quarta-feira, 9 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9873: Estórias cabralianas (72): Ressonar... à fula (Jorge Cabral)



Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1971 > O comandante do Pel Caç Nat 53 (1970/72), Paulo Santiago, tomando o seu banho à fula no Rio Corubal.


Foto: © Paulo Santiago (2006). Todos nos direitos reservados.


1. Mais uma estória, a nº 72 (*), do alfero Cabral, cujo pseudónimo literário é Jorge Cabral... Banho à fula, todos tomámos na Guiné... Falar fula, alguns de nós até  falavam, melhor ou pior  (Temos o Luís Borrega que até publicou aqui um minidicionário de fula-português)... Mas ressonar à fula, não era para todos. O alfero Cabral terá sido um dos eleitos. Porquê, não sei. 


Mas vamos lá ler a história (há quem não goste do vocábulo estória, mas isso não vem ao caso por agora).  Recorde-se que o alfero também comandava um Pel Caç Nat, o 63 (Setor L1, Fá e Missirá, 1969/71)... LG


2. Estórias cabralianas > Ressonar em fula...
por Jorge Cabral

Além de ressonar, sempre falei a dormir. Um dia em Missirá propus-me descobrir, de que falava, o que dizia.

Ora, havia lá um velho gravador de fita, máquina pertencente a não sei quem, enfim nossa, pois viviamos numa espécie de “economia comum”

Resolvi pois gravar uma das minhas noites. E assim adormeci, com o gravador ligado, à cabeceira. No dia seguinte, logo pela manhã, à volta da mesa ensebada onde comíamos, quase todos os brancos e alguns negros escutaram. Roncos e mais roncos, mas entre eles alguns sons que me pareceram intraduziveis. É latim alvitrou o Teixeirinha, talvez espanhol opinou o Freitas, balanta gritou o Demba e já íam entrar em discussão, quando o Daíro, com um ar muito sério, sentenciou:
- Alfero, palabras nka ntindi, mas ronca na fula.

Fiquei esclarecido. Ressonava em fula.

Ainda me lembro aliás, da cara do Polidoro (**), quando em Missirá me perguntou:
- O Cabral fala fula? -  E eu convictamente respondi:

- Não. Em fula só ressono.

Confesso que havia esquecido este meu atributo, até que há um mês o Gama dos Morteiros, me encontrou no Jardim da Estrela e indagou: 
- Ainda ressona em fula?

 Fiquei curioso e nesse mesmo dia corri a pôr um anúncio no Correio da Manhã:

 "Precisa-se senhora fula para acompanhar o sono de senhor um pouco idoso. Assunto sério!"

Devem ter interpretado mal, pois nem uma resposta recebi.

Será que continuo a ressonar em fula?

Jorge Cabral
_______________




(...) Há uns tempos recebi uma simpática mensagem de uma leitora das “estórias cabralianas”. Gabava-me o humor mas alertava-me, algumas indiciavam uma certa “fixação mamária”. Nada de grave, que não pudesse ser tratado no seu divã, de psicanalista, presumo. (...)

(**) Ten cor inf João Polidoro Monteiro, comandante do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

11 comentários:

Luís Graça disse...

Jorge:

Esqueci-me de dizer que, a este ritmo, vamos ter este ano não um livro de 50 "estórias cabralianas", mas dois... Daqui até cem são 7 meses com uma história por semana... Vamos a isto, e vamos fazer um grande ronco... Aonde ? Já esoolheste o bar, a tasca ?... Abraços grandes. LG

paulo santiago disse...

Aquele banho,foi-me obrigatório durante um mês,era um suplício não poder mergulhar no Corubal,mas tinha uma colecção de "pontos" na coxa direita graças a um "afago"do prato do morteiro 60,cena contada há anos aqui no blogue.Aquela mancha(?)branca na coxa direita será
o plástico que colocava a proteger a
"o trabalho de costura"feito pelo FurMil Enf.Freire da CCAÇ 2701.

Cabral,de Finete e Missirá,
Trata de marcar esse encontro,falado em Monte Real,dos
PELCAÇNAT's(és o pai da ideia)numa tasca onde haja bom vinho,e até podes apresentar esse livro de que o Luís tem falado.Também pode ser em...Finete

Abraço

Luís Graça disse...

Apoio a ideia: os Pel Caç Nat merecem uma história à parte... pelo menos ou um grosso capítulo na história da guerra da Guiné...

O Henrique Matos, o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, já há tempos reuniu uma série de Pel Caç Nat... É fazer um contacto com ele...

antonio graça de abreu disse...

Mas qual é o problema de ressonar em fula?
Eu aprendi a ressonar em chinês, para a harmonia
completa com as beldades do velho Império do Meio.

Abraço,

António Graça de Abreu

Manuel Joaquim disse...

Meu caro A. Graça de Abreu, as lindas chinesas ou eram (são) surdas ou então és um sortudo que ressona em tons encantatórios de escala musical chinesa!
Cá comigo é a desgraça com o meu concerto "ressonante". A beldade que me acompanha na cama vira atleta de luta livre: ele são cotoveladas, ele são pontapés, quando não é a expulsão pura e simples do leito conjugal. E, então, lá me vejo "calimero" a caminho de outro poiso.
O teu comentário acima fez-me pensar na razão desta "luta": devo ter aprendido a ressonar em alemão com música de Karlheinz Stockausen já que gosto dela. Azar meu o não ter escolhido música de Bach, de que também gosto e é a preferida da minha "atleta" parceira conjugal!
Um abraço, com acordes do "Celeste Império"

Cherno Baldé disse...

Caro Alfero,

Pode ser pura coincidência mas acredite que ontem a noite, alertado por um barulho inabitual dentro da casa, fui ao quarto dos meus filhos para verificar a origem de um ruido estranho.

Afinal, era o meu filho mais velho (16 anos) a ressonar com toda a força dos seus pulmões, deitado de costas e a boca semi-aberta e, pasme-se, em Português.

Quanto as mamas, tens toda a razão. O velho e eterno adm. de Geba, Calvet de Magalhães, tal como o nosso Alfero, pela profundidade dos conhecimentos, devem ter estudado muito bem a matéria.

Um abraço,

Cherno AB.

Anónimo disse...

Olá Cherno!

Obrigado pelo divertido comentário.


Um destes dias vou enviar-te a

gravação do meu actual ressonar,

para certificares...Será mesmo

fula?

Grande Abraço.


Alfero Cabral

Anónimo disse...

O saber não ocupa lugar e se não for bem assim, é parecido…..

Das: 21 às 22:00: É o horário em que o corpo realiza atividades de eliminação, químicos desnecessários e tóxicos (desintoxicação) através do sistema linfático do nosso corpo.
Neste horário do dia devemos estar num estado de relaxamento, a escutar música, ou a ler, por exemplo.
Das : 22:00 às 01:00: o corpo realiza o processo de desintoxicação da vesícula biliar, e o ideal deverá ser processado num estado de sono profundo.
Durante as primeiras horas da madrugada 01:00 - 03:00: Segue-se o processo de desintoxicação do fígado, deverá acontecer sempre num estado de sono profundo.
Na madrugada 03:00 - 05:00: desintoxicação dos pulmões. É por isso que por vezes neste horário produzem-se fortes acessos de tosse. Quando o processo de desintoxicação atinge o trato respiratório é melhor não tomar medicamentos para a tosse já que interferem no processo de eliminação de toxinas.
Manhã 05:00 - 07:00: desintoxicação do cólon. É o horário de ir à casa-de-banho para esvaziar o intestino.
Durante a Manhã das 07-09:absorção de nutrientes no intestino delgado. É o horário perfeito para tomar o
pequeno-almoço, que deverá de ser a refeição mais importante do dia.
Quando você sai para "uma longa viagem, não atesta sempre o deposito"?
Pois então faça-o com o seu organismo e coma menos ao jantar, e terá um sono tranquilo!
Se estiver doente o pequeno-almoço deve ser tomado mais cedo: antes das 06:30.
O pequeno almoço deve ser tomado antes das 07:30 é benéfico para aqueles que querem manter-se em forma.
Os que não têm por hábito tomar o pequeno-almoço devem tentar mudar o hábito, sendo menos prejudicial realizá-lo entre as 9:00 e as 10:00 em vez de ficar a manhã completa sem comer.
Dormir tarde e despertar tarde interromperá o processo de desintoxicação dos químicos desnecessários ao teu organismo. Além disso deves ter em conta que das 00:00 às 4:00 é o horário em que a medula óssea está a produzir sangue. Então, procura dormir bem e não te deites tarde.
CUIDA DA TUA SAÚDE
Vive a vida com limites!

Hélder Valério disse...

Caro camarigo Jorge Cabral

Mais uma história com a tua marca.
Curta, incisiva, explícita numa parte, insinuante noutra, produto de madura reflexão...
Olha, tal 'problemática' o do idioma do ressonar, nunca me tinha ocorrido. Confesso que já me tinha questionado sobre a capacidade dos galos cantarem em francês, inglês, espanhol, por aí fora, também o mesmo com o ladrar dos cães, acho até que também na Guiné cheguei a pensar e a pasmar com a capacidade dos animais em se expressarem nas línguas nacionais conforme onde se encontravam mas quanto ao ressonar... nicles!
Mas estamos sempre a aprender e agora fiquei mais rico com estes conhecimentos.
Também o contributo do Cherno é importante pois podemos então verificar que, com o sono, as nossas capacidades de aprendizagem de línguas crescem de forma que não se suspeitava.
Abraço
Hélder S.

José Marcelino Martins disse...

Comwentário ao comentário das 19 horas do dia 10, apesar de ser um comentário "totalmente Anónimo":

01 - Bom texto, mas... está anónimo. Será esquecimento?
02 - Texto mais aplicavel aos mais novos. já que nós já somos cotas e, depois de certa hora, já dormitamos no sofá, senão já em "Vale de Lençois". Infelismente nem todos têm este adereço (lençois).
03 - Mas temos filhos e netos e sempre podemos dar uma dica, ou enviar a mesma por mail. Se calhar são capazes de a ouvir/ler masi depressa que escutar.
04 - Se o autor foi/é camarada de armas, deve ter histórias para contar e então, porque não convida-lo a ingressar na Tabanca como membro ou amigo?
05 - Se o o autor comentador não é o autor dotexto, provavelmente foi retirado de alguma publicação que, dando a conhecê-la, nos trará novos conhecimentos. E nós ainda estamos em tempo de aprender.
06 - Já agora, e é minha opinião pessoal, pedimos que o mesmo se identifique. Aos editores que, excepcionalmente, mantenham este comentário.

José Marcelino Martins disse...

Quanto ao texto do nosso Alfero, não há adjectivos para o definir.
Apenas temos mais uma história de um COMBATENTE PORTUGUÊS.
Abraço Jorge.