quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Guiné 61/74 . P19006: (De) Caras (117): A morte do fur mil, da CCAÇ 18, Virgolino Ribeiro Spencer, em Aldeia Formosa, em 15 de janeiro de 1972... Acidente ou homicídio na Consoada de Natal de 1971 ? A versão do Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS/ BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73).

Manuel Gonçalves, alf mil mec auto
CCS/BCAÇ 3852
(Aldeia Formosa, 1971/73)
1. O Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), já aqui foi apresentado à Tabanca Grande em 2 de agosto passado. (*)

Em longa conversa que tive com ele, no passado  dia 30 de julho, na Praia da Areia Branca, ele falou-me desses tempos em que esteve em Aldeia Formosa, aí tendo conhecido a CCAÇ 18 e o seu comandandnte, o ex-cap mil Rui Alexandrino Ferreira, nosso grã-tabanqueiro de longa data. (Tem 3 livros publicados, vive em Viseu e inbfelizmente sofre de doenca crónica degenerativa que o impede de continuar a colaborar com o nosso blogue.)

Também foi camarada, na CCS/BCAÇ 3852, do alf mil João Marcelino, que vive na Lourinhã, e que esteve presente no VII Enconro Nacional da Tabanca Grande (2012).



2. O Manuel Gonçalves, ex-aluno dos Pupilos do Exército, esteve sempre em Aldeia Formosa (ou Quebo). E estava lá quando se deu o caso do Virgolino Ribeiro Spencer, fur mil, CCAÇ 18, "morto por acidente",  em 15/1/1972 (**).  

Oficialmente, o exército considerou a sua morte como "acidente". Na realidade, ele terá sido assassinado, quando crculava pela tabanca com a sua motorizada. Era um guineense, de origem cabo-verdiana,  sendo naatural de Nª Sra. Natividade, Pecixe, Cacheu.

Era o único militar, ao que parece, que possuía uma motorizada. Para o Manuel Gonçalves, terá sido morto por alguém da CCAÇ 18, mais provavelmnete da sua própria companhia. As praças da CCAÇ 18 viviam na tabanca, estando por isso armados.

A haver crime. não se apurou o móbil do crime, nem se identificou o autor do disparo.. Pode-se pôr a hipótese de vingança ou racismo. Esta história acabou por ser um "pretexto" para uma "insubordinação militar", com o pessoal da CCAÇ 18,  a revoltar-se e virar as suas armas contra os "tugas" da CCS/BCAÇ 3852.

Foi preciso mandar avançar uma Panhard para serenar os ânimos... Isto passa-se na véspera de Natal, na noite de Consoada, 24/12/1971. O Spemcer, evacuado para o HM 241, em Bissau, acabou por não resistir aos ferimentos, três semanas depois.


Viseu > Regimento de Infantaria 14 > 4 de novembro de 2017 > Sessão de apresentação do último livro do Rui Alexandrino Ferreira, "A Caminho de Viseu" (Coimbra, Palimage, 2017, 237 pp. ) > Um abraço do João Marcelino (que vive na Lourinhã, esteve presente no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 2012, e que é amigo do autor desde a Guiné, tendo estado os dois juntos em Aldeia Formosa: o Rui como comandante da CCAÇ 18, o  João Marcelino, "Joneca", como alf mil, CCS/BCAÇ 3852).

Foto (e legendas): © Márcio Veiga / Rui Alexandrino Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Não sei como é que o Rui Alexandrino Ferreira ficou na "fotografia".  Nunca falei com
ele sobre esta história. Mas no seu penúltimo livro,  "Quebo - Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014, 368 pp),  há uma referência a este trágico caso: capº 11º ( " A noite dos horrores, ou o conflito armado entre metropolitanos e africanos e ainda a morte de Virgolino Ribeiro Spencer").

Confesso que ainda não li o livro e, portanto, não sei qual é a versão do Rui... O Manuel Gonçalves tem o livro e ficou de ver alguns pormenores. Nessa noite, o Rui saiu com o seu guarda-costas e mais uma pequena força com vista a serenar os ânimos. Terá sido recebido à granada. O guarda-costas provavelmente salvou-lhe a vida.

Temos também na Tabanca Grande o Manuel Carmelita (ex-fur mil mecânico radiomontador da CCS/BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73), que nos pode dar a sua versão do que se passou nessa "noite dos horrores".

O Silvério Lobo, soldado mecânico, que esteve sob as ordens do Manuel Gonçalves, também é nosso grã-tahanqueiro e já voltou à Guiné inúmeras vezes, tem inclusive "cartão de residente"... Mas, a verdade, é que o caso do Virgolino Ribeiro Spencer é "virgem", aqui no nosso blogue (**)... Porquê tanto silêncio ?

Rui A. Ferreira
3. O Manuel Guimarães disse-me que o Spínola, face à gravidade dos acontecimentos,  deu um a "porrrada" ao comandante do BCAÇ 3852,  o ren cor Barata, considerando-o como "inapto" para comandar homens em situação de guerra.

Esse tenente coronel disse, ao alferes, que nesse dia "tinha acabado" a sua carreira militar... Já cá, na metrópole, o Manuel Guimarães soube, entretanto, do seu falecimento há uns anos.

O nosso conhecido Barros e Bastos  (, o célebre BêBê, major art do BART 2917, Bambadinca., 1970/72, de seu nome completo Jorge Vieira de Barros e Bastos ), depois de promovido a tenente coronel, foi comandar o BCAÇ 3852.

O Manuel, com 12 anos de Pupilos do Exército, "teve alguns problemas" com o seu novo superior hierárquico. Em Aldeia Formosa, tinha outro "nickname",  o Bagabaga...

Apelamos aos camaradas que estiveram em Aldeia Formosa, em 1972, para confirmar essta história. Não tenho, de momento, condições para falar com o Manuel Gonçalves, o Manuel Carmelita, o Silvério Lobo ou o João Marcelino nem muito menos com o Rui Alexandre Ferreira. (***)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 776.

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel:

Queria que confirmasses (e/ou corrigises) esta versão, tua, mas escruta por mim, sobre a morte do fur mil da CCAÇ 18, que me contaste no Vigia, Praia da Areia Branca, em 30/7/2018...

Houve, por certo, pormenores que me escaparam, só passei essa "história" a limpo, quando cheguei a casa...

Já agora vê se te lembras do nome do 1º comandante do teu batalhão, a quem o Spínola pôs um "par de patins"... e que foi substituido pelo Barros e Bastos, que eu conheci, em 1970/71.

E, já agora, como é que vocês tratavam o Barros e Bastos ? Em Bambadinca, era o Bê Bê...

Um grande abraço, um beijinho para a Tucha.

Luís

PS - Dou conhecimento tamb+em ao Manuel Carmelita e ao Silvério Lobo. Não tenho os endereços de email, atuais, do João Marecelino (que não integra ainda a nossa Tabanca Grande, e que não tenho visto na Lourinhã...) nem do Rui Alexandrino Ferreira.

Se tiveres o livro do Rui, sobre o Quebo, vê qual é a versão dele sobre os acontecimentos de 15/1/1972...

Anónimo disse...



Camarada e amigo Manuel Gonçalves:

Gostei muito de ter encontrado neste espaço virtual depois de te ter encontrado há alguns anos num almoço da Tabanca Grande. Sei que falamos com muita franqueza das nossas raízes e porque os caminhos da vida se vão diversificando por muitas latitudes e espaços, encontrei-me esporadicamente outra vez contigo. Tudo isto para te dizer que continuo a estimar-te e apreciar-te e que para mim há amizades de um dia ou algumas horas que perduram para sempre.
Um grande abraço.
Francisco Baptista

Luís Graça disse...

Sim, Francisco, o Manel é transmontano de Bragança. De cinco estrelas. Oxalá ele queira contar-nos mais histórias dos seus tempos dos Pupilos (12 anos!), e da Guiné (Aldeia Formosa). LG

paulo santiago disse...

O João Marcelino também tinha uma motorizada,uma Honda de 50cc.Em fins de Março de 1972 poucos dias após regressar de Bambadinca,o Marcelino juntamente com o Rui,o Hélder Pereira,o Solai Só,passaram pelo Saltinho a caminho de Bafatá (via Duas Fontes)e o Marcelino deixou-me a motoreta.Fiz largos kms por locais onde não deveria ter ido se a cabeça estivesse com bom funcionamento.
Eles vieram,em viaturas da Aldeia Formosa até à cambança do Corubal,onde foram recolhidos por viaturas do Saltinho.Daqui para Bafatá,apanharam "boleia"com o Rachid,um comerciante com estabelecimento na tabanca de Manpatá que ficava a uns mil e poucos metros do quartel.Na altura,faltariam poucos dias para a emboscada no Quirafo,ainda era seguro ir do Saltinho a Bafatá,via Duas Fontes-Galomaro.

Anónimo disse...

José Martins
quarta, 12/09, 23:58

Boa noite

Este episódio já não é do meu tempo. Regressei em Junho de 1970.

Do que disponho é:

Virgolino Ribeiro Spencer, Furriel Miliciano Atirador número 82172470
Solteiro, filho de Filipe José Spencer e Francisca da Costa Ribeiro Spencer, natural da freguesia de Nossa Senhora da Natividade, concelho de Cacheu.

Pertencia à Companhia de Caçadores nº 18/CTIG, unidade operacional do Batalhão de Caçadores 3852, mobilizado no Batalhão de Caçadores 10/Chaves.

Faleceu em 15 de Janeiro de 1972, no HM 241/Bissau.

Acidente com arma de fogo, tiro inopinado numa tabanca - Aldeia Formosa
Sepultado no Cemitério de Bissau.

Sem mais informações.

Página nº 100 do 8º volume livro 2 das Resenhas.

Alfa bravo

Zé Martins

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Ganda" maluco, o "Janeca", pelas histórias que ele e o Manel me contaram... Creio que o João Marcelino também era dos Pupilos do Exército. Aos olhos dos oficiais do quadro, os tipos dos Pupilos tinham um "estatuto" superior ao nosso.. Tenho pena que ele não integre a nossa Tabana Grande... Esteve uma vez em Monte Real... Vi-o uma ou duas vezes no mercado municipal da Lourinhã... Perdi-o de vista.

A (terrível) emboscada do Quirafo foi a 17 de abril de 1972. "Ganda" maluco também um tal Paulo Santiago, que é sempre bem aparecido, no nosso blogue...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A genealogia dos Spencer (Reino Unido e Cano Verde) é uma molhe de bróculos...

https://geneall.net/pt/forum/14143/familia-spencer-cabo-verde-reino-unido/

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Paulo:

tenho que confirmar com o Manuel Gonçalves... Se bem ouvi (, mas eu estou a ouvir mal...), quando morreu, em 15/1/1972, o Spencer era o único que tinha motorizada em Aldeia Formosa... Pode ser que o João Marcelino tenha ficado com a motorizada do Spencer...

Sabes que ter uma motorizada (50 cc), naquele tempo, na Guiné, era um "luxo", passou a ser o substituto do "cavalo"... Era "manga de ronoc"... Lembro-me que em Bembadinca, no meu tempo (julho de 69/ março de 1971), o único que se passeava de motorizada era o poderoso rédgulo de Badora e comandante das milícias do Cuor, o régulo Mamadu Bonco Sanhá, tenente de 2ª linha, cruz de guerra... Dizem que a motorizada fora-lhe oferecida pelo Spínola...


https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Mamadu%20Bonco%20Sanh%C3%A1

Anónimo disse...

Luís, se ter uma motorizada 50 cc era um luxo, eu com 2 era um ricaço!.
Uma permanentemente em Bissau, e outra na minha aldeia, ou Nova Lamego ou São Domingos.
Também fazia as minhas loucuras com as motorizadas, era a juventude e ignorância.
Essa Honda 50cc era igual a uma das minhas, a outra era a Peugeot 50cc.
Como não sei o que aconteceu a ambas, após vir embora em 04AGO69, pode ser que essa do Santiago uma Honda 50 cc, se for azul, até podia ter sido a minha, alguém pegou nela e a vendeu, eu não sei nada do que foi feito delas, ambas, é estranho, mas verdade.
Agora que fazia muito jeito não há duvida, podia percorrer tudo sem dar satisfação a ninguém, podia correr mal ou bem, mas parece-me que não correu nada mal, tirando umas cambalhotas quando a cabeça já estava a arder...

Foi um comentário, porque um dia quando foram editadas as fotos das minhas andanças de motorizada por Safim, Nhacra, Quinhamel, João Landim, e até Mansoa, só faltou Mansabá, comentaram que 'não era razoável um militar andar de motorizada por esses sítios todos' e tinha razão.
Virgilio Teixeira


Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Manuel Gonçalves confirmou-me ao telefone: o "Joneca" (e não "Ja...neca") tinha também uma "minimotorizada" (disse-me a marca, mas ru não eu não fixei)...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Vam,os ver se nos conseguimos encontrar no dia 27, na Tabanca da Linha... Estou pendurado pela marcação das vindimas na Quinta de Candoz...