Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) > Cartazes da propaganda das NT, da coleção do Alfredo Reis, ex-alf mil, CART 1690 (Geba, 1967/69). É veterinário, reformado, vivendo em Santarém. (*)
1. Informação selecionada e coligida pelo nosso colaborador permanente José Martins, para a área da História Militar e Arquivos. É autor, entre outras, da série "Consultório Militar". É um dos históricos do nosso blogue. Tem mais de 460 referências. Nasceu em Leiria, em 5/9/1946. Vive em Odivelas. Trabalhou como contabilista. Está reformado. Serviu como Fur Mil Trms Inf, CCAÇ 5, Gatos Pretos (Canjadude, Junho de 1968/Junho de 1970).
Directiva 48/68 > Operações psicológicas Alfa (**)
Generalidades
1. Os temas que se apresentam deverão ser adequadamente desenvolvidos e «personalizados» com elementos respeitantes a cada área, recorrendo, especialmente, a factos actuais. No Apêndice I a este anexo apresenta-se um exemplo elucidativo.
2. O CTIG deverá remeter ao GABMIL todos os elementos que possam auxiliar o desenvolvimento dos temas constantes deste anexo, a fim de serem utilizados na informação e propaganda radiofónica a conduzir.
3. Os temas difundidos na Directiva Propaganda n.° 1, do COMCHEFEGUINÉ, de 30SET68, deverão continuar a utilizar-se nas Op. Psic. Alfa. II. Temas a utilizar.
1. Visando preservar as populações sob nosso controlo:
a) A tropa portuguesa luta por uma Guiné melhor, onde todos tenham paz, progresso e bem-estar.
b) A tropa branca veio da Metrópole à Guiné ajudar os seus irmãos pretos a defender o seu chão contra os terroristas. Os pretos estão a combater juntamente com os dos brancos, contra os terroristas.
c) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão destruir os terroristas.
d) Os terroristas raptam as populações e obrigam-nas a trabalhar eles.
e) No chão da Guiné, portugueses pretos e brancos vão construir uma vida melhor.
f) Os terroristas trouxeram a guerra e querem a desgraça dos povos da Guiné.
2. Visando dissociar o binário Pop/In:
a) Os terroristas protegem-se com a população. Não se importam que a população sofra com os tiros e as bombas lançadas por causa deles.
b) Os terroristas enganam o povo com promessas que não são capazes de cumprir (concretizar no desenvolvimento do tema).
c) Os chefes terroristas estão vendidos aos estrangeiros que lhes fornecem armas. Querem vender a Guiné.
d) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.
e) Os chefes terroristas vivem bem, no estrangeiro, gastando o dinheiro do povo, enquanto que o povo sofre, na mata, com doenças e fome.
f) Os terroristas levam o arroz e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.
g) A tropa vai acabar com os bandidos para ganhar a paz e o bem-estar para o povo da Guiné.
h) Quem não quiser sofrer com as bombas dos aviões, com os tiros da artilharia e com a guerra, deve separar-se dos bandidos.
i) O pessoal que vive na mata tem muita doença; quando se apresenta, é tratado pelas autoridades, passando a viver melhor.
j) Quem quiser continuar a sofrer, fica com os terroristas na mata; quem preferir viver em paz, apresenta-se às autoridades.
3. Visando captar as populações sob duplo controlo:
a) Os terroristas estão a perder a guerra e, para esconder a sua derrota, prometem coisas que não podem dar. Nunca cumpriram o que prometeram.
b) O terrorista explora o povo. Rouba e nunca paga.
c) Os terroristas querem a confusão, para poderem roubar à vontade a terra, os bens e as mulheres de cada um.
d) Os terroristas só querem a guerra e a desgraça do povo da Guiné.
e) A tropa, os navios, os aviões e a artilharia vão acabar com os bandidos que pretendem roubar a paz e o bem-estar aos povos da Guiné.
f) Aqueles que vivem na mata, com os terroristas, têm má casa, más culturas e muita doença.
g) Os terroristas levam o arroz, as mulheres, os filhos e o dinheiro; em paga, trazem a guerra e o sofrimento para o povo.
Bissau, 29 de Outubro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro
Directiva 60/68 > Campanha psicológica de recuperação (**)
1. Como vimos afirmando, o aspecto de fundo de um «plano de contra-subversão» não se projecta no campo imediato da força das armas, mas sim no campo da promoção social e cultural das populações.
2. O nosso «plano de contra-subversão» visa a rápida consecução desse nível de bem-estar, que se traduz no slogan: UMA GUINÉ MELHOR. Se atingirmos esse nível de bem-estar em tempo útil, furtaremos ao IN a força da razão, e com esta as populações - objectivo final de «um plano de contra-subversão».
3. Dentro desta linha de pensamento, que está na base da orientação do Governo da Província - e que constitui a nossa principal «ideia-força» - é natural que o inimigo combatente e as populações da Guiné, presentemente desorientadas, se desequilibrem para o lado da razão, isto é, para o lado da nossa causa.
4. Neste pressuposto, torna-se absolutamente necessário rever o nosso procedimento à luz de nova conduta, agindo em conformidade com os princípios morais e civilizadores que estão na essência da nação portuguesa e informam a sua estrutura jurídica.
Bissau, 17 de Dezembro de 1968,
O Comandante-Chefe,
António Sebastião Ribeiro de Spínola,
Brigadeiro
(**) Vd. poste de 1 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13555: Directivas emanadas pelo COM-CHEFE, Brigadeiro António de Spínola em 1968 (3) (José Martins)
7 comentários:
Será que estas directivas (de 1968) chegaram a Bambadinca do meu tempo (1969/71) ? Na prática, no terreno, não era fácil a sua aplicação... Veja-Se o caso da população IN capturada pelas NT em Madina /Belel em 5/5/1971 e levada para a sede do BART 2917 onde ficou instalada sem um mínimo de condições... O que deu orig ao "caso Puim"....
Esta tira de BD é do tempo do Schulz que aparece no ultimo postal... Quem teria sido o autor gráfico ? Acho que já falámos aqui disso...
Podia ser a frase do dia:
"A guerra da Guiné não se ganha pela força das armas mas pela força da razão"...
Convenhamos que a força da tecnologia das armas ("hardware") e o sobretudo o "software" e o "humanware" também contam... Embora nos possamos interrogar se, em qualquer guerra, há verdadeiros vencedores... A guerra não é um jogo de soma nula... LG
Quem foi, de entre os militares da confiança de Spinola, logo no segundo semestre de 1968, o "ideólogo" destas directivas da "acção psico-social" e da posterior politica da Guiné Melhor ?
Infelizmente estas orientações vieram tarde demais... Quando o PAIGC marcava pontos no tabuleiro do xadrez da geopolítica internacional...
"Há que esquecer aspectos tristes do passado (...). Há que saber perdoar" (...)
Pois é, mas esses "factos tristes", que remetem poara a história da colonização da Guiné e das campanhas ditas de "pacificação" do passado do mais recente (séc. ZiX / XX), não eram conhecidos da grande maioria dos militares, metropolitanos, que eram mobilizados para a Guiné... Nem dos jovens soldados do recrutamento local... (cujos pais, no entanto. conheceram o imposto de palhota, o trabalho forçado, as prepotèncias da adminmistração colonial, etc.)
E perdoar o quê ? Quem, de um lado e do outro ?...
Luis Graça, as batalhas da pacificação já não estavam na cabeça das populações, estavam tão esquecidas, representariam tanto para as populações como por exemplo a prisão do Gungunhana, para a nossa geração, foi há muitos anos.
Não sei explicar porquê, mas nem na Guiné nem em Angola se ouvia ou se ouve falar muito, até se pode evocar a escravatura, mas a guerra da pacificação era raro.
Penso que se entendia que teriam sido lutas contra alguns que não aceitavam regras, portanto, seriam para muitos guerras "necessárias".
Por exemplo em Angola havia praticamente duas guerras dessas que se evocavam , mais por europeus (brancos)antigos, do que pelas povoações.
Eram a guerra dos Dembos, por acaso onde a UPA fez os massacres em 1961 que marcou a "nossa" guerra e a guerra de Amílcar e dos outros todos, e falava-se na guerra dos Cuanhamas, a mil quilómetros uma da outra, mas que nenhuma delas diziam respeito a terceiros.
E aquela guerra da UPA, que tenta ser muitíssimo apagada e até ignorada, (em Angola o governo não quer que seja feriado o 15 de Março mas antes o 4 de Fevereiro, guerra urbana), essa guerra é que teria levado os caboverdeanos do PAIGC e os intelectuais do MPLA e FRELIMO, a fazer a guerra no mato, para fazer frente àquele modelo de guerra da UPA.
Se a UPA vencesse, os caboverdeanos "perdiam a vez" em todo o império português.
Foram muitos os caboverdeanos que em Angola ajudaram a preencher os voluntários da OPVDCA que em 1961 se formou precisamente para na região da UPA dar protecção nas fazendas dos brancos na apanha do café.
A cabeça de Amílcar devia ser um turbilhão de ideias tal, que para se intrometer na formação do MPLA, ligar-se a Marcelino dos Santos da FRELIMO e formar aquele incrível, inimaginável PAIGC... Qual psicanalista!
Bem que deixou uma ou duas gerações em guerra total em Angola e Moçambique.
Tens razão, Rosinha, a memória "coletiva" é curta... Em Portugal, da I Grande Guerra ainda havia alumas vagas memnórias, havia nas terras de província ainda alguns antigos combatentes vivos, "gaseados", sobreviventes de La Lyz, com pensões de guerra, que comemoravam o 9 de Abril... Havia os talhões dos combatentes nos nossos cemitérios, e os monumentos aos mortos e aos combantentes da Grande Guerra (França, Angola e Moçambique) nos nossos jardins e praças... Havaiua ou aidna há algumas placas toponímicas... Mas o Estado Novo não valorizava nada disso, e La Lys fora uma vergonha para o nosso Exército e para o nosso país, por culpa da República, e por aí fora...
Mas em África, quem é que se lembrava do "capitão-diabo" (Teixeira Pinto) ou do general Pereira d'Eça, ou até do Mouzinho de Albuquerque (não fora o cinema, no nosso caso, metropolitanos)?
Em contrapartida, ainda ouvi, em Candoz, na 2ª metade dos 70, "histórias" do Zé do Telhado, o "Robim dos Bosques" lá do sítio, que irá morrer desterrado em Angola, em Malanje, em 1875... Era um "Torre e Espada", é bom náo esquecer...
A "casa do Carrapatelo" é ali perto de Candoz... Camilo Castelo Branco, nas "Memórias do Càcere", reconstituiu muito bem o fatal assalto do Zé do Telhado e do seu bando a esta casa fidalga... Como é sabido, o Zé do teklagdo foi companheiro de cárcere do Camilo...
Os acontecimentos mais traumáticos para os portugueses nos últimos 200 anos foram as invasóes francesas (1807-1813) e as guerra civil entre absolutistas e liberais (1828-1834)... A Primeira Grande Guerra e as "guerras colonais" passaram-se longe de casa...Quem se lembra hoje dos "prisioneiros da Índia" ?... Por ordem de salazar, desembarcaram às escondidas, no regresso do cativeiro, porque era a "vergonha da Naçáo"... E quem é que, depois do 25 de Abril, tinha coragem de dizer, em público, tinta estado na "guerra colonial" ?...
Enfim, um tema que dá pano para mangas... LG
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