Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Tabanca de Príame > 1965 > Da esquerda para a direita Alf Gonçalves, João Bacar Jaló, Alf Farinha, Mamadu, milícia muito próximo do João Bacar, e eu. As crianças eram duas das várias filhas do João que também tinha várias mulheres, como era hábito cultural entre os Fulas.
Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Comentários ao poste P19604 (*):
(i) Cherno Baldé
Caros amigos Luís e João Sacoto,
Muitos séculos antes da chegada dos Europeus a África, nesse caso, dos Portugueses em particular, a influência da cultura e da civilização oriental já tinha conquistado o seu espaço nas práticas e manifestações culturais dos africanus, em especial dos povos situados no interior da região do Sudão ocidental (Impérios ou grandes estados) com a expansao dos poderes imperiais que foram concomitantes à expansao da religião islâmica.
Quando vi as imagens do poste com as pinturas, a minha primeira reacção foi pensar que se tratava de uma mesquita, pois os motivos são claramente orientais e com ligações às grandes religiões monoteístas (Muçulmana e Judaica).
Entre os Fulas originários de Futa Djalon (Futa-Fulas dos apelidos Djaló, Baldé ou Bah e Barry) mais cultos e letrados, na altura, era muito frequente o embelezamento das suas residências com tais pinturas de motivos orientais (em que não entravam imagens de animais ou de pessoas banidos pela religião) e em que, também, entravam pequenos textos de filósofos Gregos e Arabes e até Salmos biblicos davidianos.
A estrela que se ve nas pinturas simboliza a estrela do rei David a quem os Fulas, por razões que não sei explicar, consideram um dos seus patriarcas da antiguidade, facto que os faria primos afastados dos Judeus, mas isso ja é outra história que precisa ser investigada por especialistas.
O Português que melhor tentou desenvolver este tema sobre os Fulas e outras etnias da Guiné é o Landerset Simões, autor do livro "Babel Negra, Etnografia, Arte e Cultura dos Índigenas da Guiné", edição do autor, impresso pelas Oficinas do Comércio do Porto, 1935.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
PS - Para quem ainda não leu, recomendo vivamente, pois é dos melhores livros que eu li de um Português colonial, que viveu e trabalhou em principios do sec. XX.
(ii) João Sacôto
Caro Cherno Baldé:
Obrigado pelo esclarecimento. Pelo que dizes, se alguma dúvida tivesse quanto à casa referida, ela está completamente dissipada. Pois trata-se de uma casa em Priame, Catió, tabanca Fula, onde, tenho a certeza, não havia, naquela altura (1964/1965), naquele lugar, nenhuma mesquita.
Por outro lado o João Bacar Jaló era, para além do mais, um homem rico e importante em Priame. É, portanto à porta dele que eu estou.e eventualmente, até pode ter sido ele quem disparou a fotografia.
Um abraço, JS
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 20 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19604: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte VI: Em Príame, a tabanca do João Bacar Jaló (1929 - 1971)
(**) Último poste da série > 18 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19597: (De)Caras (101): Capitão de Infantaria Francisco Meireles, cmdt da CCAÇ 508, morto em Ponta Varela, Xime, em 3/6/1965 - Parte I (Jorge Araújo)
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