domingo, 9 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18998: Blogpoesia (584): "Deixem as ondas rolar...", "Lá se foi o primeiro poema..." e "Nariz empinado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Deixem as ondas rolar…

Vaivém constante, desde o começo do mar,
Teimosas, vêm e vão,
Lavam a praia de espuma,
Ressumam a iodo,
Rolam cansadas e desmaiam no chão.
Sacodem os barcos parados no porto.
Chamam p’rá faina.
A pesca não espera.
Há que partir.
É hora!
Há ir e voltar.
Homens da pesca, obreiros do mar,
Lavram as ondas.
O barco é o arado.
O leme a raviça.
As ondas, as leiras.
P´rá frente e para trás.
Poisam gaivotas, ariscas,
Caçam os peixes,
Larvas das pombas,
Expostas ao ar.
Mar sossegado,
Campo lavrado,
Ao sol e ao vento,
Prenhe de pão…

Ouvindo “Somewhere in the time”
Berlim, 7 de Setembro de 2018
9h15m
Jlmg

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Lá se foi o primeiro poema…

Com esforço construi até ao fim, um poema bom.
“Semeando vento”.
Preparava-me para o gravar.
Não sei como, desapareceu…
Senti um baque.
Vou remexer cá dentro.
Pode ser que o reencontre,
Igual ou outro.
Ficar-me não.
Semeando vento, sempre vem a tempestade.
Só se faz a paz, fazendo guerra ao mal.
Corpo e alma fazem um só ser.
Separá-los é vibrar-lhe a morte.
Só erguendo pontes se consegue a união e se ganha tempo.
A ambição é erva daninha. Tudo tapa. Nunca morre.
Sufoca o corpo e mata a alma.
Só a serenidade nos traz a paz e, possivelmente, a felicidade…

Ouvindo Mozart, Beethoven, Bach, Chopin, Tchaikovsky, Handel – The Best of Classical Music
Berlim, 4 de Setembro de 2018
8h29m
Jlmg

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Nariz empinado

Todos os dias, pela manhã, sobe a costeira,
nariz empinado,
vestes brunidas,
e vai para a missa.
É catequista, de apelido, a "pulga",
olhando pró chão,
escorraçando o diabo,
não vá ela pecar.
Leva flores, criadas na horta.
à sua conta tem um altar.
É boa moça, bordadeira exímia,
aprendeu com a mãe,
bisbilhoteira, sempre à janela,
a meter-se com os miúdos da escola.
Um dia, eu disse "carago",
foi o fim do mundo!
Nem ripostando:
- assim, pode-se dizer...
ela absolveu.
- vou dizer à Leonorzinha!
A minha santa mãe...

Berlim, 3 de Setembro de 2018
9h33m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18980: Blogpoesia (583): "Eu amo", poema de Júlio Corredeira, Piloto Aviador Reformado (Mário Santos)

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