Carlos,
Embora com algum atraso, consegui obter do Cor. Inf. na Reforma Mário José Vargas Cardoso, o artigo que ele me tinha prometido sobre como nasceu a "promoção" a Capitão da Cilinha Supico Pinto, no Olossato*, cuja origem da graça tanta curiosidade causou.
Isto se é que ela também não foi promovida em mais algum lugar...
O texto e as fotografias da visita vão em anexo.
Diz ao Luís Graça que o artigo tardou mas não faltou.
Pena o desfasamento no tempo.
Um abraço para o pessoal coordenador.
Raul Albino
CECÍLIA SUPICO PINTO – “CILINHA”
“GRADUADA” em Capitão do Exercito Português
Data: 11 de Maio de 1969
Em 24 de Julho de 1968, a CCAÇ 2402 – “LYNCES” – embarcou para a Guiné a bordo do UÍGE.
Entrámos em sector a 1 de Agosto, na guarnição de CÓ, Batalhão de Bula, na margem norte do rio MANSOA.
Em Março de 1969, a companhia juntou-se ao Comando do seu Batalhão (BCAÇ 2851) no sector e guarnição de MANSABÁ, onde permaneceu pouco mais de um mês.
Rodámos para o OLOSSATO em Abril, por ordem do próprio Comandante-Chefe, com a missão, atribuída directamente pelo Comandante-Chefe, de recuperar populações no sub-sector do OLOSSATO.
Na primeira quinzena de Maio 69, tive de me deslocar a Bissau, em serviço.
A 10/Maio, fui informado pelo QG, de que a Presidente do MNF, presente na Guiné, ia visitar a minha Companhia, pelo que poderia aproveitar a viagem no heli.
Como os assuntos a tratar em BISSAU estavam resolvidos, prontifiquei-me a acompanhar a “CILINHA” (como era conhecida pelas nossas tropas), nessa sua deslocação ao norte da Guiné.
Tive oportunidade de passar pelas guarnições de CUNTIMA – FARIM – K3 e finalmente OLOSSATO onde estavam os meus “Lynces de Có”.
Conforme as fotos juntas o testemunham, a nossa visitante, foi calorosamente recebida pelos militares da CCAÇ 2402 e pela população nativa que vivia junto à guarnição local.
No regresso a BISSAU, a “CILINHA” mandou o helicóptero descer junto ao destacamento da ponte MAQUÉ, que era ocupado pelos militares do OLOSSATO, que a receberam com natural surpresa.
De referir, que na minha segunda comissão em Angola (Out64 a Jan67) tive oportunidade de conhecer a Presidente do MNF, quando da sua visita ao BCAÇ 725 em NAMBUANGONGO, onde desempenhei as funções de Oficial de Operações (fazendo mesmo operações).
Na possibilidade de acompanhar a nossa visitante nessa viagem a 11 de Maio de 1969, pude confirmar, a forma como a “CILINHA” conseguiu cativar a simpatia e consideração da generalidade dos militares portugueses em qualquer das guarnições, corroborando assim a opinião com que ficara, quando em 1965 a conheci em NAMBUANGONGO.
Ao agradecer à nossa visitante e sua secretária, a presença na minha CCAÇ 2402, as lembranças que nos entregara, as palavras que nos dirigira de apoio e estímulo e a simpatia da sua visita, decidi “promover” a “CILINHA” ao posto de “Capitão Honorário”, da nossa CCAÇ 2402, com o aplauso dos “Lynces de Có”.
Sendo a Senhora Presidente do MNF, que à época e após o 25/Abril, gerava alguma polémica, acho que é justo referir nesta oportunidade, um episódio que chegou ao meu conhecimento, quando em 72/74 cumpri a 2ª comissão seguida na Guiné.
Na 4ª e última comissão (Mar72 a Jul74), fui oficial de operações do BCAÇ 3884, responsável pelo sector de BAFATÁ, e a partir de Nov73 já major, acumulei com o Comando de Batalhão.
Em data que não consigo precisar (final de 73 princípio de 74), a Cilinha visitou BAFATÁ e algumas unidades do sector, tendo pernoitado uma noite na cidade.
Após o jantar, foi convidada para uma sessão de fados em casa do Capitão Médico, a qual se prolongou noite fora, num agradável e moralizante serão, com muitos oficiais e sargentos da guarnição.
Todo o “mundo” militar, sabia das qualidades de “fadista” da Presidente do MNF.
No dia seguinte, a nossa visitante, seguiu viagem para NOVA LAMEGO, com escolta do meu Batalhão, sendo apresentada ao Comando de Agrupamento.
Soubemos dois dias depois, que a coluna militar que a escoltava em visita à guarnição de CANQUELIFÁ (se a minha memória não me falha), fora emboscada pelo PAIGC.
Em resultado desse contacto, a “CILINHA” , como enfermeira (que era) da CRUZ VERMELHA, procurou ajudar um dos nossos feridos, o qual terá falecido nos seus braços.
Aqui deixo os episódios que vivi ou conheci, com a Presidente do então Movimento Nacional Feminino, nas 4 comissões que me orgulho de ter cumprido, na Guerra do ULTRAMAR (a 1ª em ANGOLA – Outº59 a Nov61) e tive oportunidade de ter a sua visita, nas unidades a que pertenci nas restantes 3 comissões.
MÁRIO JOSÉ VARGAS CARDOSO
COR. INF. (Reforma)
Imagens da Passagem da “CILINHA” pelo OLOSSATO em 11 Maio 1969
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 22 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10982: Memória dos lugares (207): Visita da Cilinha ao Olossato, ao tempo da CCAÇ 2402, em maio ou junho de 1969 (Raul Abino)
Vd. último poste da série de 9 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11219: Memória dos lugares (223): Capó, na estrada Bachile-Cacheu. uma das estações do calvário da CCAÇ 2444: ali morreram em combate três camaradas açorianos em 6/2/1969, no mesmo dia da tragédia no Rio Corubal, no Cheche (João Rebola / J. C. Resendes Carreiro / Manuel Carvalho)
1 comentário:
“Apanhados”, diziamos na Guiné, eram aqueles cuja pressão da guerra, ou simplesmente do clima, ultrapassava a capacidade de encaixe.
“Apanhados”, também, são os que nos programas de televisão a isso dedicados, são colocados em situações estranhas visando suscitar o gaudio dos espectadores.
Mas... no presente Post o “apanhado” fui eu.
Tal como referi em comentário anterior sobre este assunto, lembro-me perfeitamente que um dos primeiros voos que realizei na Guiné foi numa viagem da “Cilinha” e que o Olossato foi um dos pontos visitados, confirmo agora que estava exactamente no meu 15ª dia de Guiné e a outros 15 de fazer 20anos de idade.
E que na sequencia da mesma apanhei um tal carradão de paludismo (com baixa à enfermaria e tudo) que julgo me imunizou para a maleita para o resto da vida.
Mas, voltando ao mas…
Tal como comprovam as fotos 4 e 5, “posar”, qual guarda costas improvisado, à direita e por detrás da senhora, quando esta aparentemente se dirigia “às tropas”, é que jamais me passou pela cabeça, nem o motivo para me encontrar nessa inusitada posição.
Jorge Narciso
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