EXCERTOS DE MEMÓRIAS DA GUINÉ
Fernando de Pinho Valente (Magro)
Ex-Cap Mil de Artilharia
2 - O Império Colonial Português
É historicamente reconhecido que navegadores de diversos países, anteriormente ao Século XV, se fizeram ao mar e “acharam” novas terras.
Mas é facto assente que o surto dos descobrimentos se verificou a partir do referido Século XV e entre os vários povos que para ele contribuíram, os Portugueses figuram em primeiro lugar, cronologicamente, e a sua acção descobridora exerceu-se, a partir do segundo quartel de 1400, durante séculos, incidindo em todos os Oceanos e em todos os Continentes.
No oceano setentrional descobriram as ilhas dos Açores entre 1427 e 1452.
A costa Atlântica de África, do Cabo Bojador à Serra Leoa, foi descoberta pelos portugueses entre 1434 e 1460 e as ilhas orientais do arquipélago de Cabo Verde entre 1456 e 1460.
A Costa Africana, da Serra Leoa ao Cabo Catarina e às ilhas do Golfo da Guiné, foi pela primeira vez visitada pelos nossos navegadores entre 1466 e 1475; a Costa de África, do Cabo Catarina à Serra Parda, entre 1482 e 1486, e da Serra Parda ao Cabo da Boa Esperança entre 1487 e 1488.
No Atlântico Equatorial e Austral foram descobertos pelos portugueses o Brasil (1500), as ilhas Ascensão (1502) e de Santa Helena (1503).
Nos Oceanos Índico e Pacífico, na rota marítima para a Índia, foi descoberta a Costa Africana Oriental, desde o Rio do Infante a Mogadoxo (1497), Madagáscar e a costa de Mogadoxo a Berbem (1500), a Costa Meridional da Arábia, Ilhas Curia-Muria (1503), ilhas Canacani (1504), a Costa Ocidental do Industão (1500-1503), Ceilão (1507), Mar Vermelho (1513), Golfo de Bengala (1516), Maldivas (1511), Seychelles ou Ilhas do Almirante (1513), Malaca (1508), Molucas (1512), Timor (1512), Austrália (1525), parte das Ilhas Carolinas (1537), China (1514) e Japão (1541).
“Os descobrimentos portugueses constituíram o primeiro passo na europeização do Mundo, deslocaram do Mediterrâneo para o Atlântico o intercâmbio comercial da Europa; deram a Lisboa características de primordial cidade europeia, estabelecendo-se nelas agências ou sucursais das mais categorizadas casas comerciais da Europa.” (3)
Portugal atingiu também, nos séculos XV e XVI, a tecnologia mais avançada do Mundo na arte de marear.
O Infante D. Henrique teve ao seu serviço alguns dos mais categorizados cartógrafos e cosmógrafos.
A prolongada e intensa actividade marítima de Portugal, de que resultou o descobrimento de inúmeras terras em todas as latitudes, como ficou atrás referido, veio juntar-se posteriormente a exploração dos continentes em que se inseriam.
Dessa gesta resultou que Portugal se tornou um dos maiores países do Mundo e dos mais ricos também.
De tal maneira rico que, quando do casamento da Infanta D. Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra, em Junho de 1661, fizeram parte do dote da nossa princesa duas cidades; Tânger, no norte de África (que possuíamos por conquista, com outras que hoje fazem parte do Reino de Marrocos) e Bombaím (na Índia), que passaram a pertencer desde essa data à Coroa Inglesa.
Esse imenso Império, onde o sol nunca se punha, foi-se reduzindo, ao longo dos séculos, por variadíssimas circunstâncias; quer por guerras que nos moveram franceses e holandeses, quer porque algumas das nossas colónias não voltaram mais à posse de Portugal na restauração de 1640, quer, como aconteceu com o Brasil em 1822, por este grande país da América do Sul se ter tornado independente.
De qualquer forma, ainda em 1960, o Império Colonial Português abrangia uma superfície total de 2.031.935 Km2, correspondendo às superfícies dos seguintes países europeus: Portugal continental, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suíça, Inglaterra e Alemanha.
Em área, Portugal ocupava em 1960 o quarto lugar do Mundo entre os Impérios coloniais dessa altura.
Os territórios que estavam sob o domínio de Portugal eram, além do rectângulo europeu e das ilhas adjacentes, constituídas pelos arquipélagos da Madeira e dos Açores, o arquipélago de Cabo Verde, a Guiné, S. Tomé e Príncipe, S. João Baptista de Ajudá, Angola, Moçambique, Estado da Índia (composto por Goa, Damão e Diu), Macau (na China) e Timor (na Indonésia).
Mas a partir de 1960 este ainda vasto Império começa a desmoronar-se, devido a movimentos de emancipação dos seus povos.
A primeira perda foi a de S. João Baptista de Ajudá, uma presença portuguesa simbólica na costa do Daomé, uma vez que era constituída praticamente por uma fortaleza e um pequeno território – o Sarame – a envolvê-la.
A dezassete de Dezembro de 1961 a União Indiana ocupa militarmente o Estado Português da Índia e anexa Goa, Damão e Diu ao seu território.
Nesse mesmo ano de 1961, em Angola, é iniciada uma guerra de guerrilha contra a nossa permanência naquela área de África, guerra que se estende rapidamente à Guiné e a Moçambique.
Essa guerra, em três frentes, tornar-se-á longa, obrigando a um grande esforço material e humano, com sacrifício de várias gerações de jovens soldados, enquadrados por sargentos e oficiais do quadro permanente e do quadro de complemento (milicianos).
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Nota:
(3) – Damião Peres – Enciclopédia Luso-Brasileira
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____________Nota do editor
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