com a devida vénia) (Foto nº 1).

A segunda fotografia foi tirada dentro do quartel do Mucondo (onde estava a CCaç 3537, do meu batalhão) e mostra uma jibóia que tinha acabado de comer um cão! (Foto nº 2, publicada no topo)

A terceira e última fotografia mostra uma jibóia ainda viva, também encontrada dentro do quartel do Mucondo, toda enrolada sobre si mesma e com o aspeto de quem se sente senhora incontestada de todos aqueles domínios... É um magnífico exemplar de jibóia, mas também acabou por ser morta (Foto nº 3, reproduzida no topo)


Fernando Ribeiro

(Texto e fotos do Fernando de Sousa Ribeiro)

(Revisão / fixação de texto, reedição de imagem: LG)


2. Comentário do editor LG:

2.1. Já há tempos comentei no poste P4477 (**):

Há uma diferença (até no comprimento) entre a jibóia (nome científico, Boa constrictor) e o pitão (o nome é masculino...), jibóia africana ou irã cego (na Guiné-Bissau) (nome científico, Python sebae)... 

Esta última, sim, é a maior cobra da África subsahariana. Quando adulta, pode atingir os 6 metros e ultrapassar os 100 quilos de peso... 

Habita a floresta-galeria, as matas e só ocasionalmente a savana. A sua dieta é constituída por aves, pequenos roedores e ainda mamíferos de média dimensão. Pode viver trinta anos e não está em risco de desaparecer.

Já a jibóia p.d. (que está no nosso imaginário, pela pomada jibóia e não só...) é centro e sul-americana. Boa constrictor deve o seu nome à forma como mata as suas vítimas, por constrição, sufocando a presa, técnica usada pelas cobras não venenosas. 

Contrariamente a muitos mitos populares, é pacífica e fugidia, evita sempre o contacto com animais de grande porte, incluindo o homem... Em média anda nos três metros...É sobretudo caçadora nocturna, alimentando-se de roedores e aves...

Em resumo, a jibóia “verdadeira” (nome científico, Boa constrictor) é do Novo Mundo (centro e sul das Américas e algumas ilha do Caribe). Há "boas" africanas, mas não são jibóias... E as anacondas também não exietem em África...

Anacondas e pitões não são jibóias, mas também são constritoras. E não sáo venenosas!... Em África há várias espécies de pitões. (As anacondas pertencem à família Boidae , a mesma família das jibóias, e vivem apenas nas Américas, sobretudo na América do Sul).

2. 2. O "Sabe-Tudo", o assistente de IA (neste caso.  o Gemini e ChatGPT) confirma que esta "jibóia", da região dos Dembos, no norte de Angola, é o pitão-africano-da-rocha (nome científico, Python sebae). 

Resposta do assistente de IA:

(i) O pitão-africano-das rochas: a "jibóia" presente na Região dos Dembos, Angola

A principal serpente de grande porte, frequentemente designada como "jibóia",  em Angola, e que habita a região dos Dembos, na província do Bengo, é o Pitão-africano-da-rocha (Python sebae)

Embora pertençam a famílias distintas (os pítões são da família Pythonidae e as verdadeiras jibóias são da família Boidae), popularmente, o termo "jibóia" é muitas vezes usado para descrever qualquer serpente constritora de grande porte.

Evidências científicas confirmam a presença da Python sebae na província do Bengo. Um estudo de 2019 sobre o comércio de carne de caça documentou a venda desta espécie ao longo das estradas na província, o que atesta a sua existência na região que abrange o município dos Dembos.

O Pitão-africano-da-rocha é a maior serpente de África, podendo atingir e, em casos excepcionais, superar os 6 metros de comprimento. O seu padrão de cores, com manchas irregulares em tons de castanho, azeitona e amarelo, proporciona uma excelente camuflagem nas savanas, florestas abertas e áreas rochosas que habita. É um predador poderoso,  uma não-venenosa, que mata as suas presas por constrição.

(ii) Outras "jibóias" em Angola: uma questão de geografia

É importante notar que Angola é lar de outras espécies de pitões e de uma verdadeira jibóia, mas a sua distribuição torna improvável ou impossível a sua presença na região dos Dembos:

  • Pitão-angolano (Python anchietae):  esta é uma espécie endémica de Angola e da Namíbia, mas a sua distribuição está confinada às regiões mais áridas e rochosas do sul e sudoeste do país; é consideravelmente menor que o pitão-africano-da-rocha.
  • Pitão-real ou Pitão-bola (Python regius): embora a sua vasta área de distribuição na África Ocidental e Central se aproxime do norte de Angola, a sua presença no país não é consistentemente documentada e é menos provável na zona específica dos Dembos quando comparada com a Python sebae.
  • Jibóia-da-areia-da-calabária (Calabaria reinhardtii): esta é a única representante da família das jibóias (Boidae) formalmente registada em território angolano; no entanto, a sua presença está limitada ao enclave de Cabinda, uma floresta tropical húmida, um habitat distinto e geograficamente separado da região dos Dembos.

Portanto, para a região dos Dembos, a resposta conclusiva é que a grande serpente constritora que pode ser encontrada e identificada como "jibóia" é o imponente Pitão-africano-da-rocha.


(**) Vd. poste de 7 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4477: FAP (29): Encontros imprevistos (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Vd. também poste de 9 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4484: Fauna & flora (20): Histórias de grandes serpentes: da jibóia de 7 metros (Paulo Raposo) ao irã-cego (Clara Amante)

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Na Guiné também tive encontros imediatos de... 3º grau com estes bichos... Como qualquer primata, sofremos de ofidiofobia (medo excessivo e irracional de cobras. É uma forma de zoofobia (medo de animais)... Quando eu era miúdo, detestava cães...Na Guiné, também vi as "cobra verdes" a atuarem ao vivo (com consequências dolorosas para as vítimas humanas)... O "irã-cego" não me lembro de ver...