Portão da poesia...
É de bronze o portão da poesia.
Está fechado.
Um letreiro:
- Quem procura já cá não mora.
Fiquei triste.
Habituado a vê-la, mal batia à porta.
- Onde parará agora?
Faz tanta falta.
Atónito e aturdido,
Volto a casa.
Pela madrugada, liguei o rádio.
Antena 2.
Estava a dar um programa de "música e poesia".
A voz doirada de Vítor Nobre ia dizer um poema.
Depois duma introdução musical bem conhecida.
De Joaquim Luís Mendes Gomes
"O comboio amarelo de Cascais"...
Senti um baque.
De olhos marejados fiquei a ouvi-lo e recordei como tudo se passou:
"Ano dois mil.
Um dia à tarde, quando fazia tempo, esperando alguém,
não sei que foi,
senti vontade de escrever poesia.
Olhei. Um comboio estava parado na estação de Algés. Esperando partir.
Conhecia-o tão bem...
Num girar sem fim, só o utilizava entre o Cais do Sodré e Algés.
Tinha comigo o caderno onde apontava as minhas prosas para os jornais.
Soltei o bico à caneta e deixei-o correr à solta.
Foi por onde quis. Foi só segui-lo.
Como ele sabia tão bem de tudo sobre aquele comboio amarelo que ia e vinha.
No fim, comecei a ler.
As lágrimas explodiram nos meus olhos...
"O comboio amarelo de Cascais" o meu primeiro poema.
Nunca mais parei."
Mafra, 13 de Agosto de 2018
20h46m
Jlmg
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Pingantes à borda do mar
Escorrem pingantes das grades da minha varanda.
Foi-se o sol e veio o trovão.
Raios de luz faíscam no céu.
As gaivotas corridas tentam a sorte mesmo à bordinha das ondas.
Da praia debandaram as gentes que esperavam um fim de semana em grande.
Os banheiros à chuva recolhem as cadeiras-espaldares.
Lavados reluzem os carros parados no parque.
Há tormenta no ar.
Chora o negócio das esplanadas que ficaram sombrias.
Só os gelados em bola lambem os beiços gulosos das gentes.
Calou-se o comboio das voltas turísticas daqui até ao cimo do monte.
Bastou um leve clique do sol e tudo ficou do avesso...
Roses, 17 de Agosto de 2018
15h47m
Jlmg
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Se alguém me vier bater à porta não terei poema para lhe dar...
Passei o dia a palmilhar a estrada.
Seca e calcinada.
Como um foragido a fugir do sol.
Atravessando um mar de areia que já foi mar.
Agora é leito. Só Aragão.
Com muito trabalho, coberto de girassois e palha seca.
Abandonado, não.
Por fim a recompensa.
Rose e seu mar calmo e azul.
Brando, me banhei nele e afoguei o calor.
Tudo o mais esqueceu...
na minha varanda sobre o Mediterrâneo ao nascer do dia
Roses, 17 de Agosto de 2018
9h1m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 12 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18916: Blogpoesia (579): "Passou para trás...", "Três dias de ausência..." e "Mar de poesia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
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