domingo, 26 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18955: Blogpoesia (581): "Para que servem as palavras", "Soletro os meus versos, letra a letra" e "O essencial", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Para que servem as palavras

Sonoras ou escritas
Têm cor, cheiro e sabor.
Podem ser pétalas ou espinhos de flor.
Umas graves outras leves.
Falam verdades
E falam mentiras.
Consolam a alma.
Magoam e
Curam feridas.
Malévolas,
Se trocam por tudo e
Se vendem por nada.
Tudo revelam
E guardam segredos.
Mudam de rosto conforme convém.
Defendem e atacam os fortes e fracos.
Paradas, vivem à espera de uso
E não cobram vintém.
Carregam nas cores quando convém.
Esquecem os caminhos por onde não passam ninguém.
Com justa medida, julgam os pobres e ricos.
Castas e púdicas se expõem ao sol.
Consertam as letras à sombra para parecerem baratas.
Sem elas não haveria portáteis
E os computadores nem sequer existiam...

Berlim, 20 de Agosto de 2018
19h59m
Jlmg

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Soletro meus versos, letra a letra

Como quem puxa a água dum poço com uma corda.
Encho o balde bem fundo e trago-o à tona.
Bebo dele e me refresco.
A outra parte sirvo à mesa dos amigos.
Suavize e mate a sede de quem chegue.
Sem olhar quem é.
Refresque e acalme a dor e o sofrimento que todos sentimos.
Ninguém está bem a cem por cento.
Minhas letras encham folhas de cor e luz.
Levem longe e sempre razões de esperança.
Lavem um pouco das muitas manchas que a sombra faz.
Embora não o pareça,
Nem tudo é mal no mundo.
O vença o bem e haja paz.

Berlim, 21 de Agosto de 2018
6h41m
Jlmg

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O essencial

É fértil a natureza.
Só nos dá o essencial e
Chega para toda a gente.
Se nada mais houvesse, além do essencial,
estaria muito melhor o mundo.
É como o leito do rio.
Sem ele, não há rio
porque esborda e se desfaz.
É vertical.
É o prumo do equilíbrio.
O secundário ou acessório
Só escurecem ou fazem sombra.
Os ramos adventícios são caducos e inúteis.
Sua poda atenta e constante se impõe para se conservar o tronco.
Nada sobrevive sem o essencial.

Berlim, 24 de Agosto de 2018
11h46m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18936: Blogpoesia (580): "Portão da poesia...", "Pingantes à borda do mar" e "Se alguém me vier bater à porta não terei poema para lhe dar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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