quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19010: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste: um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... Parte IV: O papel da Organização das Nações Unidas... Homenagem a Kofi Annan (1938-2018)


(...) Na recepção oferecida por Kofi Annan ao presidente francês Jacques Chirac, ambos na foto posando com o pessoal de serviço. João Crisóstomo, à esquerda [de lacinho...], foi o “Maître D”. Eram ocasiões como esta que o presidente da LAMETA não perdia para o seu “lobby” (...) (p. 59)



Capa do livro
1. Mensagem de João Crisóstomo, com data de 18 de agosto último:

Subject: Koffi Annan

Caro Luís Graça,

Enviei-te um e mail  ainda não faz duas horas e afinal já aqui estou de novo: é que acabo de saber do falecimento de Kofi Annan. Como sabes, ele teve um papel importante no caso de Timor Leste e as comunidades portuguesas nos USA não foram alheias a tudo isso:   várias petições (com  muitas centenas de assinaturas  qualquer delas); manifestações em frente às Nações Unidas; contactos pessoais… um envolvimento que não passou despercebido à própria CNN que um dia mandou uma equipa a minha casa para falar comigo. E no dia seguinte  Timor Leste foi durante todo  o dia   um dos tópicos nos noticiários da CNN; o  que viria a ser repetido mais tarde no "Canal Diplomático" das Nações Unidas.

Não tenho pretensões que o livro LAMETA mereça ou  receba mais realce do que já  lhe deste no nosso blogue. Mas, caso achares pertinente o papel da LAMETA, relacionado com Kofi Annan, está mencionada nas páginas 59 a 64, e inclui:

(i) uma das cartas que lhe escrevi;

(ii) uma foto em que aparecem (a sua residência, onde agora está  o nosso António Guterres)   Kofi Annan,   o Presidente da França e o MNE, etc.,  num almoço que eu aproveitei para fazer o meu lobby por Timor Leste;

(iii) uma carta dele em resposta  uma das nossa petições,  etc.

"Just in case"…
Abraço.

João e Vilma 


2. Extratos do livro de João Crisóstomo, "LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste", edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp. (*)

Vamos continuar a reproduzir, com a devida autorização do autor, partes do livro,  neste caso, partes respeitantes ao cap. 4. Nações Unidas (pp. 59-64), em homenagem, à memória de Kofi Annan (1938-2018), o diplomata ganês, recentemente falecido, que  foi o 7º Secretário-geral da Organização das Nações Unidas (1997-2006).

É um documento para a história, ou pelo menos, para "memória futura", este livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque), ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67).

Nos postes anteriores, ficámos a saber como tudo começou, com o autor (, conhecido como o "mordomo de Queen"), com António Rodrigues, "outro mordomo" (natural da Batalha, distrito de Leiria),  com Anne Treserer e outros ativistas luso-americanos, em 1996. 

O João Crisóstomo, nascido no concelho de Torres Vedras, é um luso-americano, radicado em Nova Iorque desde 1975. Tem formação superior em gestão hoteleira. Aprendeu a fazer "lobbying" social, com a sua ex-patroa, a senhora Jacqueline Kennedy Onassis, de quem foi mordomo.

 O João Crisóstomo conta, aqui neste capítulo, como um mordomo luso-americano pode "mexer os seus pauzinhos", em organizações poderosas como a ONU. Neste caso, "levar a carta a Garcia"... (LG)






 (...) O outro exemplo é prova de que, se é verdade que muitas vezes as nossas cartas não dão resultado algum e parece que estamos a perder tempo, outras vezes elas valem bem a pena e o esforço que fizemos não foi tempo perdido.

Este caso demonstra-o. Em meados de Maio de 1999 fui às Nações Unidas. Não me lembro a data certa nem a razão, mas lembro-me que foi um acontecimento em que Koffi Annan estava presente. Ao sair deparei com o Secretário-geral, num grande átrio não muito longe da entrada onde por vezes tomam lugar exposições e coisas assim. Estava no meio de um grupo de pessoas com quem falava animadamente. Pensei comigo: “Bom, já agora vou dizer-lhe olá; se conseguir, até lhe peço que não se esqueça de Timor, que bem precisa da sua ajuda”.

Não podia ser mal educado e não me atrevi a captar a sua atenção. De qualquer modo, esperei e, quando me apercebi que ele ia embora, surgi e perguntei-lhe se lhe podia enviar uma carta sobre Timor-Leste. Disse-me que sim, que a mandasse para o escritório, mas eu preferia enviar-lhe
para a residência e pedi autorização para o fazer. “All right” - concordou.






(...) Cerca de três semanas depois, recebi uma carta do Chefe do Departamento de Informação Pública que em nome do Secretário-geral dava conhecimento da minha carta e reafirmava a promessa de toda a sua dedicação e de usar todos os meios diplomáticos à sua disposição para encontrar uma solução para os problemas de Timor-Leste. (...)





(...) Fiquei satisfeito e não pensei mais nessa carta, que, na minha opinião, tinha valido a pena escrever pois tinha atingido os fins em vista. O Secretário-geral deve compreender, dizia eu para os meus botões, que a minha opinião é a de muitos outros, mesmo que estes não peguem numa carta para escrever. Era isso o importante, fazer sentir ao Secretário-geral o interesse e preocupação de muita gente. (...)

Um dia tocou o telefone e quando, do outro lado, ouvi referir o nome da CNN pensei que se tratava de mais uma brincadeira desse meu amigo [,  o jornalista Henrique Mano,] .a fazer-se passar por repórter da CNN. “Tem lá paciência, estou mesmo apertado e não dá para falar agora. Falamos mais tarde, pode ser?” disse-lhe no meio da pressa e desliguei o telefone.

No dia seguinte, o telefone volta a tocar. Do outro lado da linha estava uma voz de homem, que ouvi com desconfiança: “Daqui fala Richard Roth da CNN. Sei que ontem esteve muito
ocupado e não pôde falar com o meu colega. Pode-me dar uns minutos agora?”
Fiquei surpreendido e tive de confirmar a veracidade da chamada (...).   Mas era verdade. Tratava-se do correspondente da CNN nas Nações Unidas. Disse-me que estava a preparar um trabalho sobre o Secretário-geral e que tinha encontrado uma carta que eu tinha escrito meses atrás ao Secretário- gerale que gostava de falar comigo. Se eu estivesse de acordo disse-me que poderíamos falar nos
escritórios da CNN nas Nações Unidas ou, caso eu preferisse, para me sentir mais à vontade, que ele
 viria a minha casa com a sua equipa para falar comigo. (...)

A carta que despertou o interesse da CNN, no entanto, foi uma escrita à mão e endereçada a Koffi Annan… Marcamos um encontro em minha casa para dois ou três dias depois.
Procurei nos meus papéis… a ver onde tinha guardado essa carta, que encontrei; era a carta que eu havia enviado um ano antes ao Secretário-geral e já mencionada atrás. Eu, ainda hoje, apesar de computadores e tudo o mais, tenho a mania de guardar cópias de tudo em papel.
A parte em que apareço nesse trabalho da CNN é bem pequena, apesar de terem passado várias horas na minha casa a filmar e a falar. Mas a verdade é que realmente valeu a pena: o trabalho, saído na parte das notícias, foi repetido várias vezes nesse dia e viria a sair em datas posteriores. Mostrou-me em minha casa com painéis e fotos de Xanana e outros motivos relacionados com Timor-Leste por toda a parte e começa comigo a ler a carta que eu tinha enviado ao Secretário-geral da ONU. (...)


______________

Nota do editor:

Último poste da série > 4 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18810: Dossiê LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste: um documento para a história, um livro do nosso camarada da diáspora, João Crisóstomo (Nova Iorque)... Parte III: Novos aliados para Timor: O cardeal e diplomata do Vaticano, Dom Renato Martino

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João Crisóstomo, nosso camarada da Guiné, nosso grã-tabanqueiro, meu amigo da diáspora: tu és um grande luso-americano que sabe levar "a carta a Garcia"... No caso de Timor Leste e de outras causas...

Se os nossos diplomatas de carreira, do "upstairs", não levarem a mal, eu tomo a liberdade, desde já, de escrever as palavras que eum pessoalmente, gostaria gravar no teu epitáfio (, sim, porque um dia teremos que ter a maçada de morrer, ou seja, deixar esta "terra da alegria"...) os seguintes dizeres:

"Um diplomata do "downstairs" a quem a Pátria muito deve"...

Em suma, Portugal é muito mais do que os escassos 11 milhões que aqui habitam, neste "jardim à beira mar plantado"...E tu tens acrescentado valor à nossa "diplomacia"... Mas o patriotismo é isso mesmo: cada um de nós, "lá fora" (, já que não cabem todos cá dentro...), é também um pouco "diplomata", mesmo que não "diplomado"...

Até domingo, na tua festa, na tua terra... Beijos/abraços para ti e Vilma.

Anónimo disse...

Todas as contribuições para que a independência de Timor-Leste fosse uma realidade foram importantes.

Quanto à O.N.U. e a sua intervenção em Timor foi "muita parra e pouca uva".
Altamente louvável foi a intervenção da Cooperação Portuguesa, nomeadamente a GNR, PSP, FUZOS E PÁRAS incorporados nas forças da O.N.U.
Tanto dinheiro mal gasto ..."meu deus".. por pudor não desabafo o que me vai na alma...até mulheres policias americanas lá vi..a ganharem em "dólares" o equivalente a 1.800 contos por mês.. e capitães da policia do Gana a ganharem por mês o equivalente a dez anos de serviço no Gana.

Nunca percebi muito bem o que muita desta gente lá andava a fazer

DESCULPEM O DESABAFO

C.Martins