sábado, 15 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19016: Os nossos seres, saberes e lazeres (284): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 3 de Julho de 2018:

Queridos amigos,
Não vale a pena chorar sobre leite derramado, não se supunha Albi capaz de interessar para maior estadia, foi erro que custou andar a puxar pelo corpinho septuagenário até ao fim do dia, não se podia perder o essencial do que a cidade episcopal oferece, e mesmo depois da refeição copiosa do museu Toulouse-Lautrec havia que conhecer o casco histórico, e quantas surpresas aguardavam o viandante! Tirou-se o ensinamento que estas viagens devem ser precedidas de mais consulta, a visita a Albi merecia melhor tratamento.
Claro está, ficou a vontade de regressar, haja saúde e o regresso impor-se-á pelas lembranças deixadas. E que lembranças!

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (3)

Beja Santos

Bem tinham avisado o viandante que era um stress tamanho meter o Rossio na Betesga, só passar umas horas em Albi, a cidade episcopal tem muitíssimo para ver, com destaque para a Catedral de Santa Cecília (nave, coro e tesouro), o Palácio e os Jardins de la Berbie e o museu de Toulouse-Lautrec, a Colegial e o Claustro de Saint-Salvi, a Ponte Velha, também no casco histórico o Grande Teatro des Cordeliers, coberto pela sua malha de cobre dourado, os parques, as ruas… mas o roteiro já estava desenhado, era pegar ou largar. E após almoço, fez-se a visita à Colegial de Saint-Salvi e ao seu claustro, um belíssimo património construído entre os séculos X e XIII.



O campanário da Colegial contrapõe-se à Catedral de Santa Cecília, por onde o viandante começou de manhã e ainda quer regressar, é um campanário que define a paisagem urbana do centro histórico de Albi e lhe confere uma tonalidade medieval. Saint-Salvi tem uma arquitetura compósita de românico em pedra e gótico em tijolo, é uma diferença de materiais bem visível no campanário que tem uma base românica e um último nível de tijolo vermelho. A torre era a mais alta da cidade antes da conclusão do campanário da Catedral.


Veja-se a graciosidade deste claustro, terão ocorrido modificações difíceis de entender, talvez demolições que deram a circunstância de termos edifícios de arquitetura civil a cercar a paisagem. O jardim está muito bem tratado, tudo aprazível, vê-se que Albi aceitou este grande desafio de pôr os seus melhores edifícios dentro das exigências do Património Mundial da Humanidade.


À cautela, o viandante regressa à Catedral de Santa Cecília, ainda está sob os efeitos daquela grandiosidade, os frescos do final do século XV, o esplendor multicolorido, as dimensões, com uma volumetria tão acertada, e aquela impressão tão forte provocada pelo tijolo. Quando entrou pela primeira vez lembrou-se e rezou pelos mártires da intolerância, agora sente o coração mais neutro, deambulou no exterior a tomar o pulso a esta catedral com fisionomia de uma fortaleza. Entrou para contemplar com mais atenção a estatuária, e pôr-se de frente ao Julgamento Final.

 Imagem de grande devoção de Santa Cecília, no interior da catedral, antes e depois do restauro.




As abóbadas são um trabalho delicado e o restauro que antecedeu a consagração de Albi como Património Mundial em 2010 deu aso a intervenções que ressuscitaram a formosura das nervuras, como aqui se podem ver.


Veja-se a delicadeza desta entrada, não só as nervuras do teto como a estatuária que circunda o rendilhado da janela. Perfeito mais perfeito não há!


Chegou a hora de partir para o Museu de Toulouse-Lautrec, o relógio não perdoa, quem não pode ficar impressionado com a espessura, o quase canelado destas paredes, as suas gárgulas? E o acaso permitiu que passasse por ali, como se vê na segunda imagem, um turista de mochila às costas, vem no momento certo, dá o sentido da proporção da escala da igreja-fortaleza. E nada mais por ora acrescentar, o viandante vai embrenhar-se seguidamente no palácio de la Berbie, o Arcebispo queria mesmo sentir-se bem defendido, vivia como num castelo, lá dentro está a mais impressionante coleção dessa figura fascinante que foi Henri de Toulouse-Lautrec, o aristocrata deformado que eternizou o interior de bordéis e a vida dos cabarés, para pavor da família.



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18996: Os nossos seres, saberes e lazeres (283): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (2) (Mário Beja Santos)

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