"Até choras por andar de lambreta"... Cartune de Manel Cruz, músico e artista plástico, nascido em 1974,em São Jpão da Madeira, filho do nosso camarada Adão Cruz, com a devida vénia.
1. Há dias descobri que o nosso camarada Adão Cruz, médico cardiologista reformado, ex-alf mil médico, CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68), além de grande escritor (contista e poeta) e pintor, e nosso grão -tabanqueiro de longa data, tem um filho (um de 3 filhos) que também é um talentoso ilustrador e cartunista, além de músico.
Lembram-se da "lambreta" (origem etimológica: Lambretta®, marca registada italiana) ? Diz o dicionário: "Veículo de duas rodas, accionado por um pequeno motor, de forma análoga à motocicleta, mas provido de um assento em lugar de selim de montar, e com rodas de menor diâmetro.
Fonte: "lambreta", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/lambreta.
No passado 2 de fevereiro de 2025, 11:06, o Adão Cruz mandou-nos a seguinte mensagem:
Assunto: Manel
O meu Manel (Manuel Cruz), tem mais de dois mil desenhos feitos ao longo da adolescência e também alguns poemas. Já publiquei algumas centenas de desenhos, mas todos os dias encontro mais e mais cadernos e papéis cheios deles. Vou publicando, tenham paciência.
O meu Manel (Manuel Cruz), tem mais de dois mil desenhos feitos ao longo da adolescência e também alguns poemas. Já publiquei algumas centenas de desenhos, mas todos os dias encontro mais e mais cadernos e papéis cheios deles. Vou publicando, tenham paciência.
2. Por falta de tempo, não posso prestar toda a atenção que devia, ao correio que me chega, apesar da ajuda do Carlos Vinhal.
Mas hoje dei de caras com este "cartoon" (ou cartune, como já vem grafado nos nossos dicionários), e lembrei-me de uma expressão que se ouvia bastante na nossa adolescência: "Até choras por andar de lambreta" (sic)... (A piada era para as meninas do nosso tempo, dos idos anos de 60, que, de saia até meio da canela, se começavam a aventurar nestas maquinetas, de pôr os cabelos dos rapazes em pé.)
Fonte: "lambreta", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/lambreta.
Quem não as viu passar nas então ainda pacatas ruas das nossas vilas e cidades, os cabelos soltos ao vento, com as pernas muito apertadinhas para travar as saias ? Livres, como o vento...
Foi o princípio da "revolução feminista" no sul da Europa... Os "despeitados" chamavam-lhes "marias-rapazes"...
Hoje são avozinhas... E são as suas netas que fazem parte da nossa paisagem urbana: usam minissaia ou calções, a perna ao léu. E, felizmente, também capacete, coisa que não era obrigatória nos anos 60/70/80 (!) (só a partir de 1 de janeiro de 1991)...
Ainda por cima hoje é dia dos namorados.. Pois ai vai um cartune do Manel Cruz, sem legenda, e com a devida vénia ao artista e ao pai...(De resto, os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são...)
Há um página da "Lambretta", na net: para quem quiser saber mais sobre a história deste veículo que ficou no nosso imaginário dos anos 60, clicar aqui. No Facebook há também uma página da "Lambretta - Portugal", que merece uma visita...
Enfim, coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços... (*)
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 8 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26473: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (34): O amola-tesouras (Rui Felício, nado e criado no Bairro Norton de Matos, em Coimbra)
8 comentários:
Segundo apurei na Net, em Portugal, o uso de capacete para condutores e passageiros de motociclos, incluindo "scooters", é obrigatório com o Decreto-Lei nº 117/90, de 5 de Abril, que entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 1991.
E já que a lambreta me faz lembrar o dia de hoje, o "dia dos namorados" (coisa que não se comemorava, no nosso tempo, nem convinha, muito menos em plena guerra)...
Os "apaixonados" são maus combatentes, pensam os "senhores da guerra"... Há várias "lendas" sobre este dia, eu gosto mais da versão corrente (e popular). a do São Valentim... O Valentim, bispo crtistão, contrariou as ordens do imperador Cláudio II, que havia proibido o casamento em tempo de guerra: também era dos que acreditava que os solteiros, com 20 aninhos, de sangue na guerra, e cheios de testosterona, matavam mais e melhor... E, se morreressem, não deixavam saudades, nem mulher para os carpir (a não ser a velha mãe...).
O valente Valentim continuou, secretamente, a celebrar casamentos, infringindo assim a ordem do imperador. Descoberto (ou denunciado, também havia muita "bufaria" nesse tempo...), foi preso e condenado à morte.
No cárcere, muitos jovens lhe enviavam flores e bilhetes como provas de fé no amor. Entretanto, ter-se-á apaixonado pela filha, cega, do carcereiro. Aconteceu então um milagre: Valentim devolveu-lhe a visão.
Antes de ser executado, escreveu-lhe uma mensagem de adeus.... Assinado: “Teu Namorado” ou “Do teu Valentim”.
Uma história de amor trágica mas bonita como todas as histórias de amor... Nem a tropa nem a Igreja devem gostar lá muito deste Valentim .. Ora todos os santos fossem como ele, e o mundo seria bem diferente...
Já tinha estranhado a falta das aguarelas poéticas e dos poemas coloridos do camarada Dr. Adão Cruz. Aproveito para lhe mandar um fraterno abraço a ele e à sua prole e na esperança de que as suas exposições de arte nos continuem a encheram a alma.
Eduardo Estrela
Lembrei-me de António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho (1906-1997), e do seu poema que se segue.
POEMA DA AUTO-ESTRADA
Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.
Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.
Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.
Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.
A página onde encontrei este poema de António Gedeão tem um link para um outro poema dele, que diz muito a quem passou pela guerra. A mim, pelo menos, causa-me arrepios. É o poema seguinte:
POEMA DA TERRA ADUBADA
Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.
As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.
Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.
O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.
As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.
Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.
Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.
Ambos estes poemas constam da Obra Completa de António Gedeão, cuja edição mais recente data de junho de 2022 e foi publicada pela Relógio de Água: https://www.bertrand.pt/livro/obra-completa-antonio-gedeao/27057303
Adão: Em dia de namorados, belo cartune, camarada... Parabéns ao pai e ao
filho! (Também tenho um músico e uma ilustradora, e ambos psis..., ele
psiquiatra e ela psicóloga.). Saúde e longa vida, meu caro. Luis
O Adão foi punido e castigado por ter, no final da comissão, declarado a CCAÇ1547, companhia que fomos render, inoperacional para uma operação na zona Sambuiá Talicó e Cumbamory."
O Schultz enviou uma junta méddica da qual creio que o directorr do Hospital fazia parte, corroborou o diagnóstico do Adão.
Quando fomos render a CCAÇ1547 a ordem foi:
a companhia 1547 vai para Bissau mas o Médico fica.
Obrigado, Rogério... Não me lembro do Adão ter contado aqui essa história...Mas já vamos em 26,5 mil postes em mais de 20 anos...
Não sei se o "boneco" é "lambreta" ou "scooter"... A verdade é que o Manel Cruz tem um belo traço de cartunista...
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