terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15609: Memória dos lugares (330): A aldeia de Brunhoso é uma importante produtora de cortiça (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)



1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 3 de Janeiro de 2016:


O SOBREIRO

Estes dias inverniços de nuvens baixas e chuva quase contínua a todos nós, jovens de antigamente, roubam-nos um pouco a alegria de viver e diluem qualquer produção de ideias do nosso cérebro numa mistura gasosa ou líquida que não lhes dá consistência nem expressão. Ficamos tal como patos mansos a nadar num lago de margens abruptas, sem a possibilidade e a ousadia do voo.

Tendo passado o Natal em Trás-Os-Montes, a ouvir um irmão lamentar a falta de água que cada vez matava mais sobreiros, essa árvore que se deixa despir de nove em nove anos para alimentar a indústria da cortiça, tão rentável para Portugal, o seu maior produtor, escrevi este texto no site dos "Baptistas", em resposta à Sofia, minha sobrinha:
"Grande Sofia, minha querida, tu realmente já és a maior, tu conseguiste tirar o comando aos Baptistas, homens ou mulheres. Será por estares em Bruxelas, capital da Europa? Ou será porque esse comando é muito suavizado por ser tripartido com uma Clara tão simpática e atenta e pelo Rafa, esse gigante asturiano tão delicado com os outros. 
Para vós e para todos desejo um ano 2016 muito produtivo com as melhores colheitas de sempre, anímicas, financeiras, agrícolas, ecológicas. Como filhos e netos de lavradores ficaríamos contentes se víssemos que as nuvens do céu irrigavam as terras e florestas com a chuva necessária à continuação das espécies vegetais que herdamos dos nossos antepassados. 
Para lá de algum valor monetário, existe um valor maior, que não tem preço, esse é o valor intemporal dessas grandes árvores, os grandes sobreiros, esses grandes seres vivos do reino vegetal, que estão a morrer, e quando eles morrem, morre parte do nosso passado familiar. A antiga família dos Baptistas foi crescendo à sombra deles e do rendimento que periódica e generosamente nos dispensaram. Esse espírito familiar encarna o nosso irmão Emídio, quanto a mim duma forma até um pouco excessiva. Porém temos que considerar que a terra e os climas têm ciclos que se vão alterando entre séculos e milénios".

Longe do Alentejo e das serras algarvias onde se produz a melhor cortiça do mundo, o Nordeste Transmontano, também produz a sua quota de cortiça que não é desprezível e a aldeia de Brunhoso sempre foi a maior produtora, muitos quilómetros ao seu redor. Fico contente com a chuva que cai e com a promessa de chuva que se anuncia, para que essas árvores grandes e frondosas não voltem a morrer de seca pois têm morrido tantas ultimamente. Desculpo a neblina e as nuvens que me impedem um pouco a visibilidade física e intelectual para que se cumpram os ritmos do frio, do calor, do sol e da chuva, de acordo com as estações do ano para que os lavradores, os maiores amigos das florestas, dos animais e das culturas das terras, não tenham que andar sempre a reclamar ou pedir junto dos santos, seus protectores.

Não deixa de ser um texto bastante pessoal, mas desculpem-me os meus amigos, por esta tentativa de sair desta modorra que se tenta infiltrar na minha cabeça ao ritmo da chuva que lá fora vai caindo lentamente.

Para todos desejo dias alegres e felizes, neste ano que está a começar.
Para quem gostar do sobreiro e de fado recomendo o fado "O Sobreiro", cantado por João Braza.

Francisco Baptista
Um abraço
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15566: Memória dos lugares (329): Capelinha erguida em louvor a Nossa Senhora de Fátima, pelo 3.° GComb da CCaç 3327, em Calequisse (José da Câmara)

6 comentários:

JD disse...

Caro Francisco,
Admiro esse teu agarrar às origens. Aqui na cidade não ocorrem esses pensamentos, nem sobre as dificuldades e angústias dos lavradores, esses que não têm feriados, nem fins-de-semana, nem capacidade para regularem os preços justos que as cadeias de distribuição fixam em cartéis de arrogância.
Essa nossa obsessão pelo prático, sem cuidar de mais razões que acentuam as diferenças e desqualificam a civilização partilhada, está a conduzir-nos para a vitória do absurdo sobre a modernidade. Haja dinheiro para continuarmos a importar carnes, batatas e frutas diversas, para além dos indispensáveis produtos exóticos.
Um grande abraço
JD

Anónimo disse...

Pois bem, amigo Baptista, esses teus retornos às origens do corpo e da alma dão-te esse privilégio de evocar "in situ" as maravilhas da vida em comunhão com a natureza, dos tempos em que as pessoas encontravam na sua própria aldeia tudo aquilo de que precisavam para viver.

Um abraço

Carvalho de mampatá.

Anónimo disse...




Amigos e camaradas:

Este poste e os comentários do JD e do Carvalho de Mampatá são uma traição tripla.
A primeira traição é aos Baptistas, que não autorizaram ninguém a escrever sobre a família e muito menos sobre as guerra surda que, entre sorrisos e beijos, se desenrola entre as netas da avó Maria, para lhe suceder no comando.
A segunda traição foi cometida pelo Carlos Vinhal, meu comandante operacional, que tendo recebido o texto num dia triste e com o pedido de o reter até um dia mais claro, resolveu editá-lo noutro dia de nevoeiro, talvez para eu não me aperceber. Carlos, francamente, faltavam-te os mínimos editoriais, para puderes garantires, junto do Luís Graça, nosso comandante-chefe, o teu ordenado, à tantos meses, (ou anos?), em atraso?
A terceira traição foi cometida pelos meus amigos comentadores já referidos, que sem me consultarem, pensaram que teriam, cada um, o presunto e o garrafão de vinho do costume, pelos seus comentários favoráveis.
Há um comentário agradável, além de outros, que por vezes me surpreende, pois não decorre apenas da amizade ou de outros interesses presuntivos ou vinhateiros, e me levam até a pensar que chego a ter momentos de inspiração. Como é natural, a inspiração, desta vez falhou, morreu à chuva, e saiu um texto morno, num dia frio. O Juvenal Amado, é dele que falo, além do mais, anda muito ocupado com a edição do seu livro. Meu amigo Juvenal, terei muito prazer em comprar esse teu livro, mas só com dedicatória tua, quando vieres fazer a apresentação dele ao Norte, pois tu és um homem do centro e de Fátima ao Porto é quase a mesma distância que fazes até à capital.
Meus amigos, Carvalho e José Dinis, os presuntos e os garrafões ser-vos-ão entregues, pelas vias do costume, apesar da vossa traição, desta vez o amigo Carlos Vinhal, esse outro traidor, receberá a mesma encomenda para confusão das gentes e desacerto do mundo.
A todos um grande abraço. Francisco Baptista

Anónimo disse...

Caro Francisco Baptista,
Um dia, quem sabe, irei conhecer a tua terra. São homens como tu, agarrados que são às terras que os viram nascer, que trazem ao nosso conhecimento o melhor das suas regiões têm para oferecer. As tradições e culturas das terras do interior são requisitos que não nos podemos dar ao luxo de desperdicçar. Independentemente das traições a que fostes submetido e das encomendas a que estás obrigado por mor delas, bem hajas por nos lembrares a vitalidade do interior do nosso País, incluindo aqueles que, como eu, estão longe do seu torrão Natal.
Dito isso, estarei sempre ligado a Brunhoso. Dois excelentes homens dessa terra fizeram parte da CCaç 3327/BII17, a que pertenci. O Sr. Alf Francisco Magalhães, um primo teu, comandou o meu GrCmbt. O FurMil Joaquim Fermento comandou uma secção do 2°GrCmbt.
Abraço transatlântico.
José Câmara

Anónimo disse...




Amigo José Câmara:

Mais uma vez gostei muito do teu elogio e do teu cumprimento. Tu és um filho do oceano atlântico mas também és um filho da terra açoreana sempre tão verde, tão fértil e tão bela na variedade das paisagens das ilhas que a formam.
O Francisco Magalhães agora já reformado, como sabes, ocupa a maior parte do tempo a tratar da horta e das oliveiras, com o saber que herdou do pai e do nosso avô comum, que foram os melhores lavradores de Brunhoso. Quando vou lá trago muitas vezes do que ele tem sempre com fartura na horta, grelos, couves, tomates, vagens, pimentos e outros mimos, conforme a época.
O Joaquim Fermento, continua mais por Mogadouro, com o escritório de contabilidade, depois de se ter reformado também do banco.
José vem um dia conhecer Brunhoso, rever estes teus amigos e dar finalmente um abraço a este teu camarada.
Um grande abraço. Francisco Baptista

JD disse...

Olá Francisco!
É de homens como tu, que o país precisa. Já reparaste que me tornei teu cliente mais ou menos habitual. Portanto, como de costume, fica a guardar a desejada encomenda. Há 2 meses quase fiquei pelo caminho, depois de um cosido à portuguesa promovido pela Senhor Cmdt. da Magnífica. Resisti, e agora decidi não perdoar ao máximo de oportunidades que se me ofereçam. Afinal, a vida é uma surpresa.
Com um grande abraço, e a promessa de ir já à caixa do correio
JD