Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.
VENHO DE UM JARDIM DISTANTE
ADÃO CRUZ
©ADÃO CRUZ
Venho de um jardim distante florido de memórias
ou de um sonho qualquer
entre risos e lágrimas caindo de um céu de chumbo
ou de um céu de magnólias.
Venho do seio do orvalho da madrugada
num punhado de vida libertada
em qualquer rumor de passos
brincando nos telhados acesos pela luz do dia.
Venho de um jardim distante
onde grinaldas de flores abrilhantam a festa do azul dos tempos
no incêndio do crepúsculo ou no ardor da manhã
do meu berço de mistério e universo.
Venho das esquinas do tempo
em recordações avulsas ao sabor das pontes da vida
cavalgando o vento que assobia nas ruas estreitas
ou mordendo as pedras com punhais de silêncio.
De onde venho ninguém sabe.
Venho talvez da intimidade salgada do mar
ou de um jardim distante com um rio de passos e palavras
e pedaços de sol num rosário de pérolas
abrindo a neblina do nascer da vida.
Venho… quem sabe…
da nudez adormecida no silêncio do tempo
destinado à simplicidade da morte
pelo sinuoso caminho das recordações perdidas
no chão fundo das angústias ou nos retalhos da esperança.
Venho talvez das sombrias entranhas
prenhes de fulvos e ilusórios tesouros
que emergem do fundo do mar
sublimados de cor e luz
à superfície traiçoeira das águas bordadas de espuma.
Ou então…
Ou então serei filho de um mundo sem resposta
sujeito a ventos e marés que enrugam o latejar das veias
e quebram o voo das artérias com lugar no corpo
rompendo o fluir da vida no interior do sonho.
Não.
Eu não venho de lugar algum fora da mente
nem trago comigo a erva daninha.
Eu venho de um jardim distante entre o sonho e a razão
onde o pensamento se agiganta contra as trevas da ilusão.
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Nota do editor
Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18937: Blogues da nossa blogosfera (100): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (19): Palavras e poesia
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