quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18946: Historiografia da presença portuguesa em África (128): Duas publicações sobre a Guiné na Fundação Mário Soares (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Como tem sido largamente referenciado aqui no blogue, a Fundação Mário Soares possui um arquivo histórico exemplar de consulta obrigatória, quem vai ao sítio da Fundação e procura “A Casa Comum” sai mais esclarecido.
A cooperação com a Guiné-Bissau tem sido profícua no restauro de diferentes materiais de incontornável valor histórico, e a Fundação tem-se associado a projetos como o do inventário da arquitetura durante a presença colonial, como aqui se refere.
Resta dizer que o livro de fotografias “Raízes”, que encerra preciosas imagens restauradas de fotografias que foram publicadas no Boletim Cultural da Guiné-Portuguesa ainda está à venda ao preço módico de 7 euros.

Um abraço do
Mário


Duas publicações sobre a Guiné na Fundação Mário Soares

Beja Santos




Raízes, o olhar da etnografia em tempos imperiais

A calamitosa Guerra Civil de 1998-1999 refletiu-se brutalmente no património histórico e documental da Guiné-Bissau. As instalações no INEP-Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, que acolhera o património do Museu da Guiné Portuguesa, desde escultura, passando por cartografia, biblioteca até material fotográfico, foram ocupadas e transformadas numa base militar cerca de um ano que durou a Guerra. As instalações, para além de alvo de bombardeamentos, foram depredadas pelos efetivos senegaleses que utilizavam precioso material histórico para fazer fogueiras. O salto foi arrasador, mais de 60% dos acervos documentais da única biblioteca e arquivo histórico foi severamente atingido. Em consequência, a Fundação Mário Soares estabeleceu um protocolo para a recuperação de muito desse arquivo do Museu da Guiné Portuguesa / Centro de Estudos da Guiné Portuguesa. Recorde-se que um dos documentos mais importantes que se produziu entre 1946 e 1973 foi o Boletim Cultural, hoje completamente digitalizado e disponível on-line no site “Memória de África”, em http://memoria-africa.ua.pt/.

Da recuperação destas fotografias que tinham sido utilizadas no Boletim Cultural fez-se uma seleção e a exposição intitulada Raízes. O projeto de recuperação destinava-se a salvar 3374 negativos a preto e branco, 1212 provas a preto e branco, incluindo fotografias referentes à luta de libertação. Fez-se limpeza e expurgo, reprodução digital em boa resolução e o respetivo restauro. Tive a felicidade de visitar esta exposição em novembro de 2010, no INEP, na companhia do seu Diretor de então, Dr. Mamadu Jao, entregara-lhe um presente de valor, em nome do blogue, uma coleção integral das cartas da Guiné, que todos os militares usavam ou conheciam.

A exposição optou por apresentar imagens de homens e mulheres da Guiné-Bissau na sua faina diária ou nas circunstâncias em que se reuniam. Podemos dizer, muitas décadas depois de terem sido tiradas, que encontramos e reconhecemos as raízes de muitas das etnias do país, identificamos com mais ou menos facilidade os seus usos e tradições. O que aqui se mostra são alguns exemplos dessa altíssima qualidade fotográfica de um álbum que qualquer um de nós pode adquirir a preço módico na Fundação Mário Soares.

Mestre muçulmano a instruir os seus alunos.

Balantas trabalhando na construção de um orique.

Rapazes Felupes com trajes e armas tradicionais.

Tatuagem de rapariga Manjaco, região de Cacheu.

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A arquitetura colonial e sítios históricos da Guiné-Bissau

A exposição Urbanidades – Arquitetura e sítios históricos da Guiné-Bissau, de iniciativa da Fundação Mário Soares e do Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do ISCTE-IUL, resultou de um levantamento elaborado pela arquiteta Ana Milheiro e equipa, rastrearam por todo o país exemplares da ocupação colonial, logo a fortaleza de Cacheu, a fortaleza da Amura, vestígios da soberania portuguesa em Bolama onde operou o engenheiro de minas José Guedes Quinhones que também traçou os planos da nova cidade de Bissau, deve-se-lhe o plano urbanístico de 1919.

Escreve-se no texto da exposição que “A segunda metade do século XX corresponde ao arranque da consolidação urbana na maioria dos núcleos urbanos guineenses graças a uma arquitetura de representação que ocupa localizações proeminentes, este processo está ligado à actuação do Gabinete de Urbanização Colonial criado em Lisboa, em 1944, por Marcello de Caetano, então Ministro das Colónias.”

A exposição permite visualizar o que era essa cidade nova, o zonamento que delimita em áreas específicas da cidade as funções residencial, hospitalar, desportiva, escolar, militar, etc.

Uma palavra sobre a arquitetura tradicional. Na última fase do período colonial, multiplicaram-se as missões aos habitats tradicionais, tudo começou com o levantamento coordenado por Teixeira da Mota, A Habitação Indígena da Guiné-Portuguesa, equipas de arquitetos irão procurar pôr de pé um novo protótipo da casa guineense, proposta que nunca será concretizada. A exposição aludia a Cacheu, à fortaleza de S. José da Amura, mostrava o património arquitetónico com mercado municipal, monumentos, edifícios ligados à administração, residências para funcionários, instalações escolares e hospitalares e outros. Também eram contemplados os núcleos fora de Bissau como Gabu e Mansoa, mostrou-se com destaque o edifício dos CTT no centro de Bissau, a antiga Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (hoje sede do PAIGC) e a Administração do Porto de Bissau apresentado como um exemplar da arquitetura tropical.


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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18905: Historiografia da presença portuguesa em África (126): Exposição Colonial do Porto, 1934: imagens inéditas para o nosso blogue (Mário Beja Santos)

1 comentário:

antonio graça de abreu disse...

Não tenho nenhuma fixação sobre o Mário Beja Santos. Na nossa idade, pós setenta anos de muita vida, venturas, agruras, desventuras e aventuras, queremos apenas ser dignos do passado de combatentes nas guerras de África e morrer em paz.
Mas leio o texto do Mário Beja Santos e fico a saber que o nosso camarada entrega "presentes de valor, em nome do blogue" às autoridades, mais do que provisórias, da Guiné-Bissau, Diz o MBS :"Tive a felicidade de visitar esta exposição em novembro de 2010, no INEP, na companhia do seu Diretor de então, Dr. Mamadu Jao, entregara-lhe um presente de valor, em nome do blogue, uma coleção integral das cartas da Guiné, que todos os militares usavam ou conheciam."
Em nome do blogue? Em nome do blogue? Entende-se porque o MBS é semi-dono deste blogue. A sabujice, o lamber de botas dos poderes tão transitórios, eventualmente nossos amigos, da República da Guinné-Bissau.

Abraço,

António Graça de Abreu