1. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, com data de 10 do corrente, comentando um comentário ao poste P11200 (*) [, O Francisco foi aolf mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70, e mais tarde ex-embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau, 1997/1999] [, foto à esquerda, 26 de Abril de 2012, Lisboa, Bertrand Dolce Vita Monumental, tertúlia,; foto de L.G.]
Meu caro Luis Graça,
Desculpa a resposta tardia, mas estou fora, ausente no estrangeiro e nem sempre com acesso fácil à Internet. Agradeço as tuas palavras elogiosas e amigas que provavelmente não mereço.
A Guiné interessa-me no seu todo e não me concentro unicamente nos episódios de guerra, no companheirismo de então, nos avatares da nossa vida jovem perturbada com essa ida às "Áfricas." Vivi períodos distintos na Guiné e guerras diferentes. O passado, o presente e o futuro daquele país, a vida social, política, económica, religiosa, cultural interessam-me muito e, como sabes, sou muito crítico em
relação ao que se está a passar naquele país, não no sentido de interferir com a vida do povo bissau-guineense (eles que decidam colectivamente o que querem fazer), mas de algum modo contribuir para
tornar aquele "non state", estado "soft", frágil ou, mesmo, país falhado numa realidade mais benigna e optimista, ou seja num Estado viável, mas essa tarefa recai nos ombros dos bissau-guineenses e não
nos nossos.
Aliás, os verdadeiros amigos servem para que se digam palavras duras e chamadas de atenção e não apenas para pancadinhas no ombro e as habituais "mantenhas". Vou procurar, na medida do possível,
dar uma colaboração mais frequente ao blogue e tenho já várias coisas na calha.
Por outro lado, tu sublinhas um ponto fundamental: nós, nos anos 60-70, saídinhos do remanso das nossas vidas sem grande história, iguais a tantas outras, das nossas cidades, aldeias, campos e ilhas,
não fazíamos ideia do que é que íamos encontrar. Que povos? Que história? Que clima? Que línguas falava aquela gente? Que dificuldades iríamos encontrar? Etc. Sim, como dizes, com toda a razão: O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... " Esta é uma verdade insofismável. Por aqui me fico.
Com um abraço cordial e amigo
do Francisco Henriques da Silva (**)
______________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 6 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11200: Notas de leitura (462): Rosa no Pais das Flores da Luta, por Maria do Céu Mascarenhas (Francisco Henriques da Silva)
dar uma colaboração mais frequente ao blogue e tenho já várias coisas na calha.
Por outro lado, tu sublinhas um ponto fundamental: nós, nos anos 60-70, saídinhos do remanso das nossas vidas sem grande história, iguais a tantas outras, das nossas cidades, aldeias, campos e ilhas,
não fazíamos ideia do que é que íamos encontrar. Que povos? Que história? Que clima? Que línguas falava aquela gente? Que dificuldades iríamos encontrar? Etc. Sim, como dizes, com toda a razão: O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... " Esta é uma verdade insofismável. Por aqui me fico.
Com um abraço cordial e amigo
do Francisco Henriques da Silva (**)
______________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 6 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11200: Notas de leitura (462): Rosa no Pais das Flores da Luta, por Maria do Céu Mascarenhas (Francisco Henriques da Silva)
(...) Comentário de Luís Graça:
Camarada Francisco Henriques, obrigado pela tua importante, oportuna, elegante, competetentíssima e completíssima "recensão" do livro da nossa amiga M.C. Macarenhas...
Tudo o que diga respeito à Guiné e aos guineenses nos interessa... Vem tarde, mas ainda é útil. Para nós, para eles...
Recordo o tempo (miserável) em que íamos combater (e morrer) naquela terra, apenas com meia dúzia (?) de clíchés na cabeça... O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... Valeu-nos, a todos nós, desde os oficiais do quadro aos milicianos e aos soldados do contingente geral, um certo jeito, muito nosso, muito português, de estar na vida e no mundo em relação com os outros, que são diferentes de nós...
A mim e aos demais 49 quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2590 (, futura CCAÇ 12,) deram-nos 100 recrutas, das mais diversas idades, de djubis a homens grandes, fulas de Badora e do Cossé, que não diziam direito duas palavras seguidas de português... Fulas, a grande maioria, futa-fulas (menos de 20), 2 mandingas, 1 macanhe de Bissau (...).
Tudo o que diga respeito à Guiné e aos guineenses nos interessa... Vem tarde, mas ainda é útil. Para nós, para eles...
Recordo o tempo (miserável) em que íamos combater (e morrer) naquela terra, apenas com meia dúzia (?) de clíchés na cabeça... O exército preparou-nos mal, não só técnica e militarmente falando, como sobretudo no plano psicossocial e cultural... Valeu-nos, a todos nós, desde os oficiais do quadro aos milicianos e aos soldados do contingente geral, um certo jeito, muito nosso, muito português, de estar na vida e no mundo em relação com os outros, que são diferentes de nós...
A mim e aos demais 49 quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2590 (, futura CCAÇ 12,) deram-nos 100 recrutas, das mais diversas idades, de djubis a homens grandes, fulas de Badora e do Cossé, que não diziam direito duas palavras seguidas de português... Fulas, a grande maioria, futa-fulas (menos de 20), 2 mandingas, 1 macanhe de Bissau (...).
7 comentários:
Olá Camarada
Concordo em absoluto com o texto do Post 11252, especialmente com o último parágrafo. Contudo, não creio que os que foram levados para a "guerra" aceitassem com facilidade uma preparação mais intensa em qualquer área que fosse, assim como também tenho para mim que melhor preparação no campo sociológico nos pudesse ser fornecida com verdade sem nos levar a questionar o que íamos fazer.
Um Ab.
António J. P. Costa
Caros amigos,
Que os "verdadeiros" amigos da Guiné devem dizer a verdade, ninguém contesta, mas qual verdade? Porque deveria ser com palavras duras? E dirigidas a quem?
Nao acho que o Sr. Embaixador Francisco Henriques da Silva esteja bem colocado para ser muito duro nas suas verdades depois do conturbado e tortuoso processo da entrega do territorio ao PAIGC feito pelo pais que representou até ha bem pouco tempo.
Ainda ontem, numa revista a antigos Postes do Blogue, encontrei por acaso um, onde o ex-Alf. Miliciano, Manuel Reis falava do que sentiu quando teve que desarmar, por ordens superiores, o pelotao das milicias no destacamento militar de Cumbija (Forrea) e como um Sargento nativo da etnia fula (Mamadu) o interpelara lembrando-lhe o que este ja sabia ou seja que tinham-lhes entregue armas para fazer a guerra e agora eram desarmados quando os inimigos estavam junto a porta de armas e armados até aos dentes. Na noite do mesmo dia, o grupo de ex-milicias teve que fugir (ou tentar fugir) para o Senegal, Deus sabe como. E ainda num outro Poste sobre o mesmo periodo, falavam (soldado ... Gaspar) de Bambadinca e sobre a atitude dos soldados da CCAC21 quando reagiram fazendo refens aos soldados metropolitanos e exigindo o pagamento imediato das suas indemnizacoes e a visita do Governador interino Cor. Carlos Fabiao, convencido que o real problema dos nativos era o dinheiro e conquista de posicoes.
Claro que as épocas sao diferentes mas estamos a falar da mesma Guiné e dos mesmos protagonistas, em tudo ha um principio e um fim, causas e consequencias.
Se hoje tudo vai mal, seguramente, porque tudo comecou mal e Portugal nao esta isento de responsabilidades. Se queremos ser duros a dizer a verdade, que seja, mas vamos comecar pelo principio, sem desculpas nem subterfugios, com ou sem pancadinhas nos ombros.
Um abraco amigo,
Cherno Baldé
Quem é o anónimo que escreve em chinês?
Talvez fosse boa ideia que traduzisse. De outro modo parece que está a gozar connosco, digo eu...
Um Ab.
António J. P.Costa
Caros camaradas
Parece-me bem acertado que o Blogue, enquanto tal, não tome posições que possam ser entendidas como ingerência na vida interna de um estado soberano, seja lá isso o que for e tome a roupagem que tiver.
Mas isso não impede que as pessoas, individualmente, tomem e tenham posições, opiniões, considerações, sobre o modo como as vidas dos povos e as orientações dos governantes dos vários países, o nosso, a Guiné, o mundo, interferem no bem estar e desenvolvimento desses povos.
No caso do nosso país é incontornável que vivemos tempos muito difíceis e é absolutamente natural que muitos de nós, membros deste Blogue, tenham e manifestem a sua opinião e até intervenham em vários locais, associações, partidos, páginas do Face, etc., defendendo ou opondo-se às políticas governamentais.
Isso é saudável, é sinal que os camaradas não se demitiram de 'serem gente', com opinião, interventiva, e é bom que o façam nos locais mais apropriados.
Relativamente à Guiné, interpreto as palavras de Francisco Silva não como um qualquer paternalismo nem como interferência, nas sim o legítimo direito de ter opinião sobre o tortuoso caminho que as autoridades do país-Guiné têm seguido.
Por isso, e desta vez, não subscrevo as palavras do amigo Cherno, que me parecem sofrer de uma reacção um tanto impulsiva. Reage como se estivesse a ser 'atacado', não directamente, é claro, mas como membro dum povo.
Ora não me parece que seja essa a 'leitura' mais correcta do que o Francisco escreveu.
E também me parece despropositada a referência ao "conturbado e tortuoso processo da entrega do território ao PAIGC" já que essa 'entrega' pareceu bem normal e 'natural' na época.
Há quem não goste do paigc, na medida em que representa o poder. Nenhum problema, por aqui também há quem não goste de quem está no poder, umas vezes o psd outras vezes o ps, mas a questão não é essa. A questão é que o paigc hoje é apenas um nome, uma sigla, na prática pouco tem a ver com o paigc do tempo da (sua) luta pela independência de Portugal. E baralhar os 'tempos' não é coisa que contribua para boas conclusões, apenas serve para acirrar conceitos.
Abraços
Hélder S.
Caro camarada F.H.Silva
Compreendo a tua posição só que julgo que não é o espírito deste blog.
Quando exercias funções de embaixador certamente assististe a cenas surrealistas e terás conhecimentos de muitos factos passados nessa altura.
Eu,numa posição e funções muito mais modestas (voluntário da AMI)na região de Gabú,tendo percorrido toda a zona leste da Guiné,assisti a factos completamente execráveis,e estou a ser modesto,de gente com responsabilidades políticas, que se estavam completamente a "borrifar" para as populações..como é óbvio não vou contar.
Caro Cherno
Apesar de não te conhecer pessoalmente,tenho uma grande estima e carinho por ti.
Peço-te que, como mais "velho", tenhas alguma contenção nos teus comentários quando fazes críticas ao poder político da Guiné do passado ou do presente, pelo simples facto de que eles também têm acesso a este blog..não pretendo ser paternalista..julgo que percebes do que estou falar..para tua segurança e da tua família.
Um alfa bravo
C.Martins
Bravo Cherno!
Tens a coragem de afirmar o que
pensas! É isso que nos faz Homens
de corpo inteiro e alma lavada!
Alfero Nativo J.Cabral envia-te um
ABRAÇÃO!
Olá Camaradas
O meu país deve respeitar a independência (em todos os aspectos da Guiné) e é bom que não tenha sequer a veleidade de se imiscuir no funcionamento interno dela. Por mim, já aqui disse que a "guerra" terminou com a independência e hoje respeito a Guiné como outro país qualquer. Não vejo sequer porque há-de o meu país dar-lhe - como muitas vezes se pede - o estatuto de "nação mais favorecida". Mas a Guiné deverá lembrar-se sempre de que "a máxima liberdade traz a máxima responsabilidade. Além disso, sou (somos) cidadão(s) do mundo e tenho (temos) direito a expressar a minha (nossa) opinião, tanto mais que este é um blog de portugueses.
Não vejo, por isso, as causas da indignação do Cherno Baldé
Um Ab.
António J. P. Costa
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