sábado, 12 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9891: Contraponto (Alberto Branquinho) (44): Se estou grávido ou não, não sei, mas...

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 7 de Maio de 2012 com mais um "Contraponto".

Olá Carlos, boa tarde.
Boa tarde, com esta chuva? Why not?
Aqui estou a enviar-te um texto escrito há uns dias, que creio deverá ser o 44. Ou não?
Espero inclui-lo no segundo e último livro sobre a experiência da Guiné: "Ultima CAMBANÇA".

Um abraço
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (44)

 GRÁVIDO?

O capitão miliciano, que comandava a Companhia ali aquartelada, acercou-se da mesa feita de tábuas de caixotes onde um alferes jogava à sueca com outros militares. Jogavam de forma agressiva, brandindo as cartas como se fossem armas, numa concentração total.

O capitão miliciano dirigiu-se ao alferes:
- Antunes, não se esqueça que é você a sair hoje à tarde, antes do jantar.

O alferes não deu sinal de ter ouvido nem manifestou o mínimo respeito hierárquico.

- Antunes, estou a falar consigo. É você que tem que sair mais logo, antes do jantar. Avise o seu pessoal.
- Está bem, chefe – disse sem levantar a cabeça. E continuou a jogar.

- Você ouviu o que eu disse ou não?

O alferes olhou-o, segurando uma carta:
- OK, chefe. Já ouvi.

O capitão afastou-se, com aspecto agastado.

Um outro alferes observava, de longe. Quando o capitão se afastava, seguiu-o com o olhar. Então recordou uma cena ocorrida em Mafra quase no período final da instrução, pouco tempo antes de receberem as divisas de aspirante.

Um grupo de cadetes, onde estava incluído, olhava de longe, com sorrisos irónicos, um grupo de militares com mais que trinta anos, cujas calças e camisas denunciavam serem novos na tropa. Toda a roupa era demasiado grande ou lhes assentava mal nos corpos. Para os cadetes, já inseridos na instituição militar, da qual já tinham absorvido os princípios e comportamentos, aqueles militares pareciam extraterrestres, caídos ali na parada da Escola. Um sargento, novo, aprumado, possivelmente motivado pela função que estava a desempenhar, estava a dar-lhes instrução designada “ordem unida”. Formados a três mantinham o mesmo aspecto desalinhado, mal acomodados dentro das fardas. Até as botas pareciam estar demasiado grandes. Se observados de perto, os rostos transmitiam raiva, indisposição e, até, desespero.

Depois de um período de marcha, durante a qual alguns seguiam de passo trocado, o sargento ordenou alto. A seguir: “Direita volver”. Uns quantos “volveram” para a direita, outros para a esquerda, ficando alguns face a face, cada um interrogando o outro com o olhar: “Estarei certo e tu errado?” Então, o sargento disse que se virassem para ele em “À vontade”.

Para os cadetes, que observavam de longe, aquilo era hilariante. As cenas que aqueles “velhadas” estavam a fazer! Passado pouco tempo, o sargento: “Firme! Sen… up!” Encaminhou-se, então, para a direita da formatura e berrou: “P’la direita – perfilar!”.

- Tronco para fora! Barriga para dentro!

Com a mão levantada foi verificando o alinhamento. Depois caminhou um pouco, para o meio da formatura e postou-se em frente de um, detentor de uma portentosa barriga e exclamou:
- Ó meu tenente! Parece que está grávido!

Inesperadamente, veio a resposta numa voz altissonante:
- Se estou grávido ou não, não sei. Mas que me foderam bem fodido, isso é verdade.

(Era um curso de capitães milicianos que começara nesse mesmo dia).
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9587: Contraponto (Alberto Branquinho) (43): Guerra Colonial - Tarrafal 50 anos Depois

9 comentários:

Anónimo disse...

Nos tempos que vão correndo (e nas nossas idades!)o humor e um sorriso prolongam a vida. Um grande abraço.

Luís Graça disse...

Hilariante!... O melhor do humor de caserna... Alberto, venho o segundo volume do Cambanças...

manuelmaia disse...

CARO BRANQUINHO,

FIZESTE COM QUE ME LEMBRASSE DE NOVO DA HISTÓRIA DO FULANO QUE JÁ ESTAVA COM CERCA DE QUINZE MESES DE GUINÉ E RECEBEU CARTA DA MULHER A DIZER QUE ESTAVA GRÁVIDA.
EUFÓRICO,CONTOU AOS AMIGOS MAIS CHEGADOS, QUE IRIA SER PAI...
NÃO PODE SER PÁ, TU NÃO VÊS QUE JÁ ESTAMOS CÁ HÁ QUINZE MESES !!!
SE ESTÁ GRÁVIDA ,O FILHO NÃO É TEU...
-EU,DISSO DE MESES NÃO PERCEBO NADA!
ANTES DE CASAR,NAMORAVA P`RA IRMÃ,QUE FUGIU COM OUTRO GAJO, E EU DE VINGANÇA...CASEI COM ESTA... MAS NÃO FIQUEI A PERDER POIS TEM CARTA DE TRACTOR...
ESTA TAMBÉM FOI VERÍDICA !
abraço
manuelmaia

Hélder Valério disse...

Caro Branquinho

Como de costume, parece-me que a tua história não é 'totalmente' ficcionada...

Está a faltar (ou talvez não) uma orientação de 'data de ocorrência'.

Por aí já se poderia 'ver' melhor a razão da 'grande motivação' que o grupo parecia apresentar.

Como situação caricata, humorística, se não fosse ser de tragicomédia está 'bem apanhada'.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

HELDER

Esta situação e muitas situações idênticas surgiram ao longo dos anos e anos em que a guerra esgotou os capitães do quadro permanente (e, até, os aspirantes, acabados de sair da Academia Militar, que seguiam para África, graduados em alferes, para um estágio de alguns meses, voltando, a seguir, comandando companhias, graduados em tenentes - claro, do quadro permanente; o que esteve na minha Companhia acabou por ser morto - era amigo e do mesmo curso do A. Pereira da Costa).
Ora, estes tenentes milicianos, chamados para fazerem os cursos de capitães milicianos - entre nós há alguns e conheces, pelo menos o Picado - já tinham feito cerca de três anos de tropa, sempre aqui e dando instrução básica a soldados que, depois, seguiam para a guerra. Quando chamados, novamente, para a tropa já tinham a vida organizada - casados com filhos, com a vida profissional em curso e, até, tendo feito investimentos em consultórios, laboratórios, etc., que iam pagando e que eram o seu modo de vida. Do seu ponto de vista,como e óbvio, JÁ TINHAM CUMPRIDO O SERVOÇO MILITAR. E, num repente, sem qualquer previsão, toda a vida familiar e profissional ficava desestruturada. Não era de se sentirem fodidos?!
Claro que sim. é como tu dizes - "...se não fosse ser trágico-comédia...".
Só que não há muitos de nós que tenham consciência disso.
Alguns capitães milicianos conheci lá e acabei por ser seu confidente. O triste é que, por vezes, a fuga era... o álcool.
Abraço
Alberto Branquinho

Torcato Mendonca disse...

Pois é meu caro Alberto Branquinho, pois é. Agora em Monte Real esteve lá o Cap 1000 Antº Vaz, 77 anos bons. Para lá foi, talvez aos trinta e tal com vida formada depois de tropa outrora despachada...ou o J. Picado que vi lá e está em forma.

Acontece que moi foi para a tropa e, azar dos Távoras, devia ter ido para Básico. Não, disseram que seria alf. 1000 e isso é f...lixado. Veio de lá estragado e com a vida num oito. Nunca mais foi o mesmo? Nem sei...Ab T

Anónimo disse...

Caros amigos,

O comandante da CCaç 3327, Cap. Mil. Art. Rogério Rebocho Alves, cumpriu o seu serviço militar como qualquer outro mancebo da sua idade. Quando devia ter passado à disponibilidade foi avisado da possibilidade de ser chamado para frequentar um Curso de Capitães Milicianos e comandar uma companhia no Ultramar. Para ele seria melhor continuar ligado ao serviço militar. Aliás, foi aconselhado a fazê-lo.Foi isso que fez e outros seguiram-lhe o exemplo.

Ficou na Repartição de Oficiais. Era um dos responsáveis pela manutenção dos ficheiros e promoções dos Oficiais Superiores.

Naquelas funções, homem casado, como o serviço que desempenhava não o ocupava o dia inteiro foi-lhe permitido ter um part-time civil que o ajudava a providenciar um certo bem estar financeiro.
Tinha trinta e dois anos de idade quando finalmente foi chamado a comandar uma companhia no Ultramar.

O Cap. Alves esteve sempre à altura das responsabilidades que teve que desempenhar. Mas o que me apraz registar são as qualidades humanas deste grande homem que conseguiu comandar uma companhia sem nunca esquecer que debaixo de uma farda estava um ser humano.

Para mim foi um privilégio ter servido debaixo do seu comando. Honra-me a sua amizade.

Um abraço transatlantico,
José Câmara

Eduardo Campos disse...

Como de costume, o Branquinho não faz a coisa por menos, isto é humor de alto gabarito.
Um abraço
Eduardo Campos

Anónimo disse...

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