1. O nosso camarada António Matos, ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, enviou-nos uma mensagem a propósito da guerra das minas em Bula, publicada em 4 de Maio de 2012 no poste P9850, da autoria do nosso Camarada Luís Faria e onde havia colocado o seguinte comentário:
"Caro Luís, viva!
Mais uma vez dou uma espreitadela ao blog, rodopio o botão do rato 1/2 dúzia de vezes e detenho-me nesta tua dissertação àquelas aventuras danadas que vivemos conjuntamente.
Venho aqui para te mandar um abraço e faço-o com a possibilidade de ser extensível a toda a rapaziada que o queira receber.
Falaste de minas e provocaste-me aquele ódio de estimação que elas ainda hoje me causam.
Regredindo àqueles anos 1970/72, plantados que fomos em terra Balanta, acampados em Bula e na área que hoje chamaríamos de grande Bula (à semelhança do grande Porto ou grande Lisboa)- Augusto Barros, Mato Dingal e João Landin - dou por mim, uma vez mais, a suar frio e a acelerar o ritmo cardíaco enquanto desfilam em frente aos meus olhos fechados as mais dilacerantes cenas de gritos de dor por partes do corpo arrancadas brutalmente pela deslocação de ar e perante a impotência de evitar o mal que se instalara já...
Aproveito, entretanto, para mandar uma boca sobre o croqui que desenhaste sobre a disposição das minas nos cachos pois não está correcto.
A incorrecção está no facto de mencionares ( se bem entendo o desenho ) 5 minas por cacho quando elas eram apenas 4: a célebre portuguesa colocada na perpendicular à linha imaginária entre os dois pontos escolhidos como referência do troço e a 1 metro e 1/2 dessa linha; depois e em relação a esta mina, havia outra a 1 metro e 1/2 para a esquerda, outra a 1 metro e 1/2 para a direita e outra ainda a 1 metro e 1/2 para a frente.
Estas 4 minas desenhavam um semi-círculo cujo seguinte mantinha a mesma estrutura mas do lado oposto à tal linha imaginária e assim sucessivamente ao longo de 9 kms e em duas fiadas mais ou menos paralelas.
Estas 4 minas desenhavam um semi-círculo cujo seguinte mantinha a mesma estrutura mas do lado oposto à tal linha imaginária e assim sucessivamente ao longo de 9 kms e em duas fiadas mais ou menos paralelas.
A densidade de minas por metro quadrado era imensa e tornava-se tarefa quase impossível atravessar o campo sem accionar uma delas.
Já muito se escreveu sobre o número que tu referes como tendo sido um total de 10.000 engenhos.
Eu faço um desafio: se calcularem haver 12 minas colocadas por cada 10,5 metros e se depois multiplicarem por 2 (foram 2 fiadas paralelas), verão que o total foi de 20.000 minas!
Quanto à finalidade daquele campo de minas, tens razão nos teus argumentos pois aquela arma de guerra tinha como finalidade primeira o dificultar dos reabastecimentos entre o IN instalado em Ponta Matar e o de Choquemone (este mais saltitão).
A esta distância ponho-me a pensar no confrangedor amadorismo com que encetámos aquela tarefa a qual era observada pelo inimigo empoleirado nas árvores de tal modo que só apanhámos indivíduos avulso enquanto o Nino passava com várias dezenas de guerrilheiros e não accionavam uma única!
Sirva-nos a experiência para sermos fervorosos pedagogos na abolição de tão execrável material de guerra nos conflitos que por aí andam..."
Camaradas,
Aproveito também para referir que ao reler um comentário que fiz ao poste P9850 do Luís Faria - "Viagens... 52"- convenci-me que pode ter ficado pouco clara a descrição que feita.
Peguei numa folha de papel e rabisquei a estrutura do campo de minas (Bula - S. Vicente) em complemento ao tal comentário.
Anexo esse papelucho pela curiosidade que possa provocar aos que não viveram este tipo de situações.
Abraços fraternos,
António Matos
Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790
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Nota de M.R.:
Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
5 comentários:
António Matos, saúdo a tua reaparição (mesmo que breve). Aos camaradas e amigos, não se pergunta "por onde tens andado, o que tens feito"...Mas sim, "dá cá um abraço, que há muito tempo não te via"...
Luís e António, a vossa experiência (e sabedoria) em matéria de minas e armadilhas pode muito bem ser explorada e posta ao serviço desta boa causa, que é a campanha para a eliminação desta e de outras armas de guerra, "cegas" e que continuam a matar e a estropiar inocentes em tempo de paz, muito depois do fim da guerra...
Caro camarigo António Matos
Vê-se bem que as minas ainda 'mexem' contigo! E de que maneira!
E poderia ser de outro modo? Para quem teve 'contactos imediatos', acho que não! Eu, felizmente, não estive metido nessas andanças mas não deixava de temer pelos amigos sempre que iam em coluna ou patrulhas. E também nas três ou quatro colunas onde me integrei ia sempre 'apertadinho'...
Já agora, para quem não sabe, o nosso amigo AMatos é um excelente 'fazedor de petiscos'... é só acompanharem a sua página no "Face" e tomam logo conhecimento dos cozinhados que faz, dos tradicionais aos 'experimentais'.
Que sejas bem aparecido! Vem mais vezes!
Abraço
Hélder S.
ORA VIVA QUEM É BEM APARECIDO!
UM ENORME ABRAÇO DE BOAS VINDAS.
Também saúdo o teu regresso. És dos que escreves bem e com lucidez.
Um abraço
JD
Malta ! Estou destreinado !
É a 3ª vez que "perco" o que escrevi, mas eu sou teimoso, c'um caneco !
Começava por agradecer as complacentes palavras que me dirigiram e aproveito para esclarecer que aqueles riscos no meio do "desenho" tentam ser eventuais trajectórias de quem quisesse atravessar o campo.
Reparem que em qualquer direcção, acertavam sempre, pelo menos, num dos engenhos !
Quanto à cozinha com que o Helder vos enganou ( aquilo não vale nada ! ) confesso que o que me dá mais gozo depois de vestir o avental, é o manuseamento da faca !
Deve-me ter ficado o jeito com o treino que tive nas minas ....
Abraços
António
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