quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15619: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (5): Os nossos cartazes de propaganda

















Guiné > Zona leste > Geba > CART 1690 (1967/69) >  Cartazes da propaganda das NT



Fotos: © Alfredo Reis (2007). Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do alf mil Alfredo Reis, que nos foi disponibilizado pelo seu amigo e camarada A. Marques Reis.

O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém. A seleção, a legendagem e a organização temática do álbum (cerac de 170 fotos) são do A. Marques Lopes. (*)

[ Na foto, à esquerda,  o Alfredi Reis e ao seu lado o Domingos Maçarico, em 2010]

2. Comentário dos editores:

Já agora, caros leitores, confiram estas imagens com as que já publicámos em tempos: trata-se da coleção de cartazes de propaganda do Fernando Hipólito,  um camarada que passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968, antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa empresa de tintas de impressão.

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Nota do editor:


Postes anteriores:

8 comentários:

Luís Graça disse...

A propaganda recorre sempre à "caricatura", ao "lápis grosso"... De um lado ou do outro, o objetivo é minimizar, humilhar, ridicularizar, diabilizar o outro... Nem a tropa fandanga do PAIGC vivia assim tão mal (mal fardados, rotos, descalços, esfomeados, doentes...) nem a receção, por nossa parte, dos "prisioneiros" e dos "que se vinham entregar", era assim tão calorosa, empolgante, entusiástica...

A população que vivia no marto, sob controlo do PAIGC, essa sim, vivia miseravelmente, pelo menos no interior da Guiné, como por exemplo ao longo da margem direita do Rio Geba, nos subsetores do Xime e do Xitole... Pelo menos no meu tempo (1969/71)... Os velhos, as mulheres e as crianças que apanhávamos no mato faziam partir o coração, mesmo ao mais empedernido... As crianças, nascidas no mato, ficavam aterrorizadas com o "roncar" das nossas GMC, quando chegavam connosco ao quartel...

Os guerrilheiros do PAIGC, esses, viviam seguramente melhor, mesmo que só com um prato de arroz por dia... Era gente espartana, já li algures um elogio ao frugal e incansável guerrilheiro da Guiné, da boca (insuspeita) de um mítico militar português que os combateu, como foi o caso do comandante Alpoim Calvão, que já nos deixou, ainda há pouco tempo...

Luís Graça disse...

Maldita gralha... Peço desculpa.

Eu queria dizer Rio Corubal e não Rio Geba:

"...pelo menos no interior da Guiné, como por exemplo ao longo da margem direita do Rio Corubal, nos subsetores do Xime e do Xitole"..

Antº Rosinha disse...

O impacto destes panfletos, eram de uma ingenuidade tremenda, cujos efeitos pretendidos seria mínimo.
Talvez em conjunto com a política de Spínola da "Guiné melhor" ajudasse um pouquinho, nas cidades e vilas.
Quem sabia ler no mato em português? alguns chefes do PAIGC.
Daí a tradução era ao gosto de cada um.
Em Angola havia uma comunicação oral multilíngue atravez de rádio, comerciantes, administrativos, fazendeiros e mesmo militares brancos que já tinham sido nados e criados nos muceques e junto de sanzalas onde se falava africanês.
Daí o insucesso político e social redundante do MPLA, UPA e UNITA, só lá foram a ferro e fogo (30 anos).
Também os caboverdeanos do PAIGC com o crioulo se perderam naquele labirinto étnico.
Amílcar Cabral ganhou em todos os campos, mesmo em Lisboa, mas não ganhou na terra dele.
Para mal dos guineenses, e dos angolanos de quem também era fundador do MPLA.
Para mal, porque a guerra continua, é uma babilónia custa a entenderem-se.
...E parecia tudo tão fácil, em 1960!



Luís Graça disse...

Rosinha, tu vês mais com um olho só do que os xicos espertos da tropa todos juntos... A eficácia comunicacional destes cartazes devia ser nula... Nem sequer eram escritos em crioulo!...

Como há tempos aqui escrevi, a propósitos de cartazes semelhantes, destinados a Angola (ou recolhidos em Angola pelo nosso camarada Fernando Hipólito), eram muito provalmente feitos por gente em Lisboa, sem qualquer profissionalismo, amadores, aprendizes, e que para mais nunca conheceu a trilogia "sangue, suor e lágrimas"...

De facto, o serviço de propaganda do exército tinha a obrigação de fazer muito mais e melhor... Não o fez, por que as Forças Armadas Portugueses, ou melhor ou seus generais e almirantes, tinham um "problema de legitimidade" a resolver.... E sobretudo porque a "brigada do reumático" que controlava o aparelho político-militar em Lisboa, já não conseguia convencer a juventude portuguesa daquele tempo a "morrer pela Pátria", nem sequer os oficiais da acadamia cuja palavra de ordem era, romanticamente, qualquer como "é doce morrer pela pátria!"...

Numa guerra que se travava longe de casa e que se arrastava há demasiado tempo, sem fim à vista, num contexto internacional de crescente isolamento e de desprestígio de Portugal, quem é que estava disposto a pagar o "imposto de sangue" ?...

Lamentavelmente Salazar e os seus generais (tirando talvez o Spínola) nunca perceberam que a guerra é a continuação da política por outros meios... E também munca perceberam a jogada de mestre de Amílcar Cabral, que foi o uso da diplomacia, ou seja, a continuação da guerra por outros meios...

Unknown disse...

Se... o Último Imperador, ao menos, tivesse ouvido o pessoal da Casa dos Estudantes do Império...
Forte abraço.
VP

Anónimo disse...

Meus caros amigos,
A acção psicológica de massas faz-se com um conjunto de vários programas. No seu conjunto pretende-se chegar ao maior número de pessoas possíveis.
Estive em várias zonas da Guiné e nunca vi nenhum destes panfletos, pelo que me é legítimo assumir que a sua distribuição não era assim tão popularizada. Mas havia outros acções que faziam uma diferença tremenda, até porque fechavam os olhos a quem os procurava.
Os programas de assistência militar na saúde, sobretudo os primeiros socorros, com todos os condicionantes que uma guerra impõe, eram de longe superiores ao que tínhamos nas zonas do interior do Portugal Continental, certamente dos Açores. E a educação escolar também não foi descurada, sobretudo nos sítios de onde havia tropas aquarteladas e que eram muito bem frequentada pelas crianças. Acrescento aqui a alfabetização dos nossos camaradas guineenses, embora não saiba se neste caso havia generalização mas diferentes unidades de recrutamento guineense.
Que diabo, nem tudo era perfeito bem o sabemos. Mas também fazíamos muitas coisas boas que vale a pena falar nelas. Isso leva-me a chamar a atenção para o cuidado a ter-se em generalizar acontecimentos, causas e efeitos, até porque as circunstâncias e zonas diferentes ditavam muito do que se podia fazer, independentemente das decisões dos comandantes.
Na Guiné, pelo menos quando eu lá estive, a Rádio local difundia vários programas diários nos dialetos guineenses. Sobre esse assunto, o desafio fica para os nossos camaradas da Rádio debruçarem-se sobre o assunto.
Abraço,
José Câmara

Torcato Mendonca disse...

O meu abraço Zé Câmara.
Estou de acordo contigo e digo-te que havia estes panfletos na Guin´,1968/69. Haviam outras acções bem mais importantes. Quando estivemos em Fá um Fur Mil que era Prof. ia diáriamente a Bricama dar as suas aulas aos miudos guineenses. Os soldados que não tinham escolaridade, na nossa companhia, eram incentivados a irem á escola aprender o suficiente para fazerem a # e 4ª classe. Nas tabancas tentavamos ensinar os miudos n~so só as "letras" mos outos ensinamentos. (Foi publicado aqui no Blog).
No mato, tenho uma pequena pasta que trouxe, onde o Paigc ensinava a as "letras" e uma série de falsidades ás populações.
Cada um tem direito a ter a sua visão da guerra e dos hérois do In. Podem dar vivas ao Paigc e aos movimentos de outras Colónias...sou contra o Colonialismo, não de agora mas de sempre.
Escrevia mais mas poir vezes nnão entendo certas "coisas".
Abraço Zé e hoje o teu Arquipelago teve uma visita vento/chuvosa.
Ab,T.

Antº Rosinha disse...

Eu quando digo que em Angola tinhamos a "arma do domínio das línguas tribais" sei que na Guiné não havia esse arma.

José Câmara e Torcato Mendonça, Na GUiné não havia esse arma nem nas mãos do "colon" metropolitano nem do "colon" caboverdeano ( aí o maior fracasso de Amilcar Cabral e Luís Cabral, que de uma maneira ou outra não alcançaram o objectivo pessoal a tal UNIDADE Guiné-Caoverde).

Devido à "invenção" do crioulo, ninguem queria saber das línguas étnicas, muitas, e com reduzido número de falantes cada uma.

O que não acontecia em Angola, onde havia muitos milhares de falantes em etnias do tamanho de meio Portugal ou mesmo do tamanho de Portugal (bailundos ?)

E onde muitos brancos e mestiços nascidos ou residentes tinham que assumir naturalmente essas línguas, há muitos anos.

Ainda após a independência, na Guiné é necessário frequentemente tradutores/intérpretes para transmitir os discursos e palestras dos governantes em cada região.

Em Angola qualquer chefe de posto, comerciante, fazendeiro e muitos tropas, falavam uma e mais línguas.

Tive colegas de profissão, brancos e mestiços que falavam corretamente duas e mais línguas, o que não era comum acontecer com os próprios chamados indígenas que só falavam a própria língua.

Claro que contra os canhões e morteiros russos e cubanos não há diálogo que funcione nem em balanta nem crioulo nem francês nem bailundo.

Mas para dissuadir naquele tempo as populações, fosse na Guiné ou em Angola, a melhor arma era usar a língua dessa população.

E essa arma das línguas foi usada em Angola em todas as frentes, governadores de distrito, comerciantes, pide e chefes de posto e militares, testemunhei ao vivo.

Mas também testemunhei na Guiné, pela boca do povo, que o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor".

Ou seja o tal diálogo (e obras) com o povo, em crioulo/português, que se fosse nas línguas nativas, digo eu, o efeito desmultiplicava-se indefinidamente.

Era surpreendente a empatia das populações indígenas do interior de Angola quando contactadas por estranhos, na sua própria língua.

Era como se houvesse um efeito hipnótico, é a melhor maneira que tenho para explicar situações que vi.

E, em surdina para o PAIGC não ouvir, ouvi em Bissau, guineenses falarem de Spínola como se fosse alguém por quem podiam dar a vida.

Ainda haverá um dia algum guineense, escritor que escreva livremente, sem complexos aquilo que se passou do lado deles, sobre todos os pontos de vista, porque do nosso lado (ex-metrópole)já está ficando tudo bem esmiuçado para quem venha historiar.