terça-feira, 23 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24337: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXVI: 16 de abril de 1971, um dia trágico, a morte de João Bacar Jaló (Cacine, 1929 - Tite, 1971)


Guiné > s/l > s/ d > O tenente graduado 'comando'  João Bacar Djaló,  rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos. Entre outros, é possível identificar o furriel “Dico” Andrade, o 1º da esquerda, o furriel Orlando da Silva, ajoelhado, no meio e o 1º da direita, em cima, o soldado Francisco Gomes Nanque, que esteve preso na Libéria após a operação a Conacri. Foto de Amadu Djaló, publicado na pág. 190 do seu livro.



Lisboa > 1970 > O cap graduado 'comando'.  cmdt da 1ª CCmds Africanos João Bacar Jaló como o nosso veteraníssimo João Sacôto (ex-alf mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), hoje comandante da TAP reformado, membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011. 

O João Bacar Jaló veio a Lisboa, nessa altura, no 10 de Junho, receber a Torre e Espada. Nasceu em Cacine, circunscrição de Catió, região de Tombali, no sul da Guiné, em  1929, e morreu em 1971, no HM 241, em Bissau, por ferimentos em combate. Era alferes de 2ª linha em 6 de junho de 1965. (*)

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Quínara > Carta de Tite (1955) > Escala 1/50 mil  > Posição relativa de Tite e, a nordetse, Jufá, a zona onde o João Bacar Jalõ perdeu a vida, em 16 de abril de 1971. Infografia publicada no livro, pág. 193.


Guiné > Região de Quínara > Tite > 1971 > O soldado Abdulai Djaló Cula, da 1ª CCmds, que contou aqui, no livro do Amadu Djalõ, as circunstâncias em que morreu ao seu lado o seu comandante. Foto publicada no livro, pág. 191.


1. C
ontinuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital,  do seu livro 
"Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O seu editor literário, ou "copydesk", o seu camarada e amigo Virgínio Briote,  facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.

[Foto à esquerda > O autor, em Bafatá, sua terra natal, por volta de meados de 1966. (Foto reproduzida no livro, na pág. 149) ]

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri,  começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii)  depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido,  por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757; 

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló; 

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló  (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,


 

Capa do livro do Amadu Bailo Djaló, "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.  


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXVI:

A morte de João Bacar Jaló (Cacine, 1929- Jufá, Tite, 1971) 

No dia seguinte, de manhã, apanhei o transporte para Brá. Quando lá cheguei, estava o capitão Miquelina Simões a proceder às identificações dos instruendos, que iam frequentar o curso para a 2ª Companhia de Comandos, vi o Furriel Vasconcelos.

 Vamos a isso depressa, pá!     gritei-lhe,  a brincar.

–  Amadu, ouvi agora uma coisa, não sei se é verdade.

–  O que foi que ouviste?

–  Ouvi dizer que o João Bacar morreu!

Corri para o gabinete do capitão e vi o Sisseco.

–   Sim, é verdade, o capitão morreu!

Sem demora corremos para o hospital. Quando chegámos, estava a entrar o general Spínola. Fomos atrás dele, até ao local onde repousava o corpo do nosso capitão João Bacar Jaló. Foi o próprio general que levantou o lençol que cobria o cadáver. As lágrimas romperam pelos nossos olhos.

Terminou, neste dia, 16 de Abril de 1971, a história do Capitão João Bacar Jaló[1].

Dirigi-me para a casa do capitão João Bacar e fiquei à espera do irmão dele, porque, entre nós, as famílias não podem ficar sem um homem em casa. E quando um dos nossos morre, é costume cada um de nós dar qualquer coisa, mesmo que a pessoa morta seja rica e ainda mais se o falecido tiver sido em vida boa pessoa. Então, cada um estava a dar dentro das suas possibilidades e foi nessa altura que entrou o tal velhote, de que já falei antes, o Mamadu Candé 
[o adivinho] . Vi-o pôr uma nota de 100 escudos no cesto. Ficámos, uns momentos, a olhar um para o outro.

Mais tarde, perguntei-lhe por que razão tinha dado 100 escudos.

–   Eu não queria o dinheiro, quando o capitão mo deu. Não aceitou o meu conselho e não é legítimo eu ficar com o dinheiro. Tive que o devolver.

Fiquei assim a compreender por que é o velhote não a queria, quando o João Bacar lhe deu a nota.

O Soldado Abdulai Djaló Cula[2], filho do Padre[3] Central de Bissau, conta que,  ao amanhecer daquele dia[4], o Capitão João Bacar Jaló lhe disse que ia morrer nesse dia. Abdulai chamou o Alferes Justo[5] e contou-lhe a conversa do capitão.

–    Como?  
  perguntou o alferes.

–  Sonhei com a minha morte      respondeu o capitão.

Estávamos juntos, eu, o Abdulai Djaló Cula, o Alferes Justo e o Furriel Braima Bá (Baldé). Não tinha ainda acabado de contar o sonho, vimos duas mulheres acompanhadas por uma criança. Traziam cestos com arroz à cabeça, que iam vender em Tite. Parámo-las e o capitão perguntou-lhes:

–  
Onde está o PAIGC?

–  
Eles dormiram aqui perto, devem estar ali em frente.

Tínhamos passado a noite, nós e eles, PAIGC, bem perto uns dos outros, talvez a pouco mais de duzentos metros. Nós estávamos muito desconfiados que eles andavam por ali e eles tinham a certeza onde nós estávamos. Por isso, durante a noite, tanto nós como eles evitámos fazer ruídos.

João Bacar deixou as mulheres irem à sua vida e decidiu preparar o ataque à zona onde desconfiávamos que eles estivessem. Aproximámo-nos com muito cuidado, chegámos ao local e vimos folhas estendidas no chão, que devem ter servido de camas. Vimos um resto de cigarro no chã, ainda a deitar fumo.

–  
Justo, procura nessa zona      ordenou o capitão.

O grupo do alferes, de cerca de vinte homens, começou a movimentar-se até desaparecerem da nossa vista. Soube, mais tarde, que, depois de percorrerem a zona, o Justo decidiu emboscar-se relativamente perto de nós.

João Bacar disse a um dos furriéis que lançasse sete granadas de morteiro 60 em cima da área, onde julgava estar o grupo do PAIGC. Mas o furriel só lançou uma. Vendo que era muito lento, o capitão preparou ele próprio sete granadas de morteiro e começou rapidamente a lançá-las.

Depois, montada a segurança, João Bacar deslocou-se à tabanca com a intenção de avisar a população que devia sair das casas e fugir para a mata.

Entretanto o grupo do PAIGC foi-se aproximando de nós, sem nós nos percebermos. O capitão pediu granadas de mão defensivas a Bailo Jau, este não tinha, foi o Fassene Sama que lhas passou para a mão. 

João Bacar tinha acabado de tirar a cavilha de uma quando o PAIGC abriu fogo sobre as nossas posições. Ouviu-se um grito do Furriel Bacar Sissé, tinha sido atingido por estilhaços de uma granada de RPG, que desfizeram um baga-baga. O capitão e eu corremos para o ferido. Vi o capitão baixar-se e, com a mão esquerda, apanhar a arma do Bacar, enquanto mantinha a granada descavilhada apertada na mão direita.

O capitão muito raramente andava com G-3, quase sempre levava a pistola e duas granadas de mão defensivas. Passou por mim, tinha dado talvez dois ou três passos e avistámos o disparo do RPG. Eu estava bem abrigado, protegido por uma raiz de uma árvore. João Bacar ajoelhou-se instantaneamente, o rebentamento deu-se atrás de nós e depois mais rebentamentos, tudo muito rápido.

 O capitão, que estava ajoelhado, a mão esquerda ocupada com a G-3, foi atingido no braço direito cuja mão segurava a granada sem cavilha. Perdeu força, não deve ter conseguido lançá-la e ela rebentou.

Saí da grande raiz que me servia de abrigo, a cerca de cinco metros, e comecei a puxar pelo capitão. Ainda estava vivo. Arrastei-o para uma zona mais segura e ajoelhei-me. A troca de tiros e de granadas prosseguia. Pus a cabeça do capitão em cima das minhas pernas.

- Uai, Nene[6]!

A granada tinha-lhe arrancado a perna direita, a mão direita e esfacelou-lhe a parte direita do tronco. Estava a morrer,  o meu Capitão João Bacar Djaló.

O Furriel Lalo Bailo gritou em mandinga:

- Uai ‘nte Báma, capitom fata[7]!

O Inimigo sabia o que estava a acontecer e intensificou ainda mais o fogo, enquanto o sentíamos mais perto. Era um grupo numeroso e chegámos a pensar que nos queriam apanhar à mão. Aos gritos chamei o Furriel Vicente Pedro da Silva[8]:

–  
Meu furriel, querem apanhar-nos à mão!

A morte do nosso comandante estava a tocar-nos muito, o nosso moral estava em baixo e o grupo do PAIGC cheirava isso.

–  
Calma!    ouviu-se a voz do Furriel Vicente.

Agarrou-me e ao Vicente Malefo e a mais dois ou três, lançou uma granada de mão defensiva e gritou bem alto:

–  
Comandos ao ataque! Cada um dispara dois tiros seguidos de cada vez, tum-tum! Vamos apanhá-los à mão, agora não façam mais tiros!

Com os gritos do nosso furriel começámos a avançar e eles recuaram. Depois, na acalmia que se seguiu, pedimos as evacuações, enquanto nos movimentávamos com o corpo do nosso comandante e carregando os feridos mais graves, o Alferes Justo, que se tinha ferido no joelho ao servir-se dele para apoiar o morteiro, e os Furriéis Bacar Sissé e Dabho.

Quando atravessávamos a bolanha ouvimos o silvo de um Fiat, picou sobre nós, largou uma bomba que só estremeceu tudo à volta e levantou outra vez. O Alferes Justo pegou no banana, o AVP-1[9], e conseguiu entrar em contacto com a esquadrilha. Que éramos nós e que precisávamos de um heli para evacuar os nossos feridos.

Momentos depois, talvez antes ainda das nove horas, fomos sobrevoados por dois 
[helis] , um armado[10] e outro que pousou com uma enfermeira que os transportou para Bissau, para o Hospital Militar.

Quando regressávamos a Tite,  vinha ao nosso encontro uma unidade e, em coluna auto,  fomos transportados para o Inchudé e daqui seguimos numa lancha para Bissau.

Eu vinha com o camuflado empastelado do sangue do meu capitão. No cais, num ambiente de grande tristeza, aguardavam-nos as nossas famílias e muitos amigos nossos.

Três ou quatro dias depois, já não me lembro bem, foi o funeral do João Bacar, que foi uma manifestação que Bissau nunca tinha visto.

Acaba aqui a história dessa grande figura humana, do grande fundador das milícias no sul, na sua terra de Catió. Quando lá estive com os “Fantasmas”, em 1965, com o Alferes Saraiva para operações no Como e em Cufar, o João Bacar escolheu milícias da sua confiança, para aprenderem a ser operacionais. 

O capitão entrou em dezenas de batalhas até acabar a sua vida numa simples patrulha de combate em Jufá, em circunstâncias um pouco estranhas, no dia negro de 16 de Abril de 1971.



Lisboa > Terreiro do Paço > 10 de junho de 1970 > "Dia da Raça" > Ao centro, o Capitão Graduado 'Comando' João Bacar Djaló, comandante da 1.ª Companhia de Comandos Africanos, condecorado com a "Torre e Espada", e que tive oportunidade de cumprimentar em Fá Mandinga, onde, na altura, estava sediada aquela unidade de elite (participou na Op Mar Verde, a invasão anfíbia de Conacri e numerosíssimas outras operações do mais elevado risco; seria morto em combate, meio ano depois,  de ser condecorado com a “Torre e Espada”). 

A segunda figura, da esquerda para a direita é o capitão-tenente Alpoim Calvão, cérebro da Op Mar Verde, que cheguei a ver, mas não conheci, nem de perto nem de longe, nos “paços” do “Comando-Chefe”, na Amura. 

Os restantes elementos da primeira fila, todos eles igualmente condecorados com a “Torre e Espada”, são o furriel Cherno Sissé (Guiné), e, salvo erro, o coronel Hélio Felgas e o ten mil inf José Augusto Ribeiro, cuja província/colónia onde prestavam serviço desconheço.

Fonte: Revista "Guerrilha", junho de 1970 (Publicação editada pelo MNF - Movimento Nacional Feminino. Edição e legendagem:  Mário Migueis da Silva (ex-fur mil rec inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72) (***)


Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério português > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o guineense Capitão Comando João Bacar Jaló, natural da Guiné, morto em combate em 16 de Abril de 1971.

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do autor ou editor literário:

[1] Nota do editor: João Bacar Jaló nasceu em 2 de outubro de 1929, em Cacine. Foi incorporado no Exército, para o qual se voluntariou, no dia 1 de março de 1949. Em junho de 1951 encontrava-se ao serviço da 2ª CCaç, em Bolama, quando terminou o seu primeiro período militar. Nesse mesmo ano começou a trabalhar na Administração Civil, em Bissau. Em 1952 no Palácio do Governo e até 1958, sempre como funcionário da Administração Civil, em Bissalanca, Antula, Prábis e Safim.

 Entre 1958 e 1961 foi fiscal de fronteira no sul e em seguida desempenhou o cargo de comandante de ronda em Catió, que acumulou com as funções de oficial de diligências do Julgado Municipal. 

Com o início da actividade militar do PAIGG, João Bacar, já com 33 anos, alistou-se novamente, como comandante de Caçadores Naturais da Guiné. Foi graduado em alferes de 2ª linha em 8 de junho de 1965.

Depois foi nomeado comandante da Companhia de Milícias nº. 13 e um ano depois foi promovido a tenente. Depois de ter frequentado um curso de oficiais, João Bacar foi graduado em capitão e passou a comandar a 1ª CCmds Africanos.

 Ao longo da sua vida militar recebeu numerosos louvores. Foram-lhe atribuídas duas Cruzes de Guerra em 1964 e 1965 e era, desde 30Jun1970, Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

[2] O Soldado Abdulai Djaló Cula é natural de Bissau. Pertencia à equipa do Furriel Bacar Sissé que fazia parte do grupo de cerca de 40 homens que foram a Jufa, comandado pelo Capitão João Bacar Jaló.

[3] Dignitário Muçulmano.

[4] Havia a informação que um grupo do PAIGC ia passar a noite de 15 para 16 de abril de 1971 a uma tabanca de balantas, em Jufá, na zona de Tite. O João Bacar estava com um grupo emboscado junto à tabanca. Durante a noite, os cães da tabanca não pararam de ladrar. Quando amanheceu, João Bacar disse: 

“Nós vamos ali à tabanca, conversamos com a população, mas não passámos dali. Porque num sono muito rápido que tive, sonhei que o PAIGC me prendera. Amarraram-me, meteram-me num jipe, e eu consegui saltar do jipe em andamento. No chão, com as mãos e os pés atados não podia correr. O jipe fez marcha atrás, voltaram a apanhar-me e meteram-me outra vez no carro. Quando o carro voltou a andar, seguraram-me, para não me deixarem mexer. O jipe arrancou e acordei. "

Este sonho foi contado pelo João Bacar ao Furriel Braima Bá e ao Soldado Abdulai Djaló Cula, na manhã do dia em que morreu.

[5] Nota do editor: Justo Nascimento.

[6] - Ai, minha Mãe!

[7] - Ai, minha mãe, o meu capitão morreu!

[8] O Vicente Pedro da Silva foi mais tarde promovido a alferes. Talvez devido ás precárias condições em que vivia e cansado da incompreensão que sentia por não ver reconhecida a sua condição de português nascido na Guiné e antigo combatente das Forças Armadas Portuguesas suicidou-se em Lisboa, por volta de 2004.

[9] Nota do editor: Transmissor-receptor.

[10] Nota do editor: Sud Aviation SA-3160 “Alouette III”, c/helicanhão de 20mm, conhecido por “Lobo Mau”.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Parênteses rectos com notas /  Subtítulo / Negritos: LG]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


Vd. ainda poste de 2 de maio de 2009 > Guiné 63/74 – P4275: Tugas - Quem é quem (4): João Bacar Jaló (1929-1971) (Magalhães Ribeiro)

(***) Vd. poste de 30 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20021: Recortes de imprensa (103): O 10 de Junho de 1970 na Revista Guerrilha, edição do Movimento Nacional Feminino, dirigida por Cecília Supico Pinto (1) (Mário Migueis da Silva)

22 comentários:

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Honra e Glória!

- CHERNE SISSÉ
1Cb inf, BCac1887-GUI, CG.4ªcl 1967
Fur inf, BCac1879-GUI, Cv TE 1970

- GUILHERME ALMOR DE ALPOIM CALVÃO
1Tn FZE, DFE8-GUI, CG.1ªcl 1964
CTn FZE, DFE8-GUI, VM c/p 1965
CTn FZE, COP3/CTIG, SD prata 1969
CTn FZE, ComDefMarG/CTIG, CG.1ªcl 1970
CTn FZE, ComDefMarG/CTIG, Of c/p TE 1970

- HÉLIO AUGUSTO ESTEVES FELGAS
TCor inf, BCac507-GUI, CG.3ªcl 1964
TCor inf, BCac507-GUI, CG.1ªcl 1966
Cor inf, BArt1914-GUI, SD c/p 1969
Cor inf, CmdtSecL/CTIG, Of TE 1970
Cor tir, EME, SD ouro 1973

- JOÃO BACAR JALÓ
Alf inf, BCac356-GUI, CG.4ªcl 1964
Alf inf, 4ªCCacI/CTIG, CG.2ªcl 1965
Cap grd CMD, 1ªCCAfr/CTIG, Of TE 1970
Cap grd CMD, 1ªCCAfr/CTIG, SD Ouro c/p 1971

- JOSÉ AUGUSTO NOGUEIRA RIBEIRO
Alf milº inf, 4ªCCacI/CTIG, CG.2ªcl 1965
Ten milº inf, 2ª/BCac14-RMM, CG.4ªcl 1969
Ten milº inf, 2ª/BCac14-RMM, CG.4ªcl 1970
Ten milº inf, 2ª/BCac14-RMM, Of TE, 1970

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... emenda (em tempo): onde acima se lê "1879", leia-se "2879".

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o José Augusto Nogueira Ribeiro (1940-2017), "Torre e Espada", temos 1 referência no blogue:


1 DE SETEMBRO DE 2022
Guiné 61/74 - P23577: Notas de leitura (1486): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VI: "Cercados de guerrilheiros por todos os lados", diz o alf mil Ribeiro, no "briefing" da praxe...


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2022/09/guine-6174-p23577-notas-de-leitura-1485.html

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Os fulas têm um provérbio que diz: "Dôgha bon, djôdha bon" ou seja "fugir é mau, não fugir também", isto a propósito do Cherno Sissé (não Cherne), um dos mais valorosos soldados que serviram o exército português na guerra da Guiné e galardoado várias vezes por feitos de bravura em combate com honra e Glória em nome de Portugal. Fugiu da Guiné-Bissau para se refugiar em Portugal, com grandes dificuldades, onde pensava que estaria seguro entre os seus companheiros de armas, para finalmente ser tratado da pior forma possível na sequência de um assalto por vulgares larápios de pacotilha dentro da casa onde (sobre)vivia. E quem diria ein ?...

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Cherno Baldé
Visitei por duas vezes a casa onde estava a viver o Umarú Baldé, na Amadora.
Era um prédio de três andares numa rua movimentada e ele morava num andar com outros guineenses. Ainda almocei com eles uma vez arroz de frango.
A porta do quarto dele tinha dois fortes cadeados e sinais de vários arrombamentos, ele dizia que eram ladrões conhecidos.
É lamentável o que aconteceu a Cherno Sissé e incomoda-me não haver ruas em Portugal, com o nome de João Bacar Jaló o combatente fula que é o segundo militar mais condecorado de sempre do Exército Português.

Abraço e boa intenção de voto para dia 4 de Junho.
Valdemar Queiroz Embaló

Anónimo disse...

Caro Valdemar,

Quando a guerra acabou em 1974, eu teria 14/15 anos de idade, portanto nunca fui soldado e nao podia ser recrutado para a guerra, embora nao faltassem motivos e vontade para isso se fosse o caso, na altura. Todavia, entristece-me muito ver e ouvir estes tristes relatos com os antigos soldados em geral e os nativos em particular porque eu vi e senti pessoalmente o seu engajamento durante a guerra, sempre na linha da frente, sempre servindo de guias e carregadores, sempre como picadores e operacionais experientes... Em consequencia, acho que em qualquer pais normal, os louvores, medalhas e as cruzes de guerra deviam ter algum valor sem qualquer discriminaçao baseada na origem, classe ou "raça" (?) e servir mais do que uma simples forma de enganar e ludibriar cidadaos(?) ingénuos, transformados em carne para canhao. Um pais que se respeita nao pode mudar de 8 para 80 em consequencia de uma simples mudança de liderança na forma de uma conspiraçao de militares descontentes ou cansados da tal guerra. E finalmente, como diz o A. Rosinha, quem benficiou depois com as benesses da liberdade e dos serviços sociais em Portugal nao sao aqueles que estiveram ao lado de Portugal, mas e de forma escandalosa, aqueles que lutaram contra Portugal.

Abraço,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Meu caro Cherno Baldé.
A mim não me incomoda Amílcar Cabral ser uma figura de grande relevo na luta contra o colonialismo em África.
A mim incomoda-me, por pouca gente falar do assunto, o esquecimento aos soldados guineenses que estiveram do nosso lado da guerra.
Que na Guiné fossem considerados traidores, pagaram com a vida o lado errado da história, agora em Portugal é lamentável não haver palavras para enaltecer esses dedicados soldados que bem conheci. Os seus nomes estão gravados no grande monumento aos "Mortos em Combate no Ultramar", em Belém-Lisboa, mas só poucos de nós sabe quem foram aqueles Baldé.
Também lá estão os nomes de Santoné Colubali e Aladje Silá da minha CART11.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Nogueira Ribeiro: para saber mais, clicar aqui...
http://ultramar.terraweb.biz/CorInf_JoseAugustoNogueiraRibeiro.htm

João Carlos Abreu dos Santos disse...

João Bacar: para saber mais, clicar aqui...
http://ultramar.terraweb.biz/Capitao_Joao_Bacar_Jalo_Um_Heroi.htm

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Felgas: para saber mais, clicar aqui...
http://ultramar.terraweb.biz/Major_General_Helio_Felgas.htm

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Calvão: para saber mais, clicar aqui...
http://ultramar.terraweb.biz/CTIG/CTIG_CapMarGuerraFzEGuilhermedeAlpoimCalvao.htm

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno e Valdemar: o João Bacar Jaló morreu aos 42 anos em combate, em nome de Portugal, mas também pelas suas convicções enquanto guineense que rejeitava a proposta do PAIGC para o futuro da sua terra. Hoje eu tenho o mesmo respeito pelas suas convicções como pelas opções de outros guineenses que foram atrás do canto de sereia do Amílcar Cabral. Quem somos nós para julgarantir no "tribunal da Historia" ?

O que eu constato é que não houve muitos militares portugueses que tenham morrido na "guerra do ultramar" aos 42 anos...

Lamento profundamentornar que homense como este, nossos camaradas de armas, sejam sejam tratados quase como "mercenários", ou para utilizar a propaganda do PAIGC como "cães dos colonialistas"...

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Cherne Sissé: para saber mais, clicar aqui...
http://ultramar.terraweb.biz/CherneSisse_Furriel.htm

> Nota: o nome em questão - Cherne - está/é conforme consta nos registos castrenses; ao sr (?) C. Baldé assiste-lhe o natural direito de comentar o que bem entenda, porém não lhe consinto, nem aqui nem em qualquer outro local, venha corrigir/emendar o que escrevo.

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Como se sabe, «a CArt11/CTIG só foi criada em 18Jan1970 a partir da CArt2479 por quadros e algum pessoal metropolitano e restante pessoal pertencente à etnia fula, estando então deslocada em Piche em reforço ao BArt2857 e mantendo um pelotão em Nova Lamego», (cfr pg.663 RHMCA/7ºvol/t.II)
Ora, na 3ªf 07Out1969 - momento da ocorrência que ceifou a vida a Satoné (não "Santoné") Colubali -, aquele fula natural de Bentém/Cheche, filho de Adama Camará e de Alai Colubali, casado com Talá Será, soldado atirador n/m 82112169 -, estava integrado na CArt2479 em reforço ao BArt2857. Faleceu, ele e outros 4 militares da CArt2439, em consequência da deflagração de mina anticarro reforçada, plantada no itinerário de Dunane a 2km antes de Canquelifá, por um bando de terroristas "libertadores" da Província Ultramarina da Guiné Portuguesa.
Os restos mortais do inditoso Satoné Colubali foram inumados no cemitério dos fulas no Gabu.
Descanse em Paz.

Valdemar Silva disse...

Assunto importantíssimo e passados 50 anos ainda vou a tempo de uma rectificação para a História.
A CART2479 de oficiais, sargentos e praças metropolitanos, com a incorporação de soldados fulas passou a CART11.
Por isso, as baixas em combate da CART11, são:
Mortos em combate
O soldado 82112969(e não 82112169) Satoné Colubali(e não Santoné Colubali)
O soldado 82104569 Aladje Silá
Ferido em combate
1º. Cabo 0884567 Francisco Custódio Marques

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro Abreu dos Santos,

Neste Blogue da Tabanca Grande a todos e a cada um de nós assiste o direito de comentar e de corrigir tudo o que seja susceptível de o ser, sem receio de qualquer RDM ou de porradas de altas patentes. Tenha a bondade de ler bem as nossas regras de ouro na coluna do lado esquerdo do Blogue.

Cherne em português é peixe e, certamente, o Oficial da administração onde o Cherno Sissé teria sido registado ou então os serviços castrenses na sua área de residência, no estilo habitual do etnocentrismo português, seguiram a via mais fácil o que não surpreende, pois exemplos idênticos de nomes de pessoas e topónimos locais são numerosos. Hoje, sabe-se que os portugueses, excelentes navegadores e traficantes de todos os géneros, no período da ocupação obrigatória dos territórios como resultado da conferência de Berlim (1884/85), foram péssimos estudiosos/etnólogos e no que tange ao respeito das tradições e da cultura locais.

Outro caso a incluir nesta lista é, também, o caso do soldado citado como Satoné da CCAC 11, companheiro do Valdemar. Satoné não existe na língua fula, mas Satenem, diminuitivo (nycknane) de Samba Temem que, na antiga tradição fula, era o nome dado ao segundo filho varão de um casal. Por tradição, o Samba numa família fula era considerado um homem livre, que pode viajar, prestar serviço militar ou emigrar, coisas que não eram permitidas ao primeiro filho varão (Shára) condenado a substituir o pai e tomar conta da família.

O Satenem (Satoné) Colubali era Boenca (do Boé) e como a maior parte dos originários deste Sector (com apelidos Camará, Colubali, Sané, Conté entre outros), etnicamente eram fulas de origem mandinga, com uma forte tradição do uso das armas) e como tal eram, por norma bons soldados o que não se pode dizer dos Baldé, Candé, Embaló, que eram fulacundas, oriundos de grupos dos camponeses pastores, ligados ao cultivo da terra e criação de animais.

Cordialmente,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

PS:
Satenem ou Samba Tenem significa Samba (segundo filho varão, masculino singular) filho de Tenem (nome de mulher, feminino singular, que também significa o nome dado ao primeiro dia da semana na língua fula.

Cherno AB

João Carlos Abreu dos Santos disse...

Repito:
1.- n/m 82112169
2.- pertencia (à data da morte)à CArt2479

Repito:
1.- Cherne

E ponto final!!!

Valdemar Silva disse...

Qual ponto final qual carapuça, estamos na tropa ou quê?

Esse n/m 82112169 foi atribuído a Jana Baldé, que até 15 de Dezembro de 1970 estava bem vivo.

Deixe-se de autoprovedor/rectificador do Blogue Tabanca Grande que ninguém lhe encomendou o serviço.

Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... já dei, para esse "peditório"! Passar bem...

Valdemar Silva disse...

Tá bem, agora rectifique o n/m do falecido Satoné Colubali no seu arquivo.

Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... não irei "rectificar" porra alguma! E não se trata do "meu arquivo", sim do que consta na RHMCA. Ganhe juízo e vá para o raio que o parta mais as suas diatribes e provocações! A sua converseta está acabada; e ponto final!!!