sábado, 8 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18996: Os nossos seres, saberes e lazeres (283): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Junho de 2018:

Queridos amigos,
Albi provoca sensações ambivalentes. Por aqui andaram os albigenses em desavença com católicos, S. Domingos morreu-lhes numa cruzada, cometeram-se massacres abomináveis para pôr termo ao catarismo; e a cidade episcopal, hoje Património Mundial da Unesco, é uma verdadeira emoção, pela sua catedral, pelo seu conjunto urbano, pelo palácio do Arcebispo onde está uma coleção espantosa, centenas de obras de Toulouse-Lautrec, mas ainda há muito mais para ver, em jardins e pontes, o casco histórico, o bairro cultural des Cordeliers.
Quem vai a Albi, é inevitável, quer voltar.

Um abraço do
Mário


Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (2)

Beja Santos

O viandante vai no seu segundo dia na Occitânia, a jornada será totalmente dedicada a Albi, a cidade episcopal a quem a Unesco, em 2010, reconheceu valor universal, inscrevendo-a na lista do Património Mundial da Humanidade na categoria de bens culturais. Devido à greve dos comboios, chegou-se a Albi de autocarro, foi farta a caminhada até a cidade se assomar e é imponente, olhando-a a esta distância até se esquece que aqui se viveram horrores devido a uma guerra religiosa, gente de todas as idades cortada à espada ou atirada à fogueira por causa de uma interpretação teológica.
Porque a cidade é uma formosura, no seu gigantismo impõe-se a Catedral de Santa Cecília, aqui é obrigatório visitar aquele que será porventura o mais belo fresco do século XV, O Julgamento Final, as abóbodas e os seus frescos são extraordinários, encerra tesouros de um enorme valor; mas há outro palácio, foi a residência do Arcebispo onde está um museu de fama mundial, no Palais de La Berbie está uma coleção única de obras do pintor de Albi, Toulouse-Lautrec; mas temos também a colegiada de Saint-Salvi e o seu claustro de uma beleza incomparável, a cidade não se fica por aqui, tem jardins e pontes e um casco histórico como preciosidades a não perder.


Tal como Toulouse, há por aqui muito tijolo róseo, o importante a dizer é que quando o viandante aqui entrou e avistou este fresco desandou-se-lhe o coração, a alma flutuou. Esta catedral demorou dois séculos a construir, ver-se-á em imagens à frente como é tocante a perfeita simplicidade da sua única nave bordejada de capelas do gótico meridional que conseguem criar descrição para a decoração flamejante. Diz o Guia Michelin que o alucinante Julgamento Final é uma das grandes obras-primas da pintura mural do fim do século XV. E diz mais, que está infelizmente desfigurado e amputado da sua parte central para permitir a instalação de um grande órgão, no século XVII. Não obstante, impõe-se estarmos ali, em aturdimento admirando aquela Corte Celestial, os apóstolos nimbados de ouro, os santos e os eleitos nessa Corte Celestial, e vemos à direita os reprovados e punidos pelos seus pecados. É esmagador.



A catedral é uma obra-prima do gótico meridional, é arte “militante” concebida contra a heresia cátara, pretende afirmar o poderio e o vigor das convicções do catolicismo. No exterior é um castelo-forte, no interior mistura-se a decoração palaciana e a exuberância dos frescos. Estas imagens não podem mostrar mas há mais de 18.500 metros quadrados de superfície pintada.





Quem acreditaria que a maior catedral de tijolo do mundo, uma arquitetura profundamente original, um exterior rigoroso e austero, abriga esta decoração com perto de dois hectares, uma inestimável obra-prima da pintura monumental. O viajante tem tudo a ganhar se visitar umas horas, ir espairecer depois, conhecer o casco histórico, e vir seguidamente, para olhar sem pressas o coro com a sua estatuária prodigiosa, a harmonia da balaustrada, contemplar o órgão e ir às salas do tesouro. Santa Cecília é a única catedral francesa que conservou integralmente o seu coro, o seu fecho suporta 150 estátuas. No século XIX, a catedral beneficiou de uma intervenção de grande qualidade e houve restauros que se prolongaram até 2016. Daí a vivacidade deste colorido, daí esta luminosidade ímpar.




O viandante sabe que há mais mundo fora desta Catedral de Santa Cecília, virá mais tarde, são horas de almoço, está indeciso sobre qual das especialidades da região vai almoçar: a feijoada do Languedoc, a salsicha com puré de batata coberto de queijo, as tripas à moda de Albi? A escolha recaiu sobre a salsicha com puré de batata, uma primorosa salada e um pouco de patê com vinho rosé. Daqui a um bocado há de voltar, quer ver os tesouros, ficar mais tempo especado diante do fresco do Julgamento Final, e prometeu a si mesmo que não sairá de Albi sem ver as mais de 200 obras de Toulouse-Lautrec. Cá fora, colhem-se alguns pormenores, este inesperado elemento estatuário e o baldaquino que avança sobre a Praça de Santa Cecília.
Até muito breve.



(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de1 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18970: Os nossos seres, saberes e lazeres (282): Primeiro, Toulouse, a cidade do tijolo, depois Albi (1) (Mário Beja Santos)

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